Em 2014, assisti no youtube a uma entrevista dada por um ex-agente da KGB que servia aos interesses da (extinta?!?) União Soviética ou URSS como “jornalista subversivo” na Índia. Após desertar e sumir no meio de uma comunidade hippie com um disfarce e identidade falsa, ele finalmente chega ao Canadá em meados dos anos de 1970. Lá recebeu cidadania como refugiado e teve uma vida produtiva até morrer em 1993. Sua principal ocupação foi a partir de então denunciar todas as estratégias de subversão usadas pela URSS e demais países comunistas e socialistas que visavam com isso destruir lenta e gradualmente os valores mais importantes de uma nação democrática, como crer em Deus e ter seus valores morais e culturais preservados. Para isso a KGB (serviço secreto da URSS) explorava seus agentes comunistas altamente treinados e doutrinados, travestidos de jornalistas, professores, estudantes, artistas, atletas ou médicos (Ops! isso me parece familiar...). Mas no meio da missão, ele desistiu de tudo, começou a simpatizar com a diversidade cultural e com a simpatia do povo indiano e desertou. E revelou ao mundo, principalmente aos norte-americanos, em diversas palestras e entrevistas que a subversão em suas diversas linhas de ataque já começava a surtir efeito nos Estados Unidos e em diversos países tidos como democráticos. Ele ainda alertava que para corrigir todo o estrago precisaria um processo de reeducação cultural e política que duraria toda uma geração, ou seja, de 10 a 15 anos. A entrevista aqui transcrita foi concedida em 1984. Bezmenov já tinha dado uma palestra no ano anterior para uma platéia norte-americana que ficou perplexa com suas revelações. O que ele tinha denunciado já era uma realidade na sociedade ianque e o estrago já era visível naquela época. Passaram-se 31 anos, foram duas gerações totalmente alienadas e usadas como “idiotas úteis” pela subversão comunista em todo o mundo. Reverter tudo esse processo alienante atualmente é quase impossível. No Brasil já estamos colhendo no dia a dia os frutos desta subversão que causou grandes estragos na área religiosa, cultural, econômica e política, que nos levará à anarquia total e finalmente ao golpe final. Confiram a entrevista dada por Yuri Bezmenov no ano de 1984 e tirem suas próprias conclusões. E que Deus nos ajude!
Por Eumário J. Teixeira.
Subversão soviética da imprensa do mundo livre: Uma conversa com Yuri Alexandrovitch Bezmenov, ex-propagandista do KGB
Edward Griffin (à esquerda) entrevista Yuri Bezmenov em 1984 |
Griffin: A nossa conversa é com o Sr. Yuri Alexandrovitch Bezmenov.
O Sr. Bezmenov nasceu em 1939 num subúrbio de Moscovo. Era filho de um oficial soviético de alta patente. Foi educado nas escolas de elite dentro da União Soviética e tornou-se um especialista em cultura indiana e em línguas indianas. Teve uma carreira brilhante com a Novosti, que era (e ainda é, devo dizer) o braço ou a agência da imprensa da União Soviética; verifica-se que esta é também uma frente para o KGB. Uma das suas tarefas interessantes era fazer lavagem cerebral em diplomatas estrangeiros quando visitam Moscovo. E contar-nos-á como faziam isso e como planeavam a informação que eventualmente acabava na imprensa do mundo livre.
Escapou para o Ocidente em 1970, após ficar totalmente enojado com o sistema soviético, e fê-lo com grande risco para a sua vida. Certamente, é um dos grandes especialistas do mundo no tema de propaganda soviética, desinformação e medidas ativas.
Sr. Bezmenov, eu gostaria de começar, pedindo para nos contar um pouco das suas memórias de infância.
Bezmenov: Bem, a lembrança mais vivida da minha infância foi a Segunda Guerra Mundial. Ou, para ser mais preciso, o fim da Segunda Guerra Mundial. Quando, de súbito, os Estados Unidos de uma nação amiga que nos ajudou a derrotar o nazismo se transformou da noite para o dia num inimigo mortal. E foi muito chocante, porque todos os jornais estavam a tentar apresentar uma imagem de imperialismo americano beligerante e agressivo.
A maioria das coisas que nos ensinavam é que os Estados Unidos são uma potência agressiva, prestes a invadir o nosso país socialista lindo e livre. E que a CIA dos Estados Unidos está a lançar besouros de Colorado nas nossas lindas plantações de batatas para eliminar as nossas plantações. E todo o aluno tinha uma foto de um besouro de Colorado nas costas do caderno. E éramos instruídos para ir aos campos coletivos procurar esses pequenos besouros de Colorado. É claro que não conseguíamos encontrar nenhum. Nem sequer conseguimos encontrar muitas batatas! E, novamente, isto era explicado nas intrusões do poder imperialista decadente. A paranoia, a histeria antiamericana na propaganda soviética era a tal ponto, a tão alto grau, que muitas pessoas menos céticas ou menos teimosas de facto acreditavam que os Estados Unidos estavam prestes a invadir a nossa linda pátria-mãe. E alguns, secretamente, esperam que isto se realize!
Griffin: Isso é interessante!
Bezmenov: Sim!
Griffin: Bem, voltando à vida dentro da União Soviética, ou dentro de países comunistas em geral: neste país, ao nível universitário, primariamente, lemos e ouvimos que o sistema soviético é diferente dos nossos, mas não tão diferente, que há uma convergência a desenvolver-se entre todos os sistemas do mundo. E não faz muita diferença de verdade o sistema sob o qual você vive porque há corrupção, desonestidade, tirania e esse tipo de coisas. Pela sua experiência pessoal, qual é a diferença entre a vida sob o comunismo e a vida nos Estados Unidos?
Bezmenov: Bem, a vida é obviamente muito diferente, pelo simples motivo de que a União Soviética é um capitalismo de Estado (economicamente, é um capitalismo de Estado); em que um indivíduo não tem absolutamente nenhum direito, nenhum valor, a sua vida não é nada, é como um inseto, é descartável; enquanto nos Estados Unidos até o pior criminoso é tratado como um ser humano, tem um julgamento justo, e alguns faturam em cima dos seus crimes. Publicam as suas memórias nas suas prisões. E são generosamente pagos pelos vossos editores malucos. As diferenças (é claro) na vida quotidiana, são muito variadas, dependendo de quem você fala.
Na minha vida particular, nunca sofri com o comunismo, simplesmente porque cresci numa família de oficial militar de alta patente. A maioria das portas estava aberta para mim. A maioria das minhas despesas era paga pelo Governo. E nunca tive nenhum problema com as autoridades ou com a polícia. Então, por outras palavras, diria que gozei ou que tinha bons motivos para gozar das vantagens do dito sistema socialista. As minhas principais motivações para desertar eram (não tinha nada a ver com a afluência, era mais indignação moral, protesto moral) rebelião contra os métodos desumanos do sistema soviético.
Griffin: Bem, especificamente, que é que você objetava?
Bezmenov: Eu objetava, antes de tudo, a opressão dos meus próprios dissidentes e intelectuais. E esta foi a coisa mais nojenta que presenciei quando jovem, jovem estudante. Fui criado num período problemático da nossa história, de Stalin a Khrushchov, da total tirania e opressão a um certo tipo de liberalização.
Em segundo lugar, quando comecei a trabalhar para a embaixada soviética na Índia, para meu horror, descobri que somos milhões de vezes mais opressores do que qualquer potência colonial ou imperialista na história da humanidade; que o meu país não traz à Índia liberdade, progresso e amizade entre as nações, mas racismo, exploração e escravidão; e (é claro) ineficiência económica para este país. Desde que me apaixonei pela Índia, desenvolvi algo que, pelos padrões do KGB, é algo extremamente perigoso. É chamado de «dupla lealdade», quando um agente gosta mais do seu país de atribuição do que do seu próprio país. Apaixonei-me literalmente por este lindo país, um país de grandes contrastes, mas também de grande humildade, grande tolerância e liberdades filosóficas e intelectuais. Os meus antepassados viviam em cavernas e comiam carne crua, enquanto a Índia era uma nação altamente civilizada, há 6000 anos atrás. Então, obviamente, a escolha não foi para a vantagem da minha própria nação. Decidi desertar e desassociar-me inteiramente daquele regime brutal.
Griffin: Sr. Bezmenov, lemos um pouco sobre os campos de concentração e campos de trabalho escravo sob o regime de Stalin. Agora, a impressão geral na América é que essas coisas são parte do passado. Ainda está a acontecer hoje, ou qual é a situação?
Bezmenov: Sim, sim. Não há mudança qualitativa no sistema soviético de campos de concentração. Há mudanças no número de prisioneiros. Mas, novamente, isso são estatísticas soviéticas inconfiáveis. Não sabemos quantos prisioneiros políticos estão nos campos de concentração soviéticos. O que sabemos ao certo de várias fontes é que, em cada época em particular, há cerca de 25 a 30 milhões de cidadãos soviéticos que são mantidos virtualmente como escravos no sistema de campos de trabalho forçado. Uma população do tamanho de um país como o Canadá está a cumprir penas como prisioneira!
Griffin: Incrível!
Bezmenov: Então, eu diria que aqueles intelectuais que tentam convencer o público americano de que o sistema de campos de concentração é algo do passado, ou estão a enganar conscientemente a opinião pública ou não são pessoas muito intelectuais: são seletivamente cegas. Eles não... Falta-lhes honestidade intelectual quando dizem isso.
Griffin: Bem, falamos de intelectuais neste país e de intelectuais na União Soviética. Mas, e no nível mais baixo das massas? As pessoas em geral, as pessoas trabalhadoras, os trabalhadores em geral, na União Soviética, apoiam o regime? Qual é a atitude delas?
Bezmenov: Bem, o cidadão médio soviético (se é que tal animal existe, é claro) não gosta do sistema porque ele machuca, mata. Pode não entender os motivos, pode não ter informação suficiente ou instrução para entender, mas duvido muito que haja muitas pessoas que conscientemente apoiem o sistema soviético. Não existem tais pessoas na União Soviética. Mesmo aqueles que têm todas as razões para gozar do socialismo (pessoas como eu, que fui membro da elite jornalística) também odeiam o sistema por motivos diferentes, não porque lhes falte afluência material, mas porque não são livres para pensar, estão sob medo constante, duplicidade, dupla personalidade. E esta é a maior tragédia para a minha nação.
Griffin: Bem, que possibilidades acha de o povo chegar a superar o regime ou de o substituírem?
Bezmenov: Há uma grande possibilidade de o sistema, cedo ou tarde, ser destruído de dentro. Há um mecanismo autodestrutivo entranhado em todo o sistema socialista, comunista ou fascista; porque não há retorno, porque o sistema não conta com a lealdade da população.
Mas enquanto esta junta soviética estiver a ser apoiada pelos ditos imperialistas ocidentais (quer dizer, multinacionais, estabelecimentos, Governos, e — admitamos — intelectuais — a dita «academia» nos Estados Unidos é famosa por apoiar o sistema soviético), enquanto a junta soviética continuar a receber crédito, dinheiro, tecnologia, acordos de cereais e reconhecimento político de todos estes traidores da democracia ou da liberdade, não há esperança ou não há muita esperança de mudanças no meu país. E o sistema não desmoronará sozinho, simplesmente porque está sendo alimentado pelo dito imperialismo americano. Este é o maior paradoxo da história da humanidade: quando o mundo capitalista apoia e alimenta ativamente o seu próprio destruidor (destrutor).
Griffin: Acho que você está a tentar dizer-nos algo, a este país.
Bezmenov: Ah, sim! Estou a dizer que tem e ser impedido, a não ser que queiram acabar no sistema de gulags e gozar de todas as vantagens da igualdade socialista: trabalhar de graça, catar pulgas no seu corpo, dormir em tábuas de compensado — agora, no Alasca, suponho eu… Este será o lugar dos americanos, a não ser que acordem (é claro) e forcem o seu Governo a parar de ajudar o fascismo soviético.
Griffin: Disse-nos há pouco por que deixou o sistema. Eu gostaria de ouvir detalhes de como o deixou. Deve ter sido algo muito perigoso.
Bezmenov: Não foi tão perigoso; foi maluco. Primeiro de tudo, porque desertar na Índia é virtualmente impossível, graças a uma pressão muito forte do Governo soviético.
Griffin: Desculpe. Você estava na Índia, em missão, na época…
Bezmenov: Sim. Estava a trabalhar para a embaixada soviética, em Nova Deli, como oficial de imprensa. E desertar, para um diplomata soviético, é quase impossível, é suicídio, como eu disse, porque uma grande amiga, Indira Gandhi, empurrou uma lei no parlamento que diz: «Nenhum desertor de nenhum país tem direito a asilo político em nenhuma embaixada no território da República da Índia», o que é uma obra-prima da hipocrisia. Nenhum desertor exceto o soviético precisa de um asilo político.
Então, sabendo perfeitamente disso, eu planeei a maneira mais maluca possível de desertar. Estudei contracultura na Índia. Havia milhares de rapazes e raparigas americanos, sem sapatos, de cabelos compridos, fumando haxixe e maconha, estudando às vezes filosofia indiana, às vezes simplesmente fingindo estudar; e amolavam muito a polícia indiana e eram motivo de piada para os indianos, porque (é claro) não eram estudantes bons para nada. Estudei cuidadosamente onde se reuniam, que rotas percorriam, em que língua falavam, o que fumavam. E, um dia, uni-me simplesmente a um grupo de hippies para evitar deteção pela polícia indiana. Eu estava vestido como um típico hippie, com jeans azul, camisa comprida, com todo o tipo de decoração bonita como contas, cabelos compridos… Comprei uma peruca, porque tive de me transformar em algumas semanas de um diplomata soviético conservador num hippie americano bem progressista. E esta foi a única maneira com que pude evitar deteção. Foi uma experiência muito interessante, mas foi necessária, porque do meu próprio conhecimento como funcionário da embaixada soviética soube de muitos casos em que desertores russos foram traídos pela polícia indiana. E algumas embaixadas ocidentais também desempenharam um papel muito sujo ao trair os desertores soviéticos. De acordo com a nossa informação, havia alguns (não os chamaria de agentes duplos, mas simplesmente de pessoas imorais) trabalhando para a embaixada dos Estados Unidos. E confiar nesse tipo de gente seria um suicídio. Então, tinha de ter muito cuidado. Não podia confiar em ninguém. Esta foi a razão para essa maneira maluca de desertar.
Griffin: Se tivesse sido apanhado no ato de tentar fugir, o que teria acontecido consigo?
Bezmenov: O mais provável é que eu acabasse num campo de concentração ou, dependendo da situação ou da vontade de algum burocrata do KGB, talvez até executado. Isto é prática comum, discretamente (é claro), não publicamente. Mas este seria o fim da minha deserção (é claro).
Griffin: Bem. Quando é que chegou finalmente aos Estados Unidos?
Bezmenov: Em 1970, depois de cerca de 6 meses de interrogatório em Atenas pela CIA e, presumo, pelo FBI também, deixaram-me ir primeiramente para a Alemanha e depois para o Canadá. Esta foi a minha decisão. Tinha de mudar a minha identidade para proteger a minha família e os meus amigos na União Soviética. E também estava um pouquinho paranoico, sabendo que o KGB russo e provavelmente alguns agentes duplos no sistema americano estavam talvez atrás de mim. Então, queria estabelecer-me o mais longe possível e pedi à CIA para me dar alguma nova identidade e simplesmente me deixar ir embora por minha conta e estabeleci-me no Canadá. Era estudante, e mudei de várias profissões, de ajudante de fazendeiro, motorista de camião, de lavandaria, a instrutor de línguas e locutor de rádio para Corporações Canadianas de Rádio (CBC) em Montreal.
Griffin: Teve alguma ameaça à sua vida ou quaisquer coisas desagradáveis?...
Bezmenov: Sim. Em 5 anos, o KGB descobriu, eventualmente, que, na época, eu estava a trabalhar para a rádio canadiana. Cometi um erro muito grande: Comecei a falar (trabalhando para o serviço internacional da CBC, que é similar à Voz da América) na língua russa. E (é claro) o serviço de monitoramento na União Soviética captava toda a nossa voz. Todo o novo locutor, tratavam de descobrir quem era. E, em cinco anos, foi certo (devagar, mas certo): descobriram que não sou Thomas Schuman, que sou Yuri Alexandrovitch Bezmenov, e que estou a trabalhar para a rádio canadiana e solapando a linda détente entre o Canadá e a União Soviética. E o embaixador soviético Alexander Yakovlev fez o seu esforço pessoal para me desacreditar. Reclamou com Pierre Trudeau, conhecido por ser um pouco frouxo com o socialismo. E a direção da CBC comportou-se de uma maneira estranha e covarde, indigna de representantes de um país independente como o Canadá. Escutaram toda a sugestão que o embaixador soviético deu e começaram uma vergonhosa investigação, analisando o conteúdo das minhas transmissões para a União Soviética. E, de facto, descobriram que algumas das minhas afirmações eram provavelmente muito... seriam ofensivas ao politburo soviético. Então, tive de deixar o meu emprego. E (é claro) intimidações subtis: Diziam algo como «Por favor, cuidado ao atravessar a rua, porque o tráfego é muito pesado em Québec». E, felizmente, sei acerca da psicologia e da lógica da atividade do KGB e nunca me deixei intimidar. Essa é a pior coisa. Isso é o que eles esperam de uma pessoa, um desertor: ser intimidado. Assim que percebessem que você está assustado continuariam a desenvolver esta linha ou então, eventualmente, tem de se render inteiramente e trabalhar para eles, ou eles neutralizam-no: impedem definitivamente todo o tipo de atividade política, o que falharam em fazer no meu caso. Como eu estava a trabalhar teimosamente para a emissora canadiana, e em resposta às intimidações deles, disse «Olhe: este é um país livre, e sou tão livre quanto você e também posso conduzir bem depressa; e controlo de armas não está ainda estabelecido no Canadá, então eu tenho um par de boas espingardas no meu porão; então esteja à vontade para me visitar algum dia com as suas metralhadoras Kalashnicov». Então, obviamente, não funcionou. Intimidação não funcionou. Então tentaram uma estratégia diferente. Como descrevi, eles foram pelo nível mais alto, no nível da burocracia canadiana.
Griffin: E neste nível conseguiram.
Bezmenov: Neste nível conseguiram. No nível individual, fracassaram. Liso.
Griffin: O Sr. Bezmenov trouxe uma série de diapositivos com ele, que trouxe da União Soviética, e creio que esta é uma boa hora para dar uma olhadela nos diapositivos.
Bezmenov: Sim.
Griffin: O público poderá ver esses diapositivos, enquanto falamos deles.
Bezmenov: Sim. Essa é uma coleção de diapositivos em que alguns deles são fotos do meu álbum de família, alguns são documentos que contrabandeei da embaixada soviética e alguns são reproduções da comunicação social local. Normalmente, mostro-os para confirmar a minha credibilidade como desertor.
Esta é uma foto da minha cidade natal, Mytishchi, a cerca de 20 milhas ao norte de Moscovo. Caracteristicamente, está uma estátua do camarada Lenine na praça central.
Este sou eu aos 7 anos, de novo caracteristicamente abaixo da estátua do camarada Stalin estendendo a sua mão amiga para os povos do mundo. Nesta idade (é claro), eu ainda era um jovem comunista de mente idealista e ainda acreditava que cedo ou tarde as coisas melhorariam. Mas percebi que o sistema fede, que tem algo de estranho e que a ideologia é falsa e que a propaganda do avanço da agricultura soviética simplesmente não satisfazia o critério da realidade. Falavam de abundância de comida e não tinha nenhuma nas lojas. Deve ter algo de errado.
O meu pai era (está à esquerda, aqui) o meu pai era oficial do quadro geral do exército soviético. Era inspetor de tropas terrestres: tropas soviéticas estacionadas em países como Mongólia, Cuba, países do Leste Europeu. Se ele fosse vivo hoje, o mais provável é que estivesse a inspecionar tropas soviéticas na Nicarágua, Angola e muitas outras partes do mundo. Felizmente, morreu e não viu a desgraça porque, no fundo, era um patriota russo. Ele não estava afim, não gostava da ideia de expandir o poderio militar soviético, especialmente nas regiões onde não éramos bem-vindos de forma alguma. Diferente de muitos outros oficiais militares, ele relacionava-se diretamente com o ministro da defesa, ignorando o KGB e o serviço diplomático. Noutras palavras, era um profissional militar confiável. E a minha impressão é de que esse tipo de pessoa é muito menos guerreira e aventureira que burocratas do partido no Kremlin. Quando a comunicação social americana descreve o poderio militar soviético como uma contraparte potencialmente perigosa para o Pentágono, simplesmente rio-me, porque sei melhor. Sei que a parte mais perigosa da estrutura de poder soviética não é militar de maneira nenhuma. Mas, provavelmente, se subissem ao poder no meu país, seriam negociadores mais sensatos para o desarmamento nuclear e retirada de tropas soviéticas de várias partes do mundo.
Griffin: Mas se alguém da estrutura do partido ou da estrutura do KGB desse ordens para intervenção militar...
Bezmenov: Teriam de obedecer. Sim, porque são militares profissionais. Mas eles… Veja: o triângulo de poder e ódio na União Soviética é o partido no topo (a elite do partido, a oligarquia do partido) e aí os militares e o KGB na base. Eles odeiam-se. E o triângulo mais odiado — a ponta mais odiada do triângulo — são os burocratas do Partido Comunista. São os megalomaníacos mais senis e aventureiros: Podem começar a guerra. Não me surpreenderia. Os militares não. Eles sabem o que é a guerra. Pelo menos o meu pai sabia.
Esta é a foto tirada à porta do meu Instituto de Línguas Orientais — é parte da Universidade Estatal de Moscovo. Formei-me em 1963...
Griffin: Desculpe. Qual deles é você?
Bezmenov: Estou à direita.
Griffin: Está à direita.
Bezmenov: À esquerda, está o meu colega Vadim Smirnoff que, depois, foi apparatchik no comité central no Partido Comunista da União Soviética.
Griffin: O que é um apparatchik?
Bezmenov: É um funcionário, como um servidor público no Império Britânico. Alguém que nunca é despedido do serviço. Alguém que fica lá eternamente. Pode até não ser muito promovido, mas é um burocrata de confiança que ficará para sempre.
Não estudei apenas linguagens, mas também história, literatura e até música. Nesta foto estou a tentar aprender um instrumento musical indiano. Até tentei parecer-me com um indiano, quando eu estava no segundo ano.
Griffin: Nada mau, realmente!
Bezmenov: Sim! De facto, era muito encorajado pelos instrutores, na minha escola, porque os formandos da minha escola eram depois empregados como diplomatas, jornalistas no estrangeiro ou espiões.
Como todo o estudante soviético, fui «voluntário» para colher cereais no Cazaquistão. Esse foi o maior falhanço agrícola do governo soviético. Mas eu não tinha muita escolha (é claro) porque o lema comunista, emprestado da Bíblia, diz: «Aqueles que não trabalham não comerão». Então, pode ver-me a comer, logo eu estava a trabalhar e você pode ver quanto eu estava feliz com isso.
Passei por um treino físico e militar muito extenso, incluindo as manobras, incluindo os jogos militares nas áreas suburbanas de Moscovo. E aqui, por exemplo, estamos numa volta pela área de Aranginsk.
No final da minha instrução na escola, fui recrutado pelo KGB. Esta foto foi tirada nesse dia, e pode ver quão feliz é ser recrutado pelo KGB.
Griffin: A nossa conversa com Yuri Alexandrovith Bezmenov, que foi desertor da União Soviética e ex-agente de propaganda para a Novosti e o KGB, continuará após o intervalo.
Bezmenov: Pois bem. Como todo o estudante na União Soviética, passei por treino físico e militar bem extenso. E treino de defesa civil também, ao contrário dos Estados Unidos, onde defesa civil é virtualmente inexistente. Zero! Na União Soviética, qualquer aluno, qualquer que seja a sua área principal, tem de passar por 4 anos de treino bem extensivo militar e de defesa civil.
Pode ver-me aqui num grupo de estudantes durante um dos jogos de guerra perto de Moscovo. A principal ideia (é claro) é preparar um enorme exército reservista para a União Soviética. Cada estudante tem de se formar como tenente júnior. No meu caso, era serviço de inteligência administrativo e militar. A minha primeira atribuição foi a Índia, como tradutor para o grupo de ajuda económica soviética, construindo complexos de refinaria no Estado de Bihar e no Estado de Gujarat. Naquela época, ainda estava ingenuamente a acreditar idealisticamente que aquilo que eu estava a fazer contribuía para a compreensão e a cooperação entre as nações.
Levou alguns anos para perceber que o que estávamos a levar para a Índia era um novo tipo de colonialismo mil vezes mais opressor e explorador do que qualquer colonialismo ou imperialismo na história da humanidade. Mas, naquela época, eu ainda tinha esperança de que (bem) talvez não fosse assim tão mau; podia ser pior e as coisas poderiam melhorar.
Ainda tentei implementar o lindo lema marxista «Proletários de todos os países, uni-vos!». Tentei unir-me com uma rapariga indiana boazinha. E, na verdade, estava fascinado com a cultura indiana, pela vida familiar neste país. Mas, obviamente, o Partido Comunista tinha planos diferentes para os meus genes. Então, tive de me casar com esta linda rapariga russa. Ao longo da minha carreira casei-me 3 vezes. A maioria desses casamentos era casamento de conveniência, por sugestão do departamento de pessoal. É prática comum na União Soviética. Quando o cidadão soviético recebe um trabalho no estrangeiro, tem de ser casado, ou para manter a família dentro da União Soviética como refém, ou, se é um casamento de conveniência como o meu, para que o marido e a mulher sejam virtualmente informadores um do outro para prevenir contra deserção ou contaminação por ideias imperialistas ou capitalistas decadentes. No meu caso, odiava tanto aquela rapariga que, no momento em que pousámos em Moscovo, nos divorciámos, e casei-me depois uma segunda vez.
No fim da minha primeira tarefa na Índia, fui promovido a posição de oficial de relações públicas. Pode ver-me aqui a traduzir o discurso de um patrão soviético.
Griffin: E você está à direita?
Bezmenov: Sim. Estou à direita aqui. E a ocasião era a comissão do complexo de refinarias em Bihar e Barauni.
De volta a Moscovo, fui imediatamente recrutado pela Agência de Imprensa Novosti, que é uma frente de propaganda e subversão ideológica do KGB. 75% dos membros da Novosti são oficiais comissionados do KGB; os outros 25% são como eu: agentes cooptados, que são designados a operações específicas.
Neste caso particular, pode ver-me a falar com estudantes da Universidade de Amizade Lumumba, em Moscovo. Esta é uma escola enorme, sob controlo direto do KGB e do Comité Central, onde futuros líderes dos ditos «Movimentos de Libertação Nacional» estão a ser educados e selecionados cuidadosamente. E alguns deles não têm absolutamente... Este, por exemplo, é um grupo de estudantes da Lumumba. Não se parecem nem um pouco com estudantes. Parecem-se mais com militares, e isto é exatamente o que eram. Eram mandados de volta para os seus países para serem líderes dos ditos «Movimentos de Libertação Nacional» ou, traduzindo para linguagem humana normal, líderes de grupos terroristas internacionais.
Outra área de atividade, quando eu trabalhava para a Novosti, era acompanhar grupos de ditos «intelectuais progressistas»: escritores, jornalistas, editores, professores, professores universitários. Aqui, pode ver-me no Kremlin (sou o segundo à esquerda), com um grupo de intelectuais paquistaneses e indianos. A maioria deles fingia não entender que estávamos a trabalhar para o Governo soviético e o KGB. Fingiam que eram convidados de verdade, intelectuais VIP, que eram tratados de acordo com os seus méritos e habilidades intelectuais. Para nós, eram apenas um bando de prostitutas políticas a serem aproveitadas para várias operações de propaganda. Então, pode ver perfeitamente bem o meu colega superior à esquerda (não demonstra lá muito respeito na cara dele!) e a mim, com um sorriso bem cético, típico sorriso sarcástico do KGB, antecipando outra vítima de lavagem cerebral ideológica. É assim que uma típica conferência no quartel-general da Novosti, em Moscovo, se parece. Sentado no meio, está Boris Burkov, então diretor da Novosti, burocrata de alto escalão do partido no departamento de propaganda. Estou de pé ao lado do famoso poeta indiano Sumitharanandan Panth. Era famoso porque era um autor, o autor de um poema famoso chamado «Rapsódia a Lenine»; por isso, foi convidado à União Soviética e foi tudo pago pelo Governo soviético.
Preste atenção especial ao número de garrafas na mesa. Esta é uma das maneiras de matar a atenção ou a curiosidade de jornalistas estrangeiros. A minha… Uma das minhas funções era manter convidados estrangeiros permanentemente embriagados. A partir do momento em que pousavam no aeroporto de Moscovo, tinha de os levar ao salão VIP e brindar à amizade e à compreensão entre as nações do mundo: um copo de vodca, e aí um segundo copo de vodca; e em pouco tempo os meus convidados estariam a sentir-se bem alegres: veriam tudo numa cor rosa bonitinha; e este é o estado no qual tinha de os manter permanentemente pelos próximos 15 ou 20 dias. Em certo momento, tinha de lhes tirar o álcool, de modo que alguns deles, que são os mais recrutáveis, estariam meio abalados, culpados, tentando lembrar-se do que disseram na noite anterior. Esta é a hora de se aproximar deles com todo o tipo de «nonsense», como comunicado conjunto ou manifesto em prol de propaganda soviética. Esta é a hora em que estão mais flexíveis e (é claro) o que não compreendiam ou não perceberam ou fingiram que não perceberam é que eu, mesmo que estivesse a beber com eles, na verdade não estava a beber nada. Eu tinha maneiras de me livrar do álcool, através de várias técnicas, incluindo pílulas especiais dadas a mim pelos meus colegas. Mas eles estavam a tomar seriamente; por outras palavras, consumiam grandes volumes de álcool e sentiam-se bem mal na manhã seguinte.
Em 1967, o KGB associou-me a essa revista, a revista Look. Um grupo de 12 pessoas chegou à União Soviética, vindo dos Estados Unidos, para fazer a cobertura do 50.º aniversário da Revolução socialista de Outubro no meu país. Da primeira página à última página, era um pacote de mentiras, cliché de propaganda que foi apresentado a leitores americanos como opiniões e deduções de jornalistas americanos. Nada podia estar [mais] longe da verdade. Essas não eram opiniões, não eram opiniões de maneira nenhuma. Eram os clichés que a propaganda soviética queria que o público americano pensasse que eles pensam, se isso chega a fazer algum sentido. Certamente que faz, porque, do ponto de vista da propaganda soviética, apesar de transformados em guerrilheiros e de haver críticas subtis ao sistema soviético, a mensagem básica é de que a Rússia, hoje, é um sistema bom, funcional e eficiente, apoiado pela maioria da população. Essa é a maior mentira. E (é claro) intelectuais e jornalistas americanos da revista Look elaboraram esta inverdade de várias formas diferentes, intelectualizaram essa mentira, encontraram todo o tipo de justificações para contar mentiras ao público americano.
Griffin: Desculpe. Era em parte o seu trabalho certificar-se de que eles receberiam essas ideias...
Bezmenov: Sim.
Griffin: ...e de que as aceitassem como ideias próprias deles.
Bezmenov: Certo. Na verdade, antes mesmo que chegassem à União Soviética (e pagaram uma quantia astronómica por essa visita), submeteram-se. A Agência de Imprensa Novosti desenvolveu os ditos «históricos»: 20 a 25 páginas de informação e opiniões que foram apresentadas aos jornalistas antes mesmo de comprarem as suas passagens para Moscovo. Tinham de analisar a situação e, julgando pelas suas reações ao tal histórico, o representante local da Novosti ou diplomata soviético local em Washington iria julgar se eles receberiam o visto para a União Soviética ou não.
Griffin: Eram selecionados antes?...
Bezmenov: Ah, sim! Eram muito cuidadosamente pré-selecionados. Não há muita possibilidade de um jornalista honesto chegar à União Soviética e ficar lá por um ano e trazer esse pacote de mentiras para casa.
Esta, por exemplo, é a página central da revista Look. Apresentaram esse monumento erigido pelo Partido Comunista em Estalinegrado como o símbolo, a personificação do poderio militar russo. E disseram no artigo publicado na margem que os soviéticos têm muito orgulho da sua vitória na Segunda Guerra Mundial. Esse é outro grande mito, uma mentira. Nenhum povo sensato teria orgulho em perder 20 milhões dos seus compatriotas numa guerra que foi deflagrada por Hitler e pelo camarada Stalin e paga por multinacionais americanas. A maioria dos cidadãos soviéticos olha para esse tipo de monumento com nojo e dor porque toda a família perdeu pai, irmão, irmã ou criança [filho] na Segunda Guerra Mundial. Ainda assim, jornalistas americanos que estavam a tentar apaziguar, agradar aos seus anfitriões, apresentaram esta foto na página central como o símbolo, a personificação do que eles chamam de «espírito nacional russo». E foi o maior, o maior erro, e uma incompreensão trágica. É claro: a revista Look não foi distribuída na União Soviética. O público principal estava nos Estados Unidos. Mas eu suponho que muitos americanos — milhões de americanos que liam a revista Look naquela época — tiveram uma ideia absolutamente errada sobre os sentimentos da minha nação, ou de que os soviéticos têm orgulho ou odeiam.
Este é um grupo. (Pode ver a mesma dama com uma espada em Estalinegrado.) É um grupo de jornalistas. Estou no centro, com o mesmo sorriso diabólico. E o Sr., Philip Harrington está lá à extrema esquerda com a sua câmara. Este era o senhor que era tão surdo ou tão desinteressado no que eu lhe tinha a dizer!
Esta é a mesma foto, uma ampliação da mesma foto. Muitos convidados de muitos países (e neste caso particular da Ásia e da África) eram levados por mim, como funcionário da Agência Novosti, para uma volta pela Sibéria, por exemplo. Mostrávamos-lhes uma creche típica. Está a ver? Nada de especial para os padrões americanos: só crianças boazinhas, sentadas a tomar o seu pequeno-almoço ou o almoço. O que eles não podiam entender ou fingiam não entender é que esta é uma creche exemplar. Esta não é uma creche para a pessoa média ou família média na União Soviética. E mantivemos essa ilusão na mente deles. Pode ver-me abaixo da mancha vermelha, lá no meio, com a mesma expressão de negócios. Estou a fazer o meu trabalho. É o que me mandaram fazer e me pagaram para fazer. Mas, no fundo, esperava que ao menos alguns desses idiotas úteis compreendessem que o que eles estavam a ver não tinha nada a ver com o nível de riqueza na minha nação.
Esta é uma foto melhor, que reflete o espírito verdadeiro da infância soviética. Esta foto foi impressa numa publicação do Governo canadiana por engano. No meio, pode ver crianças a brincar num pequeno quintal, e a legenda diz «Esta é uma típica creche na Sibéria». O que esses idiotas não entendiam é que isso não é uma creche, de maneira nenhuma. É uma prisão para filhos de prisioneiros políticos. Mas não houve uma única menção de que aquilo que andavam a visitar era na verdade uma área de campos de concentração. E o trabalho de pessoas como eu era ajudá-los a não perceberem que estavam, na verdade, a falar com prisioneiros. A maioria das crianças estava vestida especialmente na ocasião da visita dos estrangeiros, e claro que não havia cadáveres pelo chão, não havia guardas de metralhadora; e não parece muito agradável, pelo que pode ver; parece desagradável, mas obviamente não dá a impressão de que isso é na verdade uma prisão.
Griffin: Bem. Algum dos jornalistas teve a curiosidade de perguntar por prisões, afinal, na Sibéria?
Bezmenov: Sim, sim! Alguns deles perguntavam; e nós, naturalmente, para pergunta estúpida dávamos uma resposta estúpida: «Não, não há prisões na Sibéria. Não. A maioria das pessoas que vê são cidadãos livres da União Soviética: estão muito felizes por estarem aqui e estão a contribuir para a glória do sistema socialista». Alguns deles fingiam acreditar no que eu lhes dizia; e da maioria deles, podemos discutir depois quais são as motivações dessas pessoas. Porque iriam levar mentiras para a sua própria gente através da sua própria comunicação social?
Tenho várias respostas para isto. Não há uma explicação única; é um complexo de explicações. É medo, puro medo biológico. Entendem que estão no território de um Estado inimigo, um Estado policial, e só para salvar as suas peles imprestáveis, os seus empregos miseráveis, sua afluência em casa, preferiam contar uma mentira a fazer perguntas verdadeiras e a noticiar informação verdadeira. Em segundo lugar, a maioria desses imbecis tinha medo de perder os seus empregos porque, obviamente, se diz a verdade sobre o meu país, não vai durar muito como correspondente do New York Times ou Los Angeles Times. Irão despedi-lo. «Que tipo de correspondente é você? Obviamente, não se pode entender com os russos se eles o lançam para fora em 24 horas.»
Então, por tentarem ser conformistas com os seus chefes de redação, tentam não ofender os sentimentos dos administradores soviéticos e de pessoas como eu. No fundo, desejava que eles insultassem, sim, os meus, ou ofendessem, sim, os meus sentimentos. Obviamente, preferiram não o fazer. Outro motivo (recusava-me a acreditar nisto, mas, obviamente, há outra razão): obviamente, é uma ambição. Essas pessoas ganham muito dinheiro: Quando voltam para os Estados Unidos, alegam que são especialistas no meu país; escrevem livros e vendem milhões de cópias: títulos como «Russos», «A verdade sobre a Rússia». A maior parte é mentira sobre a Rússia. Ainda assim, alegam-se de sovietólogos. Repetem mitos sobre o meu país, os clichés de propaganda. Ainda assim, resistirão teimosamente à verdade.
Se uma pessoa como Soljenitsin deserta ou é atirada para fora da União Soviética, fazem o melhor que podem para a desacreditar e desencorajar. Não tenho muita sorte em aparecer em rede nacional com a história verdadeira sobre o meu país. Mas um idiota útil como Hendrix Smith ou Robert Kaiser são grandes heróis, voltam da União Soviética a dizer: «Oh, estávamos a falar com dissidentes na Rússia». Grande coisa! Dissidentes soviéticos andam a correr atrás de correspondentes americanos pelas ruas e eles andam covardemente a escapar destes contactos.
Por alguma razão estranha, se você quiser saber mais sobre a Espanha, consulta escritores espanhóis; se quiser saber mais sobre os franceses, lê escritores franceses; mesmo sobre a Antártica, leria os pinguins; só sobre a União Soviética, por alguma razão estranha, lê Hendrix, imbecilendrix e todo o tipo de Kissingers porque eles alegam saber mais sobre o meu país. Eles não sabem de nada, ou perto de nada, ou pretendem saber mais do que sabem de facto. Eu diria que são pessoas desonestas, a quem falta integridade e bom senso e honestidade intelectual. Trazem de volta todo o tipo de estórias, como aquela: uma creche na Sibéria, omitindo o facto mais importante — é uma prisão para filhos de prisioneiros políticos! Outro grande exemplo de idiotice monumental de políticos americanos: Edward Kennedy estava em Moscovo; e pensou que era um político americano popular e carismático, que é para a frente, que sorri, que dança no casamento no palácio russo de casamentos. O que ele não entendeu, ou fingiu que não entendeu, é que, na verdade, andava a passear de coleira. Esse é um casamento montado para impressionar comunicação social estrangeira ou idiotas úteis como Edward Kennedy. Lá, a maioria dos convidados tinha permissão da segurança e era instruída no que dizer para estrangeiros. E era o que eu estava a fazer. Pode ver-me no mesmo maldito palácio de casamentos, em Moscovo, onde Edward Kennedy dançava, aqui, sorrindo. Ele acha que é muito inteligente. Do ponto de vista de cidadãos soviéticos que assistem a essa idiotice, ele é um idiota egocêntrico de mente estreita que tenta ganhar a sua popularidade através de participação em farsas de propaganda como essa.
Aqui, pode ver-me. À direita, de novo, uma noiva soviética exemplar. À esquerda, três jornalistas de vários países: Ásia, África e América Latina. Obviamente, estão a adorar a situação; vão voltar para casa e escrever uma notícia «Estávamos presentes num casamento comum soviético». Eles não estavam presentes num casamento soviético comum! Estavam presentes: foram parte de uma farsa, de uma apresentação de circo.
Outra coisa que eu tive (às vezes, arriscando a minha vida para explicar a estrangeiros): A revista Time, por exemplo, é muito crítica do regime racista da África do Sul. O artigo era todo dedicado ao vergonhoso sistema de passaportes internos onde negro não tem permissão para viver com brancos. Por alguma razão estranha, nos últimos 14 anos, desde a minha deserção, ninguém queria prestar atenção ao meu passaporte. Este é o meu passaporte. Ele também mostra a minha nacionalidade. E tem um carimbo da polícia, que é chamado prapiska na língua russa, que me designa a uma certa área de residência. Não posso deixar esta área, da mesma forma que este negro não pode deixar a área na África do Sul. Ainda assim, chamamos o Governo da África do Sul de regime racista. Nenhuma Jane Imbecilonda ou Fonda tem bravura, coragem suficiente, para ir dizer à comunicação social: «Olhem! Isto é o que acontece na União Soviética!» Mandei cópias do meu passaporte para vários 'liberais' americanos, defensores de direitos civis e todos os outros idiotas úteis. Nem se preocuparam em me responder. Isso mostra que tipo de integridade, que tipo de honestidade essa gente tem. São um bando de hipócritas porque não querem reconhecer um bom exemplo de racismo no meu país.
Esse é o primeiro estágio em tornar-se amigo de um professor. Pode ver-me à esquerda, com o mesmo sorriso de James Bond. À direita, está o meu supervisor do KGB, o camarada Leonid Mitrokhin; e no meio está um professor de ciência política da Universidade de Deli. O próximo passo seria convidá-lo para uma convenção de amizade indo-soviética. Aí está ele, sentado ao lado da sua esposa, antes de ser mandado para a União Soviética em viagem grátis, tudo pago pelo Governo soviético. Ele foi induzido a acreditar que está a ser convidado para a União Soviética por ser um intelectual talentoso que pensa sobriamente. Absolutamente falso. Ele está a ser convidado porque é um idiota útil, porque iria concordar e subscrever a maioria dos clichés de propaganda soviética e, quando voltar ao seu próprio país, irá ensinar por anos e anos as belezas do socialismo soviético para novas e novas gerações dos seus estudantes, promovendo, assim, a linha de propaganda soviética. O KGB estava até curioso acerca deste senhor (pode parecer inocente), Maharishi Mahesh Yogi, um grande líder espiritual, ou talvez um grande charlatão e vigarista, dependendo de que lado você olha para ele. Os Beatles foram treinados no seu ashram, em Haridwar, na Índia, em como meditar. Mia Farrow e outros idiotas úteis de Hollywood visitaram a sua escola e voltaram aos Estados Unidos absolutamente alucinados com maconha, haxixe e ideias malucas de meditação. Meditar, noutras palavras, isolar-se dos assuntos sociais e políticos atuais do seu próprio país, entrar na sua própria bolha, esquecer os problemas do mundo. Obviamente, o KGB está muito fascinado com uma escola tão linda, tal centro de lavagem cerebral para americanos estúpidos. Eu fui enviado pelo KGB para verificar que tipo de VIP americano frequentava a escola.
Griffin: É você à esquerda?
Bezmenov: Sim, estou à esquerda. Estava a tentar matricular-me na escola. Infelizmente, Maharishi Mahesh Yogi cobrava muito. Queria 500 dólares americanos para a matrícula. Mas a minha função não era realmente matricular-me nesta escola; a minha função era descobrir que tipo de gente dos Estados Unidos frequenta esta escola. E descobrimos que, sim, há alguns membros de famílias influentes fazedores de opinião pública dos Estados Unidos; que voltam com histórias malucas de filosofia indiana. Os próprios indianos enxergam-nos como idiotas: idiotas úteis. Para não falar do KGB, que os enxergava como gente extremamente ingénua e desorientada. Obviamente, um VIP, (digamos) a esposa de um deputado ou uma personalidade proeminente de Hollywood, depois de ser treinada naquela escola, é muito mais instrumental nas mãos de manipuladores de opinião pública e do KGB do que uma pessoa normal que entende, que enxerga através desse char... desse tipo de treino religioso falso.
Griffin: Porque é que seriam mais suscetíveis à manipulação?
Bezmenov: Acabei de falar, porque (veja bem) uma pessoa que está muito envolvida em meditação introspetiva, se você vir cuidadosamente o que Maharishi Mahesh Yogi está a ensinar a americanos é que todos — a maioria dos problemas, a maioria dos assuntos quentes de hoje — podem ser resolvidos meditando, simplesmente. Não balance o barco, não se envolva, sente-se apenas, olhe para o seu umbigo e medite. E as coisas, por alguma lógica estranha, por vibração cósmica, vão se assentar sozinhas. Isso é exatamente o que o KGB e a propaganda marxista-leninista quer dos americanos: Distrair a sua opinião, atenção, energia mental de assuntos reais dos Estados Unidos para não-assuntos, para um não-mundo, para uma harmonia inexistente. Obviamente, é mais benéfico para os agressores soviéticos ter um bando de americanos abestalhados do que americanos que são autoconscientes, saudáveis, em forma física e alerta à realidade. Maharishi Mahesh Yogi obviamente não está na folha de pagamento do KGB. Mas, quer ele saiba quer não, contribui muito para a desmoralização da sociedade americana. E ele não é o único. Há centenas desses gurus que vêm para o seu país para faturar em cima da ingenuidade e da estupidez de americanos. É uma moda, é uma moda meditar, é uma moda não se envolver. Então, obviamente, pode ver que, se o KGB estava tão curioso, se pagaram a minha viagem para Haridwar, se me designaram aquela missão estranha, obviamente estavam muito fascinados. Estavam convencidos de que esse tipo de lavagem cerebral é muito eficiente e instrumental na desmoralização dos Estados Unidos.
Griffin: A nossa conversa com Yuri Alexandrovitch Bezmenov, que foi desertor da União Soviética e ex-agente de propaganda para a Novosti e o KGB, continuará após o intervalo.
Bezmenov: Esta foto mostra parte do edifício da embaixada da União Soviética e os meus supervisores. À esquerda está o camarada Mehdi, um comunista indiano, e à direita está o camarada Mitrokhin, meus supervisores no departamento secreto de pesquisa e contrapropaganda. Não tem nada a ver nem com a pesquisa nem com a contrapropaganda. A maioria da atividade do departamento era compilar uma enorme quantidade (volume) de informação sobre indivíduos que eram instrumentais em criar opinião pública: editores, redatores, jornalistas, atores, educadores, professores de ciência política, membros do parlamento, representantes de círculos empresariais. A maioria destas pessoas estava dividida basicamente em dois grupos: Aqueles que apoiavam a política externa soviética seriam promovidos às posições de poder, através da manipulação de comunicação social e de opinião pública; aqueles que rejeitavam a influência soviética no seu país seriam assassinados no caráter ou [executados] fisicamente, vindo a revolução; da mesma maneira que na pequena cidade de Huê, no Vietname do Sul. Vários milhares de vietnamitas foram executados numa noite, quando a cidade foi capturada pelos vietcongues por apenas 2 dias e a CIA americana não conseguia entender como possivelmente os comunistas podiam saber de cada indivíduo (onde morava, onde prendê-lo) e seriam presos numa noite, basicamente umas 4 horas antes do amanhecer, colocados em furgonetas, levados para fora dos limites da cidade e fuzilados. A resposta é muito simples: muito antes de os comunistas ocuparem a cidade, havia uma rede extensa de informadores, cidadãos vietnamitas locais, que sabiam absolutamente tudo sobre pessoas que eram instrumentais em opinião pública, incluindo barbeiros e taxistas. Qualquer um que fosse simpático para os Estados Unidos era executado. A mesma coisa foi feita sob a tutela da embaixada soviética em Hanói, e a mesma coisa estava eu a fazer em Nova Deli. Para meu horror, descobri que nos arquivos de pessoas marcadas para execução estavam os nomes de jornalistas pró-soviéticos com quem eu tinha amizade pessoal.
Griffin: Pró-soviéticos?
Bezmenov: Sim! Eram esquerdistas de pensamento idealista que fizeram várias visitas à União Soviética, e, ainda assim, o KGB decidiu que, vindo a revolução ou mudanças drásticas na estrutura política da Índia, eles teriam de ir.
Griffin: Porquê?
Bezmenov: Porque sabem demais! Simplesmente, porque (veja bem) os idiotas úteis — os esquerdistas que acreditam idealisticamente na beleza do socialismo soviético, comunista ou o sistema que for — quando se desiludem, tornam-se os piores inimigos. Isto é porque os meus instrutores do KGB frisaram especificamente: «Nunca ligue para os esquerdistas. Esqueça essas prostitutas políticas. Olhe mais alto». Esta era a minha instrução: «Tente entrar na comunicação social de grande circulação, conservadora, estabelecida, cineastas ricos, podres de ricos, intelectuais, os ditos 'círculos académicos', pessoas cínicas e egocêntricas que podem olhar nos seus olhos com expressão angélica e contar-lhe uma mentira.» Estas são as pessoas mais recrutáveis, pessoas que carecem de princípios morais, que são ou ambiciosas demais ou que sofrem de autoimportância. Elas sentem que são muito importantes. Estas são as pessoas que o KGB queria muito recrutar.
Griffin: Mas eliminar os outros, executar os outros? Não teriam um propósito, não era para confiar nelas?
Bezmenov: Não. Só têm propósito no estágio de desestabilização de uma nação. Por exemplo, os seus esquerdistas nos Estados Unidos, todos esses professores e todos esses lindos defensores de direitos civis são instrumentais no processo de subversão, apenas para desestabilizar uma nação.
Quando o serviço deles está completo, não são mais necessários: sabem demais. Alguns deles, quando se desiludem, quando veem os marxistas-leninistas chegarem ao poder, obviamente, ficam ofendidos. Acham que vão para o poder. Isto nunca acontecerá (é claro): serão alinhados no paredão e fuzilados. Mas podem tornar-se os inimigos mais rancorosos dos marxistas-leninistas quando [estes] chegam ao poder.
E foi isto que aconteceu na Nicarágua: Lembra-se de que a maioria desses ex-marxistas-leninistas foi presa e um deles separou-se e agora trabalha contra os sandinistas. Aconteceu em Grenada, quando Maurice Bishop já era um marxista e foi executado por novos marxistas, que eram mais marxistas que este marxista. O mesmo aconteceu no Afeganistão, quando, primeiramente, foi Taraki, que foi morto por Amin; a Amin, que foi morto por Babrak Karmal, com ajuda do KGB. O mesmo aconteceu no Bangladesh, quando Munjibur Rahman, um esquerdista bem pró-soviético, foi assassinado pelos seus próprios camaradas militares marxistas-leninistas. É o mesmo padrão em todos os lugares. No momento em que cumprem o propósito deles, todos os idiotas úteis ou são executados inteiramente (os marxistas idealistas), ou exilados, ou metidos na prisão, como em Cuba (muitos ex-marxistas estão em Cuba, na prisão).
Então, a maior parte dos indianos que estava a cooperar com os soviéticos, especialmente com o nosso departamento de informação da embaixada da União Soviética, estava marcada para execução! E quando descobri este facto, passei mal (é claro)! Passei mal mentalmente, fisicamente… Achei que ia explodir, um dia, durante as instruções, no escritório do embaixador: Iria levantar-me e dizer algo como: «Somos basicamente um bando de assassinos! É o que somos. Não tem nada a ver com amizade e compreensão entre as nações e blá blá blá. Somos assassinos! Comportamo-nos como uma quadrilha de bandidos, num país que é hospitaleiro connosco, um país com tradições milenares». Mas não desertei. Tentei repassar a informação. Para meu horror, ninguém queria ouvir, ouvir ou acreditar no que eu tinha para dizer. Tentei todo o tipo de truques. Lançava informação por cartas ou documentos perdidos ou coisa assim. Ainda assim, não obtive mensagem; a mensagem não foi publicada, mesmo na comunicação social conservadora da Índia.
O impulso imediato para desertar foi a crise do Bangladesh, que foi descrita por correspondentes americanos como revolução islâmica comunitária, o que é puro engano. Não teve nada a ver com o Islão e não houve revolução comunitária. Aliás, não existem revoluções comunitárias. Ponto final. Toda a revolução é produto de um grupo altamente organizado: consciente e profissional e organizado, mas nada a ver com a comunidade. No Bangladesh, não teve nada de comunitário: A maior parte dos membros do partido da Liga Awami (Liga Awami significa «Partido do Povo») foi treinada em Moscovo, na escola superior do partido; a maior parte dos líderes Mukti Fauji (Mukti Fauji, em Bengali, significa «exército do povo»); o mesmo que SWAPO e todos os tipos de «exércitos de libertação» pelo mundo fora. O mesmo bando de idiotas úteis! Foram treinados na Universidade Lumumba e em vários centros do KGB em Simferopol, na Crimeia e Tashkent.
Então, quando vi territórios indianos a serem usados como trampolim para destruir o Paquistão Oriental, eu mesmo vi milhares dos ditos estudantes a viajar através da Índia, através do Paquistão Oriental, através do território da Índia, e o Governo da Índia fingia não ver o que estava a acontecer. Eles sabiam perfeitamente bem, a polícia indiana sabia, o departamento de inteligência do Governo indiano sabia, o KGB (é claro) sabia e a CIA sabia! Isso era o mais revoltante, porque quando desertei e expliquei aos interrogadores da CIA que deviam tomar cuidado porque o Paquistão Oriental iria estourar a qualquer momento, disseram que eu estava a ler muitos livros de James Bond.
Mas então, o Paquistão Oriental estava perdido. Um dos meus colegas no consulado soviético em Calcutá, quando estava completamente bêbado, foi para o porão para se aliviar e achou caixas grandes que diziam «Material impresso para a Universidade de Daca». Daca é a capital do Paquistão Oriental. E como estava bêbado e curioso, abriu uma das caixas e descobriu não material impresso; descobriu lá armas Kalashnikov e munição. De qualquer maneira, é uma longa estória. Quando vi as preparações para a invasão do Paquistão Oriental, obviamente queria desertar imediatamente. A única coisa que eu podia... Na época, não conseguia decidir quando, onde e como. Uma das razões (é claro, veja) é que eu estava apaixonado pela Índia. Já mencionei antes: falava as línguas, socializava-me com as pessoas. E entendi que tinha de agir rapidamente, a não ser que quisesse que esse lindo país fosse permanentemente e irreparavelmente danificado pela nossa presença.
Uma das razões para não desertar era (como pode ver): estava a viver em relativa afluência. Quem, diabos, em sã consciência iria desertar e fazer o quê?! Ser ofendido pela sua comunicação social? Ser chamado de macartista, fascista e paranoico? Ou para conduzir um táxi em Nova Iorque? Para quê? Para que diabos eu iria desertar? Para ser ofendido por americanos, ser insultado, em troca do meu esforço de levar informação verídica sobre o perigo iminente de subversão? Como pode ver, eu estava a viver em condições bem confortáveis, perto de piscinas (onde, aliás, indianos eram proibidos de entrar). Era um especialista em propaganda muito bem pago, tinha a minha família, era respeitado pela minha nação, a minha carreira estava limpinha. A terceira razão: como desertar com a família? Desertar com o bebé e a esposa seria praticamente suicídio porque, de acordo com a lei (aquela lei hipócrita de que falei antes), a polícia indiana teria de me entregar de volta para o KGB e este seria o fim da minha deserção e provavelmente da minha vida.
Novamente, não posso contrabandear a minha esposa porque ela não sabia bem o que eu estava a fazer. Ela não estava tão idealisticamente envolvida e definitivamente não estava por dentro do quadro geral do que eu estava a fazer para o KGB: ficaria chocada! Se eu a colocasse na minha furgoneta e a levasse para a embaixada americana ou outro lugar, isso seria um grande perigo. Então, novamente, tinha de desertar de tal maneira que a minha deserção parecesse simples desaparecimento. E houve muitos casos assim, quando um agente soviético simplesmente desaparecia, ou morto em serviço ou devido à sua curiosidade e ao seu contacto próximo com radicais. Aliás, alguns foram mortos pelos marxistas. Aconteceu em muitos países africanos, quando um KGB soviético era morto pelos próprios africanos, não porque odiavam o marxismo-leninismo mas, simplesmente, porque eram um bando de sujeitos desordeiros com gatilho a coçar. Se dá lhes der uma metralhadora, eles vão atirar! E alguns soviéticos obviamente não tomaram o cuidado de se protegerem e meteram-se em situações embaraçosas, quando eram baleados no fogo cruzado entre fações dos ditos «movimentos de libertação».
Então, decidi, com disse, estudar a contracultura. Decidi que esta seria provavelmente a melhor maneira de desaparecer. Socializei-me com figuras como essa à esquerda. Como vê, é um hippie americano descalço. Levou algum tempo para estudar o que estavam a fazer e como me misturar com eles, mas consegui, eventualmente. A maioria dos jornais indianos tinha a minha foto e a promessa de 2000 rupias por informação da minha localização; mas estavam a procurar a pessoa errada, porque, obviamente, estavam a tentar parar um jovem diplomata soviético de camisa branca e gravata, e esta era a minha aparência durante a deserção. Possivelmente, ninguém iria pensar que um diplomata soviético seria maluco ao ponto de se juntar a um bando de hippies!
Griffin: Este é você!...
Bezmenov: Sim. Viajar pela Índia e fumar haxixe. Então consegui, literalmente, quase como numa história de detetive no estlo de Hollywood. Debaixo do nariz do KGB, no aeroporto de Bombaim, embarquei num avião e fui para a Grécia, onde fui interrogado pela CIA. Isto basicamente é o fim dos meus diapositivos.
Griffin: OK. Podemos desligar o projetor. Isto é muito interessante.
Você falou antes várias vezes acerca de subversão ideológica. Esta é uma frase que temo que alguns americanos não compreendam totalmente. Quando os soviéticos usam a frase «subversão ideológica», o que querem dizer?
Bezmenov: Subversão ideológica é o processo que é legítimo, público e aberto. Você pode vê-lo com os seus próprios olhos. Tudo o que tem de fazer, tudo o que a comunicação social americana tem de fazer é desenfiar as bananas dos ouvidos, abrir os olhos, e poderão vê-lo. Não tem mistério, não tem nada a ver com espionagem. Sei que espionagem, coleta de informação, parece mais romântico, vende mais desodorizantes em propagandas. Provavelmente, é por isso que os vossos produtores de Hollywood são tão loucos por thrillers como James Bond. Mas, na realidade, a ênfase principal do KGB não é de maneira nenhuma na área de inteligência.
De acordo com a minha opinião e a opinião de muitos desertores do meu calibre, apenas 15% de tempo, dinheiro e mão de obra são gastos em espionagem como tal. Os outros 85% são um processo lento que chamamos de subversão ideológica ou medidas ativas (aktivnye meropriyatiya, na linguagem do KGB) ou guerra psicológica. O que significa, basicamente, é mudar a perceção da realidade de todo o americano a tal ponto em que, apesar da abundância de informação, ninguém é capaz de chegar a conclusões razoáveis no interesse de se defender a si mesmo, às suas famílias, à sua comunidade e ao seu país. É um grande processo de lavagem cerebral, que anda bem devagar e é dividido em 4 estágios básicos.
O primeiro é desmoralização. Leva 15 a 20 anos para desmoralizar uma nação. Porquê este número de anos? Porque este é o número mínimo de anos necessário para educar uma geração de estudantes no país do seu inimigo, exposta à ideologia do inimigo. Noutras palavras, ideologia marxista-leninista vai sendo injetada nas cabeças moles de pelo menos 3 gerações de estudantes americanos, sem ser contestada ou contrabalançada pelos valores básicos do americanismo, patriotismo americano.
O resultado? O resultado, você pode vê-lo: A maioria das pessoas que se formaram nos anos 60, desistentes ou intelectuais de miolo mole, está agora a ocupar as posições de poder no Governo, funcionalismo, negócios, comunicação social, sistema educativo. Vocês estão atolados com eles, não se conseguem livrar deles. Eles estão contaminados, estão programados para pensar e reagir a certos estímulos, a um certo padrão. Você não consegue mudar as ideias deles, mesmo se os expuser a informação autêntica; mesmo que prove que branco é branco e preto é preto, não consegue mudar a perceção básica e a lógica de comportamento. Noutras palavras, [com] essa gente, o processo de desmoralização é completo e irreversível. Para livrar a sociedade dessa gente, precisa de outros 20 ou 15 anos para educar uma nova geração de gente de mente patriótica e bom senso que agiria em favor de e pelos interesses da sociedade dos Estados Unidos.
Griffin: E essas pessoas que foram programadas, como você diz, no lugar, e que são favoráveis a uma abertura ao conceito soviético, são as mesmas pessoas que estariam marcadas para extermínio neste país?
Bezmenov: A maioria delas, sim. Simplesmente, porque o choque psicológico, quando elas virem no futuro o que a linda sociedade de igualdade e justiça social significa na prática, obviamente irão revoltar-se. Serão pessoas muito infelizes, frustradas. E o regime marxista-leninista não tolera essas pessoas. Obviamente, juntar-se-ão às fileiras dos desertores, dissidentes.
Ao contrário dos atuais Estados Unidos, não haverá lugar para dissensão na futura América marxista-leninista. Aqui, você pode ficar popular, como Daniel Ellsberg, e podre de rico, como Jane Fonda, por ser dissidente, por criticar o vosso Pentágono. No futuro, essa gente será simplesmente esmagada como baratas. Ninguém lhes pagará nada pelas suas lindas ideias nobres de igualdade. Isto, eles não entendem e será o maior choque para eles (é claro).
O processo de desmoralização nos Estados Unidos já está basicamente completo, nos últimos 25 anos. Aliás, está mais que completo, porque a desmoralização agora chega a áreas em que antes nem o camarada Andropov e todos os seus especialistas sequer sonhariam com tal sucesso tremendo. A maior parte é feita por americanos em americanos, graças à falta de padrões morais.
Como mencionei antes, exposição a informação verdadeira não importa mais. Uma pessoa que foi desmoralizada é incapaz de avaliar informação verdadeira. Os factos não lhe dizem nada; mesmo que eu a bombardeie com informação, com provas autênticas, com documentos, com fotos. Mesmo que eu a leve à força para a União Soviética e lhe mostre um campo de concentração, recusará acreditar, até levar um pontapé no traseiro gordo dela. Quando uma bota militar rebentar a sua […], aí entenderá, mas não antes. Isto é o trágico da situação de desmoralização.
Então, basicamente, a América está atolada com a desmoralização. E, a menos que, mesmo que você comece agora, neste minuto, se começar a educar uma nova geração de americanos, ainda assim vai levar 15 a 20 anos para reverter a maré da perceção ideológica da realidade, de volta à normalidade e ao patriotismo.
O próximo estádio é desestabilização. Desta vez, o subversor não liga às suas ideias e aos seus padrões de consumo. Se você come comida de má qualidade e fica gordo e flácido, não importa mais. Desta vez (e leva só de 2 a 5 anos para desestabilizar uma nação), o que importa são os essenciais: economia, relações exteriores e sistemas de defesa. E pode ver bem claramente que, em algumas áreas sensíveis como defesa e economia, a influência de ideias marxistas-leninistas nos Estados Unidos é absolutamente fantástica. Eu nunca iria acreditar há 14 anos atrás, quando pousei nesta parte do mundo, que o processo andaria tão rapidamente.
O próximo estágio (é claro) é a crise. Pode precisar de até apenas 6 semanas para levar um país à beira da crise. Pode ver isso na América Central, agora.
E depois da crise, com a mudança violenta de estrutura de poder e economia, você tem o período dito de normalização. Pode durar indefinidamente. «Normalização» é uma expressão cínica emprestada da propaganda soviética: Quando os tanques soviéticos entraram na Checoslováquia, em 68, o camarada Brezhnev disse: «Agora, a situação na fraternal Checoslováquia está normalizada».
Isto é o que acontecerá aos Estados Unidos se vocês permitirem todos os imbecis levarem o país à crise, prometerem ao povo todo o tipo de benesses e o paraíso na Terra, desestabilizarem a sua economia, eliminarem o princípio de concorrência de mercado livre e colocarem um Governo do Grande Irmão (Big Brother) em Washington DC com ditadores benevolentes como Walter Mondale, que prometerá montes de coisas! (Não importa se as promessas serão cumpridas ou não.) Ele irá a Moscovo para lamber as botas da nova geração de assassinos soviéticos. Não importa. Ele criará falsas ilusões de que a situação está sob controlo. A situação não está sob controlo. A situação está asquerosamente fora de controlo.
A maioria dos políticos americanos, comunicação social e sistema educativo treina outra geração de pessoas que pensam que estão a viver em tempos de paz. Falso. Os Estados Unidos estão num estado de guerra, guerra total não declarada contra os princípios básicos e alicerces deste sistema. E o iniciador desta guerra não foi o camarada Andropov (claro): é o sistema. Por mais ridículo que possa soar, é o sistema comunista mundial ou a conspiração comunista mundial. Se isto assusta algumas pessoas ou não, não me interessa. Se não está assustado neste momento, nada o pode assustar.
Mas não precisa de ficar paranoico com isto. O que de facto acontece agora, é que, ao contrário de mim, vocês têm literalmente alguns anos para viver, a não ser que os Estados Unidos acordem. A bomba-relógio está a fazer tique-taque. A cada segundo, o desastre está a aproximar-se cada vez. Ao contrário de mim, vocês não terão para onde desertar, a não ser que queiram viver na Antártica com pinguins. É isso: este é o último país de liberdade e possibilidade.
Griffin: OK. Então, o que vamos fazer? Qual é a sua recomendação ao povo americano?
Bezmenov: Bem, a coisa imediata que vem à minha mente é (claro): deve haver um esforço nacional muito forte para educar as pessoas no espírito de verdadeiro patriotismo — número um. Número dois: explicar-lhes o perigo real do socialismo, comunismo, qualquer Estado de bem-estar social, Governo do Grande Irmão (Big Brother). Se as pessoas falharem em captar o perigo iminente ao seu desenvolvimento, mesmo nada poderá ajudar os Estados Unidos. Vocês podem dizer adeus às suas liberdades, incluindo liberdades dos homossexuais, dos presos; toda esta liberdade vai desaparecer, evaporar, em 5 segundos, incluindo as suas preciosas vidas.
A segunda coisa: No momento em que pelo menos parte da população dos Estados Unidos está convencida de que o perigo é real, têm de forçar o seu Governo! E não estou a falar em mandar cartas, assinar petições e todas essas lindas atividades nobres. Estou a falar em forçar o Governo dos Estados Unidos a parar de ajudar o comunismo, porque não há outro problema mais ardente e urgente do que impedir o complexo industrial militar soviético de destruir o que quer que tenha sobrado do mundo livre. E é muito fácil de fazer: nada de crédito, nada de tecnologia, nada de dinheiro, nada de reconhecimento político ou diplomático, e (é claro) nada de idiotices, como acordos de cereais com a União Soviética.
O povo soviético (270 milhões de soviéticos) será eternamente grato a vocês se pararem de ajudar um bando de assassinos que agora estão sentados no Kremlin e a quem o presidente Reagan respeitosamente chama de Governo. Eles não governam nada, muito menos complexidades como a economia soviética.
Então, basicamente, duas coisas muito simples, talvez duas questões ou soluções muito simplistas. Mas ainda assim são as únicas soluções: eduque-se, entenda o que está a acontecer ao seu redor. Não está a viver em tempos de paz. Está num estado de guerra. E tem pouco e precioso tempo para se salvar. Vocês não têm muito tempo, especialmente se estiverem a falar da geração jovem. Não resta muito tempo para convulsões […] para a linda música disco. Muito em breve, vai simplesmente desaparecer da noite para o dia. Se estamos a falar de capitalistas ou de empresários ricos, creio que estão a vender a corda na qual serão enforcados muito em breve. Se eles não pararem, se não conseguirem frear o seu desejo insaciável de lucro e se continuarem a comerciar com o monstro do comunismo soviético, irão para a forca, muito em breve. E rezarão para serem mortos, mas, infelizmente, serão mandados para o Alasca, provavelmente para a gerência da indústria de escravos.
É simplista. Sei que soa desagradável, sei que americanos não gostam de escutar coisas que são desagradáveis, mas não desertei para lhes contar estórias de idiotices como microfilme, espionagem como James Bond; isso é lixo. Vocês não precisam mais de espionagem. Eu vim falar de sobrevivência. É uma questão de sobrevivência deste sistema. E pode perguntar-me o que ganho com isso. Sobrevivência, obviamente, porque eu gosto... Como eu disse, tal como eu disse, estou agora no seu barco. Se afundarmos juntos, vamos afundar lindamente juntos. Não há outro lugar neste planeta para onde desertar!
Entrevista com Yuri Alexandrovitch Bezmenov (Tomas Schuman) (1939 — 1993), ex-agente do KGB.
Entrevistador: G. Edward Griffin.
American Media Production, 1984.
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