16 de jun. de 2013

OSWALD BOELCKE – O PAI DA AVIAÇÃO DE COMBATE



A fama de Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho, fez justiça ao mito criado durante e após a Primeira Guerra Mundial. Mas é fato  que ele não teria sido o que foi se não fosse convocado pelo ás Oswaldo Boelcke para integrar a Jagdstaffel (ou Jasta) 2. Quem era realmente Oswald Boelcke, aquele jovem piloto alemão que revolucionou para sempre a aviação de guerra, dando finalmente destaque e certo status para os pilotos de combate? Sem dúvida, Boelcke foi o pioneiro dos combatentes aéreos e suas estratégias de ataque e defesa são até hoje estudadas pelos pilotos modernos mesmo com seus caças equipados com alta tecnologia. A seguir uma breve resumo sobre a vida de Oswald Boelcke.

Boelcke, brilhante também nos estudos

Família, saúde e academia militar Oswald Boelcke nasceu em 19 de maio de 1891 em Glebichenstein, próximo a Halle, na Alemanha. Era filho de um professor de ensino médio. Seus três irmãos mais novos nasceram na Argentina, onde seu pai lecionou por algum tempo. Boelcke sempre teve a saúde fragilizada devido à problemas com sua asma e para fortalecer seu sistema cárdio-respiratório começou a praticar natação, ginástica e tênis. De família nacionalista, Boelcke se integrou na Academia Militar aos 13 anos quando teve sua solicitação atendida pelo Kaiser (Imperador) Guilherme II.  Boelcke foi um brilhante estudante, se destacando em física, química e matemática. Quando se formou como cadete, foi transferido para o Batalhão de Telegrafo nr. 3 em Klobenz. 

Primeiros contatos com um avião Em 1914 é transferido  junto a seu irmão mais velho, o capitão Wilhelm Boelcke para a recém formada Halberstadter Fleigerschule, a escola de Vôo de Halberstadt. Ainda nesse ano, recebeu treinamento de voo de maio a agosto, se formando como piloto em 15 de agosto de 1914.

A realidade da aviação Militar no início do Século XX Os aviões no início do século XX eram modelos biplanos ou triplanos com estrutura de madeira, entelados (cobertos com pano). Eram monomotores e sua baixa velocidade e sua ótima condição de planagem os credenciavam sobretudo para voos de reconhecimento, aliás, essa seria sua única função no começo da primeira guerra. Quando ocorria eventualmente um encontro entre lados opostos nos ares, as armas pessoais (pistolas) dos pilotos ou observadores é que decidiam quem permanecia voando e quem se espatifava no solo. Com os crescentes confrontos nos céus, as armas pessoais foram substituídas metralhadores manejadas pelo observador que só poderiam ser disparadas pelas laterais, para não atingir as hélices também feitas de madeira. Tentaram resolver esse problema revestindo as hélices com capas metálicas, mas perceberam que o piloto corria o risco de ser atingindo se os projéteis ricocheteassem nelas. Uma surpreendente solução foi alcançada quando desenvolveram um sistema de disparo em sincronia com a rotação das hélices. Agora o piloto poderia voar sem a necessidade de um observador para manusear a metralhadora. As metralhadoras passaram a ser posicionadas na frente do piloto que as disparava através de um dispositivo no próprio manche, fazendo com que os projéteis passassem entres as hélices em perfeita sincronia. As possibilidades de um ataque frontal se tornaram realidade e as estratégias de ataque se tornaram mais efetivas. Oswald Boelcke foi o principal responsável pelo desenvolvimento  das táticas de combate aéreo que mudaram radicalmente a função do avião nas guerras, da função de observação e vigilância para uma das armas mais letais usadas num conflito moderno.

Boelcke (à esquerda) e Richthofen, examinando um caça britânico
A Força Aérea Alemã na Primeira Guerra Mundial A Alemanha não era uma grande potência armada em relação ao poderio integrado dos ingleses, franceses e aliados, que eram superiores no  número de combatentes e armamentos. Daí o destaque para as proezas e heroísmo lendários dos combatentes alemães, principalmente dos ases da aviação de combate, teoricamente inferiores em número e sempre um passo atrás das inovações técnicas e estruturais da aviação aliada. Para superar a aparente desvantagem, os pilotos alemães esbanjavam espírito, força de conjunto e inteligência estratégica para o combate. 

Boelcke recebe a Cruz de Cavalheiro em 03/11/1915
Surge o primeiro Ás da Aviação – Antes de seu tornar um temível piloto de combate, Oswald Boelcke pilotou aviões de reconhecimento tendo seu irmão Wilhem Boelcke como observador pelo 13º Pelotão de Aviadores. Após 50 missões cumpridas, recebeu a condecoração da Cruz de Ferro junto com o irmão em 1914. A dupla foi desfeita devido à intrigas e rivalidades internas provavelmente causadas pelo sucesso dos irmãos. Em abril de 1915 Boelcke foi transferido para a 62 ª Unidade de Reconhecimento e Ajuste de Artilharia situados em Douai, situado em território francês ocupado pelos alemães. Em Julho de 1915, os pilotos de combate Oswald Boelcke, Max Immelmann, Otto Parschau e Jurt Wintgens receberam os primeiros protótipos dos aviões Fokker M.5K.MG, equipados com metralhadoras Parabellum sincronizadas e refrigeradas a ar. Em 04 de julho de 1915, Oswald Boelcke, ainda pilotando um avião biposto consegue sua primeira vitória com seu observador, o tenente Heinz von Wühlisch, num duro combate contra um avião Morane Parasol sobre a região de Valenciennes, França. A vitória numa ação específica de combate fomentou a idéia de desenvolver esquadrões treinados para a interceptação e combate. Em 19 de agosto de 1915, Boelcke obteve sua primeira vitória solo, derrubando um Bristol Biplano. Em 03 de novembro foi o primeiro piloto a receber a Cruz de Cavalheiro com Espadas da Ordem Real da Casa de Hohenzollern.

Max Immelmann, parceiro e rival de Boelcke
Boelcke, Immelmann e a Pour Le Mérite – Outro piloto que se destacava na 62ª Unidade era Max Immelmann, que até o final de 1915 obtivera sete vitórias, contra seis de Oswald Boelcke. Até o final de janeiro de 1916 ambos estavam com oito vitórias no currículo, o que os levou a receber a mais alta condecoração militar, a Ordem Pour Le Mérite. Em Março de 1916, Boelcke tornou-se líder da unidade recém formada, a Fliegerabteilung Sivery, comandando os combates sobre Verdun. Em 18 de junho, Max Immelmann foi abatido e morto em combate, ele havia alcançado 17 vitórias. 

O Kaiser e o herói nacional – Com a crescente fama e popularidade de Oswald Boelke entre o povo alemão e o temor de perder um exemplo único de combatente, o Imperador Wilhelm II, Rei da Prússia, chegou a ordenar seu afastamento dos combates aéreos para preservá-lo de uma morte prematura. O Kaiser queria utilizar sua capacidade intelectual e experiência adquirida nos combates na reestruturação da força aérea alemã que ainda estava atrasada em relação aos avanços tecnológicos alcançados pelos ingleses e franceses. A influência em terra como no ar de Oswald Boelcke foi decisiva para o progresso da força aérea alemã. 

Boelcke, antes de tudo um cavalheiro
O desenvolvimento dos caças alemães -  Os aviões Fokker E-III foram finalmente substituídos pelos modelos Halberstadt e Albatros, ao mesmo tempo em que ocorria um reorganização das Forças de Combate Aéreo. Foram desenvolvidos estudos que geraram novos conceitos e inovações táticas de combate aéreo tão revolucionárias que foram utilizadas até a Segunda Guerra Mundial. O conceito de se formar um esquadrão com espírito de equipe e cooperação comandado por um líder experiente e carismático, fez escola. 

Espírito de combatente e honradez de cavalheiro – O nobre caráter de Oswald Boelcke foi reconhecido graças a um incidente em 28 de agosto de 1915. Ao presenciar um avião francês ser abatido e mergulhar no canal próximo à sua base, Boelcke totalmente equipado para o voo se dirigiu ao local e mergulhou sem hesitar no canal, salvando o piloto Albert de Place do afogamento. A família do piloto francês em agradecimento requereu ao governo francês uma condecoração ao piloto alemão, que foi concedida através do governo da Alemanha, pelo seu ato de dignidade e bravura através da Rettungsmedaille am Band (Medalha de Salvamento), em 30 de novembro de 1915.

Boelcke e seus nove mandamentos de combate
A Dicta de Boelcke – Oswald Boelcke foi pioneiro em desenvolver táticas revolucionárias para o conflito aéreo, baseado nos muitos combates que realizou com sucesso. Assim  ditou instruções básicas para serem  seguidas por um piloto de caça:
01 – Antes do ataque, crie ou certifique-se das condições favoráveis ao sucesso do combate: velocidade, altitude, superioridade numérica e posicionamento.
02 -  Ataque sempre com o sol na retaguarda.
03 – Uma vez iniciado o ataque, dê continuidade e não o aborte.
04 – Dispare o mais próximo possível do adversário e somente se o tiver seguro na alça da mira.
05 – Não perca o adversário de vista.
06 – Em qualquer forma de ataque é necessária a aproximação pela retaguarda do adversário.
07 – Se o adversário o atacar em voo de mergulho, não tente desviar-se do ataque. Enfrente-o
08 – Ao sobrevoar linhas inimigas, mantenha-se orientado e resguarde sua retaguarda para a eventualidade de um recuo às próprias linhas.
09 – Em caso de ataque com esquadrilhas: Em princípio os ataques devem ser realizados em grupos de quatro a seis aviões. Caso ocorrer dispersão dos combatentes, evitar um ataque grupal a um único adversário. 

Boelcke (à direita) e um companheiro da Jasta 2
A Esquadrilha Jasta 2A Fliegerabteilung Sivery era integrada por seis caças, sendo a precursora das Jagdstaffel (Esquadrilhas de caça) alemãs criadas em 1916, que passaram a seguir os conceitos inovadores de Oswald Boelcke. Após a criação da Jagdstaffel (Jasta) 1, o tenente-coronel Hermann von der Leith-Thomsen incumbiu a Boelcke a formar a Jasta 2. Os primeiros pilotos escolhidos por Boelcke foram Manfred von Richthofen (o Barão Vermelho), Erwin Bohme e Hans Reimann. A Jasta 2 se tornou a unidade de elite da aviação de combate alemã. No início operavam os Fokker D-II e Halberstadt D-II que foram substituídos posteriormente pelos mais modernos modelos Albatros D-I e D-II. No final da guerra a Jasta 2 contava com 20 pilotos, contabilizando um total de 336 vitórias e apenas 44 baixas. O segredo para tantas vitórias era, segundo Boelcke, manter a disciplina tática do grupo e o espírito de equipe. Ele mesmo afirmou: “O sucesso da Jagdstaffel 2 nos combates depende da ação e conjunto. Não importa qual o piloto efetivamente obteve vitória, contanto que a Jagdstaffel vença o combate.”

Quadrinização do acidente fatal com Oswald Boelcke
A morte inesperada de Oswald Boelcke – Dois dias após sua 40ª vitória, no dia 28 de outubro de 1916, Oswald Boelcke e sua esquadrilha partem para interceptar os caças DH-2 britânicos da 24º esquadrilha da Royal Flying Corps. Durante a batalha aérea sobre Baupaume, o trem de pouso do caça pilotado pelo companheiro Erwin Böhme, rasga a asa superior do Albatros D-II de Boelcke. Com o avião descontrolado, Boelcke ainda consegue aterrissar. Mas o forte impacto ao solo, lhe causou a morte por traumatismo craniano. Boelcke tinha apenas 25 anos e já era considerado um mestre da aviação de combate. O velório, sob um forte comoção popular, se realizou na Catedral de Cambrai, com a presença de várias personalidades. Manfred von Richthofen, que seria em pouco tempo conhecido como o temido Barão Vermelho e nomeado o novo líder da Jasta 2, carregou as medalhas de seu mentor durante o velório. O corpo de Boelcke foi sepultado dois dias depois no cemitério honorário de Dessau com honrarias militares.
O corpo de Boelcke ao lado dos destroços
Funeral de Oswald Boelcke com honrarias militares
Numa próxima postagem falarei um pouco sobre outro ás da força aérea de combate alemã: Max Immelmann.

Por Eumário J. Teixeira.

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