21 de dez. de 2009

SNOOKS EAGLIN – THE BLIND MAN BLUES R.I.P. 21/01/1936 – 18/02/2009


No mundo do blues alguns nomes se sobressaíram mundialmente e se tornaram sinônimos do próprio gênero musical que defendiam, gente como Muddy Waters, Howlin’ Wolf, John Lee Hooker, Elmore James, Willie Dixon, Little Walter, etc.
Outros não se tornaram tão famosos em vida devido a fatores diversos, mas nem por isso são considerados menos importantes que os demais, pois foram cruciais para a formação de uma base sólida para o blues no cenário musical norte americano. Foram eles Skip James, Eddie Son House, Bukka White, Charlie Patton e Robert Johnson, que receberam reconhecimento póstumo ou pouco antes de partirem desta para melhor.
Um grupo diferenciado, porém, teve também o seu espaço reservado e como de praxe, somente foram cultuados anos após a derradeira viagem. Estou me referindo aos “Blind Men Blues”. Citarei a princípio alguns nomes básicos como Blind Lemon Jefferson (1893/1929); Blind Blake (1895/1937); Blind Gary Davis (1896/1975); Blind Willie McTell (1901/1959); Blind Willie Johnson (1902/1947) e Blind Boy Fuller (1907/1941), para finalmente chegar ao incrível Blind Snooks Eaglin, que posteriormente preferiu retirar o ´blind` de seu nome artístico para seguir adiante.
A música de Snooks Eaglin não se limitava ao blues
O blues de Snooks Eaglin não poderia ser definido simplesmente como pertencente a um determinado estilo, pois da mesma forma que influenciado pelo country blues, também foi pelo blues elétrico de Chicago, pelo soul, funk, folk, gospel, cajun, flamenco e jazz. Todas essas tendências eram unidas e temperadas com todas as ramificações possíveis da música de New Orleans, de onde ele não gostava de arredar o pé.
Sua música é como uma combinação dos temperos mais abrasivos da culinária daquela cidade colonizada por imigrantes franceses, que recebeu também influências culturais espanholas e afro-americanas; é impossível experimentar e não dizer: “Uau! Tá queimando... mas é muito bom...quero mais!


The blind man blues
Sua pegada, seja na guitarra acústica ou elétrica são inconfundíveis para quem acompanhou seu trabalho, seus solos econômicos e ao mesmo tempo magistrais não ficam devendo para nenhum guitarrista conhecido seja branco ou negro independentemente de qualquer estilo.
Snooks perdeu a visão quando criança, adaptou-se e desenvolveu uma técnica de tocar à sua condição especial e se sobressaiu de tal forma que só podermos entender como um dom dado por Deus. Ele nasceu para isso, tocar, cantar, respirar e transpirar a boa música, até que o Senhor achasse que seria a hora de parar. Ele soube compensar a perda da visão e de certa forma foi premiado com uma sensibilidade acima da média para interpretar o blues.
 


O glaucoma não o impediu de tocar com maestria
Biografia - Snooks Eaglin nasceu Fird Eaglin Jr., em 21 de janeiro de 1936 na cidade de New Orleans, do estado de Louisiana. Foi fortemente influenciado pelo vocal de Ray Charles, tanto que nos anos de 1950 se denominava “Little Ray Charles”. Conhecedor de inúmeras músicas dos mais variados estilos, Eaglin afirmava que seu repertório incluía mais de 2.500 canções, não sendo por acaso seu apelido de “the human jukebox”. Suas apresentações ao vivo eram sempre improvisadas, nunca tinha uma lista de canções determinadas para interpretar, cantava e tocava o que vinha na cabeça.
Eaglin começou a sofrer de glaucoma a partir do primeiro ano de vida, perdendo aos poucos sua visão, sendo que acometeu-se também de uma série de outros problemas de saúde que o obrigou a permanecer por alguns anos internado em hospitais. Por volta dos cinco anos de idade ganhou do pai uma guitarra, ele aprendeu a tocá-la por conta própria ouvindo blues e jazz no rádio. O garoto travesso ganhou o apelido “Snooks” de um personagem de um programa de rádio chamado “Baby Snooks”.
Em 1947 aos 11 anos de idade, Snooks ganhou uma concurso organizado pela estação de rádio WNOE, tocando “Twelfth Street Rag”. Três anos depois ele deixaria a escola para cegos para se tornar músico profissional. Em 1952, Eaglin ingressa nos Flamingoes, uma banda local iniciada por Allen Toussaint. Na banda, em acordo com os demais membros, Eaglin tocava tanto baixo como a guitarra. Snooks permaneceu com os Flamingoes por vários anos, mais ou menos até a metade da década de 1950.

O jovem Ford Eaglin e suas pequenas admiradoras
Sua carreira solo foi inconsistente, em termos de gravações, apesar de quase 50 anos de profissionalismo. Sua discografia não foi tão diversa. Sua primeira gravação aconteceu em 1953, tocando guitarra numa sessão para James “Sugar Boy” Crawford.
O primeiro álbum solo já com seu pseudônimo, veio através de Harry Oster, um folclorista da Universidade do Estado de Louisiana, que o encontrou tocando nas ruas de New Orleans. Oster realizou as gravações de Eaglin entre 1958 e 1960 durante sete sessões. Estas gravações magistrais foram registradas em álbum do selo Prestige/Bluesville. As gravações eram de estilo ‘folk blues’ e Eaglin arrasa com apenas sua guitarra acústica sem uma banda de apoio.
De 1960 a 1973 Eaglin gravou pela Imperial. Ele tocou guitarra elétrica nas sessões pela Imperial com uma banda no fundo que incluía James Booker no piano e Smokey Johnson na bateria. Eaglin gravou um total de 26 faixas que puderam ser apreciadas no cd The Complete Imperial Recordings. A maioria do material fora escrito por Dave Bartholomew. Ao contrário das gravações na Harry Oster Recordings, esse trabalho na Imperial foram de rhythm & blues típico de New Orleans, no estilo que o tornou amplamente conhecido até hoje. Depois da Imperial, em 1964, ele gravou sozinho com uma guitarra para a Swedish Broacasting Corporation, o que culminou em I Blueskvart 1964:Vol. 3. Quanto ao restante da década de 1960, aparentemente não se registrou nenhuma outra gravação.


Eaglin (guitarra) dando uma força ao Professor Longhair (piano)
Seu próximo trabalho seria para uma gravadora sueca, a Sonet em 1971, em The Legacy Of Blues Vol. 2. Um outro álbum Down Yonder foi realizado em 1978 no qual se destacava Ellis Marsalis no Piano. À parte de seu próprio trabalho, ele gravou com Professor Longhair em 1971 e 1972 registrado em Mardi Gras In Baton Rouge. Eaglin também tocou guitarra estilo funk no primeiro álbum de The Wild Magnolias gravado em 1973.
Na década de 1980 ele se integra à gravadora Black Top Records. Foram os anos mais consistentes de sua carreira. Entre 1987 e 1999, ele gravou quatro discos de estúdio e um disco ao vivo e ainda participou como convidado de um bom número de gravações de outros artistas da Black Top, como Henry Butler, Earl King e Tommy Ridgley.
Depois da Black Top fechou as portas, Eaglin realisou The Way It Is na gravadora Money Pit Records, produzido pelos mesmos irmãos Scott da extinta Black Top. Em 1997 a versão de Eaglin para “St. James Infirmary”, se destacou num anúncio da Budweiser para TV no Reino Unido.



Ford "Snooks" Eaglin detonando em New Orleans
Infelizmente para todos os amantes da boa música, Snooks Eaglin faleceu vítima de ataque do coração no Ochsner Medical Center de New Orleans em 18 de fevereiro de 2009. Ele tinha recebido um diagnóstico de câncer de próstata em 2008 e havia se internado para tratamento. Snooks tinha esperanças de voltar a tempo para se apresentar no Festival de Jazz de New Orleans que se realizaria na primavera de 2009.
Por muitos anos Eaglin morou em St. Rose no subúrbio de New Orleans com sua espôsa Dorothea. Embora ele não se apresentasse muito em shows ao vivo, ele regularmente aparecia no Rock n’ Bowl em New Orleans, e também no New Orleans Jazz Fest.
Esta foi minha pequena homenagem ao grande músico e bluesman, que apesar de não ter sido tão reverenciado e reconhecido como merecia, sabemos eu e os que o conheceram, ou que pelo menos escutaram sua voz e suas guitarras em discos, que seu seu valor era inestimável para todos os amantes da música de qualidade e do bom, velho e incorruptível blues. 



O essencial The Legacy of the Blues Vol. 2
Discografia básica de Snooks Eaglin:
- That´s All Right (Prestige/Bluesville) 1961
- The Legacy Of The Blues Vol. 2 (Sonet) 1971
- Down Yonder – Snooks Eaglin Today ! (Sonet) 1978
- Baby, You Can Get Your Gun! (Black Top) 1987
- Out Of Nowhere (Black Top) 1989
- Country Boy Down In New Orleans (Arhoolie) 1991
- Teasin’ You (Black Top) 1992
- Soul’s Edge (Black Top) 1995
- Soul Train From ‘Nawlins: Live At Park Tower:Live At Park Tower Blues Festival ’95 (Black Top) 1996
- The Way It Is (Money Pit) 2002
- New Orleans Street Singer (Smithsonian Folkways) 2005


Snooks Eaglin, uma lenda subestimada do blues de New Orleans
Um link no you tube onde Snooks Eaglin canta e toca "Baby Please":
Eumário J. Teixeira

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