6 de nov. de 2010

BOB DYLAN PINTA A REALIDADE DO BRASIL


Quem não conhece ou nunca ouviu falar de Bob Dylan, mesmo quem não sabe identificá-lo fisionomicamente já escutou algumas de suas inúmeras músicas mesmo sabendo que não era dele, como a desgastada “Blowin´ In The Wind”. No Brasil temos fãs famosos de carteirinha do cara como Zé Ramalho, que recentemente gravou um CD com versões das músicas de Dylan. Poesia é a outra faceta do roqueiro veterano, suas letras e poemas são respeitadas em todo o mundo por intelectuais ou rockers de variados estilos e tendências. Mas o cara que já foi militante político, cristão fervoroso, judeu ortodoxo e rock-star ressurge agora como pintor. Surprise? Para mim não, o sujeito é um artista por natureza, seu talento não tem limites e alcançou mais uma faceta da arte. Mas nem todos pensam assim.
Eu gosto de desenhos e pinturas, mas não entendo a fundo de pintura clássica e não saberia classificar o trabalho de Dylan, entretanto, gostei muito das cores vivas dos quadros, que apesar de não apresentarem uma realidade animadora, não deixam de ser figuras atraentes. Experts classificaram seu estilo como influenciado pelo realismo americano do início do século 20, tendo afinidades com escola do mestre Matisse dos anos de 1920.
Outros afirmaram que como pintor, Dylan é um bom poeta. Por se tratar de quem é, gerou-se uma polêmica em torno das pinturas de Dylan, que conseguiu expor no respeitável Statens Museum for Kunst de Compenhague, na Dinamarca, a partir de setembro deste ano. Apesar de ser o Bob Dylan, críticos dinamarqueses impiedosos afirmaram que sua obra não está à altura do maior e tradicional museu do país e Europa.
O espantoso é que as obras foram encomendadas exclusivamente à Dylan pela direção do museu para exposição, as quais o artista produziu entre o ano de 2009 e o primeiro trimestre de 2010. A coleção que ficará aberta ao público até 30 de janeiro de 2011, compreende 40 telas pintadas em acrílico e oito desenhos.
Essa não foi a primeira exposição de Bob Dylan, sua coleção anterior, “Drawn Blank Series”, foi exibida na Alemanha, em 2007, e no Reino Unido, em 2008. A coleção consistia em pinturas feitas durante suas excursões realizadas entre 1989 e 1992, onde retratava temas e lugares descritos em suas canções. Como comentou o próprio pintor, ou melhor, Dylan, eram desenhos sobre tudo o que ele achava interessante e não tinha a menor intenção de fazer algum comentário social ou aprofundar a visão de alguém. Os quadros mais famosos de Drawn Blank Series foram os dois da série “Train Tracks”, que representam vias ferroviárias que desaparecem entre montanhas distantes sob o céu.
Mais interessante ainda é o tema do trabalho exposto recentemente na Dinamarca, denominado por Dylan como The Brazil Series. Isso mesmo, a amostra retrata a pobreza, as favelas, os campos e a violência brasileira de forma muito viva e colorida; também há quadros dramáticos sobre desilusões amorosas e até acertos de contas entre mafiosos (de ternos). Segundo o curador do museu, Dylan absorveu todos os temas em suas inúmeras viagens pelo país. Os quadros que se destacam a princípio são dois, denominados “Favela Villa Candido” e “Favela Villa Broncos”.

Uma amostra das críticas dinamarquesas desfavoráveis à Dylan: - O jornal Berlingske Tidende mandou: “...compondo, Bob Dylan é um dos grandes, o Picasso do século XX, mas este não é o caso como sua Pintura”.
- O jornal de economia Boersen acusou o museu de colocar os ganhos financeiros à frente do critério artístico, já que o nome Dylan atrairá o público pela posição do cantor e compositor, não pela qualidade do seu trabalho como pintor.
- O professor de História da Arte Peter Brix Soendergaard, em entrevista no jornal Information, analisou Bob Dylan assim: “...pinta como qualquer amador, utilizando um estilo figurativo um tanto pesado. É o que chamávamos antes de ´um pintor de domingo`.”


Agora alguma crítica favorável: 
- A revista semanal Weelendavisen, pegou mais leve ao afirmar que Dylan não é um grande pintor, mas é interessante porque não é pretensioso e tem um olhar para o drama.
- A direção do museu respondeu às críticas e negou que o interesse fosse econômico e que Dylan é um pintor de qualidade.
- “Bob Dylan não é apenas um artista legendário, como também um pintor apaixonado, o que não é comum entre os cantores de rock que se dedicaram à pintura, sem sucesso”, declarou o curador do museu dinamarquês, Kaspar Monarad.

Independentemente das críticas favoráveis ou desfavoráveis, cada qual tem sua opinião e gosto, eu mesmo apreciei seus quadros, mas particularmente não creio que o velho Bob teria que expor em um museu tão pomposo como esse, já que lá só valorizam as obras consagradas de artistas centenários. Quem sabe no futuro, daqui há meio século mais ou menos, irão falar das valiosíssimas obras de um pintor judeu, intuitivo, sensível e incompreendido, que também era poeta, cantor, multi-instrumentista, ativista político e social, quase messias, chamado Robert Allen Zimmerman? Quem viver, verá!

Por Eumário J. Teixeira.

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