Muitas listas com os nomes dos maiores guitarristas da história da música circulam pela internet e revistas especializadas. A cada classificação de tais nomes geralmente é baseada na capacidade técnica e habilidade de cada músico, o que é o bastante para gerar muita controvérsia. Para exemplificar, há certo consenso no que se diz respeito sobre quem seria o número um da lista, o maior de todos. O nome que mais aparece no primeiro lugar é o de Jimi Hendrix. Já a partir do segundo classificado acontecem muitas variações, revezando os nomes de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Eddie Van Halen, etc. Como alguns gêneros musicais são desprezados nessas relações e nomes como Django Reinhardt e Dick Dale, geralmente ficam de fora, elaborei quatro listas com guitarristas considerados especialistas em seu gênero musical, sendo que a classificação de cada relação vai de um a dez. Não considerei apenas a habilidade técnica do guitarrista, mas também sua importância dentro do(s) gênero(s) que representa. Não sou um conhecedor profundo do assunto, nem ao menos sou músico, mas me baseei nos discos que já ouvi e no que li sobre a história da música em geral, considerando também o meu gosto pessoal. As listas estão divididas em quatro gêneros assim classificados: 1 – Jump Blues, Rock & Roll, Surf & Instrumental Rock; 2 – Blues Acústico & Elétrico; 3 - Blues Rock & Heavy Rock; e 4 – Jazz & Fusion.
01 – CHARLIE CHRISTIAN – Guitarrista afro-americano nascido em 29 de julho de 1916, diretamente responsável por colocar a guitarra elétrica no mesmo patamar dos metais na época de ouro das big bands. Charles Henry Christian se iniciou na música através do saxofone, mas foi seduzido pelo som da guitarra em seguida. Christian não foi o primeiro a utilizar a guitarra elétrica numa orquestra, coube a Eddie Durham o privilégio; mas Christian foi quem desenvolveu uma nova linguagem para o instrumento. Antes de Christian a guitarra não passava de um instrumento da seção rítmica recuada, após Christian a guitarra conquistou seu direito de alçar solos livremente na frente da banda. A sua excepcional técnica de solar em legato com as notas praticamente ligadas, fazia sua guitarra soar como um instrumento de sopro ou violino. Ele também foi pioneiro em explorar as dissonâncias e acordes intermediários, rompendo as limitações das harmonias básicas. Christian foi descoberto no Texas em 1939 pelo produtor e caçador de talentos, John Hammond, que o levou para Nova York e o apresentou para o clarinetista e líder de banda, Benny Goodman, que por sua vez o contratou de imediato. Charlie Christian, mestre do swing e jazz tradicional, foi considerado peça fundamental para a formação de novos estilos de jazz conhecidos como bebop e cool jazz; pois após as apresentações com o sexteto de Goodman, Christian se refugia nos clubes do Harlem onde participava de jams sessions junto a músicos de jazz renomados como Charlie Parker, Dizzy Gillepsie e Thelonious Monk em reuniões que foram certamente o ponto de partida para a criação do bebop. Especialistas de jazz afirmam que a maioria dos guitarristas de jazz (e até mesmo de blues) que surgiram após Charlie Christian, foram influenciados por seu estilo inovador. Dentre os mais conhecidos, podemos citar Lonnie Johnson, T-Bone Walker e B. B. King, no blues; Oscar Moore, Les Paul, Kenny Burrell, Grant Green, Wes Montgomery e George Benson, no jazz; Chuck Berry, Scotty Moore, Carlos Santana e Jimi Hendrix, no rock. Charles Christian integrava o sexteto de Benny Godman até ser internado com tuberculose em 1940, nunca mais se recuperou totalmente, vindo a falecer em 02 de março de 1942, aos precoces 25 anos de idade. O modelo de guitarra preferido de Christian era a Gibson ES-150, equipada com o pick-up (captador) que mais tarde levou seu nome. Alguns registros em discos resgataram um pouco do seu imenso legado, como os cds Charlie Christian With The Benny Goodman Sextet And Orchestra; Solo Flight: The Genius of Charlie Christian; Solo Flight: Live Performances as Member of the Benny Goodman Sextet; Genius of the Eletric Guitar – 1939-1941 Recordings; e Live at Minton’s Playhouse 1941.
02 – DJANGO REINHARDT – Guitarrista belga, nascido em 1910. Ele foi um dos primeiros guitarristas de jazz branco e europeu. Filho de ciganos, Jean-Baptiste “Django” Reinhardt passou boa parte de sua vida vagando com a família por toda a Europa. A música melancólica cigana o inspirou para criar um estilo único de tocar, mesclando rara habilidade e leveza. Django começou a ser notado num acampamento cigano próximo a Paris, quando ainda muito jovem já tocava banjo, violino e guitarra acústica; logo ele começaria a tocar em tocar em algumas danceterias da capital francesa. Casado já aos 18 anos, sobreviveu a uma tragédia que mudaria para sempre sua vida. Ao se preparar para dormir em sua casa, após mais uma noite de apresentação, ele derrubou um vela acesa que queimou rapidamente um material inflamável usado por sua esposa para fazer flores artificiais. O resultado foi que Django teve queimaduras de primeiro e segundo grau na metade do corpo, em conseqüência das queimaduras teve sua perna direita paralisada e sua mão esquerda gravemente ferida. Em mais ou menos um ano, Django já podia andar de muletas e graças ao incentivo do irmão Joseph Reindhardt, também um grande guitarrista, ele volta a praticar com a guitarra mesmo com dois dedos (anular e mínimo) da mão esquerda, parcialmente paralisados. Ele ainda conseguia usar esses dois dedos para tocar, embora não conseguisse utilizá-los para solar no braço da guitarra. Embora sua reabilitação fosse dolorosa e difícil, Django conseguiu desenvolver um novo modo de tocar que o deixou famoso, superando assim suas limitações físicas. Poucos anos depois, na Paris de 1934, o Quintette du Hot Club de France composto por Django Reinhardt, Joseph Reinhardt e Roger Chaput nas guitarras; Stéphane Grappelli, no violino; e Louis Vola, no baixo, era a sensação nos clubes noturnos. Sua fama crescente fez com se aproximasse e gravasse com estrelas do jazz norte-americano como Coleman Hawkins, Benny Carter, Rex Stewart e Louis Armstrong, apesar de ser analfabeto e não conseguir ler partituras. Durante a Segunda Guerra Mundial, Django se virou como pode, abandonou a excursão que fazia com Grappelli na Inglaterra e largou sua esposa, retornando definitivamente para Paris e temendo pelas perseguições nazistas aos ciganos. Em 1943 casou-se novamente e logo após o fim da guerra volta para a Inglaterra para se juntar a Grappelli. Em seguida foram para os EUA onde abriram shows para Duke Ellington e fizeram apresentações no Carnegie Hall. Voltando para a França, Django se reintegra à vida cigana, estava no seu sangue, ele não conseguia se adaptar aos confortos das grandes metrópoles. Entendidos de jazz dizem que foi do Quintette Du Hot Club De France que nasceu o conceito “lead guitar” se referindo ao papel de Django como solista no grupo e “rhythm guitars” em referência a Joseph Reinhardt e Roger Chaput, que o acompanhavam no ritmo ou na percussão usando o corpo das próprias guitarras. Mas Django experimentou uma banda com baixo, piano e percussão também, composta por músicos italianos de jazz resultando no trabalho denominado Djangology, que contou com a participação do eterno parceiro Stephane Grappelli e seu violino. O modelo de guitarra preferido de Django era acústica Selmer-Maccaferi, era o instrumento que lhe deixava a vontade para voltar às suas origens ciganas, já que tinha experimentado sem muito sucesso as guitarras amplificadas e ter se deixado influenciar de alguma maneira pelo jazz norte-americano. Suas maiores influências além da própria cultura cigana, foram os guitarristas de jazz Charlie Christian e Eddie Lang, e o trompetista Louis Armstrong. Dentre seus seguidores, podemos citar os guitarristas Grant Green, Joe Pass, Les Paul, Larry Coryell, Bucky Pizarelli, etc. Django faleceu devido a uma hemorragia cerebral em 16 de maio de 1953 aos 43 anos, em Fontainebleau, França. De sua discografia, as gravações que são altamente recomendadas são At Club St. Germain (1951), Django Reinhardt et Ses Rythmes (1953) e The Great Artistry Of Django Reinhardt (1954).
03 – WES MONTGOMERY – Guitarrista afro-americano nascido em 06 de março de 1923, considerado um herdeiro do estilo de Charlie Christian, ou ainda, uma extensão natural do guitarrista texano. John Leslie “Wes” Montgomery era autodidata, por forças das circunstâncias usava o dedo polegar para dedilhar as cordas de sua guitarra, o que é considerado tecnicamente errado pelos puristas. Wes era o segundo de três irmãos, todos músicos talentosos e que tocaram e se apresentaram juntos no início de suas carreiras profissionais. Os outros dois eram Buddy e Monk Montgomery, mas Wes foi considerado por um crítico como “a melhor coisa que aconteceu com a guitarra depois de Charlie Christian”, trazendo ainda inovações para o jazz. O incrível é que Wes Montgomery começou seu aprendizado aos 19 anos, uma idade em que normalmente músicos de jazz já têm um estilo próprio definido; vale lembrar que Charlie Christian faleceu com apenas 25 anos. Dizem que Wes não desenvolveu a técnica com o dedo polegar por vontade própria, foi a única alternativa que teve, pois durante seu aprendizado ao tocar normalmente com a palheta, a sonoridade gerada incomodava a esposa que precisava dormir para acordar cedo para o trabalho e os vizinhos, assim passou a dedilhar com o polegar produzindo um som mais abafado, menos agressivo, mais agradável e melódico. Seu progresso foi espantoso e já no final da década de 1940, Wes Montgomery foi convocado para a banda de Lionel Hampton. Pouco depois, Wes volta se unir aos dois irmãos, e com Buddy no vibrafone e Monk no baixo elétrico, formam o grupo Mastersounds, mudado em seguida para Montgomery Brothers. Com essa formação que contava ainda com um trompetista de 17 anos chamado Freddie Hubbard, gravaram o bom disco Fingerpickin’ (1958). Durante toda sua carreira Wes Montgomery fez parceria com músicos renomados como o vibrafonista Milt Jackson e o organista Jimmy Smith. Mas ele foi reconhecido definitivamente na comunidade jazzística ao lançar o primoroso disco The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery (1960), que junto aos posteriores Movin’ Along (1960) e Full House (1962), são obrigatórios na discoteca básica de qualquer colecionador e estudioso de jazz. O modelo de guitarra preferido de Wes Montgomery era a Gibson L-5 CES, suas maiores influências foram Charlie Christian e Django Reinhardt. Ele não deixaria de influenciar outros guitarristas que surgiriam após seu breve, mas intenso reinado e alguns que beberam de sua fonte foram os guitarristas de jazz, Grant Green, George Benson, Kenny Burrell e Pat Metheny; e os guitarristas de rock, Steve Howe do Yes e Jimi Hendrix, só para citar alguns. No auge da fama e reconhecimento, Wes Montgomery sofre um ataque cardíaco fulminante, em 15 de junho de 1968, aos precoces 45 anos. Outros discos de Wes Montgomery que vale a pena ouvir são Far Wes (1959); Bags Meets Wes! (1961), com Milt Jackson; So Much Guitar (1961); Live at Ronnie Scott’s (1964); Smokin’ at the Half Note (1965); Jimmy & Wes: The Dynamic Duo (1966) com Jimmy Smith.
04 – GRANT GREEN – Guitarrista e compositor afro-americano, nascido em 06 de junho de 1935. Green transmitia muita simplicidade no palco, geralmente sentado com as pernas cruzadas e com os olhos fechados, se deixava levar pelas notas que emitia de sua guitarra modelo Gibson ES-330 - D’Aquisto, destilando sua música orgânica, límpida e suave, que parecia refletir seu estado de espírito e sua satisfação de estar ali tocando naquele momento. Seu fraseado era facilmente reconhecido, seus fãs certamente poderiam identificá-lo com apenas o primeiro acorde tocado. É verdade que Grant Green não agradava a cem por cento dos críticos e especialistas de jazz, já que incorporava à sua música elementos de outros gêneros como o blues, boogie & woogie, R & B, spiritual, gospel, soul, funk e até rock. Precoce, Green começou a tocar profissionalmente desde os treze anos de idade, incentivado pelo pai que era também guitarrista. No início da década de 1950 já acompanhava e gravava com músicos de jazz renomados como os saxofonistas Jimmy Forrest e Lou Donaldson, e o trompetista Harry Edison. E foi graças ao empurrãozinho de Lou Donaldson, ele conseguiria gravar seu primeiro disco pelo selo Blue Note em 1961, que foi denominado Grant’s First Stand. Durante a década de 1960 ele desfrutou da colaboração de músicos consagrados no seu trabalho e participou das gravações de vários outros como Jimmy Smith, Larry Young, Sonny Clark, Yusef Lateef, Herbie Hancock, Big John Patton, McCoy Tyner, etc. Grant Green teve um forte influência do guitarrista de jazz norte-americano Jimmy Raney (1927-1995) e também de Charlie Christian, Django Reinhardt e Wes Montgomery, embora afirmasse que sua maior fonte de inspiração viesse dos saxofonistas Charlie Parker e John Coltrane. Em 1965, grava o clássico Idle Moments, um trabalho inspirado, esbanjando criatividade e fluidez, situando-se entre simplicidade e sentimento do blues à elegância e sofisticação do jazz. Nesse disco consta a belíssima faixa “Django”, em homenagem ao guitarrista cigano Django Reinhardt. Mas, como boa parte dos músicos de jazz, Green era viciado em drogas, principalmente heroína, que comprometeu uma parcela considerável de sua carreira. Ele chegou na década de 1970 muito debilitado pelo vício, até que em 31 de janeiro de 1979, Green sofreu um ataque cardíaco fulminante dentro do seu carro enquanto se dirigia para a festa de lançamento do disco Breezin’ de seu amigo guitarrista, George Benson, um de seus devotos seguidores. Dos seus trabalhos posso destacar alguns discos (cds) indispensáveis, como os já citados anteriormente Grant’s First Stand e Idle Moments; Gooden’s Corner (1961); Oleo (1962); Born To Be Blue (1962); The Matador (1964); Talkin’ About (1964); I Want To Hold Your Hand (1965), Alive 1970; Live At Lighthouse (1972) e o póstumo The Complete Quartets – with Sonny Clark (1997).
05 – LES PAUL – Guitarrista, banjolista, gaitista, compositor e inventor norte-americano nascido em 09 de junho de 1915. Lester William Polfus, considerado o “pai da guitarra elétrica”, foi simplesmente o inventor do famoso modelo de guitarra Gibson que foi batizada com seu nome artístico, “Les Paul”. Esse modelo de guitarra foi o preferido de astros do rock, como Jimmy Page, Peter Green, Mike Bloomfield, Duane Allman, Pete Townshend, dentre outros. Les Paul começou a sua carreira de músico tocando banjo, depois gaita (ou harmônica) e aos treze anos de idade já era músico profissional, tocando inicialmente country music. Nessa época, já insatisfeito com o som do seu violão acústico, começou a investir em amplificações de guitarras e não tardou que ele criasse o primeiro modelo de guitarra de corpo de madeira sólido até chegar ao design atual que hoje conhecemos como gibson les paul. Entre 1941 e 1942 criou seu primeiro modelo de guitarra de corpo de madeira maciço que foi denominado “tronco” (The Log), tendo um formato quadrado com dois captadores (pickups) que prolongava eletricamente as notas tocadas nas cordas de aço. Seu dom nato para inovações e invenções não ficou restrito apenas aos instrumentos musicais elétricos, mas foi dirigido também para novas técnicas de estúdio revolucionárias, como gravação multicanal, por volta de 1948, que o fez se destacar precocemente no universo fonográfico em geral. Algumas das características técnicas de Les Paul como guitarrista eram sua virtuosidade e velocidade anormal nos solos. Les Paul foi influenciado pelo guitarrista belga Dejango Reinhardt e nos anos de 1930 e 1940 fez grandes parcerias com os cantores Bing Crosby e Frank Sinatra; também tocou com o trompetista, vocalista e líder dos All Stars, Louis Armostrong. Suas composições em parceria com sua então esposa Mary Ford, fizeram dele um ídolo em meados dos anos de 1950, as mais famosas foram as canções “Vaya Con Dyos”, “Mockin’ Bird Hill”, “Bye Bye Blues”, “Nola” e “How High The Moon”. Mas Les Paul sempre foi um sujeito discreto, pacato e anti-estrelismo, e talvez por isso fosse tão querido e lhe foi permitido, por Deus, desfrutar uma longa vida sem maiores incidentes. Les Paul, sobretudo persistente e otimista em relação à vida, não se deixava abater quando situações difíceis surgiam. Um fato que ilustra isso ocorreu em 1948, quando sofreu um grave acidente automobilístico. Os médicos disseram que ele não recuperaria o movimento normal do ombro atingido. Les Paul então instruiu os cirurgiões que o operassem de tal maneira que não o impedissem de tocar novamente, e assim foi feito. O modelo famoso da gibson les paul dourada que conhecemos hoje, foi lançada oficialmente no verão de 1952 nos EUA, ao preço de US$ 210,00. O jovem Lester William Polfus foi o próprio garoto-propaganda. Les Paul faleceu em 12 de agosto de 2009, aos bem vividos 94 anos de idade, em decorrência de complicações de pneumonia ao lado de seus quatro filhos e sua segunda esposa Arlene Palmer. E dizem que pouco antes de sua saúde complicar ele estava tocando sua “invenção” surpreendentemente muito bem.
06 – JOE PASS – Guitarrista e compositor norte-americano nascido em 13 de janeiro de 1929. Desde menino, Josephy Anthony Jacobi Passalaqua demonstrou sua aptidão pela música, aos nove anos ganhou a primeira guitarra dada pelo pai que o incentivava e já tinha o hábito de escutar os discos dos guitarristas Django Reinhardt e Charlie Christian. Seguindo o curso dos acontecimentos, foi atraído pelo movimento bebop encabeçados por Charlie Parker e Dizzy Gillespie, o que fez sua cabeça definitivamente. Quando completou dezoito anos abandonou os estudos de vez e mudou-se para Nova York onde pôde acompanhar de perto seus ídolos. No berço do jazz, Joe Pass passa a estudar teoria musical com o guitarrista Harry Volpe enquanto atuava nas bandas de Charlie barnet e Ray McKinley, tocando também como freelancer em clubes diversos de Manhattan e New Jersey. Mas a boa vida acabou, quando foi convocado e serviu à marinha por aproximadamente um ano. De volta, tudo se transforma para a pior, Joe Pass começa a se envolver com drogas em meados dos anos de 1950 e aquele futuro promissor para um dos maiores guitarristas de jazz surgidos no pós-guerra parecia cada vez mais distante, suas performances caem em qualidade e ele passa a ser comparado à guitarristas menos talentosos. Desesperado mudou-se para a cidade de New Orleans, onde chegou a tocar em boates de strip-tease, afundando-se cada vez mais no vício. Ele chegou ao ponto de roubar instrumentos musicais dos colegas para sustentar sua dependência química. Pass, foi preso por duas vezes na década de 1950 portando drogas, passou também por duas internações tentando se reabilitar, totalizando sete anos de sua vida lutando contra a dependência de heroína. Como ele mesmo disse, foi uma “década perdida”, suas prioridades naqueles dias eram “em primeiro lugar ficar chapado, em seguida vinham a música e as garotas.” E ainda completa, “Só que as drogas minavam todo o meu dinheiro e energia.” Em 1962, definitivamente curado, Joe Pass lança o disco Sounds Of Synanon em parceria com o pianista (e ex-viciado) Arnold Ross e outros músicos, que conheceu no Centro de Internação e Reabilitação de Synanon. Foi a volta por cima de Joe Pass, o trabalho foi um sucesso de público e crítica, ele estava de novo nos trilhos. Por um bom período estabeleceu-se em Santa Mônica, Los Angeles, onde teve oportunidade para trabalhar com músicos do quilate de Chet Baker, Johnny Mathis, Sarah Vaughan, Benny Goodman, Les McCann, Frank Sinatra, Joe Williams, Carmen McRae, só para citar alguns. Sai então, seu primeiro trabalho solo, denominado Catch Me (1963); Pass estava no auge da forma técnica e foi considerado “o mais espetacular guitarrista a surgir na cena jazzística, desde o aparecimento de Wes Montgomery, no final dos anos de 1950”, segundo a crítica. Foi chamado também de “Charlie Parker da guitarra” e o próprio Wes Montgomery disse que Pass era seu guitarrista favorito. Joe Pass tecnicamente tocando possuía articulação, destreza e técnica apuradas fazendo com que a complexidade harmônica do bebop soasse como a coisa mais simples do mundo. Os críticos diziam que “Pass suavizava o nervosismo do bebop e impunha à obviedade do swing uma complexidade avessa a hermetismos.” Dono de um fraseado dos mais sofisticados dentre os guitarristas de jazz e de uma técnica soberba, nunca se pôde acusar Joe Pass de exibicionista, pois ele era a própria simplicidade em pessoa, mas era senhor de uma sonoridade cristalina, graciosa e com tal leveza que parecia vir de um som acústico, mesmo quando amplificado. Seus modelos de guitarrras favoritos eram as D’Aquisto e Ibanez. Joe Pass atravessou as décadas de 1970 e 1980 gravando obras primas fazendo parcerias regulares com o pianista Oscar Peterson, Ella Fitzgerald, o saxofonista Benny Carter, dentre outros. Excursionou por todo o mundo, inclusive no Brasil, fazendo versões admiráveis de obras consagradas de compositores como Ivan Lins, Milton Nascimento, Luis Bonfá e Tom Jobim. Em 1987 fez uma apresentação no Clube Blue Note, em Nova Iorque, ao lado do violonista brasileiríssimo, Baden Powell. Em 1992, descobriu um câncer no fígado, mas mesmo debilitado continuou a trabalhar até que em 23 de maio de 1994, faleceu aos 65 anos de idade. Dentro da vasta discografia de Joe Pass, os trabalhos essenciais além dos já citados Sounds Of Synanon e Catch Me, são igualmente indispensáveis, Joy Spring (1964); For Django (1964); Virtuoso (1973), talvez sua obra-prima, que gerou uma seqüência de mais dois volumes; Portrait Of Duke Ellington (1974); Chops (1978); We’ll Be Together Again (1988); Live At Yoshi’s – Vols. 1 & 2 (1992); e Finally: Live In Stockholm (1992).
07 – KENNY BURREL – Guitarrista norte-americano nascido em 31 de julho de 1931. Kenneth Earl Burrell simplesmente não poderia ignorar a música, pois sua mãe era corista de uma igreja batista e pianista, seu pai tocava banjo e seus dois irmãos mais velhos eram guitarristas. Inicialmente Burrell aprendeu a tocar baixo e em seguida passou para a guitarra. Ele nunca negou suas influências no jazz, citando nomes de guitarristas como Oscar Moore, Charlie Christian, Django Reinhardt, Eddie Lang e Freddie Green. Da mesma forma teve fortes influências no blues, destacando os nomes de T-Bone Walker e Muddy Waters, para a surpresa de alguns puristas. Eclético, Burrel admirava também a música erudita e chegou a praticar violão clássico sob a orientação de Joseph (Joe) Fava. Nos anos de 1950 as coisas começam a acontecer para o jovem Burrell, na cidade de Detroit em 1951, fez sua primeira gravação colaborando com um grupo sob o comando de Dizzy Gillespie e que contava ainda com John Coltrane, Milt Jackson e Percy Heath. E após concluir seus estudos na universidade, excursionou com a banda de Oscar Peterson, que já conhecia a técnica impressionante do jovem guitarrista. Mudando para Nova York, a meca do jazz, Kenny Burrell tornou-se em pouco tempo um dos mais requisitados guitarristas da época, tocando ao lado de mestres do jazz como John Coltrane, Stan Getz, Benny Goodman, Coleman Hawkins, Billie Holiday, Ray Charles, Herbie Hanckock, Miles Davis e Charlie Parker, só para citar os mais famosos. Já era tempo de Burrell, com tanto prestígio, iniciar sua carreira solo. Ele já era considerado um dos mais completos da história do jazz, tinha um fraseado elegante e lírico, explorando com facilidade as complexas harmonias do bebop quanto os ritmos compassados do blues, rhythm & blues ou funk. Burrell chegou a tocar para soulman James Brown. Jimi Hendrix chegou a declarar que Burrell tinha desenvolvido o som que ele (Hendrix) sempre buscou. Não foi a toa que diziam que Burell era “o mais negro dos guitarristas brancos de jazz”. Alguns afirmavam que ele era o guitarrista preferido de Duke Ellington, apesar de nunca terem gravado juntos, apenas terem dividido o palco em algumas ocasiões. Não foi por acaso que Kenny Burrell gravou uma série de discos dedicados à obra de Ellington na década de 1970. O veterano guitarrista teve sua obra reconhecida ainda em vida, em 2005 recebeu o título de Jazz Máster pela National Endowment for the Arts (NEA), além do prêmio Jazz Educator of the Year, pela revista Down Beat em 2004. Em 2010 foi homenageado no Grammy com o prêmio Salute to Jazz. Kenny Burrell publicou dois livros, Jazz Guitar e Jazz Guitar Solos e fundou uma entidade destinada à preservação e promoção do jazz, a Jazz Heritage Foundation. A lista dos guitarristas influenciados por Burrell é extensa, mas vale citar alguns como, Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan no rock; George Benson, Lary Coryell, Joe Pizzarelli, Joe Martino e Stanley Jordan, no jazz. Seus trabalhos essenciais e que deveriam estar na discoteca de qualquer entendido de jazz são, Introducing Kenny Burrell (1956); All Night Long (1956); Blue Moods (1957); The Cats (1957); Blue Lights Vols. 1 & 2 (1958); Kenny Burrell and John Coltrane (1958); Midnight Blue (1967); Up the Street, ‘round the Corner, Down the Block (1974); Ellington is Forever Vols. 1 & 2 (1975/77); e Tenderly (2011). Kenny Burrell está atualmente, com 81 anos de idade.
08 – PAT METHENY – Guitarrista e compositor norte americano nascido em 12 de agosto de 1954. Patricky Bruce Metheny faz parte de uma geração de novos guitarristas surgidos em meados dos anos de 1970 que chamou a atenção do público jovem geralmente alheio ao jazz. Seu modo descontraído de se vestir e seu carisma natural, seu talento para improvisações, além de rapidez e técnica impressionantes, contribuíram muito para cativar fãs por todo o mundo. O que contribuiu também para sua popularidade foi que Metheny investiu até em vídeo-clipes exibidos pela MTV, nas décadas de 1980, para divulgar seu trabalho. Como a maioria dos músicos natos, Pat, que era filho de um trompetista, iniciou-se precocemente, primeiro com o saxofone aos oito anos, passando para a guitarra aos doze, e aos quinze anos de idade já tocava profissionalmente com músicos experientes no Kansas, Missouri. O modelo de guitarra favorito de Matheny é a tradicional Gibson ES-175. Além das guitarras, Metheny domina também com maestria, o violão e a Sitar indiana. Segundo os críticos, ele teria reinventado o som tradicional das guitarras de jazz e tornando-se uma figura chave para o gênero e variações, jazz rock, jazz fusion, progressive jazz, jazz contemporâneo e post-bop, dos últimos 20 anos, abrindo os horizontes para uma leva de guitarristas emergentes. Seu estilo criativo para tocar foi desenvolvido sob influência de músicos consagrados como os guitarristas Jim Hall, Wes Montgomery, John MacLaughlin e Jimi Hendrix, o trompetista Miles Davis e os saxofonistas John Coltrane e Ornette Colleman. Ao longo de sua produtiva carreira Pat Metheny ganhou vários prêmios e títulos como “Melhor Guitarrista de Jazz” e prêmios Grammy de “Melhor Rock Instrumental”, “Melhor Gravação de Jazz Contemporâneo”, “Melhor Solo Instrumental de Jazz” e “Melhor Gravação Instrumental”; sendo por essas e por outras que ele foi acusado de ser comercial demais para os puristas de jazz, mas de qualquer forma seus trabalhos, dentro de sua proposta, são geralmente de primeira qualidade. Aberto a novas influências, Pat Metheny trabalhou com músicos de gêneros diversos, passando por Herbie Hanckock no jazz, Milton Nascimento na nossa MPB até David Bowie no glamour & pop rock. Suas experiências não param por aí, ele foi um dos pioneiros da música eletrônica e um dos primeiros músicos de jazz a tratar o sintetizador com seriedade. Seu lado inventor e criativo contribuiu também para o surgimento da guitarra acústica soprano, a guitarra Pikasso de 42 cordas e a guitarra Ibanez Pm-100, dentre outras invenções. Dos trabalhos de Pat Metheny, posso destacar os seguintes, Bright Size Live (1975); American Garage (1980); 80/81 (duplo, 1980); Rejoicing (1983); The Falcon and the Snow Man (1984); Secret History (1992); Like Minds (1998); e The Way Up (2005).
09 – STANLEY JORDAN – Guitarrista, pianista e compositor norte-americano nascido em 31 de julho de 1959. Famoso por ter popularizado a técnica de “tapping” (uma variação da técnica de notas ligadas) para a guitarra e outra série de inovações musicais para o instrumento. A técnica do tapping consiste em “martelar” ou “digitar” notas na escala do braço da guitarra (violão ou baixo), ligando-as e adquirindo efeito de grande velocidade. Outros guitarristas que contribuíram para a divulgação dessa técnica foram Roy Smeck nos anos de 1930, Jimmy Webster nos anos de 1950, Steve Hackett (do Genesis) nos anos de 1970 e Eddie Van Halen, nos anos de 1980. Voltando ao jazz, o estilo de Jordan pode ser classificado como jazz fusion, pois agrega ao jazz elementos não convencionais ao gênero tradicional. Stanley Jordan teria começado estudar piano aos seis anos de idade e aos onze, se voltou para a guitarra. Inicialmente tocava temas de rock e soul, se destacando posteriormente em diversos festivais pelo mundo como o Kool Jazz Festival de 1984, Concord Jazz Festival e Montreaux International Jazz Festival, ambos de 1985. Stanley Jordan foi descoberto nas ruas e não nos palcos. Ele seguiu os passos dos incontáveis músicos anônimos que tocam nas ruas de grandes centros em troca de algumas moedas. Jordan, ao contrário da maioria, não passou em branco, pois ficou conhecido como “o guitarrista incrível que toca por alguns cents” nas ruas de Nova York, Filadélfia e outras cidades do Meio Oeste e Sul dos EUA; até que ele foi notado por empresário musical que o convidou para gravar um disco. Mas Jordan recusou a oferta na ocasião por achar que não estava preparado tecnicamente para assumir o compromisso. Pouco mais de um ano depois ele foi novamente abordado pelo mesmo agente e desta vez aceitou o convite, resultando no bom disco de estréia, Touch Sensitive (1982), que foi seguido pelo trabalho homônimo (1984) e o famoso Magic Touch (1985). Este último disco foi considerado uma síntese de vários estilos de jazz e classificado como um padrão definitivo para o jazz contemporâneo. Mas Jordan não se acomodou em seus experimentos e continuou inovando, como em Cornucopia (1990), onde vez uma versão groove-orientada do tema erudito “Bolero”, de Ravel. Além de ter tido a oportunidade de tocar com lendas do jazz, como Dizzy Gillespie e Bennie Carter, Stanley Jordan foi influenciado por músicos de gêneros diversos, como os guitarristas de blues & rock, Carlos Santana, Jimi Hendrix e Roy Buchanan; e os guitarristas de jazz consagrados como Wes Montgomery, George Benson e o húngaro Gabor Szabo. Ultimamente Stanley Jordan tem se apresentado regularmente no Brasil, contando com músicos brasileiros num trio de guitarra, baixo e bateria; sendo habitual em seu repertório interpretações surpreendentes de temas consagrados da nossa MPB. Da discografia de Stanley Jordan posso indicar os seguintes trabalhos, o já citado Magic Touch (1985); Standards Vol. 1 (1986); Cornucopia (1990); Stolen Moments (1991); Bolero (1994); Live in New York (1998) e Friends (2011).
10 – GEORGE BENSON – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 22 de março de 1943. Criado numa família de músicos amadores, George Benson já tocava um ukele (violão pequeno com quatro cordas) ainda criança e aos 10 anos fez a sua primeira gravação tocando “She Makes Me Mad”. A década de 1960 foi de muito aprendizado para George Benson, que teve o privilégio de tocar ao lado de lendas do jazz como Miles Davis, Herbie Hanckock e Ron Carter, o que fez crescer sua fama de um dos melhores guitarristas de jazz na época. Assim, ele lançaria seu primeiro disco como profissional, The New Boss Guitar Of George Benson (1964). Os álbuns que se seguiram, apesar da boa qualidade, não tiveram o reconhecimento merecido de público e crítica. Em 1971, Benson começa a enveredar por um caminho que fez os puristas de jazz “torcerem” o nariz, ao acrescentar na sua sonoridade, elementos de música pop, tentando alcançar um mercado mais abrangente. Mas só em 1975 que ele alcança o sucesso desejado com a gravação do hit “Supership”. Claramente ele ia se afastando da linha pura do jazz, mas não deixando de gravar temas clássicos do gênero. Em 1976, seu disco Breezin’, bateu o recorde de vendas para um disco de jazz, ganhou o Grammy além do disco de ouro e platina, mas a partir daí notadamente em boa parte de suas interpretações, seu vocal estava se destacando mais do que sua guitarra. Benson ainda conseguiu agradar boa parte da crítica e público nas versões de grandes clássicos como “This Masquarade”; “Breezin”; “The Flight”; “Nature Boy”; “On Broadway” e “Take Five”. Ele estava claramente direcionando seu trabalho para uma sonoridade mais suave e dançante, almejando alcançar o público além das fronteiras restritas do jazz e de certa forma, alcançou o que queria. A sua versão de “On Broadwy” foi usada no filme All That Jazz (O Show Deve Continuar) de 1979, que lhe trouxe ainda mais popularidade. Em 1981, a faixa “Turn Your Love Around” chegou ao top das paradas, enquanto que no ano seguinte, emplacou outro sucesso, “Never Give Up On A Good Thing”. Benson tinha toda a pinta de músico de jazz, mas ao contrário da maioria que preferia certo anonimato, ele optava pelos holofotes. Talvez por isso tenha se desviado um pouco do foco inicial, que seria desenvolver ao menos um bom jazz contemporâneo, já que fora influenciado por mestres tradicionais de jazz guitar como Charlie Christian, Eddie Lang, Wes Montgomery, Grant Green e pelos vocais de Joe Williams e Louis Armstrong. George Benson nunca foi unanimidade, os músicos puristas de jazz sempre o rejeitaram devido ao seu visual de soulman, o pessoal do R&B e soul o achavam sofisticado demais para um ambiente esfumaçado e barulhento, só restou para Benson aventurar-se no mundo menos exigente da pop music, criando um estilo que flutua entre o jazz, o pop e o soul. Apesar dos prós e contras, George Benson realizou grandes trabalhos e inegavelmente contribuiu para a divulgação do jazz entre o público do rock e do pop. Posso indicar alguns essenciais como o já citado The New Boss Guitar Of George Benson; It´s Uptown (1965); Shape Of Things To Come (1968); The Other Side Of Abbey Road (1970); Jazz on a Sunday Afternoon Vols. 1 & 2; Beyond The Blue Horizon (1973); In Concert: Carnegie Hall (1975); Good King Bad (1975); Breezin’ (1976); Weekend in L. A. (1977); Give Me the Night (1980); Tenderly (1989); e Big Boss Band (1990). Nos últimos anos George Benson tenta resgatar suas origens jazzísticas, tocando seus modelos Ibanez G B 10 e G B 200 Signature.
- Com essa quarta lista dos 10 Maiores Guitarristas, encerro um trabalho prazeroso de pesquisa e espero ter contribuído com o acréscimo de informações interessantes para o conhecimento de quem procura aprender um pouco mais sobre a boa música.
Por Eumário J. Teixeira.