A
origem na Rádio:
Earl Graser, autor do famoso "Ai-ou Silver, Avante!" |
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The Lone Ranger (O Cavaleiro Solitário) foi um personagem criado para um
programa da rádio WXYZ de Detroit (Michigan, EUA) em 1933, por George W.
Trendle (1884-1972) e desenvolvido pelo escritor Fran Striker.
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George Seaton foi o primeiro ator da rádio a representar The Lone Ranger, de
janeiro a abril de 1933.
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Jack Deeds foi o segundo intérprete para The Lone Ranger, de abril de 1933 a
abril de 1941.
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Earle Graser (1909/1941) seria o terceiro a emprestar sua voz para dar vida a The
Lone Ranger. O famoso grito de The Lone Ranger “Hi-yo Silver, Away!” foi
desenvolvido e imortalizado por Grazer. Mesmo após a sua morte, o famoso grito
gravado foi usado tanto nos episódios radiofõnicos quanto na famosa série de
TV. Greaser deu voz ao Cavaleiro Solitário de 1933 a 1941. Ele nunca perdeu uma
transmissão ao vivo e apesar de apresentar um outro programa, poucos sabiam que
era de Graser a voz do Cavaleiro Solitário. Em 08 de abril de 1941, enquanto se
dirigia para a rádio para mais um dia de trabalho, Graser sofreu um acidente de
trânsito fatal aos 32 anos.
Brace Beemer, voz e corpo de The Lone Ranger |
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Brace Beemer (1902/1965), foi o mais famoso dos atores de rádio a interpretar The
Lone Ranger. Antes de assumir a vaga deixada por Earle Graser, Beemer (que já
trabalhava na rádio WXYZ) aparecia em público caracterizado de The Lone Ranger
para promover o personagem. Beemer era
de boa estatura, tinha porte atlético e sabia cavalgar, praticou regularmente o
tiro e tinha boa mira. Graser, ao contrário,
mesmo fazendo a voz do Cavaleiro Solitário, não tinha um físico compatível com
o personagem, pois era baixinho e fora de forma, jamais se aproximou de um
cavalo e não tinha dado mais que uns
poucos tiros em toda a sua vida. A performance de Beemer como o herói mascarado
foi a que teve mais longevidade, de abril de 1941 a 03 setembro de 1954, data
do último episódio das aventuras do Cavaleiro Solitário na WXYZ. Após o
encerramento definitivo do programa, Beemer emprestou a famosa voz de The Lone
Ranger para eventos e propagandas diversas, como para a venda de automóveis. Se
o grito “Ai-ôu Silver, avante!” imortalizou Graser, a performance marcante de Brace
Beemer marcou toda uma geração de ouvintes dos rádios ligados por toda a
América nas décadas de 1940 e 1950, que identificavam sua voz com a do
Cavaleiro Solitário.
Brace Beemer e John Todd (calvo e de óculos) em plena transmissão da WXYZ |
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John Todd (1877/1957) foi o ator que deu vida à Tonto, o companheiro fiel do
Cavaleiro Solitário. Todd interpretou o personagem de 1933 a 1954. Inicialmente
ao lado de Earle Graser, para finalmente encerrar as aventuras do Cavaleiro
Solitário e Tonto na companhia de Brace Beemer no último episódio transmitido
pelo rádio em 1954. John Todd viveu até os 80 anos.
A
lenda renasce nas telas dos cinemas:
Lee Powell e Victor Daniels - O Cavaleiro Solitário e Tonto |
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Lee Powell (Lee Berrian Powell - 1908/1944) foi o primeiro ator da telona a interpretar The Lone Ranger. O tele-seriado
“The Lone Ranger” foi lançado em 1938 nos cinemas dos EUA. Lee Powell morreu em
circunstâncias não totalmente esclarecidas quando servia à Marinha
norte-americana nas ilhas do pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial. A
informação oficial foi que ele teria ingerido bebida alcoólica envenenada.
Nesta versão de 1938, o rosto e indentidade do Cavaleiro Solitário só são
revelados nos últimos capítulos. O ator Lee Powell finalmente tira sua máscara adaptada
a uma espécie de véu que cobria todo o seu rosto, revelando assim ao público
qual dos seis atores teria interpretado o Cavaleiro Solitário durante todo o
seriado.
- Chief Thundercloud (Victor Daniels – 1899/1955) foi o primeiro ator da telona a
interpretar Tonto, o fiel companheiro
índio do Cavaleiro Solitário, inicialmente interpretado por Lee Powell. Victor
Daniels tinha realmente sangue índio da tribo cherokee ou muskogee. Daniels
também interpretou o personagem Tonto ao lado de Robert Livingston na segunda temporada
de The Lone Ranger.
Bob Livingston, o segundo a encarnar The Lone Ranger |
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Robert (Bob) Livingston (Robert Edward Randall – 1904-1988) foi o segundo ator
da telona a interpretar The Lone Ranger. Ele substituiu Powell em 1939 noutro
tele-seriado intitulado “The Lone Ranger Rides Again”.
O
Cavaleiro Solitário invade as Televisões da América
Clayton Moore e Jay Silverheels, inesquecíveis na série de TV |
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Clayton Moore (Jack Clayton Moore – 1914/1999) foi o mais famoso dos atores a
interpretar The Lone Ranger. Ele protagonizou um inesquecível seriado de TV (de
1949 a 1951 e de 1955 a 1957) e também dois
longas para o cinema representando o herói mascarado ao lado de Jay
Silverheels: “The Lone Ranger” (1956) e “The Lone Ranger and the Lost City of
Gold” (1958).
John Hart substituiu Moore por dois anos |
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John Hart (1917-2009), foi o segundo ator a interpretar The Lone Ranger para um
seriado de TV. Ele substituiu Moore entre 1952 a 1954, enquanto este supostamente
se afastou para negociar a renovação de seu contrato.
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Jay Silverheels (Harold J. Smith – 1912/1980), foi o primeiro e último ator a
interpretar Tonto, o fiel companheiro índio de The Lone Ranger para o seriado
de TV. Silverheels trabalhou ao lado de Moore e Hart, nas duas fases de The
Lone Ranger entre 1949 a 1957. Como Victor Daniels, o primeiro a interpretar
Tonto no cinema, Silverheels também tinha sangue índio, dos mohawk canadenses.
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A música tema da série de TV The Lone Ranger com Clayton Moore e Jay
Silverheels ficou marcada na memória de quem curtiu as aventuras do Cavaleiro
Solitário; principalmente a parte final extraída da obra “William Tell
Overture” de Giocchino Rossini, adaptada e conduzida por Daniel Pérez Castaneda
para a famosa abertura da série.
Versões
modernas de The Lone Ranger:
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O filme para as telonas “The Legend of The Lone Ranger” de 1981, foi estrelado
por CLinton Spilbury que interpretou The Lone Ranger, e Michael Horse encarnou
Tonto. O filme não foi bem aceito porque foi contra, em muitos detalhes, a
verdadeira origem do personagem. Além disso, Clinton Spilbury não convenceu
como The Lone Ranger.
The Lone Ranger, 2003. Um fracasso. |
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O filme para a TV “The Lone Ranger” de
2003, foi estrelado por Chad Michael Murray como The Lone Ranger e Nathaniel
Arcand como Tonto. Outra Tentativa fracassada de adaptar a história do
Cavaleiro Solitário, fazendo dele um rancheiro mascarado. Acabou arquivado e
esquecido.
The Lone Ranger, 2013. Não decepciona. |
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O filme para o cinema “The Lone Ranger” de 2013, foi a última versão para o
Cavaleiro Solitário, estrelado por Armie Hammer como The Lone Ranger e o
consagrado ator Johnny Depp como Tonto. Alguns aprovaram, mas a maioria saudosista
e fiel ao original ficou decepcionada, já que a versão tente mais para a
comédia e há um certo abuso de efeito
especiais. Fica uma sensação de que o
personagem do Cavaleiro Solitário fica em segundo plano, pois a versão de Tonto
de Johnny Depp rouba a cena.
Zorro vs. Cavaleiro Solitário |
O
Cavaleiro Solitário e o Zorro no Brasil
No Brasil o seriado The Lone Ranger estrelado por Clyaton Moore e Jay
Silverheels foi exibido na TV em prêto e branco a partir da década de 1960 com
reprises nas décadas de 1970. A TV Tupi (já extinta) foi a primeira a exibir o
seriado com o nome errôneo de “Zorro”, da mesma forma nas revistas em
quadrinhos lançadas pela Editora Brasil-América (Ebal) onde The Lone Ranger ou
o Cavaleiro Solitário era apresentado como Zorro. Na Verdade o Zorro (raposa em
espanhol) seria originariamente o herói mexicano mascarado de capa e espada,
que montava um alazão negro chamado Tornado e era acessorado por um fiel
escudeiro chamado Bernardo. Zorro lutava pela independência do México e contra
o exército local corrompido pelos colonizadores espanhóis. O herói mexicano
ainda tinha como um inimigo trapalhão, o gorducho Sargento Garcia. Nada a ver
com o Cavaleiro Solitário, que tem suas aventuras passadas no Texas já anexado
ao território norte-americano várias décadas após as aventuras do Zorro de
origem mexicana. Alguns traduziram “Ranger” como “Guarda Florestal”, mas na
verdade o termo ranger está mais “patrulheiro” ou “vigia”. Estes homens da lei
vigiavam as fronteiras do Texas com o México, uma rota muito explorada pelos
diversos contrabandistas de armas e bebida; bandidos em fuga; ladrões de gado e
cavalos; e malfeitores que se refugiavam no território mexicano. Os rangers do
Texas realmente existiram, era uma força respeitada da polícia de fronteira composta
de homens capacitados e treinados para a função de patrulhamento e perseguição
aos fora-da-lei.
The
Lone Ranger nos Quadrinhos
The
Lone Ranger teve suas primeira tiras de quadrinhos para o jornal nos EUA
publicadas a partir de 1938 pela King Features Syndicate, desenhadas
inicialmente por Ed Kressy.
No ano seguinte o imortal Charles Flanders (1907/1973)
definiu para a posteridade os traços que caracterizariam o Cavaleiro Solitário
e seu amigo Tonto.
Após a aposentaria de Flanders em 1971, surge Tom Gill (1913/1992)
que definiu o personagem mascarado com traços mais refinados e precisos, auxiliado
de vez em quando por arte-finalistas,
destacando-se em seu trabalho além do sombreamento e detalhismos nas
paisagens, o visual de um Cavaleiro Solitário elegante e de postura nobre.
No
Brasil os trabalhos de Flanders e Gill foram lançados em revistas em quadrinhos
mensais pela EBAL em edições coloridas e em prêto e branco com o título
equivocado de “Zorro”, até o final da década de 1970. No início da década de
1980, Russ Heath apresenta o Cavaleiro Solitário com o figurino do filme de
1981. No início da década de 2000 Timothy Truman ilustra The Lone Ranger de uma
forma bastante inovadora. Em 2006, John
Cassaday apresenta o Cavaleiro Solitário com uma áurea mais sombria.
Capas inesquecíveis dos quadrinhos de The Lone Ranger |
Um Resumo da História do Cavaleiro Solitário
O
Capitão Daniel Reid dos Rangers do Texas, comandava seu irmão John Reid (The
Lone Ranger) e mais quatro patrulheiros
numa perseguição ao bando de Butch Cavendish que aterrorizavam o território. Os
rangers seguiam os rastros dos bandidos guiados por um guia traiçoeiro que os
levou a uma emboscada fatal num desfiladeiro. Em um número superior aos dos
guardas rurais, o bando de Cavendish ocultos por um paredão de rochas atiraram para matar. Todos os
rangers foram mortos, menos um, justamente
o irmão mais novo do Capitão Reid, que se tornaria The Lone Ranger (o ranger
solitário). John Reid foi achado pouco tempo
após o massacre seriamente ferido pelo índio (comanche ou apache) chamado Tonto. Ele e seu cavalo malhado, scout (escoteiro),
foram atraídos pelo vôo dos abutres. Tonto logo teria reconhecido o ranger
sobrevivente, já que este teria salvo a sua vida em sua juventude, por ocasião
de um ataque à sua aldeia.
Tonto
o conhecia pelo nome indígena Ke-Mosah-Bee, originado de um dialeto
provavelmente comanche ou apache, que significava “olheiro fiel” (trusty scout)
ou “amigo de confiança” (trusted friend).
A tradução aqui no Brasil chegou como “kemo-sabe” e até ao absurdo de
“quem-não-sabe”.
Escoteiro, Tonto, Cavaleiro Solitário e Silver |
Após
ser curado das feridas, o único guarda rural sobrevivente do massacre, John
Reid, pede a tonto para fazer a sexta sepultura, indicando assim que todos os
rangers teriam morrido na emboscada. Assim ele ficaria livre de uma possível perseguição do bando de Cavendish e
poderia caçá-los no anonimato usando uma máscara que preservaria a sua verdadeira
identidade.
Durante
a procura ao bando de Cavendish The Lone Ranger e Tonto presenciam uma luta
desigual entre um magnífico corcel branco selvagem e um búfalo. The Lone Ranger
intervém e abate o búfalo a tiros; a seguir trata do cavalo e o doma, dando-lhe
o nome de silver (pois era branco como a prata).
Em
seguida, The Lone Ranger e seu companheiro, chegam a uma cabana que ocultava em
seu interior a entrada para uma mina de prata descoberta por ele e seu irmão
falecido. Lá com a ajuda de um ranger
aposentado que protegia a propriedade, forjam as famosas balas de prata, que se
tornariam um símbolo de justiça naquele território, agora sob a proteção do
Cavaleiro Solitário e seu fiel companheiro Tonto. Após uma perseguição árdua,
finalmente The Lone Ranger e Tonto capturam Cavendish e seu bando e os entregam
à justiça. Era apenas o início de uma jornada do justiceiro mascarado num
combate sem tréguas a qualquer bandido que se aventurasse nos seus domínios.
Ai-ôu, Silver, Avante! |
Um
detalhe importante: O Cavaleiro Solitário nunca atirava para matar, apenas
desarmava os bandidos com tiros extremamente precisos. E como ele mesmo diria:
o julgamento ou a morte dos fora-da-lei, cabe à justiça ou à providência divina!
Como as coisas mudaram, não?
E ao
término de cada aventura bem sucedida podia-se ouvir ao longe o brado de guerra
de The Lone Ranger: Ai, ôu Silver, Avante! (Hi-Yo Silver, Away!).
A
Polêmica do nome de Tonto
Tonto, ou melhor, Jay Silverheels |
Tonto, o
fiel amigo índio do Cavaleiro Solitário, era provavelmente de origem apache ou
comanche, pois essas etnias indígenas habitavam o Novo México e o Texas. Tonto
era muito inteligente e frequentemente agia com muita astúcia em situações onde o
Cavaleiro Solitário não poderia se expor devido às circunstâncias ou ao uso da
máscara. Usava com eficiência o colt 45 e se precisasse, da mesma forma, a
faca, o arco e a flecha. Tonto, como o Cavaleiro Solitário, tinha também um
cavalo treinado que se chamava escoteiro (scout).
O
personagem Tonto teve vários intérpretes célebres, como John Todd na rádio WXYZ
nos anos de 1930 a 1950; Chief Thundercloud (Victor Daniels) nos cinemas dos
anos de 1930; e Jay Silverheels na famosa série de TV dos anos de 1950 e em
dois filmes para o cinema em 1956 e 1958. Recentemente Tonto foi revisitado
para cinema no filme The Lone Ranger (O Cavaleiro Solitário - 2013) pelo
consagrado ator, John Deep.
O nome “Tonto”
causou polêmica desde quando o personagem fora criado pelo radialista George
W. Trendle. “Tonto” era um nome índio
real de origem Pottowatomie, que literalmente poderia significar “selvagem ou
descontrolado”; como também “Tonto” era um reconhecido dialeto ou uma variação
do idioma dos índios apaches, também chamados coyoteros, que habitavam numa determinada
região do Texas. Aliás, o nome “Tonto” provocou um certo constrangimento para
nós brasileiros e fãs do personagem em diversos países de língua portuguesa e
espanhola, já que o adjetivo “tonto” para nós nunca pôde ser considerado um
elogio, pois o termo pejorativo se associa a uma pessoa atrapalhada ou pouco
inteligente, o que não era o caso do valente escudeiro do Cavaleiro Solitário.
Por
Eumário J. Teixeira.