5 de mai. de 2010

A LENDA DO FANTASMA


Sempre gostei de histórias-em-quadrinhos, cresci colecionando ”revistinhas” e se não tivessem me roubado a minha primeira coleção, que eu já dispunha lá pelos meus onze ou doze anos de idade, e se eu mesmo não desfizesse de outra, na altura de meus trinta e poucos anos, eu teria hoje um acervo invejável de revistas raríssimas e valiosas das saudosas editoras EBAL, RGE, Abril, Vecchi e outras. Mas graças a Deus tenho muitas imagens arquivadas em minha memória e a Internet me ajuda a resgatar muito do meu passado de colecionador. Na minha época, os garotos levavam a sério colecionar revistas em quadrinhos, e tínhamos como dia oficial, o domingo, para nos encontrarmos na frente do saudoso Cine Palácio, aqui na minha cidade de Teófilo Otoni (por volta de 1972 a 1974), onde se realizava uma espécie de feira livre onde trocávamos, comprávamos e vendíamos as revistinhas de acordo com nosso interesse. Bons tempos aqueles, as coisas eram mais simples e não tão maldosas para uma pré-adolescente de 11 para 15 anos. Voltávamos para casa após as negociações, ansiosos para desfrutar das novas revistas. Mais tarde voltávamos para o cinema para assistir a sessão das 16 horas. Dos muitos personagens dos quadrinhos de quem eu era fã, o Fantasma (The Phantom) era um dos meus preferidos. Aprendi a desenhar de tanto tentar reproduzir os quadrinhos desse herói como de tantos outros. Mas o Fantasma era fascinante pela sua origem dramática, o mistério que cercava seus domínios e o temor que causava aos bandidos só de saberem que ele estava por perto. Segundo consta, o Fantasma foi o primeiro herói uniformizado dos quadrinhos, ele não tinha super-poderes, mas só a mística e a lenda que o cercava, seu modo de agir furtivamente, faziam os malfeitores criarem expectativas temerosas ao seu respeito. Ele pode ter inspirado a Bob Kane criar o personagem Batman (O Homem Morcego) que tem a mesma aura de terror e mistério originariamente, pois enquanto Batman explorava sua figura assustadora para amedrontar os facínoras no ambiente urbano de Gotham City, o Fantasma usava a mesma estratégia na selva de Bengala, que se situaria num ponto indeterminado da costa da India. O Fantasma foi criado pelo norte-americano Lee Falk em 1936, foi o pontapé inicial para a revolução cultural dos quadrinhos em todo o mundo. Em seguida, falarei um pouco do Fantasma, seu criador e seus principais ilustradores. 

Lee Falk e sua criação versão Hollywood
O Criador – Lee Falk, nasceu no dia 28 de abril de 1912, em Saint Louis, Missouri, EUA. Foi batizado Leon Harrison Gross. Desde cedo revelou seu talento inato para criar suas próprias histórias inspirando-se, na maioria das vezes, em personagens das mitologias gregas e romanas. Falk foi um dedicado estudante até concluir a faculdade, em seguida profissionalizou-se como escritor e produtor de teatro, escrevendo várias peças importantes que vieram a ser interpretadas por artistas renomados como Marlon Brando, Charlton Heston e Paul Newman. Foi em 1934 que Lee Falk ofereceu à King Features Syndicate em Nova York, textos sobre o personagem Mandrake, o mágico (outro herói de HQ bem sucedido) e, dois anos depois, com o sucesso de Mandrake, apresentou à editora o Fantasma, o espírito que anda. Inicialmente as aventuras de Mandrake e Fantasma foram lançadas em pequenos livros de bolso (little big Book) e a seguir vieram as tiras desenhadas dos heróis que eram publicadas diariamente nos jornais, agradando em cheio aos leitores ávidos por aventuras em todo o mundo. Mesmo servindo na Segunda Grande Guerra como Agente do Serviço de Inteligência, Falk não parou de produzir, pelo contrário, a época conflituosa aflorou sua imaginação. Com o fim da guerra, ele volta a produzir e escrever roteiros de peças de teatro, chegando a administrar teatros em Massachusetts, EUA e nas Bahamas. Lee Falk viveu para ver seu personagem O Fantasma, ser reproduzido para um seriado de cinema em 1943 e mais recentemente numa boa produção para a telona, em 1996. Casado com Elizabeth Moxley Falk, Lee morava em New York num apartamento com decoração exótica com vista para o Central Park, onde faleceu em 13 de março de 1999, em decorrência de uma insuficiência cardíaca aos 87 anos incompletos. 

O criador e seus principais colaboradores
Primeiro desenhista – Ray Moore foi o primeiro a desenhar as primeiras tiras do Fantasma. E como o personagem, Moore foi tão misterioso quanto, pois pouco se sabe sobre ele. Raymond S. Moore nasceu em 1905 na cidade de Montgomery City, Oklahoma. Começou a se projetar como desenhista quando colaborou com Lee Falk na criação do personagem Mandrake em 1934, atuando como assistente do artista Phil Davis (1906-1964). Não foi por acaso que ele seria o mais indicado para desenhar então o próximo herói, o Fantasma, em 1936. Moore era filho de um joalheiro e inicialmente começou a ganhar a vida como engenheiro, mas posteriormente passou a desenhar profissionalmente como ilustrador. Como Lee Falk escrevia as histórias para o Fantasma e não tinha tempo para ilustrá-las, recorreu a Moore que já o tinha auxiliado com Mandrake. Nos anos 40, Moore, serviu na Segunda Grande Guerra Mundial tal como Falk, só que não teve a mesma sorte. Ele sofreu um acidente como piloto da Força Aérea Norte-americana em 1942 que o deixaria com sequelas impossibilitando-o de continuar seu trabalho regular de desenhista. Assim o Fantasma passou a ser desenhado pelo seu assistente Wilson McCoy a partir do mesmo ano. Consta que na verdade ele abandonou definitivamente os desenhos em 1948, há outras versões para o acidente, teria sido um acidente de carro ou até mesmo excesso de bebidas; de qualquer forma, apesar de Wilson McCoy assumir o trabalho em 1942, Moore reaparecia esporadicamente até que, por questões de saúde, abandonou de vez o Fantasma. Ray Moore tinha um estilo caprichoso nos desenhos e, inicialmente, seus traços sombrios atribuíam ao personagem ágil e de corpo esguio, um ar envolvente de mistério. Posteriormente Moore deixa aos poucos seu estilo sombreado tendendo-se para um estilo mais realista e detalhista, fazendo escola com seus traços bem acabados. Lee Falk o considerou o melhor desenhista do Fantasma, principalmente devido às ilustrações das belas mulheres que apareciam constantemente nas aventuras do herói. Moore é considerado pelos fãs tão misterioso quanto o personagem que ilustrou, só foram registradas apenas duas fotos dele e ambas de perfil; e quando raramente se deixou entrevistar, pouco falou sobre sua vida particular. Moore faleceu em 13 de janeiro de 1984 de causas naturais (derrame cerebral), no subúrbio de Kirkwood em Saint Louis, Missouri. Ele deixou sua esposa, Claire, que faleceu em 2005; sua irmã mais velha, Mary Odelia Moore (já falecida); seu irmão mais novo, David Yerly Moore; seu sobrinho, John Alt Moore; e suas ilustres sobrinhas Maria Moore e Gina Moore Reiners. Treze acres de mata, que Claire e Ray compraram em Des Peres, Missouri, foram doados para o Departamento de Conservação do estado, por isso em homenagem a Moore, a mata foi denominada “Floresta do Fantasma” (Phantom Forest).

Segundo desenhista – Wilson McCoy, ou melhor, Robert Wilson McCoy, nascido em Troy, Missouri, no dia 06 de abril de 1902, cartunista, ilustrador e pintor, ficou conhecido como o segundo desenhista do Fantasma. Tinha um estilo diferenciado de desenhar, pois ao contrário de Moore, atentava muito para detalhes em suas ilustrações, não explorava o sombreamento e sempre se baseava em fotografias de locais específicos para ilustrar suas histórias, usando também familiares e amigos como modelos para desenhar seus personagens em situações diversas exigidas pelo enredo em que trabalhava. Muitos dos personagens coadjuvantes do Fantasma de McCoy geralmente eram bizarros, feios e mal-encarados. O Fantasma de McCoy era de corpo mais robusto e não tão longelíneo como o de Ray Moore. Como o autor Lee Falk, McCoy tinha espírito aventureiro e viajava pelo mundo, principalmente por lugares selvagens, para alimentar sua criatividade. Chegou a conhecer uma tribo dos pigmeus Ituri, na África, para usá-los como referência em suas ilustrações dos pigmeus Bandar, a tribo que acolheu o primeiro Fantasma. Wilson McCoy estudou na School Of The Art Institute de Chicago, na American Academy e na University’s School Of Fine Arts de Washington, onde mais tarde serviu trabalhando como um artista comercial, ele fez ilustrações para as capas da Liberty Magazine, calendários, gravuras, pin-ups e anúncios para as maiores companhias. Enquanto seu amigo Ray Moore servia na Segunda Grande Guerra, McCoy assumiu a responsabilidade de ilustrar as novas tiras do Fantasma para a King Features Syndicated. Sua esposa, Dorothy, declarou que McCoy continuou desenhando as tiras até pouco antes de sua morte, causada por um ataque cardíaco, em 20 de julho de 1961. Ele deixou sua esposa Dorothy e duas crianças, Robert e Carol. Suas histórias de O Fantasma foram publicadas na Europa e América por diversas editoras em várias edições com muito sucesso. O Fantasma após o falecimento de McCoy passou a ser desenhado por Bill Lignante por breve um período, até surgir Sy Barry que assumiu de vez o trabalho no restante da década de 1960 e prosseguir nas três décadas seguintes.

Terceiro desenhista – Bill Lignante, nascido em 20 de março de 1925, no Brooklyn, em New York, coube a honrosa tarefa de continuar as ilustrações das aventuras do Fantasma fora da King Features Syndicate. Os desenhos de Bill Lignante na sua versão para o fantasma, tendiam para o padrão dos super-heróis dos anos de 1960, com traços fortes e bem definidos. O Fantasma de Lignante ficou conhecido graças ao seu trabalho na Charlton Comics e principalmente na Gold Key Comics, que geralmente caprichavam nas ilustrações das capas de suas edições, trabalhadas pelo sensacional George Wilson, onde o herói geralmente se encontrava em situações de ação e extremamente perigosas. Além dos quadrinhos, Lignante fez animação para Hanna-Barbera e foi cartunista em salas de corte para ABC Network News durante 26 anos, ilustrando no total mais de 55 julgamentos. Dentre os mais famosos julgamentos ele ilustrou estão o de Charlie Manson e Patty Hearst.

Quarto Desenhista – Finalmente chegamos a Sy Barry, de traços bonitos, limpos e dinâmicos, que assumiu de vez o posto de desenhista oficial do Fantasma pela King Features Syndicate. Nas tiras passou a se observar, desde então, a assinatura “Falk & Barry”. Seymour “Sy” Barry nasceu, pelo que se sabe, no ano de 1928. Desenhista e pintor, Barry ilustrou o Fantasma por mais de 30 anos, substituindo a Wilson McCoy a partir de 1961 na King Features Syndicate. No colégio Barry foi incentivado por um professor a tentar uma vaga na renomada School Of Industrial Art de New York. Barry foi um dos 100 alunos aprovados em 1943. Formado, Sy Barry começou a auxiliar seu irmão Dan Barry, desenhista já reconhecido, nas tiras do herói das aventuras espaciais, Flash Gordon. Sy, nesta ocasião, pintava os desenhos para Dan Barry. Após esta fase, Sy passaria para o lápis de vez em quando, onde auxiliou de forma intensa ao seu irmão em alguns trabalhos, sem ser creditado por isso. Após ter trabalhado tanto em Tarzan como em Flash Gordon, ele começa finalmente a ilustrar as aventuras de o Fantasma, uma jornada de 33 anos, de 1961 a 1994. Barry deu ao Fantasma um físico de “mister universo” e um visual moderno, que nunca mudou, enquanto durou seu trabalho nas tiras e nas revistas. Lee Falk apreciou tanto o estilo de Barry, que acabou por fazer algumas atualizações no mundo de seu personagem mais famoso, dando à Bengala (local da maioria das aventuras), um presidente negro e, à Patrulha da Selva, um Coronel também negro. Sy Barry freqüentemente utilizava desenhistas auxiliares para o trabalho, ficando mais com a arte final e pintura, embora fizesse todo o trabalho quando lhe sobrava tempo. Alguns de seus ajudantes conhecidos eram, George Olesen (o mais freqüente), Joe Giella, Neal Adams, Bob Forgione, André LeBlanc e Graham Nolan. Eles faziam os esboços sobre a orientação de Barry, que escolhia os ângulos, cenários e toda composição gráfica, e que finalmente fazia a arte final, ou seja, passava o nanquim sobre o lápis. No auge de sua popularidade, as histórias retratadas nas tiras de jornais e revistas por Lee Falk e Sy Barry chegaram a ser lidas diariamente por mais de 100 milhões pessoas pelo mundo. Atualmente na Europa, o trabalho de Falk e Barry continuam a ser publicadas aleatoriamente em edições especiais ou comemorativas. Cansado da rotina que tinha que encarar diariamente e que se tornara repetitiva e enfadonha, o que acabou refletindo nas aventuras do herói, Sy Barry retira-se das tiras em 1994, dedicando-se aos seus próprios trabalhos com desenhos mais elaborados e a pintura de paisagens. Eventualmente ele volta a desenhar o Fantasma e muitas de suas ilustrações foram usadas para capas em edições do personagem por todo o mundo. Sy Barry tem uma residência fixa em Long Island, onde vive com sua esposa Simmy e os três filhos do casal. Barry regularmente comparece pelo mundo em convenções de quadrinhos por todo o mundo.
Tom Tyler, Roger Creed & Billy Zane
O personagem nas telas - O Fantasma (The Phantom) teve sua versão para a telona, aliás, duas versões oficiais até agora. A primeira foi lançada em 1943, num seriado típico da época para o cinema. O ator que fazia o papel do Fantasma era Tom Tyler, que também encarnou Capitão Marvel num seriado para a Republic e Buffalo Bill para a Universal. O seriado O Fantasma (The Phantom) foi produzido pela Columbia em 15 episódios. Diana Palmer, a noiva do Fantasma, foi representada pela atriz Jeanne Bates, e o seu fiel lobo, Capeto, foi incorporado por um pastor alemão chamado Ace (the wonder dog – o cão maravilha). A série, que depois chegou a ser exibida na TV, foi dirigida por B. Reeves Eason. Consta que em 1961, chegou a ser filmado um piloto para a televisão, com Roger Creed como Fantasma, mas foi vetado e não exibido. Somente em 1996 foi feito um longa para o herói mascarado das selvas, desta vez estrelado por Billy Zane. Diana Palmer foi representada pela atriz Kristy Swanson. Nesta versão, além de Capeto, se destacava também Herói, o magnífico corcel branco do Fantasma. O filme foi dirigido por Simon Wincer, o roteiro (enxuto) foi escrito por Jeffrey Boam, que conseguiu resgatar alguns bons momentos dos quadrinhos. A aventura foi ambientada na década de 1930 e bem que merecia uma continuação; sendo realizado pela Paramount Pictures, foi filmado na Austrália, Tailândia e Estados Unidos, em comemoração aos 60 anos do personagem criado por Lee Falk.

A origem do Fantasama desenhada por Ray Moore
A origem – O primeiro Fantasma surgiu há mais de 400 anos, quando um navio mercante foi atacado por piratas de Singh e naufragou tomado pelas chamas (aproximadamente no ano de 1535) próximo à costa de Bengala. O pai do primeiro Fantasma, de origem britânica, era o capitão da embarcação, seu nome seria Christopher Standish e viajava com seu único filho, supostamente de mesmo nome. Amparado na praia pelos temíveis pigmeus da tribo Bandar, o jovem Standish, o único sobrevivente do impiedoso ataque, jurou com o crânio do assassino de seu pai nas mãos, que seus filhos e os filhos de seus filhos dedicariam sua vida ao combate à pirataria, à tirania e a todo tipo de injustiça que estivesse ao seu alcance. O refúgio dos pigmeus Bandar se localizava nas entranhas da selva de Bengala, na temível Floresta Negra, e na aldeia havia uma enorme caverna em forma de caveira. Os Bandar sempre esperaram pelo “salvador” de sua tribo explorada e escravizada, que viria do mar. Christopher Standish teve a idéia de explorar tal superstição dos pigmeus e espalhar a lenda entre outras tribos, assumindo o papel de um “deus protetor da selva, nativos e animais”, reforçando sua imagem sobrenatural com uma máscara negra, uniforme e capuz roxos*. E assim foi por várias gerações até hoje. Sempre que o Fantasma chegava a uma idade de se aposentar no combate ao crime e a pirataria, ele convocava seu filho mais velho para tomar seu lugar. Geralmente o filho primogênito já estaria se preparando no ocidente, se graduando nos estudos e em treinamentos físicos, técnicos e específicos, para quando fosse convocado pelo pai, estivesse apto. Muitas vezes o Fantasma foi seriamente ferido ou morto em combate, então seu corpo era resgatado furtivamente pelos pigmeus Bandar e o filho dele era convocado para assumir seu lugar e dar prosseguimento à missão não concluída pelo pai. Daí a lenda aumentava sobre a imortalidade do “homem-que-não-podia-morrer” ou do “espírito-que-anda”. Em rara ocasião, a filha de um dos Fantasmas, tomou a frente sem se revelar como mulher, até que seu irmão estivesse em condições de assumir. O Fantasma atual é da 21ª geração de uma linhagem de mais de 400 anos. Só o chefe atual dos pigmeus Bandar, Guran e alguns parentes deste, sabe da mortalidade de seu mestre, na verdade um ser humano comum. Como já foi citado, o nome verdadeiro do Fantasma, como dos seus antepassados, é Christopher Standish, o sobrenome Standish foi substituído posteriormente para Walker, e para os poucos que lhe são íntimos, ele é chamado Kit Walker. A lenda da imortalidade do Fantasma se espalhou graças a superstição dos próprios pigmeus Bandar, e de outras tribos como as dos Lombo e Wambesi, que a reforçaram. Outro fator importante é a marca do Fantasma, que é na verdade um anel usado pelo herói na mão direita, o temido “Anel da Caveira”, que é utillizado como uma espécie de “carimbo” ao desferir potentes diretos nos queixos dos malfeitores. O bandido que ganha essa “marca amaldiçoada”, que jamais poderá ser retirada, por onde andar, fará com que a lenda do Fantasma só perdure. Já na mão esquerda, ele tem outro anel com a marca de dois ossos cruzados em forma de “x”, a “marca do bem”; quem a tiver, geralmente na mão ou braço, estará sob a proteção do Fantasma, e ai de quem molestar tal pessoa, seja em qualquer parte do mundo. O Fantasma atual carrega no seu cinturão duas pistolas automáticas calibre 45, que geralmente usa com muita precisão. Ele tem como aliados, além dos pigmeus Bandar, um lobo treinado de nome Capeto, um cavalo branco de nome herói e um falcão de nome Fraka. O Fantasma é na verdade também o comandante invisível da Patrulha da Selva, um posto de soldados treinados que lhe dá suporte em várias de suas aventuras. O Fantasma tem uma noiva chamada Diana, que ocasionalmente trabalha para a ONU; e em versões mais recentes, ocorreu o esperado casamento do exótico casal na Floresta Negra. Não demorou muito e aconteceu em seguida, o nascimento do filho do 21º Fantasma, de nome Christopher “Kit” Walker Jr. Quando o Fantasma tem que ir às cidades, ele se apresenta como Sr. Walker (o que anda) e geralmente usa chapéu, óculos escuros e um longo casaco que encobre seu uniforme tradicional. Outras peculiaridades do mundo fascinante do Fantasma bastante conhecidas: a Ilha do Éden, uma espécie de paraíso particular de natureza exuberante onde ele desfruta em paz, a harmonia entre diversos animais selvagens, como tigres, leões, elefantes e girafas, sem contar com os lagos, cachoeiras e as raríssimas flores e plantas exóticas. Outra curiosidade é que no interior da caverna da caveira, o Fantasma costuma receber seus convidados assentado no famoso “Trono da Caveira”, ainda na caverna ele mantém em uma sala bem reservada, um tesouro incalculável de peças e moedas de ouro e prata, jóias diversas e outros objetos valiosos de arte centenários e milenares, como também armas de todas as eras usadas ou confiscadas pelos seus antepassados. Em outro ambiente, ele conserva num mausoléu as tumbas de todos os Fantasmas desde a primeira geração, onde em cada tampa está registrado data de nascimento e morte de seu antepassado. Num compartimento em separado há uma espécie de biblioteca na qual preserva livros com relatos de todas as aventuras vividas pelos seus antepassados, as chamadas "crônicas do Fantasma". O Fantasma também tem sob seu domínio, um platô, também conhecido como “mesa de Walker”, num deserto em algum país do ocidente, que às vezes lhe serve como base de apoio. O personagem realmente é riquíssimo, e à medida que foi se popularizando foram lhe acrescentando facetas que contribuíram ainda mais para sua aceitação pelos fãs dos quadrinhos no mundo inteiro. É claro que ele acabou perdendo a aura sombria e misteriosa que aterrorizava os bandidos do início, para se adequar à onda dos super-heróis que veio em seguida, e apesar de nunca ter lhe sido atribuído nenhum super-poder, ele compensava esta “deficiência” com muitos de seus recursos naturais e exóticos, tais como os diversos citados anteriormente. Se o Fantasma de Ray Moore era fechado e sério, mas com um sorriso discreto e sarcástico, a versão de Fantasma de Sy Barry já mostrava um herói mais sociável, bem humorado e sorridente, mas nem por isso menos implacável com os facínoras.

* A cor do uniforme do Fantasma varia conforme a edição de cada país, alguns preferem a vermelha, marrom, outros azul escuro. Originariamente era para ser cinza escura, mas devido a um acidente na impressão nas primeiras tiras, ficou tradicionalmente com a cor roxa, que Lee Falk justificou posteriormente como a cor de um deus esperado e adorado pelos nativos Bandar. 
Por Eumário J. Teixeira.

ALBERT COLLINS - O Mestre da Telecaster


Com a banda já no palco mandando um som cheio de swing, o mestre de cerimônia bradava: “Ladies e Gentleman, get ready for The Man...The Master of the Telecaster...The Houston Twister...The Razor Blade...The Iceman himself...ALBERT COLLINS !!!”. Então ‘o homem mais feio do mundo’ surgia e mandava ver, logo o ambiente estava pegando fogo com os riffs de sua telecaster dourada!
Albert Collins nasceu em 3 de outubro de 1932 na cidade de Leona, Texas. Ainda criança mudou-se para a cidade de Houston onde começou a aprender piano influenciado pelo som dos teclados de Jimmy Smith e Jimmy McGriff. Porém, aos 13 anos de idade, escutou no rádio o som de “Boogie Chillen” de John Lee Hooker que o fez trocar o piano pela guitarra, sob orientação do primo Willow Young. No início dos anos de 1950 a técnica de outro primo guitarrista, o já famoso Lightnin´ Hopkins, exerceu uma forte influência sobre ele. Foi de Hopkins que Albert collins herdou a afinação em ré menor e as notas agudas sustentadas, que foram as principais características do som de sua Telecaster, definido como “cold blues”. Iniciando-se como músico profissional, Albert tocou nas bandas de Malcom Moore, Piney Brown e Clarence “Gatemouth” Brown. Em Houston, Albert alternou as atuações nos palcos com trabalhos sem ligação com a música, até que em 1958, aos 36 anos, teve a oportunidade de gravar o seu primeiro compacto para o Selo Kangaroo Records, com os temas “The Freeze” e “Collins Shufffle” que eram dois instrumentais com muita reverberação, eco, metal, e orgão, de estilo semelhante ao de Duane Eddy e Albert King. A venda de 20.000 cópias do disco permitiu-lhe ir para frente com a profissão. Em 1962, gravou seu segundo compacto com as faixas “De-frost” e “Albert’s Alley”, e com o terceiro “Frosty”(1962), atingiu um milhão de cópias. Nessa época (1962-63) lançou outros instrumentais, como “Icy Blue”, “Frosbite”, “Snow-Cone”, e “Dyin’ Flu”, o primeiro tema no qual Collins canta. Durante os anos seguintes fez parte das bandas de B. B. King, Freddie King, Jimmy McCracklin, Little Richard (na qual substituiu Jimi Hendrix que acabara de sair) e Big Walter Price. Em seguida Collins começou sua relação com a Imperial Records da Califórnia gravando três LPs: Love Can Be Found Everywhere (1969), Trash (1969), e The Complete Albert Collins (1970). Em 1971 grava para o Selo Tumbleweed, de Bill Szymczyck, no qual lançou There’s Gotta Be A Change, porém não teve continuidade devido à falência da gravadora. Durante um longo tempo, enquanto esperava que alguém se interessasse pelo seu som, continuou se apresentando em shows acompanhado pelo grupo do até então desconhecido (e fã) Robert Cray e gravando com vários artistas como Ike e Tina Turner. Finalmente, quando estava trabalhando numa loja de tintas, para reforçar o orçamento, consegue com a ajuda de um amigo, um contrato com o Selo Alligator do então jovem e incondicional amante do Blues, Bruce Iglauer, responsável pela contratação e recuperação de muitos bluesmen. Finalmente, em 1978, Albert, lança pela Alligator o excelente LP Ice Pickin’ (1978), indicado ao Grammy, acompanhado pelo novo grupo, The Icebreakers. Depois gravaria ao vivo Albert Collins & Barrelhouse (1978); Frosbite (1980); a seguir, Frozen Alive (1981) e finalmente sua consagração, Don’t loose Your Cool (1983), como qual obteve o prêmio W. C. Handy de melhor disco de Blues contemporâneo. A Fundação Memphis Blues, que em 1980 e 1981 o reconheceu como “O Melhor Artista de Blues”, o elegeu “Melhor Instrumentista de 1983”. Em 1984 saiu Live In Japan, em 1985 recebeu um Grammy por Showdown, gravado junto aos guitarristas Johnny Copeland e Robert Cray, ambos discípulos do “Mestre da Telecaster”. Em 1986, lançou Cold Snap, seu último trabalho na Alligator. Em 1991 gravou o LP Iceman pelo Selo Point Blank. Infelizmente após uma turnê européia realizada no verão de 1993, diagnosticaram-lhe um câncer de pulmão em fase muito avançada, com o qual foi descartada a possibilidade de uma cirurgia. Embora lhe dissessem que ainda tinha um ano de vida, Collins veio a falecer em 24 de novembro de 1993 aos 61 anos. No seu leito de morte, o último a vê-lo com vida foi B. B. King. Pouco tempo antes de falecer, numa apresentação no Brasil, Collins gabava-se a uma repórter que jamais usou drogas e que nunca precisou delas para se inspirar ou tocar, indo assim na contra-mão da maioria dos músicos de rock, blues e jazz.

The Ice Man & o rock - Albert começou a flertar com a comunidade rockeira desde 1968, quando durante uma das suas eventuais viagens a Houston, conheceu os integrantes do Canned Heat, que tinham um grande interesse por blues e que conseguiram que Albert Collins mudasse para a Califórnia onde ele se tornou conhecido nos circuito de bares e fosse contratado pelo Selo californiano Imperial. Em 1980 Collins se apresenta ao vivo com Johnny Winter no New Morning Festival de Genebra na Suiça. Em 1987 contratou Debbie Davis para seu grupo, uma guitarrista californiana nascida em 1957 e namorada de um dos seus músicos anteriores, Coco Montoya, que também foi guitarrista do John Mayall’s Bluesbrearkers. Debbie ficaria no grupo por três anos. Em 1990, participou do disco Still Got The Blues de Gary Moore e em 1993 participou do LP Wake Up Call de John Mayall.

De Albert Collins são essenciais os cds:
- Truckin’ With Albert Collins) - coletânea de compactos gravados nos anos 1962-63 (MCA)
- Ice Pickin’ (Alligator)
- Frosbite (Alligator)
- Frozen Alive (Alligator)
- Don’t Loose Your Cool (Alligator)
- Live in Japan (Alligator)
- Showdown – com Robert Cray e Johnny Copeland (Alligator)
- Cold Snap (Alligator)
- Albert Collins and The Icebreakers Live ´92 – ´93 (Pointblank). 

Aí está o link do you tube onde Albert Collins detona "Honey Hush":

Por Eumário J. Teixeira