PETER GREEN – UM HOMEM DO MUNDO PERDIDO NO BLUES
Peter Allen Greenbaum, guitarrista, baixista, gaitista, compositor e vocalista britânico nascido em 29/10/1946 em Bethnal, Londres, completou a idade de 66 anos no último mês de outubro. Green teve uma carreira de sucesso, mas entrou em colapso com as pressões do showbusiness agravado pelo abuso no uso de drogas e de um repentino misticismo que o levou a abrir mão de seus bens e da música. Sua queda acentuada da popularidade para a loucura em reclusão foi melancólica, um tema apropriado para um velho blues. Na minha humilde e suspeita opinião, ele foi o maior e mais subestimado guitarrista branco de blues de todos os tempos, só sendo superado por Eric Clapton. A maior vantagem de Clapton sobre Green se resume no fato de que o primeiro superou as dificuldades impostas pelo consumo de drogas e álcool sem sofrer seqüelas físicas ou mentais, lhe proporcionando uma carreira mais produtiva, ao contrário de Peter Green, que não teve tanta regularidade e quantidade, mas se destacou pela qualidade, o que foi relevante para que o seu nome não fosse esquecido pela história do blues rock britânico. Sua própria obra o manteve em certa evidência.
Quem foi rei nunca perde a majestade |
Dono de extrema sensibilidade para tocar e compor, Green teve sua carreira interrompida precocemente no auge da fama devido ao seu envolvimento pesado com LSD associado à uma necessidade de busca pela compreensão de Deus, se voltando para suas raízes judaicas e mais tarde para o cristianismo, que o levou à depressão, paranóia e a esquizofrenia no início dos anos de 1970. Ensaiou seu retorno aos palcos a partir do ano de 1979 alternando discos bons e razoáveis até 1987, quando teve uma recaída e se ausentou por um longo período permanecendo na obscuridade e vivendo sob os cuidados de um amigo em Surrey, e não como um mendigo pelas ruas como foi muito divulgado, só retornando aos poucos em 1996, quando se integrou ao Splinter Group de seu (até então) velho amigo e guitarrista Nigel Watson. A Parceria duraria até 2003, com altos e baixos até que se afastaram por motivos não esclarecidos, mas que envolvem direitos contratuais e a conservação da saúde e bem estar de Green. Há inclusive, uma ordem judicial expedida em 2004 que impede a aproximação e o assédio de Watson por quaisquer meios a Peter Green. Depois de seu afastamento do Splinter Group e consequentemente da mídia por alguns anos, foram postados no youtube registros de esporádicas apresentações do Peter Green & Friends (sua nova banda) em 2009 e 2010 em festivais e pubs de blues e rock pela Europa.
Entre Deus e o rock, Green entrou caiu em parafuso |
Green se mantém em certa atividade até hoje apesar de suas raras performances serem ainda um tanto inseguras devido aos medicamentos que é obrigado a tomar, mas geralmente está acobertado por bons músicos. O próprio Green reconhece que tanto as drogas quanto os tratamentos terapêuticos à base de choques elétricos no passado causaram um grande dano irreparável à sua mente.
A vida de Peter Green nunca foi fácil, sua origem judia lhe trouxe muito sofrimento e perseguições durante sua infância e adolescência, e a maioria de suas canções refletem todo o seu sofrimento, porque na verdade são autobiográficas. Apesar de seu talento comprovado, seu primeiro grande desafio como músico profissional foi substituir, simplesmente, o “deus da guitarra” Eric Clapton no John Mayall’s Bluesbreakers em 1967. E Peter Green surpreendeu os fãs desconfiados e órfãos de Clapton, registrando com competência todo o seu talento no disco A Hard Road (1967) do John Mayall’s Bluesbreakers. No ano seguinte Green deixa os Bluesbreakers (sendo substituído por Mick Taylor) e parte para formar o Peter Green’s Fleetwood Mac, uma banda que ficou na história do blues rock britânico, principalmente graças ao disco de estréia. A banda que ainda contava com o guitarrista slide Jeremy Spencer (fã de Elmore James) e mais tarde com o jovem guitarrista Danny Kirwan (pupilo de Green) conquistou o mundo com seu blues rock balançante.
Criatividade e 'feeling' sobravam em Peter Green |
As influências de Peter Green foram Robert Johnson, Alex Korner, John Mayall, o próprio Eric Clapton, Hank Marvin (The Shadows), Muddy Waters, B. B. King e Freddie King. Dentre suas composições mais famosas posso destacar com os Bluesbreakers de John Mayall, “The Supernatural e “The Same Way”; com o Fleetwood Mac, “Black Magic Woman” (gravado por Santana), “Oh Well”, “Long Grey Mare”, “Looking For Somebody”, “I Loved Another Woman”, “Watch Out”, “The Green Manalishi”, “Rattlesnake Shake”, “Fleetwood Mac” e “Sandy Mary”; na carreira-solo, “Looser Two Times”, “Tribal Dance”, “In The Skies” e “Slabo Day”. As versões que fez para “The Stumble” de Freddy King, “Need Your Love So Bad” de Little Willie John, “Homework” de Otis Rush, “No Place To Go” de Howlin’ Wolf, e suas belíssimas composições “Albatross” e “Man Of The World”, definem precisamente o seu estilo suave e doce, mas com certa pegada, ao tocar, cantar e compor.
Capas de seus melhores trabalhos |
Os discos essenciais do mestre do blues rock britânico são, com o John Mayall’s Bluesbreakers, Hard Road (1967); com o Fleetwood Mac, Peter Green’s Fleetwood Mac (o primeiro, de 1968), Then Play On (1969), Fleetwood Mac in Chicago/Blues Jam In Chicago (duplo de 1969) e The Original Fleetwood Mac (1971); na carreira solo, In the Skies (1979) e Little Dreamer (1980); e com o Splinter Group, Reaching The Cold 100 (2003).
A Gibson Les Paul dourada de Peter Green, também fez história; conta a lenda que ele a vendeu por mixaria para o guitarrista Gary Moore (já falecido), justamente na época em que estava fragilizado mentalmente e desfazia de seus bens, doando também todo o seu dinheiro para instituições de caridade. A partir daí a guitarra de Green acostumada a um tratamento mais carinhoso e sofisticado teve que se sujeitar ao estilo mais agressivo e pesado do seu novo dono. Será que com a morte recente de Moore em 2011, a lendária Sunburst Gibson Les Paul de 1959, voltou para o antigo mestre? Dizem que o som diferenciado do Les Paul de Green era devido a uma modificação que fez em um dos captadores, invertendo a fase; o próprio Peter Green desmente a lenda e não faz idéia do que significa “som-fora-de-fase”.
Mas agora o que realmente importa é que Peter Green deu a volta por cima, é claro que nunca mais tocará como há 45 anos atrás, mas ele está vivo, dizem que está refugiado na Suécia e cercado por quem realmente o ama e notadamente mantém o desejo de tocar o que mais aprecia: o blues! Vida longa e muita paz, Peter Green. E esteja onde estiver que Deus tenha misericórdia de você e te proteja dos demônios que tanto te atormentaram no passado.
Eumário J. Teixeira
O tempo passa e o cara continua FE-RA!
ResponderExcluirSe quiser dar uma passadinha no meu blog, pra seguir, ou comentar, sinta-se á vontade ((:
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Com certeza ele foi um dos maiores guitarristas do blues rock britânico, com criatividade e sensibilidade únicas para tocar e compor. Apesar de não ser possível sua total recuperação atualmente, uma coisa não se pode negar,Peter Green é um guerreiro e só está de pé pelo seu amor ao blues e pela misericórdia de Deus a quem ele tanto procurou.
ExcluirObrigado pelo comentário, lhe farei uma visita.