25 de jul. de 2009

OS CHEFÕES DO BLUES: MUDDY WATERS & HOWLIN' WOLF


MUDDY WATERS - No rico universo do blues norte-americano, um nome se destacou pela fidelidade às suas raízes musicais e ao mesmo tempo pela capacidade de adaptação às novidades surgidas no showbusiness: Muddy Waters, The Hoochie Coochie Man! Com o surgimento dele, o blues expandiu seus horizontes.
O jovem Muddy Waters
McKinley Morganfield, nasceu numa plantação de algodão de Rolling Fork, no Mississipi em 04 de abril de 19l5. Dizem que herdou seu apelido “Muddy Waters” (águas lamacentas) por brincar num lamaçal que havia nos fundos de sua casa. Aos 17 anos Morganfield começava a desenvolver sua técnica “slide” inspirado no respeitado estilo com “bottleneck” de mestre Son House. Sua vida sem perspectivas nas plantações começou a mudar em 1941, quando o folclorista Alan Lomax o descobriu e o convenceu a gravar os temas “Country Blues” e “I Be’s Troubled” para o arquivo da Biblioteca do Parlamento em Washington. Muddy só resolveria tentar a sorte em Chicago dois anos depois, onde contando com a ajuda do experiente bluesman Big Bill Broonzy, começou a freqüentar o ambiente dos clubes do south side; sendo que as gravações que tinha feito para Alan Lomax reforçou a sua apresentação no meio musical concorrido. Quando conheceu o compositor e baixista Willie Dixon sua carreira tomou novo rumo. Contratado pela Chess, e recebendo de Dixon composições exclusivas, Waters disparou um hit atrás do outro nos anos 50, tais como: “Rollin’ And Tumblin”; “Rollin’ Stone”; “Long Distance To Call”; “Honey Bee”; “Standing Around Crying”; “Hoochie Coochie Man”; “I Just Make Love To You”; “I’m Ready”; “Mannish Boy” e “I Got Mojo Working”, só para citar alguns. Nesta época passaram pela banda de Muddy Waters feras como Jimmy Rogers (guitarra elétrica); Little Walter (harmônica); Otis Spann (piano); Willie Dixon (baixo acústico) e Fred Bellow (bateria). Sua crescente popularidade o levou, em 1958, a realizar a sua primeira turnê na Grã-Bretanha, onde o público o recebeu friamente, pois esperavam o blues acústico tradicional do Delta do Mississipi, divulgado por lá por Big Bill Broonzy. Muddy seria ainda reconhecido pelo público europeu nos anos 60 devido à explosão das bandas de rhythm & blues britânicas. 
Willie Dixon, Muddy Waters e Buddy Guy
Nos anos 70 sua carreira começa a declinar devido a um grave acidente de carro em 1973, que o obrigou a retirar-se dos palcos por razoável período. Reaparece em 1976 para a despedida de The Band, registrado em filme de Martin Scorsese e a partir de 1977, o roqueiro albino Johnny Winter o “adota” produzindo seus discos. Mas Muddy já estava com a saúde abalada, e no dia 30 de abril de 1983, faleceu em Chicago, vitimado por um ataque cardíaco, aos 68 anos de idade, na mesma cidade em que foi reconhecido como o “Pai do Blues Elétrico”.
A apresentação de Muddy Waters em Londres no ano de 1958 não foi em vão, pois os ingleses Cyril Davies e Alexis Korner ficaram impressionados com a sonoridade do blues elétrico da banda de Waters; sendo que, logo depois destas apresentações, os dois fundaram o “Blues Incorporated”, embrião das bandas de rhythm & blues inglesas que conquistariam os EUA. Keith Richards e Mick Jagger inspiraram-se no tema “Rolling Stone” de Waters para dar nome a sua banda; Eric Clapton o reconheceu como uma de suas maiores influências; Rory Gallagher e Stevie Winwood participaram da gravação de Muddy Waters London Sessions em 1971; Johnny Winter, fã incondicional de Muddy, regravou vários de seus clássicos e foi o responsável direto pela recuperação de sua carreira na segunda metade dos anos 70.
Eletric Mud (1968), foi o disco mais polêmico gravado por Waters, com Pete Cosey na “guitarra wah wah” e Louis Satterfield no baixo elétrico. Os blueseiros o detestaram, mas os roqueiros o adoraram. Outros de Muddy Waters recomendáveis são: At Newport (1960); Folk Singer (1963, acústico); e os produzidos por Johnny Winter : Hard Again (1977), I’m Ready (1978) e Muddy “Mississipi” Waters-Live (1979). 
HOWLIN’ WOLF - Na saudosa Chicago dos anos 50, a vida noturna era disputada por duas figuras lendárias do Blues plugado: Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Ambos dividiam o reinado no show business impulsionados por uma rivalidade saudável, ainda que bebessem da mesma fonte, ou seja, recebiam do baixista, vocalista, produtor e compositor Willie Dixon, temas compostos exclusivamente para eles.
O jovem Howlin'  Wolf
Howlin’ Wolf , o “lobo uivante”, dono de um vocal inconfundível, gaitista e guitarrista, conhecido também como The Back Door Man, o “homem da porta dos fundos”, tinha lá seus trejeitos para ganhar seu público; nas suas apresentações fazia de tudo, desde rolar pelo chão, simular sexo com o microfone e com a gaita (ou harmônica), dar cambalhotas, escalar as cortinas do palco e uivar, é claro!
Howlin’ Wolf, na verdade Chester Arthur Burnett, nasceu no dia 10 de junho de 19l0 na cidade de West Point, próximo a Aberdeen, no Mississipi. Sua iniciação com o blues e a guitarra acústica se deu através do legendário bluesman Charley Patton, seu mentor, e mais tarde com Sonny Boy Williamson II que lhe ensinou a tocar harmônica no final dos anos 30. O início como aprendiz de bluesman foi interrompido em 1941 quando foi convocado para servir ao exército e só retornando às atividades musicais após o final do conflito mundial, em 1945. No ano de 1948 aos 38 anos de idade decidiu mudar-se para Memphis, Tennessee onde formou junto a James Cotton e Little Jr. Parker, o The House Rockers, uma banda de Blues elétrico que obteve boa fama. Foi nessa época que começou a ser chamado de “Howlin’ Wolf”. A partir dos anos 50 na Gravadora Chess, Howlin’ Wolf teve a sua época de ouro, tanto nos estúdios como nas apresentações ao vivo. Nos anos 60 após ser redescoberto pelas emergentes bandas inglesas que invadiam os EUA, foi aclamado novamente e volta a gravar velhos e novos sucessos.

O lobo uivante já grisalho
Em 1970, num lance inteligente de marketing da Chess, Howlin’ Wolf se torna o primeiro bluesman afro-americano a gravar em Londres com roqueiros ingleses, o famoso disco “The London Sessions”.
Mas os problemas começaram a surgir para o velho lobo em 1973, quando depois de sofrer dois ataques cardíacos, sofreu um acidente de carro que deixou-lhe como seqüela uma grave doença renal, que o submeteu a fazer hemodiálise regularmente. Em 10 de janeiro de 1976, depois de uma operação complicada Howlin’ Wolf falece aos 66 anos em Chicago.
Vários artistas e bandas de blues e rock “chuparam” o ritmo característico dos sucessos de Howlin’ Wolf, como Peter Green’s Fleetwood Mac em “No Place To Go”, Duanne Allman e John Hammond Jr. que gravaram juntos ”Shake For Me”, Cream e a famosa versão de “Spoonfull”, Stevie Ray Vaughan detonou em “Tell Me” e “You’ll Be Mine”, John Mayall’s Blusbreakers com “Sitting On top Of The World”, etc.
 

O chefão da Chess, Wolf, Dixon e Sonny Boy II
De seus inúmeros sucessos destacam-se: “No Place To Go”, “Evil Is Going On” de 1954; “Forty Four” de 1955; “Smokestack Lighting” de 1956; “Who’s Been Talking”, “Sitting On Top Of The World” de 1957; “Moanin’ For My Baby” em 1958; “Howlin’ For My Darlin” de 1959 e “Wang Dang Doodle”, “Spoonful”, “Back Door Man” de 1960. Em 1961 gravou “Down In The Botton”, “The Red Rooster”, “You’ll Be Mine”, “Built For Confort” e “I Ain’t Superstitious”.
O disco “The London Sessions” foi lançado em 1971 e fez tanto sucesso que outros músicos como Muddy Waters, Bo Diddley e Chuck Berry se viram obrigados a gravar também com roqueiros ingleses. Neste disco Wolf estava bem acompanhado, com Eric Clapton (guitarra solo); Steve Winwood (piano e orgão); Bill Wyman (baixo); Charlie Watts (bateria); Hubert Sumlin (guitarra ritmo); Ian Stewart (piano); como também em algumas faixas, Ringo Star, como “Richie”, na bateria; dentre outros.
Vale a pena conferir também Howlin’ Wolf/Moanin’ In The Moonlight – Chess (Dois Cds em um - Gravações de 1951 a 1961). 
Aí está o link do you tube onde Howlin' Wolf canta "Shake It For Me" :http://www.youtube.com/watch?v=ux6N00CwudA
e outro link onde Muddy Waters canta "I Got My Mojo Working" no Newport Festival em 1960:http://www.youtube.com/watch?v=FhTCYqJsfqs
 
Por Eumário J. Teixeira.

10 de jul. de 2009

MAHALIA JACKSON - MUITO LOUVOR E FÉ

Sabe-se que Mahalia nasceu com o dom de cantar. Desde menina soltava sua voz sem medo de ser feliz. Certamente sua freqüência aos cultos dominicais da Igreja Batista lhe despertaram a aptidão para o canto, mais precisamente para o louvor a Deus. Mahalia não teve uma vida fácil, teve que se virar desde cedo para se sustentar e ajudar em casa. Ainda criança foi babá, na adolescência lavou roupas para famílias de melhor condição e a seguir foi camareira em um hotel de Chicago, Illinois, para onde teve que se mudar pelo fato de sua mãe ter falecido, indo morar com os tios que a adotaram aos 5 anos de idade. Mas durante todas as tarefas que desenvolveu nunca deixou de cantar, pois o canto alimentava seu espírito e a fortalecia para os futuros desafios. Já adulta, com instinto empreendedor, abriu um instituto de beleza, e enquanto cuidava dos cabelos das clientes, soltava a voz para descontrair o ambiente. Sua perseverança a levou até a ser dona de uma rede de hotéis, seu destino então seria fatalmente de uma empresária bem sucedida, certo? Não foi bem assim, pois Deus tinha outros planos para ela, era o de louvar o Senhor, o que simplesmente ela sabia fazer muito bem desde a infância. E assim foi fielmente por toda a sua vida. 
Take my hand precious Lord ...
Nos anos de 1930 ela já tinha desenvolvido um estilo único de cantar, combinando a energia do blues com a paixão sagrada do spiritual. Mahalia nasceu em 26 de outubro de 1911 na cidade de New Orleans, estado de Louisiana, no mesmo ano em que geralmente se atribui ao nascimento do jazz, gênero musical que foi desenvolvido num bairro negro e pobre, mais precisamente na Water Street, naquela cidade de predominância negra e influenciada pela cultura européia, principalmente por imigrantes de origem francesa. Mas o jazz era considerada música profana pelos seguidores do Senhor e Mahalia foi criada num ambiente completamente diferente do mudano. Ela se desenvolveu no canto inicialmente apenas imitando as cantoras veteranas da igreja. Só que ela não se limitou apenas a alcançá-las, ela as superou, deixando o estilo tradicional e bem-comportado de cantar spirituals ao incrementar às suas interpretações, o “fogo” dos cultos pentecostais, onde se ouvia um louvor sincopado e caloroso que era apoiado por percussão, trombones, trompetes e guitarra. O que ela pudesse incorporar ao seu canto e que não fosse ultrajante a sua fé, ela o fazia. Uma das coisas que mais lhe chamava a atenção, era a atuação das bandas de jazz que acompanhavam os cortejos fúnebres tradicionais de New Orleans, onde as marchas tristes eram tocadas na ida para o cemitério e as vibrantes e alegres na volta, festejando a vida. O blues a influenciou também desde menina, pois na casa dos tios, seu primo ouvia, dentre outros, discos da Imperatriz do Blues, Bessie Smith, que abusava dos tons melancólicos e que também era influenciada pelos spirituals. 
Mahalia canta o evangelho de Jesus Cristo
Mas apesar das influências musicais mudanas, Mahalia nunca abandonou os princípios cristãos da igreja batista, mesmo sendo assediada pelo conceituado maestro e músico Earl Hines, que se apresentava com a própria Bessie Smith. Ele queria Mahalia na sua banda, já que sua capacidade como vocalista já era reconhecida entre os músicos de jazz de Chicago. Mahalia recusou o convite sem vacilar se integrando a um grupo vocal da igreja acompanhada por três vocalistas masculinos. Logo se tornou a solista do grupo e acabou por conhecer Thomas Dorsey, que era branco, e um respeitado compositor de músicas gospel, com quem formou uma dupla vencedora, fazendo-a sair em definitivo do anonimato. Aos 24 anos, Mahalia casa-se com Ike Hockenhull, que tinha como ocupação o serviço de carteiro. Em 1939 ela faz algumas gravações para a Decca que deram pouco retorno, fazendo-a sofrer pressão do marido para que gravasse música comercial e profana, o que foi prontamente recusado por Mahalia, culminando assim na separação do casal. Foi nessa época que abriu seu salão de beleza e paralelamente se apresentava em cerimônias religiosas. Volta a gravar em 1946 pela Apollo e finalmente em 1947 com “Move On Up A Little Higher” fica conhecida em todo o país. Na Apollo evidenciou-se a bem sucedida parceria com o pianista Mildred Falss. Com o sucesso das gravações, Mahalia se tornou a voz oficial da Igreja Batista viajando por todos os cantos dos Estados Unidos. Mas seu gospel diferenciado a fez ser aclamada também no mundo profano do jazz, por isso foi acusada de vender seu canto sagrado. 
Mahalia Jackson - "My God is real..."
Mas ela rebatia dizendo que o gospel fazia bem as pessoas independente de ser comercial. Na década de 1960, durante o movimento contra a segregação racial nos EUA e a luta pelos direitos civis dos negros, ela não ficou à parte e não escondia seu apoio, mesmo de forma contida, ao líder negro Martin Luther King, cantando em suas assembléias que atraíam milhares de pessoas contra o racismo. Seu canto já denunciava a condição miserável do negro naquele país, principalmente no sul, e em suas letras de fundo religioso, podia-se perceber algumas referências aos tormentos da raça. O canto de Mahalia Jackson era vibrante, suas interpretações foram definitivas e foram definidas pelo seu espetacular domínio técnico, sua musicalidade e fervor. Uma de suas seguidoras mais famosas e que se tornou nos anos de 1960 um ícone do Soul, foi Aretha Franklin. 
O melhor de Mahalia em CD
Quando a esposa de Thomas Dorsey faleceu em virtude do nascimento do filho, em 1932, ele compôs o que é para muitos, o ‘gospel dos gospels`, a emocionante canção “Take My Hand, Precious Lord”, que foi traduzida para aproximadamente 50 línguas. Mahalia cantou este clássico no funeral de Martin Luther King em 1968. Quatro anos depois, em 27 de janeiro de 1972, em Chicago, uma Aretha Franklin emocionada cantou a mesma canção no funeral de Mahalia Jackson, a maior cantora de spirituals, hymns e gospel de todos os tempos.

Outros fatos Importantes sobre Mahalia Jackson:

- A gravação em 1947 de "Move On Up A Little Higher" por Mahalia , aos 36 anos, vendeu 8 milhões de cópias.
- Em 1950 Mahalia se torna a primeira cantora gospel a se apresentar no Carnegie Hall de New York.
- Em 1952, durante sua turnê pela Europa, Mahalia foi aclamada pela crítica como a maior cantora gospel de todos os tempos.
- Mahalia foi a primeira cantora gospel a se apresentar no The Newport Festival em 1958 e 1959.
- Em 1959, Mahalia fez uma "ponta" no filme "Imitação Da vida" (Imitation Of Life), dirigido por Douglas Sirk e estrelado por Lana Turner e Sandra Dee.
- Em 1961, cantou na posse do presidente John F. Kennedy.
- Em 1963, cantou para 250.000 pessoas na cerimônia em que Martin Luther King fez o famoso discurso "I Have A Dream".
-Em 1978, Mahalia Jackson entra postumamente para a galeria do Gospel Music Of Fame.

Mahalia e Elvis
- Alguns dos clássicos de Mahalia Jackson, que reunia gospels e spirituals:
“Didn´t It Rain?”(Não Choveu?); “My God Is Real(Yes, God Is Real)”(Meu Deus É Real-Sim, Deus É Real); “If I Can Help Somebody”(Se Eu Puder Ajudar Alguém); “I Found The Answer”(Achei A Resposta); “Elijah Rock”(Pedra de Elias); “Roll, Jordan, Roll”(Corre, Jordão, Corre); “Trouble Of The World”(Problemas Deste Mundo); “Take My Hand Precious Lord”(Tome Minha Mão, Precioso Senhor); “Joshua Fit The Battle Of Jericho”(Josué Vence A Batalha de Jericó); “If I Could Hear My Mother Pray Again”(Se Eu Pudesse Ouvir Minha Mãe Orar Novamente) e “Amazing Grace”(Incrível Graça ). 

Um Link do you tube onde se pode assistir Mahalia Jackson cantando "We Shall Overcome": http://www.youtube.com/watch?v=TmR1YvfIGng

Por Eumário J. Teixeira.