13 de dez. de 2008

BETO GUEDES - AMOR DE ÍNDIO

Beto Guedes, ao meu ver é uma das figuras mais carismáticas e talentosas da MPB. Não sei bem se a mídia não lhe deu justo crédito ou o próprio artista pela sua simplicidade e notória timidez, fugia dos holofotes quando podia. Dono de uma voz frágil em falsete, ele sempre ofereceu o que tinha de melhor, uma sensibilidade única e de certa forma ingenuamente romântica, que reflete em sua música e poesia, imagens quase místicas e utópicas de um mundo que só ele vivencia ou anseia desfrutar, numa mistura genial de chorinho e rock. 

Beto Guedes fã de rock e chorinho
 Alberto de Castro Guedes nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 13 de agosto de 1951. Desde a adolescência tocava em bandas formadas em Belo Horizonte explorando o repertório dos Beatles, aliás seu conjunto se chamava The Bevers e os outros componentes da banda eram os irmãos Yé, Márcio e Lô Borges. O jovem músico ao voltar para Montes Claros por um período começa a participar de outro grupo, o Brucutus, onde animava as festinhas durante as férias tocando Beatles, Renato & Seus Bluecaps, Roberto Carlos, etc. Aos aos 18 anos participou do V Festival Internacional da Canção em 1970, com sua composição “Feira Moderna”, em parceria com Fernando Brant. Tendo a música mineira como uma de suas principais influências - ao lado do rock dos Beatles e The Byrds e dos choros que o pai seresteiro, Godofredo Guedes, compunha - participou ativamente do Clube da Esquina, banda que projetou nacionalmente os compositores mineiros (de nascimento ou de coração) como Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant e o próprio Beto Guedes. 
Beto Guedes, mineirinho de Montes Claros
Participou do primeiro LP do grupo, Clube da Esquina (1971) e da edição de Clube da Esquina (1979). Foi acompanhado pelo também grupo mineiro 14 Bis e em 1977 lançou o primeiro LP, A Página do Relâmpago Elétrico que superou as expectativas e que tinha “Lumiar” como faixa de destaque, além de “Maria Solidária”, “Tanto”, “Nascente” e “Salve Rainha”. No ano seguinte, o disco Amor de Índio traz na faixa-título o maior sucesso de sua carreira e as pérolas “Feira Moderna”, “Novena”, “O medo de amar”, “Luz e Mistério” e “Gabriel”, se sobressaindo num excelente álbum que teve as participações de Toninho Horta, Wagner Tiso, Fávio Venturini e Tavinho Moura. Em 1980 lança o LP Sol de Primavera, no qual se destacam a faixa-título, “Roupa Nova”, “Norwegian Wood” (dos Beatles com Milton Nascimento), “Pela Claridade de Nossa Casa” e a inesquecível “Casinha de Palha”. No ano de 1983 sai o álbum Contos da Lua Vaga, com as faixas “Contos da Lua Vaga”, “Canção do Mundo Novo”, a lindíssima “O Sal da Terra” e “Sete Flautas”. Em 1984 o LP Viagem das Mãos, trouxe seu segundo maior sucesso “Paisagem da Janela” de Fernando Brant e Lô Borges. Em 1986, saiu LP Alma de Borracha, (título que vem de Rubber Soul, disco dos Beatles) dando-lhe seu 1º Disco de Ouro, ultrapassando a marca de 200 mil cópias vendidas com as faixas “Alma de Borracha”, “Calor Humano”, “Lágrima de Amor”, entre outras.
Beto Guedes com Lô Borges e Milton Nascimento
 Em 2004 reaparece inspirado com o CD Em Algum Lugar, com as faixas “Até Depois”, “Sonhando por Nós”, “Lamento Árabe” (de seu pai Godofredo Guedes) e “Júlia” (de Gabriel Guedes, seu filho), dentre outras contidas num ótimo trabalho. Infelizmente o tempo é implacável mesmo para caras como Beto Guedes que deveriam ser imunes à sua ação. Ele representa uma geração de ouro da música mineiramente brasileira que insiste em sobreviver e lutar contra o sistema que aposta cada vez mais no lixo descartável. 
Mas temos a esperança que a tradição musical da família Guedes mantenha acesa a chama ardente da diferenciada e qualificada música das Minas Gerais. De qualquer forma, a obra de Beto Guedes ainda está inacabada, pois ele continua na ativa, mas sua criação está cravada na história da MPB e está acessível para todos, sejamos novos fãs ou saudosistas de uma época que não volta mais. Para finalizar, Beto tem outra paixão além da música, e é por aviões, apesar de assumir o mêdo de voar. Atualmente alterna os instrumentos musicais com as ferramentas e macacão de mêcanico para montar aeromodelos e voar em aeroplanos.  Será? E sabe qual o seu filme predileto? Império do Sol, é claro! Onde desfilam nos céus os “Zeros” dos pilotos japoneses kamikazes e os Mustangs da USAF.

Discografia Solo de Beto Guedes:

- A Página do Relâmpago Elétrico – 1977
- Amor de Índio – 1978
- Sol de Primavera – 1980
- Contos da Lua Vaga – 1981
- Lumiar (Coletânea) – 1983
- Viagem das Mãos – 1984
- Alma de Borracha – 1986
- Ao Vivo – 1987
- Andaluz – 1991
- Dias de Paz – 1998
- Beto Guedes 50 Anos / Ao Vivo - (DVD e CD) 2002
- Em Algum Lugar – 2004 
Aqui um link do you tube onde Beto Guedes canta a lindíssima "Amor de Índio":
http://www.youtube.com/watch?v=DGeQ-e9wjmM
 
Por Eumário J. Teixeira.

4 de dez. de 2008

BLUES, UM SOBREVIVENTE DE 100 ANOS !

Aqui no Brasil passou praticamente desapercebido, mas foi decretado pelo governo dos Estados Unidos da América no Norte, a cinco anos atrás, 2003 como Ano do Blues. Assim se fez justiça ao gênero musical mais importante surgido no século XX. A saber, foi em 1903 que o músico William Cristopher Handy (1873-1958), ouviu pela primeira vez o blues na sua forma mais primitiva possível. Segundo Handy, assim aconteceu: “Uma noite em Tutwiler no Mississipi, enquanto lutava contra o sono na estação à espera de um trem com nove horas de atraso, a vida subitamente me segurou pelo ombro e me despertou com uma sacudidela. Um negro esguio e desajeitado tinha começado a dedilhar um violão ao meu lado enquanto eu cochilava. Suas roupas eram trapos, os dedos dos pés saíam pelos buracos dos sapatos. Seu rosto transmitia algo de tristeza milenar. Ao tocar, ele pressionava as cordas do violão com uma faca da maneira popularizada pelos guitarristas havaianos, que usavam barras de aço. O efeito foi inesquecível”.
O jovem Muddy Waters (à direita) ainda adepto ao country blues
Este depoimento de W. C. Handy, está em sua autobiografia, Father of the Blues. A partir desta experiência inesperada na estação de trem, Handy começou a despertar para aquela música simples e sedutora que havia lhe tocado tão profundamente, procurando a partir daí observar e estudar músicos anônimos por todo o Delta do Mississipi que se apresentavam pelos botequins de beira-de-estrada, tocando lamentos já conhecidos como blues. Handy percebeu que apesar de ser uma música repetitiva e monótona, ainda assim despertava uma atração quase hipnótica por parte dos ouvintes, pois era honesta e emotiva, então, de imediato, começou a adaptar aquela música aos arranjos mais sofisticados de sua Big Band e se vangloriou mais tarde de ter apresentado o blues ao público das grandes cidades e ter sido um dos primeiros a gravar temas (já que ele não foi o único) com termo “blues” nos títulos, como em “The Memphis Blues” de 1912 e “Saint Louis Blues” de 1914, apesar da maioria de suas canções não seguirem a estrutura básica do blues.
Assim quis a história que a data oficial do nascimento do blues, fosse a mesma referida por W. C. Handy, na estação de trem de Tutwiler, o ano de 1903. Mas de qualquer forma o Blues já estava nos trilhos muito antes, independentemente do oportunismo de Handy. É fato que tudo começou ainda no século XIX, quando da chegada dos primeiros escravos africanos às plantações de algodão ao sul dos EUA, onde os negros desenvolveram as works songs para agüentarem o ritmo desumano do trabalho; canções estas que se adaptaram aos hinos religiosos herdados pelos brancos de seus descendentes europeus, transformando-se no gospel típico das igrejas batistas negras, ou seja, vibrante, dançante e cheio de energia, culminando por finalmente no blues herege e maldito, que migrou das plantações nas zonas rurais para as cidades mais importantes do Sul do país.

Mississipi John Hurt - O blues do Delta
A partir dos anos 20, com o recente término da I Grande Guerra Mundial, o mercado de discos se desenvolve e a venda de gramofones supera as expectativas. As gravadoras como a RCA Victor, Paramount e Columbia começaram a investir e apostar no talento de artistas mais ao Sul do país, revelando cantoras como Mamie Smith, uma das pioneiras do gênero, que gravou “Crazy Blues” com muito sucesso e, Bessie Smith, a “Imperatriz do Blues”, que gravou “Downhearted Blues” e outros temas, obtendo uma popularidade e fama jamais sonhados por uma cantora negra da época. Nos anos 30, se sobressaíram os bluesmen, que definitivamente deram a base para as futuras gerações. Cantores e guitarristas como Eddie “Son” House, Blind Lemon Jefferson, Charley Patton, Robert Johnson e Big Joe Williams, despertaram as gravadoras para a mina de ouro que estava no coração do Delta.
Após a II Grande Guerra Mundial, já no final dos anos 40, a cidade industrializada de Chicago (Illinois), mais ao norte dos EUA, tornou-se o alvo dos bluesmen vindos do Sul, à procura de fama, dinheiro e mulheres. Chicago passou a ser o celeiro do blues moderno e elétrico, como paralelamente as cidades de Memphis (Tennessee), New Orleans (Louisiana) e Detroit (Michigan) se tornaram pólos alternativos para o gênero. Foi a fase mais importante deste gênero musical, na qual o estilo se consolidou e fez escola, influenciando futuras gerações de músicos das mais variadas correntes musicais.
Nesta época se destacaram nomes como Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Willie Dixon, Little Walter, T-Bone Walker, Sonny Boy Williamson II, Elmore James, B. B. King, John Lee Hooker, Champion Jack Dupree, Memphis Slim, Eddie Boyd, dentre outros.

Howlin' Wolf num "inferninho" em Chicago
Na metade dos anos 50 até início dos anos 60, outra geração de músicos surgiu, revigorando o cenário do blues negro, dentre os quais podemos citar os guitarristas Otis Rush, Magic Slim, Luther Allison, Buddy Guy, Freddie King e o gaitista Junior Wells. Para a geração branca de roqueiros dos anos 60, tanto o longínquo som rural e acústico de Robert Johnson quanto o som moderno, urbano e eletrificado de Otis Rush, seriam influências decisivas para a sua formação musical. Assim, como foi para os músicos britânicos de rock & roll e rhythm & blues, como Eric Clapton (Bluesbreakers, Cream), Peter Green (Bluesbreakers, Fleetwood Mac), John Mayall (Bluesbreakers), Rolling Stones, Animals e Yardbirds, da mesma forma seria para os seus colegas de profissão norte-americanos como Johnny Winter, Canned Heat, Mike Blomfield, Steve Miller, Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Doors, o blues sempre estaria na base de tudo o que criassem.
Little Walter, eletrificou a gaita nos anos de 1950
O blues sobreviveu às décadas seguintes, superou todos os modismos e atualmente poucos “medalhões” estão vivos para cantar , tocar e testemunhar suas histórias, que se confundem com a do próprio blues. Ícones como B. B. King, considerado “Embaixador” e “Rei do Blues”, atualmente com mais de 80 anos de idade e Buddy Guy, chegando a casa dos setenta, ambos resistentes ao modismo e ao tempo, ainda cooperam para que o blues sempre tenha seu espaço assegurado. Os que tem bom gosto musical agradecem aos que se foram e nos deixaram esse tesouro valioso para desfrutarmos em vida, sem falar que ainda contamos com as performances vibrantes de Otis Rush, Magic Slim, Snooks Eaglin, Lonnie Brooks, Etta James, Koko Taylor , só para mencionar alguns.
Nos seus 100 nos de vida, o blues lamentou os amores perdidos, a solidão, a pobreza, a injustiça, a discriminação racial e política de forma irônica e rebelde, sem perder a elegância e a dignidade. É o que o mantém no topo, a sua capacidade de ser simples, direto e contundente. Vida longa ao blues!


Dentre muitos eventos foram lançados uma série de documentários em DVD para a comemoração do centésimo aniversário do Blues com direção de nomes consagrados do cinema:

 
- Feel Like Going Home (From Mali to Mississipi): Diretor Martin Scorsese – Mostra a viagem dos escravos da África para o Delta do Mississipi, onde o gênero foi gestado nos campos de algodão.

- Warning by the Devil’s Fire: Diretor Charles Burnett – Conta as tensões inevitáveis entre dois gêneros, o Gospel das igrejas e o Blues mundano.

- Piano Blues: Diretor Clint Eastwood – Explora a aventura do instrumento pelo Blues, com performances de Ray Charles, Fats Domino, Little Richard e Dr. John.

- Red, White & Blues: Diretor Mike Figgis – Trata da chegada do Blues à Inglaterra e seu retorno triunfal aos EUA, com depoimentos de Eric Clapton, Jeff Beck, Van Morrison, etc.

- Godfathers And Sons: Diretor Marc Levin – Uma viagem por Chicago no passado e presente, do Blues ao Hip-hop. Com performances inéditas de Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Paul Butterfield Blues Band e participações de Otis Rush, Koko Taylor, Magic Slim, etc.

- The Road to Memphis: Diretor Richard Pearce – Refaz a odisséia musical de B. B. King, a maior lenda do Blues atual.

- The Soul of a Man: Diretor Wim Wenders – A história passo a passo de três lendas do Blues, Skip James, Blind Willie Johnson e J. B. Lenoir, com materiais e gravações de arquivos e covers inéditas com Lou Reed, Nick Cave, John Spencer Blues, etc. 



Vídeos de Martin Scorsese - Tributo ao blues
Por Eumário José Teixeira
   Blues, da origem aos nossos dias. 
Desde a origem nas work-songs entoadas pelos negros africanos escravizados nas plantações de algodão no Sul dos EUA no século XIX, até o surgimento dos primeiros profissionais ou bluesmen que viviam da música, o celeiro do blues sempre foi o Delta do Mississipi. A partir do século XX, mais precisamente na década de 20, o estilos já diferenciavam-se por regiões e se faziam representar por nomes exóticos como Blind Lemon Jefferson, Blind Willie McTell, Blind Willie Johnson, todos cegos (blind), que se tornaram ídolos dos não menos lendários, Charlie Patton, Eddie “Son” House, Bukka White, Big Bill Broonzy e Robert Johnson, defensores do legítimo blues caipira e artistas populares nos anos 30.
Assim, podia-se ouvir o blues sulista tradicional do Mississipi, como o blues urbano de Chicago ao norte, o estilo apimentado do Texas, a despojada variação de New Orleans e também a escola sofisticada da Costa Oeste. De todos os cantos do país surgiram importantes representantes das várias correntes, destacando-se figuras como Lightnin’ Hopkins (guitarrista texano de country blues), Big Joe Turner (shouter ou berrador, nascido em Kansas City), T-Bone Walker (mestre da guitarra que fez escola), Charles Brown da Costa Oeste e Champion Jack Dupree de New Orleans (ambos pianistas) a partir do final dos anos 40.
Em meados dos anos 50, os já veteranos bluesmen Sonny Boy Williamson II (o gaitista endiabrado), Howlin’ Wolf (o lobo uivador) e Elmore James (mestre de slide-guitar), finalmente começaram a se destacar em Memphis; ao mesmo tempo em que John Lee Hooker (the boogie man) conquistava seu espaço em Detroit.

A guitarra elétrica deu novo fõlego ao blues
Em Chicago, o blues se fortalece graças as contribuições de Willie Dixon (baixista, compositor e produtor), Jimmy Reed (rei do soft blues), Little Walter (mestre da gaita amplificada), Otis Spann (pianista) e Muddy Waters, este último responsável direto pela eletrificação definitiva do blues .
Pouco tempo depois, na mesma Chicago, mais precisamente no west side (lado oeste), de maioria negra, a partir do final da década de 50, surge uma prole de guitarristas que incendeiam o blues de vez, trazendo mais juventude, vigor e muita garra; entre os destaques dessa nova geração, estão Magic Sam e Luther Allison junto aos texanos Freddie King e Albert Collins (the ice man).

Muddy Waters, responsável direto pelo blues elétrico
Nas décadas de 60 e 70 estas lendas da música norte-americana se consagraram em excursões por toda Europa, conquistando o reconhecimento e glórias que não obtiveram no próprio país devido à segregação racial. Alguns foram tão bem acolhidos, que por lá ficaram, tais como os prestigiados pianistas Memphis Slim, Eddie Boyd e o já citado Champion Jack Dupree.
Nos nos 80, 90 e até os dias de hoje, em pleno século XXI, o blues admirado em todo mundo, é reconhecidamente um elemento conciliador, um meio pelo qual se possa unir as pessoas indiferentemente de raças ou credos pelo simples amor à boa música.
Seja através de um canto gutural e solitário ou acompanhado por acordes mágicos de uma guitarra, piano ou gaita, o blues sempre se fará ouvir, pois é sedutor e atraente e não costuma passar desapercebido.


Por Eumário José Teixeira.

29 de nov. de 2008

OS QUATRO PILARES DO BRITISH BLUES


         O QUARTETO FANTÁSTICO: JOHN MAYALL, 
ERIC CLAPTON, PETER GREEN & MICK TAYLOR

Londres foi a capital mundial do blues na década de 60, pelo menos é certo que de 1965 a 1969 quem queria se embebedar do blues britânico tinha que estar por lá, torcendo para esbarrar em figurinhas como John Mayall, Eric Clapton, Peter Green e Mick Taylor. Através deles é que os jovens ingleses descobriram o verdadeiro blues afro-americano que era incrivelmente ignorado pela juventude dos EUA, e como disse Muddy Waters certa vez, “eles tinham o blues no próprio quintal e não sabiam”, precisou que bandas inglesas invadissem o país com o seu “rock” que na verdade não passava de uma adaptação mais acelerada e ritmada do blues originário do Delta do Mississipi, para que os jovens americanos se voltassem para sua própria cultura. Pessoas apaixonadas pela música afro-americana como o inglês John Mayall, que era um expert e estudioso de blues, foram os principais responsáveis para a divulgação e sucesso do gênero pela Europa e pelo resto do mundo. John Mayall nascido em 1935 na cidade de Manchester na Inglaterra, foi o fundador dos Bluesbreakers em 1963, banda que se especializou em tocar blues e em revelar grandes músicos, como o baixista John Mcvie, o baterista Ansley Dunbar e simplesmente os guitarristas Eric Clapton, Peter Green e Mick Taylor. John Mayall era e ainda é um multi-instrumentista, toca piano, harmônica, guitarra, baixo e bateria, e apesar de não ser um especialista em nenhum deles, sempre foi respeitado pelos jovens músicos que ingressavam no Bluesbreakers, pois eles sabiam que John Mayall, tinha um conhecimento incomum sobre música, principalmente sobre blues e além disso fazia arranjos, compunha, produzia e tinha um vocal diferenciado e marcante, sem falar do seu carisma e capacidade de liderança. A fase de ouro do blues britânico foi carimbada pelo lançamento de quatro álbuns básicos e essenciais para qualquer um metido a blueseiro ou rockeiro ter na estante. São eles:
- John Mayall And The Bluesbreakers – With Eric Clapton – Deram/1966
- John Mayall And The Bluesbreakers – A Hard Road (com Peter Green) – London/1967
- Peter Green’s Fleetwood Mac – Peter Green’s Fleetwood Mac (com Jeremy Spencer) – Epic/1967
- John Mayall And The Bluesbreakers – Crusade (Com Mick Taylor) – London/1967

O álbum Bluesbreakers – John Mayall With Eric Clapton foi lançado em 1966. Os músicos integrantes dos Bluesbrakers eram o líder John Mayall, vocal, piano, orgão e harmônica; John Mcvie, baixo elétrico; Hughie Flint, bateria e o jovem e promissor Eric Clapton (nascido em 30/03/1945) na guitarra e vocal, recém saído do Yardbirds e classificado como “deus” pelos fãs na época; e quem presenciou suas performances afirmam que ele realmente chegou perto disso. As faixas desse clássico que mais se destacaram foram : “All your Love”, “Hideaway”, “Little Girl”, “Have You Heard” e “Ramblin’ On My Mind”.
O trabalho seguinte do John Mayall’s Bluesbreakers era simplesmente A Hard Road, lançado em 1967. Ora, a saída de Eric Clapton após o sucesso do álbum anterior foi dolorosa para os fãs dos Bluesbreakers, e deveria ser desesperadora para Mayall, só que ele tinha um trunfo guardado. O nome dele era Peter Green (nascido em 29/10/1946), jovem guitarrista, admirador do trabalho de Eric Clapton, mas que desenvolveu um estilo próprio, baseado em B. B. King, e Hank Marvin, guitarrista do Shadows. Os outros integrantes do Bluesbreakers eram John Mayall no vocal, piano, orgão, harmônica e guitarra; John Mcvie no baixo elétrico e Ansley Dunbar na bateria. O disco para alguns superou o anterior com Eric Clapton, e eu concordo, mas foi por pouca coisa. Mas há controvérsias. As faixas que se destacaram neste trabalho foram: “A Hard Road”, “You Don’t Love Me”, “The Stumble”, “Another Kinda Love”, “The Same Way”, The Super-Natural” e “Someday After a While ( You’ll Be Sorry)”.
O próximo disco ainda era com Peter Green, mas no Fleetwood Mac, banda que formou com o baixista John Mcvie após abandonarem John Mayall. Olha a sina de Mayall, parece que os caras passavam pelos bluesbreakers para um breve e proveitoso estágio absorvendo um pouco do conhecimento do mestre para então partir em busca da própria realização como músico de blues. Peter Green adota sua banda como Mayall fazia com os Bluesbreakers, dirige o trabalho mas libera a criatividade dos outros músicos, como a do jovem e excelente guitarrista slide Jeremy Spencer (fanático pelo bluesman Elmore James) que praticamente divide as performances com Peter Green. O Peter Green’s Fleetwood Mac era formado até então por Peter Green, vocais, guitarra, harmônica; Jeremy Spencer, vocais, guitarra slide, piano; John Mcvie, baixo; e Mick Fleetwood, bateria. As faixas que mais se destacam são: “My Heart Beat Like A Hammer”, “Merry Go Round”, “Long Grey Mare”, “Looking For Somebody”, “No Place To Go”, “I Loved Antoher Woman” e “Got To Move”.
O quarto disco volta a ser dos Bluesbreakers do John Mayall, agora com o guitarrista também muito jovem que substituiu Peter Green, nada menos que Mick Taylor (nascido em 17/01/1948). O disco é o Crusade, também de 1967. Neste participaram John Mayall, vocal, piano, orgão, guitarra; John Mcvie, baixo elétrico (que logo sairia para o Fleetwood Mac); Keef Hartley, bateria; e o talentoso Mick Taylor, guitarra solo - Taylor substituiria Brian Jones nos Rolling Stones em 1969. As faixas que mais se destacaram neste álbum foram: “Oh, Pretty Woman”, “My Time After While”, “Tears In My Eyes”, “The Death Of J. B. Lenoir”, “I Can’t Quit You Baby” e “Streamline”.
Os quatro discos citados ao meu ver foram os pilares do blues britânico, “fizeram a cabeça” de jovens aspirantes a roqueiros na Europa e EUA, influenciando muitos músicos que já estavam na estrada e o mais importante é que popularizou o blues, resgatando velhos mestres do estilo escondidos no Delta do Mississipi dando-lhes uma chance de mostrarem sua arte ainda em vida, já que uma boa parte deles, já falecidos, só poderiam ser apreciados em raros discos de vinil de algum colecionador cuidadoso.

 
Por Eumário J. Teixeira.

23 de nov. de 2008

CARTOLA - SAMBA E POESIA


Se o senhor Angenor de Oliveira por um capricho do destino tivesse nascido nos Estados Unidos da América, certamente teria sido um bluesman e dos bons. E talvez teria melhor sorte e reconhecimento, apesar de que a maioria deles só foram reconhecidos mesmo após a derradeira viagem sem volta. O mestre foi autor de pérolas como a belíssima “O Mundo é Um Moinho” (samba favorito de Carlos Drummond de Andrade), “Preciso Me Encontrar” e “Acontece”, que ao meu ver são de uma sensibilidade e dor comparáveis a um lamento de blues oriundas do Delta do Mississipi. 
Cartola, mais que um sambista, um poeta
Mas Cartola nasceu no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1908 num domingo de primavera. Foi o quarto filho de um total de sete e sempre demonstrou desde criança seu gosto pelo carnaval. Passou sua infância no bairro de Laranjeiras, mas 11 anos mudou-se junto com a família para o Morro da Mangueira pois passavam por apuros financeiros. Cartola concluiu apenas o primário na escola e talvez por isso sempre teve dificuldades para arranjar um emprego formal, sobrevivendo através de bicos como pedreiro, pintor de paredes, lavador de carros, vigia de prédio e contínuo de repartição pública. Foi num bico como pedreiro que ganhou seu apelido, "Cartola". Quando trabalhava com cimento estava sempre sujando os cabelos, o que o desagradava bastante pois ele era muito vaidoso. Decidiu então a sempre usar um chapéu coco, assim seus cabelos estavam protegidos do cimento. Os companheiros da obra então o apelidaram de Cartola. 
Cartola, 1976 - O Mundo é um Moinho, As Rosas não falam...
Quando sua mãe, Dona Aída, falece prematuramente, seu pai que era um rigoroso disciplinador o expulsa de casa aos dezessete anos de idade. A partir daí a vida do jovem Cartola torna-se ainda mais desregrada, envolvendo-se com todo tipo de mulheres, adoecendo com gravidade, chegando a ter que deixar o emprego. Mas com o apoio de amigos fiéis se cura e volta para a luta passando a compor e vender sambas, como fazia o também compositor e amigo íntimo, Noel Rosa. O primeiro que compôs para venda foi “Que Infeliz Sorte”, de 1927, ao preço de 300 contos de réis, sendo este gravado por Francisco Alves. Na década de 1920, os blocos de carnaval começaram a se organizar em forma de sociedades permanentes, e assim em 28 de abril de 1928, Cartola se reune na casa de Euclides da Joana Velha, com Saturnino Gonçalves, Marcelino José Claudino, Pedro Caim e Abelardo da Bolinha e Zé Espinguela e fundam a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. As cores verde e rosa e o nome da escola foram escolhas de Cartola. A escolha das cores foi uma homenagem ao seu amado Fluminense, clube de futebol do Rio de Janeiro que utiliza-se de combinações mais sóbrias das mesmas cores (grená, verde escuro e branco). Já no primeiro desfile com o samba enredo “Chega de Demanda” de Cartola, a Mangueira ganha seu primeiro prêmio de carnaval, desfilando na Praça Onze. 
Cartola, nosso samba-man, em frente ao Zicartola
Mas quando tudo parecia estar bem para Cartola e a Mangueira, ocorrem divergências com a direção da Escola e o mestre permanece afastado dos desfiles de 1949 a 1977. Ele afirmava que os diretores da Escola haviam reduzido a Escola num reduto político e eleitoreiro. Contrariado, Cartola se muda para a Baixada Fluminense e as coisas se agravam ainda mais, sua companheira falece e ele contrai meningite. Nos anos 50, o jornalista Sérgio Porto o descobre lavando carros anonimamente, num posto em Ipanema e o relança como compositor e cantor. Com a saúde restabelecida, Cartola volta para o morro da mangueira em 1952 e conhece dona Euzébia Silva do Nascimento, conhecida por Dona Zica, que era irmã da esposa de Carlos Cachaça, compadre de Cartola. Cartola e Dona Zica se casam em 1964, depois de viverem juntos por doze anos. Certamente o convívio com Dona Zica inspirou Cartola a compor obras primas como “As Rosas Não Falam”, “Nós Dois”, “Tive Sim” e “O Sol Nascerá”. Ainda nos anos 60 Cartola, Dona Zica fundam o botequim Zicartola, que se estabelece como um ponto de encontros de grandes sambistas como também de onde surgiriam novos talentos. Por incrível que pareça Cartola só grava seu primeiro disco em 1974, denominado simplesmente de Cartola e em 1976 grava o seguinte; mas em 30 de novembro de 1980 falece vitimado por um câncer no Rio de Janeiro, aos 65 anos e como no seu nascimento, num domingo de primavera. 
Verde que te quero Rosa, 1977
Por ironia do destino, apesar do seu sucesso como autor de inúmeros sambas consagrados, morreu pobre numa casa em jacarepaguá, que foi doada pela Prefeitura do Rio de Janeiro. E pensar que hoje em dia qualquer um pode se tornar “celebridade” e ganhar fortunas com a gravação de um único hit de veraneio descartável, com o apoio compassivo e comprometedor da mídia em geral.

Albúns gravados pelo mestre Cartola e que são indispensáveis para quem quer conhecer a beleza da verdadeira poesia do samba:

- Cartola (1974)
- Cartola (1976)
- Verde Que Te Quero Rosa (1977)
- Cartola 70 Anos (1978)
- Cartola Ao Vivo (1982) 

Eis link do clip do cartola no you tube cantando a belíssima "O Mundo é um Moinho" para seu pai: 

Por Eumário José Teixeira.

22 de nov. de 2008

FREDDIE KING, THE TEXAS CANNONBALL


Freddy King ou Freddie King, apelidado The Texas Cannonball, em referência a uma locomotiva famosa do Texas, vinha de uma geração que revitalizou o blues, influenciado por dois outros kings já consagrados, B. B. e Albert. Seu blues cheio de swing e feeling era um convite para dançar e se emocionar.
Freddie King
Batizado Frederick King nasceu na cidade de Gilmer, Texas, em 3 de setembro de 1934. Ainda quando criança iniciou-se na guitarrra com seu tio Leon King. Adolescente deixa a cidade natal e parte para tentar a sorte em Chigago como guitarrista, como faziam a maioria dos pretendentes a bluesman. Tornou-se profissional já aos 19 anos e tocou nas bandas de Little Sonny Cooper e Earl Payton nos mais famosos clubes da cidade, e participou das gravações dos consagrados Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Memphis Slim e Little Walter, adquirindo experiência e respeito pelos colegas de profissão. Finalmente notado, foi convidado pela gravadora The Bee, gravou seu primeiro single com as faixas "Country Boy" e "That’s What You Think" em 1956. Em 1960 o produtor, compositor e pianista Sonny Thompson, futuro parceiro de composições, consegue um contrato para Freddie com a gravadora Federal/King de Cincinatti. Lá Freddie grava seus primeiros sucessos como "Have You Ever Loved A Woman"; "You’ve Got To Love Her With A Feeling"; e a famosa faixa instrumental "Hideway' que se tornou o cartão de apresentação de Freddy, que formulou um estilo próprio de música instrumental, obtendo bons resultados; destacando-se além de "Hideaway", "San-Ho-Zay', "Sen-Sa-Shun", "The Stumble", "In The Open", "Texas Oil" e "High Rise". Em 1963, não conseguindo o retorno merecido até então pelo seu trabalho, Freddie retorna ao Texas, precisamente para Dallas. Lá continuou com suas apresentações regulares e chegou a gravar com o guitarrista Lonnie Mack. 
Um dos três "kings" do blues
Devido a problemas particulares não esclarecidos se ausentou dos palcos e estúdios e reaparece em 1966 pela gravadora Cottilion de Atlantic City, onde gravou os discos Freddie King Is A Blues e My Feeling For The Blues, este último com arranjos de Don Hathaway e ambos produzidos por King Curtis. No início dos anos 70 o músico e produtor Leon Russell, ao assistir suas apresentações na cidade de Austin, lhe ofereceu um contrato com sua gravadora Shelter onde Freddie realizou bons trabalhos: Getting Ready (1971); Texas Cannonball (1972) e Woman Across The River (1973). Freddie ainda insatisfeito, parte para apresentações pela Europa, turnê pela Alemanha; Montreaux, na Suiça e Antibes, na França. Com a ajuda do amigo Eric Clapton, entra para gravadora Polydor, onde gravaria os seus últimos registros oficiais Burglar (1974) e Larger Than Life (1975). Em 31 de julho de 1976, em um encontro histórico, dividiu o palco com Clapton no Crystal Palace Garden Party. Mas o que não se sabia era que a saúde de Freddie já era bastante frágil por causas de complicações hepáticas e problemas provocados por uma flebite. Consequentemente, em 28 de dezembro de 1976 em Dallas no Texas, sofreu um ataque cardíaco, foi levado às pressas para o hospital, mas não resistiu e faleceu de modo precoce aos 42 anos.
The Texas Cannonball
A influência de Freddie King nas bandas de rock e de rhythm & blues inglesas é inquestionável. Os Bluesbreakers de John Mayall gravaram em 1966, o tema "Hideaway" na versão do então jovem Eric Clapton; em 1967 já com o excelente Peter Green substituindo Clapton na guitarra, fizeram uma maravilhosa versão da instrumental "The Stumble" e de "Someday After A While (You’ll Be Sorry)". Stevie Ray Vaughan em 1980, fez uma excelente versão da instrumental "In The Open", no disco ao vivo In The Beginning. Clapton nos anos 90 fez excelentes versões de "I’m Tore Down" e "Someday After A While" para o premiado CD From The Craddle (1997).  

De Freddie King confira: Just Pickin’ (2 Cds em 1: Let’s Hide Away and Dance Away With... e A Bonanza Of Instrumentals - King) ; Hideaway – The Best Of Freddy King (King/Rhino) ; My Feeeling For The Blues (Cottilion); Getting Ready e Texas Cannonball (Shelter); e escute de John Mayall o cd In The Palace Of The King (2007), dedicado ao guitarrista texano.


Capas dos albuns de Freddie King
Aí está um link do you tube onde se pode curtir Freddie King detonando "Goin' Down": http://www.youtube.com/watch?v=BHXKlNP4-Aw
 
Por Eumário José Teixeira.

19 de nov. de 2008

QUINTETO VIOLADO & BANDA DE PAU E CORDA

Duas Bandas pernambucanas foram essenciais para o reavivamento da música regional e tradicional do nordeste brasileiro no início dos anos 70: Quinteto Violado e Banda de pau e Corda.

O Quinteto Violado, formado no Recife em 1970, era essencialmente um conjunto instrumental e vocal que interpretava temas nordestinos, começando a se destacar inicialmente pelas versões bem diferenciadas de alguns sucessos de Luiz Gonzaga, como também exploravam temas do rico folclore brasileiro.

A Banda de Pau e Corda surgida em 1972, tinha praticamente a mesma proposta, que era explorar a cultura nordestina através de uma combinação de música instrumental com um trabalho vocal harmonioso; sendo que logo cativaram a simpatia dos jovens universitários do Recife, como também da crítica especializada do nordeste.

O Quinteto Violado na década de 1970

O Quinteto Violado tinha na formação original Toinho (Antônio Alves), canto e baixo acústico; Marcelo (Marcelo de Vasconcelos Cavalcante Melo), canto, viola e violão; Fernando Filizola; Luciano (Luciano Lira Pimentel), percussão, e Sando (Alexandre Johnson dos Anjos), flautista. Em outubro de 1971, quando se apresentaram no Teatro da Nova Jerusalém (Fazenda Nova, PE), seus integrantes foram chamados de "os violados", nascendo dai o Quinteto Violado. Foram elogiados e apoiados na época por ninguém menos que Luiz Gonzaga, o “rei do baião” e muito recomendados às gravadoras por Gilberto Gil e Caetano Veloso, líderes do movimento que ficou conhecido como Tropicalismo, mas que não tinha nada a ver com a proposta da banda pernambucana que oferecia um som alternativo para o jovens de espírito nacionalista que não estavam aceitando mais a influência estrangeira do rock & roll.

A Banda de Pau e Corda

A formação original da banda era Waltinho (Oswalter Martins de Andrade Filho), violão e voz; Paulo Cirandeiro (Paulo Fernando), viola e vocal; Paulinho (Paulo Sérgio Guadagnano Resende Braga), contrabaixo; Matias, flauta; Roberto Rabelo de Andrade, bateria e percussão; Sérgio Rabelo de Andrade, percussão e voz; Netinho (José Severino de Oliveira Neto), viola; Beto Johnson (Alberto Johnson da Silva), flauta, e Zezinho Franco, baixo, voz, arranjos. 
É impossível apagar da mente canções da Banda de Pau e Corda como Lampião; Flor d’àgua; Vida de Vaqueiro; Vivência, etc. Foi uma época de ouro para a MPB, pois as duas bandas pernambucanas provaram para o resto do país que o nordeste tinha muito mais em termos de cultura além das histórias de Lampião e Maria Bonita e dos milagres do “santin padim” Cícero.

O mais interessante das duas bandas era que eram compostas por jovens músicos abnegados pela sua cultura regional, que não estavam nem aí para o estrelato e não se deixaram levar por modismos ou pressões das grandes gravadoras, preservando a pureza de um som que hoje em dia, se torna cada vez mais difícil se ouvir, pois a ordem nacional ou mesmo mundial é promover o descartável.

Conjuntos como estes, antes populares, hoje são classificados como “bandas de folk-jazz brasileiras” pelos gringos que sabem muito bem o que é música de qualidade. Não é a toa que o Quinteto Violado fez tantas excursões pelo mundo.

A saudosa Banda de Pau e Corda

Há pouco escutei o elogiado album “Will The Circle Be Unbroken” da banda country norte-americana The Nitty Gritty Dirt Band, formada em 1966 por Jeff Hanna e Jimmie Fadden. É incrível a fidelidade, o amor e trabalho que tiveram pela verdadeira country music. Como o Quinteto Violado e a Banda de Pau de Corda, os jovens norte-americanos mantinham aquele som tradicional e de qualidade excepcional contrariando toda uma tendência imposta na época hippie e foram reconhecidos por isso, sendo ovacionados até hoje. Mas aqui é diferente, não sabemos reconhecer e valorizar o que temos de melhor, ou pensando bem, sabemos valorizar sim, desde que seja lixo! E dá-lhe lambadeiros, rap-funkeiros, berranejos, latineiros, axés e afoxés timbaleiros.

O quinteto e a banda continuaram com suas atividades regularmente até o final dos anos 90 e atualmente mesmo com consideráveis desfalques no plantel original, ambos os grupos lançam novos trabalhos, se apresentam em grandes eventos pelo Brasil e fazem excursões ao exterior. Para finalizar, se você se interessar pelo som dos caras eu recomendo todos os álbuns, mas aqui cito apenas alguns lançados pelos “cabras da peste” do Pernambuco :


Do Quinteto Violado (www.quintetoviolado.com.br)

- Asa Branca (1972)
- Berra-Boi ( 1973)
- A Feira (1974)
- Missa do Vaqueiro (1976)
- Até a Amazônia (1978)


Da Banda de Pau e Corda (www.bandadepauecorda.com.br)

- Vivência (1973)
- Redenção (1974)
- Assim, Amém (1976)
- Arruar (1978)
- Pelas Ruas do Recife (1979) 

Eis o link do you tube onde a Banda de Pau e Corda canta "Esperança":
e o Quinteto Violado com a música "Beira de Estrada":
http://www.youtube.com/watch?v=0qaMHff5adQ
 
Por Eumário José Teixeira.

16 de nov. de 2008

DANNY WHITTEN & CRAZY HORSE


Danny Whitten

Em 1975 uma canção estourou nas paradas no mundo todo com Rod Stewart, era “I Don’t Want To Talk About It” do álbum Atlantic Crossing. Quem curtiu a música e era curioso o bastante, descobriu que seu autor era um tal de Danny Whitten
Whitten era simplesmente o guitarrista da banda Crazy Horse que apoiou Neil Young por toda sua carreira. Whitten além de guitarrista, cantava e tinha sensibilidade bastante para compor pérolas como essa. 
A versão de Rod Stewart é boa, mas ficou manjada e talvez datada, mas ao se ouvir a versão do Crazy Horse, mesmo hoje, no álbum de mesmo nome de 1971, com o próprio Whitten cantando e tocando...é de arrepiar! 

O excelente álbum Crazy Horse, de 1971

A canção soa mais íntima e sofrida como um blues. Sem dúvida supera a de Rod Stewart e mesmo assim, na época, não teve o reconhecimento que merecia. Whitten apesar de muito talentoso e criativo, era um jovem frágil e imaturo e tentava compensar suas fraquezas com as drogas, o que se tornou sua ruína. 
O engraçado é que em 1971, Whitten já tinha a música pronta e teve uma certa dificuldade de finalizar a letra, o que conseguiu mesmo debilitado com a ajuda de outro guitarrista Nils Lofgren. A gravação finalmente aconteceu e deu no que deu, com o apoio de Ry Cooder deslizando o slide com Whitten e Nils nas guitarras acústicas, uma obra de arte! 
Danny Ray Whitten faleceu em novembro de 1972 por overdose e não pode curtir sua obra estourar nas paradas três anos depois. 
Neil Young entrou em parafuso com a notícia do falecimento do talentoso guitarrista de sua banda de apoio, ele sabia que além do amigo perdera um músico genial. 
Recomendo a quem ainda não tem, adquira o álbum de estreia do Crazy Horse de 1971, um disco perfeito graças ao talento de Danny Whitten, sem exageros.

Neil Young com o parceiro talentoso, Danny Whitten

I Don't Want To Talk About It - Danny Whitten

I can tell by your eyes that you've probably been crying forever,

and the stars in the sky don't mean nothing to you, they're a mirror.

I don't want to talk about it, how you`ve broken my heart.

If I stay here just a little bit longer, If I stay here,

won't you listen to my heart, ohh my heart?

If I stand all alone, will the shadow hide the color of my heart;

blue for the tears, black for the night's fears.

The stars in the sky don't mean nothing to you, they're just a mirror.

I don't want to talk about it, how you broke my heart.

If I stay here just a little bit longer, if I stay here,

won't you listen to my heart, ohh my heart?

My heart, ohh my heart, this old heart.

I don't want to talk about it, how you´ve broken my heart.

If I stay here just a little bit longer, if I stay here,

won't you listen to my heart, ohh my heart?

My heart, ohh my heart.


Eis o link do you tube para você apreciar "I Don't Want To Talk About It" com o Crazy Horse:
e a versão com Rod Stewart:
http://www.youtube.com/watch?v=Azcy9_F0DCE 

Por Eumário José Teixeira.