Eu sempre gostei de histórias em quadrinhos, cinema, e sempre tive um ouvido apurado para discernir música de qualidade. Descobrir alguém que pudesse me oferecer minhas três paixões num único veículo foi um grande achado. Através de um amigo, que não citarei o nome, mas que é conhecido como Deca, fui apresentado a Robert Crumb. Ele sabia de minha obsessão pelo blues e que eu me achava “desenhista” (santa ilusão!), assim ele me mostrou alguns trabalhos de Crumb. É claro que fiquei babando, Crumb era tudo o que eu queria ser na época, um talentoso desenhista, bom músico amador, colecionador de discos raros e estudioso da música (acústica) de raíz afro-americana (blues, swing, jazz, etc.).
O blues sempre presente na obra de Crumb |
Mas Robert Crumb sempre esteve longe de ser uma pessoa agradável ou sociável; além da má fama de egocêntrico, anarquista e pervertido, experimentou no passado todo tipo de drogas, sofreu com a paranóia e foi um potencial candidato a suicida; ainda é mal humorado, impaciente e pode ser agressivo com as palavras e tudo indica que ainda é ateu. Apesar de ser norte-americano, diz que odeia a política fascista de seu país e se sente envergonhado por ter nascido lá; Crumb mudou-se para a França há mais de 20 anos. Ele acredita (meu Deus!) que Barak Obama tem boas intenções, só que “forças invisíveis” não o deixariam agir; e que a humanidade é muito difícil (olha só quem está falando...). Ninguém pode negar que ele é um gênio, e geralmente todo gênio se acha um pouco acima dos demais e enxerga as coisas sobre outro ângulo. Sua única filha se casou com um francês e lhe deu um neto, e Crumb, quem diria, se preocupa hoje em dia com o futuro do planeta. Pois é, quando a idade começa pesar e a morte se aproximar, o modo de ver a vida começa a mudar (rimou!). A seguir falarei um pouco deste polêmico e idolatrado artista dos quadrinhos, que foge da fama e bajulação como o diabo de Jesus Cristo.
Robert Crumb nasceu em 30 de agosto de 1943 na cidade de Filadélfia, Pensilvânia (EUA), atualmente está no alto dos seus 67 anos de idade. É um mestre dos quadrinhos cômicos e um dos pioneiros na ilustração do movimento underground. Seu trabalho foi muito divulgado nos anos de 1960 em plena era hippie, se integrando com o movimento em prol da paz, amor, e rock & roll. Ilustrou várias capas de discos de rock como Cheap Thrills de sua amiga Janis Joplin e There’s a Fungus Amung Us do guitarrista de blues, Earl Hooker.
A capa do disco de Janis Joplin desenhada por Crumb |
É notório sua apreciação pela música principalmente das de origem afro-americana como blues e jazz. Suas principais criações nos quadrinhos são os personagens Mr. Natural, um guia espiritual sábio e pilantra, claramente uma sátira ao Maharishi Mahesh Yogi e gurus semelhantes que aproveitavam da ingenuidade dos hippies e roqueiros utópicos (tipo Beatles); e Fritz, The Cat (um gato folgado, boa vida, drogado e sexualmente lascivo, a cara de seu criador).
Em relação ao cinema, é digno de nota que Robert Crumb foi homenageado em um filme sobre sua vida, intitulado Crumb, que foi lançado em 1994 com direção de Terry Zwigoff. O filme está focado em Crumb e seus dois irmãos. Todos os três com um grau considerável de sociofobia, graças à criação do pai severo e da mãe super-protetora (o que explica muita coisa...). Há um destaque para seu irmão mais velho, Charles, que influenciou muito a Robert Crumb. Charles obrigava seus irmãos a reproduzirem os desenhos dos quadrinhos na infância (Aháa!!!!).
Crumb em ação |
Crumb também colaborou com vários escritores com sua satírica ilustração, uma dessas cooperações mais famosas ocorreu na década de 1970 com Harvey Pekar, um arquivista de classe média de Cleveland que enxergava de modo diferente as pessoas ao seu redor. Constantemente Pekar escrevia e ilustrava, ao seu modo, suas experiências cotidianas ou de pessoas que observava em sua volta. Seu texto cômico, mas sobretudo satírico e realista, cativou Crumb que passou a ilustrar as histórias para os quadrinhos. Pekar denunciava o verdadeiro modo de vida da classe média americana, muito diferente do divulgado em filmes de hollywood, ou seja, tedioso, rotineiro e sem maiores preocupações, como era sua própria vida. Sua narrativa, somado aos desenhos de Crumb, geraram um bom filme autobiográfico sobre Harvey Pekar chamado American Splendor.
Mr. Natural, o guru pilantra |
No Brasil, os trabalhos de Crumb foram publicados na revista Grilo na década de 1970, e nas revistas Circo e Porrada na década de 1980. Hoje e dia suas obras estão sendo publicadas aqui pela Conrad Editora, através de coletâneas de seus personagens mais famosos, como Fritz, The Cat e Mr. Natural.
Recentemente, junto a sua esposa Aline Kominsy Crumb, produziu histórias autobiográficas em quadrinhos publicadas na revista The New Yorker, que foram também publicadas no Brasil pela revista Piauí.
Fritz, o gato folgado |
Além ser obcecado pelo desenho e colecionar discos antigos de 78 rpm, atualmente Crumb participa de uma banda amadora de folk, swing & blues, a Eden & John’s East River String Band, na qual toca banjo e canta.
Crumb tocando banjo na John's East River String Band |
Em 2009 lançou sua versão em quadrinhos para o livro de Gênesis, que obteve grande aceitação de seus leitores (não cristãos). Conhecido pelo humor corrosivo e aversão a fotos, Crumb nunca se importou com sua fama de mau-humorado. Quando veio para participar da 8ª festa Literária de Paraty (FLIP) em 06 de agosto de 2010 no sul fluminense do Rio de Janeiro, Crumb se incomodou com a presença dos fotógrafos na Pousada e Ouro onde foram dadas as coletivas de imprensa, demonstrando muita irritação enquanto era clicado durante suas respostas aos jornalistas.
Nos últimos anos, Crumb permanece tranquilo no sul da França com sua esposa, filha, neto e genro.
Aviso: Em breve postarei uma biografia mais detalhada de Robert Crumb.
Por Eumário J. Teixeira.
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