22 de dez. de 2012

OBITUÁRIO 2012 - DO ROCK, SOUL, BLUES, R&B & JAZZ

Eles partiram antes do fim do mundo e deixaram a música mais pobre.
- 20/01/2012 - Etta James (Jamesetta Hawkins), cantora de voz poderosa e marcante de soul, blues, r&b e jazz, infuenciou grandes nomes como Tina Turner e teve seu melhor momento na década de 1960 com vários hits como "At Last", "Tell Mama", "Security", "Trust Me" e "Something's Got A Hold Of Me". Durante sua carreira lutou contra o excesso de peso e sua dependência de heroína; em 2000 fez uma operação de redução de estômago e perdeu quase 100 kg; em 2003 gravou um cd premiado: "Let's Roll", com blues e soul; em 2004 outro cd aclamado e recheado de blues: "Blues To Be Bone". Etta faleceu em decorrência de complicações da leucemia aos 73 anos.
- 13/05/2012 – Donald “Duck” Dunn, baixista, compositor e produtor musical dos mais influentes da música Soul e do R & B afro-americano. Apesar da pele branca, ele e o guitarrista Steve Cropper, seu companheiro de infância, deram uma contribuição significativa para o desenvolvimento da soul music nos EUA, tocando, compondo e produzindo para astros negros da black music como Albert King, Sam & Dave, Otis Redding, Eddie Floyd, Rufus Thomas, etc. Gravou também com Muddy Waters, Jerry Lee Lewis, Bob Dylan, Eric Clapton e Neil Young, só para citar alguns. Foi inesquecível a participação da dupla Dunn e Cropper na banda dos The Blues Brothers de John Belushi e Dan Aykroyd, em filmes, discos e shows. Mas Donald Duck Dunn já era reconhecido como grande músico em meados da década de 1960, quando gravou com The Mar-Keys e integrou o legendário Booker T. & The MG’s, agora definitivamente desfeito com a passagem do “Pato”. Não há como imaginar The MG’s sem ele no baixo elétrico. Donald morreu dormindo num quarto de hotel em Tóquio, no Japão, aos 70 anos de idade após uma apresentação no Blue Note Night Club. Só ouviremos novamente “Green Onions” marcada com o som mágico das quatro cordas do baixo de Duck em discos, cds e dvds. Saudades do garoto que recebeu o apelido de “pato” por ser fanático pelos desenhos animados e quadrinhos do Pato Donald. Depois de Donald Duck, a galera começou a prestar a atenção na performance e importância de um bom baixista dentro de um banda. Antes de Paul McCartney, Jack Bruce, John Paul Jones, John Entwistle, Geezer Butler, Geddy Lee, existia o “Duck”...
- 07/06/2012 – Bob Welch (Robert Lawrence Welch, Jr.), foi vocalista, guitarrista e compositor da banda de rock inglesa Fleetwood Mac (na fase pop-rock). Bob era californiano e substituiu o guitarrista-slide de blues Jeremy Spencer, que saiu da banda meses depois da também retirada do outro guitarrista e gênio do blues, Peter Green. Welch foi recepcionado com a certeza de ser decisivo na revitalização do grupo, dentre os remanescentes ainda estava o jovem guitarrista Danny Kirwan (protegido de Peter Green) que sairia após o segundo disco gravado com Welch (Bare Trees). Bob permaneceu na banda de 1971 a 1974. Sua contribuição para a nova fase do grupo, longe da linha do blues, foi essencial para a recuperação do conjunto. Os álbuns que se destacaram com Welch foram: Future Games (1971); Bare Trees (1972), que trazia a belíssima canção “Sentimental Lady” de sua autoria, que também seria seu maior sucesso durante sua carreira solo; e Heroes Are Hard To Find (1974). Welch foi encontrado morto pela esposa, com um ferimento à bala no peito, indicando que se tratava de um suicídio. Ele teria deixado um bilhete de despedida, estava com 66 anos. As investigações continuam.
- 16/07/2012 - John Lord (Jonathan Douglas Lord) era o tecladista de vastos bigodes e co-fundador da banda britânica Deep Purple. A banda era considerada um componente da trindade do rock pesado dos anos de 1970, junto com o Led Zeppelin e Black Sabbath. Sua contribuição para banda que mais marcaram são os riffs dos clássicos “Child In Time” e “Smoke On The Water”. Participou também como integrante do grupo Whitesnake de David Coverdale durante o período de inatividade do Purple. Os teclados de John Lord davam ao Deep Purple um tom sofisticado à banda, apesar do som permanecer essencialmente pesado, mas era o que a diferenciava dos seus dois principais rivais, Zeppelin e Sabbath. John Lord morreu aos 71 anos vítima de embolia pulmonar (obstrução das artérias dos pulmões), ele já estava lutando com um câncer no pâncreas desde 2011, quando tinha parado de tocar.
- 06/08/2012 – Celso Blues Boy (Celso Ricardo Furtado de Carvalho), guitarrista e vocalista de blues e rock; considerado por muitos como o pioneiro do blues no Brasil; aos 17 anos começa a tocar como profissional na banda do ícone do rock nacional, Raul Seixas; tocou também para Sá & Guarabyra e Luiz Melodia. O “blues boy” de seu nome artístico seria uma homenagem ao seu grande ídolo do blues, B. B. King (ou Riley “Blues Boy” King), com quem chegou a tocar em 1986, durante as apresentações do “rei do blues” aqui no Brasil. Celso foi o líder das bandas nacionais Legião Estrangeira e Aero Blues, essa última considerada a primeira banda de blues do Brasil. Vertendo também para o rock, seu primeiro disco foi Som Na Guitarra (1984), no qual se destacou a faixa “Aumenta que isso aí é Rock’n Roll”. Remando contra a maré do mercado fonográfico brasileiro vieram outros álbuns, entre eles estão, Marginal Blues (1986); Blues Forever (1988), com versões pessoais de sucessos do blues, soul e rock, como “Built For Confort” de Willie Dixon, “Sittin On Dock Of Bay” de Otis Redding, e “Honk Tonk Women” dos Rolling Stones; Quando A Noite Cai (1989); Indiana Blues (1996) – destacando a faixa “Mississipi” com a participação de ninguém menos que B. B. King na faixa e no clip promocional; Vagabundo Errante (1999); e seu último CD “Por Um Monte De Cerveja” (2011). Celso Blues Boy gravou em 2008 seu único DVD ao vivo no Circo Voador, no Rio de Janeiro, também lançado em CD; participou de grandes festivais como o de Montreaux (na Suíça), onde chegou a tocar com a banda de James Brown em jam sessions. Com sua guitarra stratocaster destilando blues, Celso certamente inspirou o surgimento de outras bandas de blues no Brasil, tais como Blues Etílicos e Baseado em Blues, e como a maioria dos bluesmen, não conseguiu fazer fortuna com seu blues-rock. O nosso herói da guitarra, um fumante inveterado, faleceu prematuramente em Joinville, Santa Catarina, aos 56 anos, em decorrência câncer na laringe, ele já sofria de bócio, causado pela perda de iodo no organismo. 

Por Eumário J. Teixeira.

16 de dez. de 2012

Desenhos na parede - Homenagem ao saudoso João Bosco

 
Há mais ou menos uns 30 anos atrás, por volta de 1982, eu já subia regularmente o famoso “morro do bispo” próximo ao centro de Teófilo Otoni para cortejar uma jovem de olhos verdes, que por acaso era minha colega de ginásio e, hoje, minha esposa. Naquela época eu tinha 20 anos de idade, mas não me lembro se foi ela ou sua irmã sabendo que eu gostava de filmes, desenhos e revista em quadrinhos, tinha me falado sobre o excêntrico vizinho da casa ao lado, que era um desenhista fora de série, intelectual e um autodidata com conhecimentos básicos de marcenaria, alvenaria e eletricidade. Seu nome era João Bosco, um jovem mestre e artista de múltiplas habilidades e, sobretudo, um crítico sarcástico com um senso de humor peculiar, impaciente com a mediocridade e geralmente não compreendido. Ele era, digamos, do tipo “reservado”, mas poderia conversar normalmente com você e tirar “onda da sua cara” sem o menor constrangimento, ainda mais se você não compartilhasse com sua visão do mundo. Finalmente, e totalmente curioso sobre os desenhos do misterioso vizinho, tomei a coragem de bater em sua porta e assim foi. Ele me recebeu muito bem, mas fiquei medindo as palavras para não dar um “fora” ou causar uma má impressão. Então ele me levou a sua “oficina”, onde permanecia alguma parte do seu tempo lendo livros sobre filosofia e outros assuntos do seu interesse ou desenhando. E lá estavam aquelas figuras incríveis retratadas apenas com lápis e propositalmente inacabadas, mas aos meus olhos, perfeitas! Fiquei boquiaberto, não só pelo excelência de sua técnica, mas também pelos temas que ele tinha retratado na parede de seu quarto! Era habitual pregar posters ou quadros nas paredes dos quartos, mas desenhar..., aquilo me pareceu genial. Os desenhos tinham traços tão precisos que pareciam uma reprodução fotográfica em grande escala de alguma revista. Minha surpresa foi ainda maior ao reconhecer os temas retratados. Para começar, Bruce Lee, na época meu ídolo incontestável; a seguir a figura de Lampião, o rei do cangaço, um personagem quase surreal que sempre me fascinou; a próxima imagem que identifiquei foi a do ator Steve McQueen, que me marcou por alguns filmes, como Pappilon e Tom Horn. Os outros dois desenhos eram do caboclo com um cachimbo na boca e de um sujeito para mim desconhecido com pinta de galã, que na verdade se tratava do escritor e filósofo francês, Albert Camus. Depois de uma boa prosa, saí de lá animado a continuar com os meus desenhos. O tempo passou e me casei com minha colega de sala; e poucos anos antes do seu falecimento, João Bosco me deu a honra de sua visita quando o encontrei casualmente no centro de Teófilo Otoni, pois ele já residia algum tempo em Belo Horizonte. Conversamos sobre tudo um pouco, música, desenhos, política, família, ele me falou dos seus projetos futuros, estava com interesse de praticar boxe, e talvez alpinismo; comentou sobre sua aversão de se transformar num sujeito caseiro e  acomodado que se contentava com o churrasco nos fins de semana e que alimentava com orgulho a famosa “barriguinha de cerveja” e outras amenidades. Foi a última fez que conversamos, foi por volta de 1999 ou 2000. Sua visita me fez relembrar aqueles desenhos na parede e já que meus dois filhos já tinham também a inclinação para a arte, resolvi em certo instante, desenhar na parede do quarto deles inspirado nos desenhos de João Bosco. È claro que fiz o melhor que podia, mas não havia como comparar. Entretanto, de alguma forma, serviu de inspiração aos meninos, hoje já rapazes. Se me recordo, eu tinha desenhado na época, um rosto de Elvis Presley, Sansão derrubando as colunas do templo de Baal, Batman saltando, uma cabeça de um E. T. (tipo grey), um astronauta das missões Apolo e um OVNI; noutro quarto fiz um enorme homem-Aranha, um Homem de Ferro e outras figuras; até que ficou legal. Mas veio uma reforma e pintura da casa e tudo foi apagado, ou coberto. Arrependi de não ter tirado umas fotos para registro.  O que não aconteceu com os desenhos de João Bosco, pois quando sua família decidiu por vender a casa, mesmo com o novo dono prometendo preservar os desenhos na parede, sua irmã teria tirado algumas fotos para recordação. São estas que postei numa sincera homenagem ao João Bosco, morto de forma tão inesperada num acidente de moto em 2009. Sua irmã havia me enviado postais com os desenhos da parede como lembrança conforme me havia prometido, e então tive a idéia de procurar na internet as figuras ou fotos originais que João Bosco tinha reproduzido com tamanha competência e fui de certa forma feliz. As fotos originais de Bruce Lee (em Operação Dragão), Lampião, Touro Sentado (líder Sioux que eliminou Custer e a 7ª Cavalaria), Albert Camus e uma do ator Steve Mcqueen (filme Tom Horn) estão aí para serem comparadas com os desenhos da parede. Duas de Steve Mcqueen são quase as mesmas que João reproduziu, pelo menos são do mesmo filme (Os Implacáveis); a do caboclo com o cachimbo não achei o desenho ou foto original, poderia ser sua própria criação; da mesma forma a figura com a dupla espacial agachada e atirando com supostas armas laser, não consegui identificá-las. 

 Veja os desenhos e as fotos originais para uma comparação:
 
Albert Camus – Escritor, romancista, dramaturgo e filósofo francês. Abordava em suas obras temas referentes ao amor, ética, justiça, humanidade e política. Nasceu na Argélia em 1913 e faleceu na França em 1960, num acidente automobilístico aos 46 anos.

Steve McQueen (Terence Steve McQueen) – Ator norte-americano de filmes de ação, também conhecido por sua paixão por carros de competição e motocicletas. Seus principais filmes foram, Fugindo do Inferno (1963), Nevada Smith (1965), Bullit (1968), Os Implacáveis (1972), Papillon (1973), Inferno na Torre (1974) e Tom Horn (1980). Steve McQueen faleceu vítima de um mesotelioma, câncer na membrana que envolve os pulmões, também conhecido como “a doença do amianto”, aos cinqüenta anos de idade em 07 de novembro de 1980.

Bruce Lee – Ator norte-americano de origem chinesa, conhecido mundialmente pelos filmes de Kung Fu. Era formado em filosofia e desenvolveu um sistema de defesa pessoal (Jeet Kune Do) livre das tradições rígidas das escolas orientais, dando ao praticante a liberdade para criar e se adaptar conforme as circunstâncias. Faleceu aos 32 anos em 1973, devido a um edema cerebral no auge da fama e pouco antes do lançamento do seu maior sucesso, o filme Operação Dragão. 

Touro Sentado – Líder indígena da tribo Sioux, responsável pelo cerco à Sétima Cavalaria  comandada pelo General George A. Custer em 25 de junho de 1876. Guerreiro sábio e estrategista, Touro Sentado liderou mais de 3.500 índios sioux e cheyennes contra a tropa de Custer de pouco mais de uma centena de homens, no massacre de Little Big Horn. Touro Sentado e filho foram assinados pela polícia numa circunstância obscura em 1890, pouco depois de terem deixado o elenco do famoso circo de Buffalo Bill.

Lampião – Conhecido também como o “rei do cangaço” e considerado o “Robin Hood do sertão”, Vigulino Ferreira da Silva entrou para o cangaço depois que o pai foi assassinado pelos volantes (polícia) a mando de coronéis que queriam tomar posse de suas terras. Tornou-se um líder cangaceiro cruel e vingativo contra as volantes dos macacos e coronéis que não o apoiavam, reinando por quase 20 anos nas caatingas do nordeste brasileiro. Foi morto junto com a maioria de seu bando por uma tropa de volantes numa emboscada na Gruta de Angicos, no Sergipe, traído supostamente por um coronel que habitualmente lhe dava cobertura, em 28 de julho de 1938. 

Hoje em dia, desenhar na parede é novidade, é moda, é "cool", mas não seria para João Bosco, que Deus o tenha e que ele esteja em paz.

Por Eumário J. Teixeira

2 de dez. de 2012

OS 10 MAIORES GUITARRISTAS – PARTE III - DE BLUES ROCK & HEAVY ROCK

 Muitas listas com os nomes dos maiores guitarristas da história da música circulam pela internet e revistas especializadas. A cada classificação de tais nomes geralmente é baseada na capacidade técnica e habilidade de cada músico, o que é o bastante para gerar muita controvérsia. Para exemplificar, há certo consenso no que se diz respeito sobre quem seria o número um da lista, o maior de todos. O nome que mais aparece no primeiro lugar é o de Jimi Hendrix. Já a partir do segundo classificado acontecem muitas variações, revezando os nomes de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Eddie Van Halen, etc. Como alguns gêneros musicais são desprezados nessas relações e nomes como Django Reinhardt e Dick Dale, geralmente ficam de fora, elaborei quatro listas com guitarristas considerados especialistas em seu gênero musical, sendo que a classificação de cada relação vai de um a dez. Não considerei apenas a habilidade técnica do guitarrista, mas também sua importância dentro do(s) gênero(s) que representa. Não sou um conhecedor profundo do assunto, nem ao menos sou músico, mas me baseei nos discos que já ouvi e no que li sobre a história da música em geral, considerando também o meu gosto pessoal. As listas estão divididas em quatro gêneros assim classificados: 1 – Jump Blues, Rock & Roll, Surf & Instrumental Rock; 2 – Blues Acústico & Elétrico; 3 - Blues Rock & Heavy Rock; e 4 – Jazz & Fusion. 

01 – Jimi Hendrix– Guitarrista (canhoto), vocalista e compositor afro-americano, nascido em 27/11/1942. Considerado o mais inovador e criativo de todos os guitarristas conhecidos, poder-se-ia dizer que seu estilo era uma mescla da criatividade e experimentalismo de Jimmy Page, da técnica e rapidez de Jeff Beck, da sensibilidade bluesística de Eric Clapton, e da energia explosiva de Pete Towshend (The Who). Hendrix Iniciou sua carreira obscuramente tocando para artistas já consagrados como B. B. King, Sam Cooke, Little Richard e Ike & Tina Turner. Sua Carreira deslanchou depois que se mudou para a Inglaterra; e quando explodiu no cenário do blues rock britânico, foi finalmente reconhecido em sua terra natal. Suas impactantes performances nos festivais de Monterey (1967), Woodstock (1969) e na Ilha de Wight (1970), o imortalizaram como o maior guitarrista de todos os tempos. Jimi Hendrix, canhoto, normalmente tocava com uma Fender Stratocaster e às vezes variava com uma Gibson Flying V, utilizando um modelo para destros com seu encordoamento invertido. Dentre seus inúmeros recursos ao tocar, destacava-se o uso do pedal “wah wah”, por ele popularizado, que lhe permitia dar um timbre diferenciado em seus solos ao usar os bends e legato (ligar notas sucessivas sem deixar espaço) na escala pentatônica do blues. Explorou os efeitos de amplificadores distorcidos e crus enfatizando os agudos que lhe permitiu desenvolver a técnica (antes rejeitada) da microfonia. As influências de Jimi Hendrix basicamente vieram do blues e rock & roll, dos velhos mestres como Chuck Berry, T-Bone Walker, Buddy Guy, B. B. King, Albert King, Elmore James e Muddy Waters. Guitarristas de rhythm & blues e soul como Curtis Mayfield e Steve Cropper, também o inspiraram. Os guitarristas de blues rock que se espelharam em Hendrix  foram inúmeros, posso citar alguns para ilustrar, Eric Clapton, Robin Trower, Johnny Winter, Rory Gallagher, Gary Moore, Billy Gibbons (ZZ Top) e Stevie Ray Vaughan. Seus hits já estão implantados no inconsciente coletivo do rock, vale citar “Hey Joe”; “Little Wing”, “Sunshine Of Your Love”, “Wild Thing”, “Voodoo Child (Slight Return)”, “Foxey Lady”, “Hear My Train A Comin’” e “Red House”. Todos os seus álbuns valem a pena ouvir, destacando os essenciais Are You Experienced (1967); Axis: Bold As Love (1967); Eletric Ladyland (1968); Band Of Gypsys (1970); The Cry Of Love (1971); e Live At Winterland. Jimi Hendrix morreu precocemente aos 27 anos, em 18/09/1970.

02 – Eric Clapton – Guitarrista, vocalista e compositor inglês, nascido em 30/03/1945. Conhecido como “slow hand” (mão lenta) graças à sua demora em trocar as cordas da sua guitarra barata que constantemente se quebravam durante os shows dos Yardbirds em meados dos anos de 1960. Outra versão para seu apelido seria relacionada à sua técnica sensível e primorosa, pois Clapton sempre argumentou que para tocar blues a simplicidade e o feeling seriam mais importantes do que velocidade e o virtuosismo técnico defendidos por guitarristas como Eddie Van Halen. Clapton desde adolescente se rendeu ao blues, seu aprendizado inicialmente foi penoso, quase desistiu (imaginem!), mas perseverou e aprendeu os primeiros acordes de blues escutando os velhos discos importados da América. A seqüência de sua carreira foi quase que impecável ao passar inicialmente pelos Yardbirds; John Mayall’s Bluesbreakers; Cream; Blind Faith; Delaney, Bonnie & Friends; Derek And The Dominos e carreira solo que perdura até hoje com alguns raros deslizes em suas gravações. Clapton participou de diversos discos de bandas de rock hoje consagradas, um de suas contribuições mais famosas foi no White Álbum (álbum branco) dos Beatles, é ele que faz o solo na faixa de autoria de seu amigo George Harrison, “While My Guitar Gently Wheeps”. Seu modelo de guitarra preferencial é a Fender Stratocaster, apesar de ter utilizado muito no passado a Gibson SG e a Gibson Les Paul. Eric Clapton é sinônimo de blues e vice-versa, todos sabem de sua adoração pela obra do lendário Robert Johnson, como também da sua admiração por outros mestres guitarristas do blues como Freddie King, Otis Rush, Buddy Guy, Muddy Waters, B. B. King, Albert King, Lowell Fulson, etc. A obra de Clapton foi de essencial contribuição para a divulgação e sobrevivência do blues por quase meio século. Volta e meia ele tenta se libertar um pouco das amarras bluesísticas, mas não resiste e volta às origens. O blues se confunde com sua própria vida. Selecionar seus principais trabalhos irá tomar muito espaço, seria mais fácil citar suas poucas mancadas ao se aventurar pelo country rock ou pop music. Mas aqui vai alguns discos essenciais do slow hand, começando com os  Yardbirds: “Five Live Yardbirds (1964)”, “For Your Love” (1965); com John Mayall’s Bluesbreakers: Bluesbreakers With Eric Clapton (1966); com o Cream: Fresh Cream (1966), Disraeli Gears (1967), Wheels Of Fire (1968); com Blind Faith: Blind Faith (1969); com Derek And The Dominos: Layla And Other Assorted Love Songs (1970), In Concert (1973); carreira solo: Eric Clapton (1970), 461 Ocean Boulevard (1974), Slowhand (1977); Just One Night (1980), Journeyman (1989), os indispensáveis Unplugged (1992) e From The Craddle (1994); Riding With The  King – com B. B. King - (2000) e o excelente Clapton (2010); vale destacar também o trabalho impecável em parceria com J. J. Cale em The Road To Escondido (2006).

03 – Jimmy Page – Guitarrista, baixista, bandolinista e compositor inglês nascido em 09/01/1944. Um dos guitarristas mais conhecidos do rock pesado, rivalizando no gênero apenas com Ritchie Blackmore e Tony Iommi. Eclético, iniciou sua carreira ainda adolescente participando como guitarrista acústico em bandas de Skiffle e posteriormente como músico profissional em estúdios de gravação participando de inúmeros discos de bandas de rock britânicas de várias vertentes e até mesmo norte-americanas em meados dos anos de 1960 quase que no anonimato. Para citar algumas de suas contribuições, é dele o  ritmo em “You Really Got Me”, “All Day And All Of The Night”, “Tired Of Waiting For You” dos Kinks (1964-65); em “Sunshine Superman” (1965) de Donavan; nas faixas “I Can’t Explain” (1965) do The Who; em “You Don’t Believe Me” dos The Pretty Things; nas faixas “I Tried” e “I Can’t Quit You Baby” (1966) do então The Savoy Brown Blues Band; em “Somebody Help Me” e “Hard Hard Year” (1966) dos Everley Brothers; nas faixas “Baby Please Don’t Go”, “Here Comes The Night”, “Call My Name”, “Bring ‘Em On In” e “Mistic Eyes” (1964-66) do Them;  em “Blue Turns To Grey” (de 1964), “One Hit (To The Body)” e “Back To Zero”  (1986) dos Rolling Stones, etc. The Yardbirds foi a primeira banda oficial de Jimmy Page; mas antes disso, a banda contava simplesmente com Eric Clapton na guitarra solo, substituído por Jeff Beck, pouco depois. Convidado por Beck, Jimmy Page passa a ser o baixista da banda, mas devido ao talento de Page, Chris Dreja teve que assumir o baixo deixando a segunda guitarra para o novo integrante. Com a dissolução gradual do grupo ocorrida definitivamente em 1968, Page resolveu seguir com uma nova formação chamada The New Yardbirds, que se tornaria conhecida mundialmente como Led Zeppelin. Nessa nova fase, Jimmy Page desenvolveu toda a sua criatividade na guitarra em experimentos musicais até então inéditos, valendo-se de toda sua experiência como músico de estúdio para explorar todos os recursos e sonoridades possíveis nas gravações dos discos do Led Zeppelin, efeitos que às vezes se tornava impossível de se reproduzir nos palcos, como os obtidos em “Whole Lotta Love”. Em todas as gravações do Led Zeppelin, as guitarras elétricas ou acústicas de Page são marcantes, além da faixa já citada anteriormente destaco também, “Good Times Bad Times”, “Living Loving Maid (She’s Just A Woman)”, “Communication Breakdown”, “Imigrant Song”, “Ramble On”, “Rock And Roll”, Black Dog”, “Stairway To Heaven”, “Trampled Under Foot”, “Nobody’s Fault But Mine”, etc. Toda a discografia oficial do Led Zeppelin é recomendada, mas são essenciais os discos Led Zeppelin I e II (1969), IV (1971) e o duplo Physical Graffiti (1975).

04 – Jeff Beck –  Guitarrista, baixista e compositor inglês nascido em 24/06/1944. Certamente um dos maiores guitarristas do rock; para muitos, acima dele só estariam Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jimmy Page; mas há controvérsias. Seu temperamento difícil, atribuído geralmente aos gênios criativos, é tão conhecido quanto a sua habilidade na guitarra. Aliás, outra habilidade de Beck é a mecânica de automóveis, um de seus hobbys favoritos, quando não está tocando. Seus modelos preferidos de guitarra são a Fender Stratocaster e a Gibson Les Paul. A principal característica de Jeff Beck é que normalmente toca sem palheta, ao contrário da maioria dos seus colegas do rock, como também a exploração criativa do pedal wah wah e do vibrato característico em seus solos. Beck começou a se destacar no Yardbirds na segunda metade dos anos de 1960 substituindo Eric Clapton que acabara de sair, chegando a tocar no mesmo grupo com Jimmy Page. Pouco mais de um ano depois (1968) formou sua própria banda, o Jeff Beck Group, que durou até 1972, muito respeitado pela crítica, mas sem sucesso comercial. Em 1973, forma um respeitável power trio com Carmine Appice (bateria) e Tim Bogert (baixo e vocais), ex-membros do Cactus. O trio Beck, Bogert & Appice, apesar gravar dois ótimos discos, durou apenas um ano. A partir daí Jeff Beck partiu para uma produtiva carreira solo, desenvolvendo um som mais instrumental mesclado principalmente com elementos de rock e jazz que obteve boa aceitação por parte da crítica e público até hoje, ainda que alternando com alguns poucos trabalhos duvidosos que não fizeram justiça à sua fama. As maiores influências de Jeff Beck foram os também guitarristas Hank Marvin (The Shadows), Roy Buchanan, Chet Atkins, Django Reinhardt, Steve Cropper, Lonnie Mack e John Mclauglin. Os discos indispensáveis de Jeff Beck, ao meu ver, são: Toda a discografia do Yardbirds da qual ele participou; o trabalho solo em seguida: Truth (1968); com o Jeff Beck Group: Beck-Ola (1969) e Rough and Ready (1971); o dois no Beck, Borget & Appice (de estúdio e o ao vivo no Japão, ambos de 1973); e os da nova carreira solo, Blow By Blow (1975), Wired (1976), Who’s Else (1999), Jeff (2003), Performing This Week...Live At Ronnie’s Scott (2008) e Emotion & Commotion (2010).

05 – Peter Green – Guitarrista, baixista, gaitista, compositor e vocalista inglês nascido em 29 de outubro de 1946. Na minha humilde opinião o maior e mais subestimado guitarrista branco de blues de todos os tempos, só sendo superado por Eric Clapton. Dono de extrema sensibilidade para tocar e compor, Green teve sua carreira interrompida precocemente no auge da fama devido ao seu envolvimento pesado com drogas, principalmente LSD e repentino misticismo, que o levou à depressão, paranóia e a esquizofrenia no início dos anos de 1970. Ensaiou seu retorno aos palcos a partir do ano de 1979 alternando discos bons e razoáveis até 1987, quando tendo uma recaída se ausentou por um longo período permanecendo na obscuridade e cuidado por amigos íntimos, só retornando em 1997 com o Splinter group. Green se mantém em atividade até hoje apesar de suas raras performances serem ainda um tanto inseguras devido aos medicamentos que é obrigado a tomar, mas geralmente está acobertado por bons músicos que compõem o Peter Green & Friends. O próprio Green reconhece que tanto as drogas quanto os tratamentos terapêuticos à base de choques elétricos no passado causaram um grande dano à sua mente. A vida de Peter Green nunca foi fácil, apesar de seu talento comprovado, seu primeiro grande desafio como músico profissional foi substituir, simplesmente, o “deus da guitarra” Eric Clapton no John Mayall’s Bluesbreakers em 1967. E Peter Green surpreendeu os fãs desconfiados e órfãos de Clapton, registrando com competência todo o seu talento no disco A Hard Road (1967) do John Mayall’s Bluesbreakers. No ano seguinte Green deixa os Bluesbreakers (sendo substituído por Mick Taylor) e parte para formar o Peter Green’s Fleetwood Mac, uma banda que ficou na história do blues rock britânico, principalmente graças ao disco de estréia. A banda que ainda contava com o guitarrista slide Jeremy Spencer (fã de Elmore James) e mais tarde com o jovem guitarrista Danny Kirwan, pupilo de Green, conquistou o mundo com seu blues rock balançante. As influências de Peter Green foram Robert Johnson, Alex Korner, John Mayall, o próprio Eric Clapton, Hank Marvin (The Shadows), B. B. King e Freddie King. Dentre suas composições mais famosas posso destacar com os Bluesbreakers de John Mayall, “The Supernatural e “The Same Way”; com o Fleetwood Mac, “Black Magic Woman” (gravado por Santana), “Oh Well”, “Long Grey Mare”, “Looking For Somebody”, “I Loved Another Woman”, “Watch Out”, “The Green Manalishi”, “Rattlesnake Shake”, “Fleetwood Mac” e “Sandy Mary”; na carreira-solo, “Looser Two Times”, “Tribal Dance”, “In The Skies” e “Slabo Day”. As versões que fez para “The Stumble” de Freddy King, “Need Your Love So Bad” de Little Willie John, “Homework” de Otis Rush, “No Place To Go” de Howlin’ Wolf, e suas belíssimas composições “Albatross” e “Man Of The World”, definem precisamente o seu estilo suave e doce, mas com uma certa pegada, ao tocar, cantar e compor. Os discos essenciais do mestre do blues rock britânico são, com o John Mayall’s Bluesbreakers, Hard Road (1967); com o Fleetwood Mac, Peter Green’s Fleetwood Mac (o primeiro, de 1968), Then Play On (1969), Fleetwood Mac in Chicago/Blues Jam In Chicago (duplo de 1969) e The Original Fleetwood Mac (1971); na carreira solo, In the Skies (1979) e Little Dreamer (1980); e com o Splinter Group, Reaching The Cold 100 (2003). A Gibson Les Paul dourada de Peter Green, também fez história; conta a lenda que ele a vendeu por mixaria para o guitarrista Gary Moore (já falecido), justamente na época em que estava fragilizado mentalmente e desfazia de seus bens, doando também todo o seu dinheiro para instituições de caridade. A partir daí a guitarra de Green acostumada a um tratamento mais carinhoso e sofisticado teve que se sujeitar ao estilo mais agressivo e pesado do seu novo dono. Será que com a morte recente de Moore em 2011, a lendária Sunburst Gibson Les Paul de 1959, voltou para o antigo mestre? Mas agora o que realmente importa é que Peter Green deu a volta por cima, é claro que nunca mais tocará como há 45 anos atrás, mas ele está vivo, cercado por quem realmente o ama e notadamente recuperou o desejo de tocar o que mais gosta, blues!

06 – Ritchie Blackmore – Guitarrista, baixista, bandolinista e compositor inglês, nascido em 14 de abril de 1945. Conhecido também por seu temperamento difícil e problemático, como também da sua total ausência de carisma, foi líder das bandas de rock pesado Deep Purple e Rainbow nas décadas de 1970 e 1980. Como seu conterrâneo Jimmy Page, começou a tocar no final dos anos de 1950, na Inglaterra, em bandas de Skiffle, música folk que agregava jazz, blues, country e música de raiz. Era o gênero musical adotado pela juventude britânica na época que tinha como ídolo, Lonnie Donegan. Blackmore teve como sua maior influência o guitarrista inglês Big Jim Sullivan (morto recentemente em 02/10/2012), um respeitável músico de estúdio que foi também seu mentor e de Pete Townsend (The Who) nos primeiros passos com a guitarra. Blackmore fundou o Deep Purple em 1968, juntamente com o tecladista John Lord, falecido em 16/07/2012. Só a partir do quinto trabalho, Deep Purple In Rock (1970), que a crítica começou a prestar a atenção no som da Fender Stratocaster de Ritchie Blackmore que estava se voltando mais para o rock pesado e levando o público ao delírio com seus solos imprevisivelmente loucos, deixando de lado as idéias clássicas e orquestrais de John Lord. O timbre límpido e claro da Stratocaster de Ritchie Blackmore seria devido às casas do braço da guitarra, levemente escavados por ele, que proporcionou um som limpo e com mais “sustain”.  Blackmore geralmente tocava com o captador central da sua Stratocaster desligado ou retirado. Seu riff de Guitarra mais famoso é o do hit “Smoke On The Water” do álbum Machine Head de 1972; ele normalmente o executa sem palheta. A característica de seus solos é a combinação que faz com escalas de blues e frases em escalas menores da música clássica européia, que teria originado a “escala neoclássica”, que foi adotada pelos guitarristas de heavy metal, posteriormente. Os hits do Deep Purple são marcantes, vale citar “Hush”, “Mandrake Root”, “Speed King”, Child In Time”, “Strange Kind Of Woman”, “Black Night”, “Highway Star”, “Smoke On The Water”, “Lazy”, “Burn”, “Mistread”, “Might Just Take your Life”, “Perfect Strangers”, etc. Para se ter uma idéia da capacidade de Ritchie Blackmore como guitarrista, é bom ouvir os discos (ou cds) Shades Of Deep Purple (1968), com Rod Evans nos vocais; In Rock (1970), Fireball (1971), a obra prima Machine Head (1972), e o ao vivo Made In Japan (1972), todos com Ian Gillan nos vocais; a seguir temos Burn (1974), Come Taste The Band (1975) e Live In London - 1974 (1982), com David Coverdale dividindo os vocais com o baixista Glenn Hughes. No Rainbow, tendo o “duende” James Ronnie Dio (morto em 2010) nos vocais, posso citar os discos Rising (1976), Long Live Rock ‘n’ Roll (1978), Straight Between The Eyes (1982) e Live In Munich – 1976 (2006). Desgastado com as idas e vindas do Deep Purple e Rainbow, Blackmore juntou-se com sua companheira Candice Night e formaram uma banda, em 1997, de estilo renascentista (tipo “Greensleeves”), o Blackmore’s Night. 

07 – Tony Iommi – Guitarrista canhoto, flautista e compositor inglês nascido em 19 de fevereiro de 1948. Costumo dizer que junto a Keith Richards (Rolling Stones) e Angus & Malcom Young (AC/DC), Tony Iommi foi um dos responsáveis pelos mais famosos riffs de guitarra da história do rock. Apesar de ser mais conhecido pelo seu estilo pesado que caracterizou o Black Sabbath, Iommi recebeu influências das mais diversas até achar seu próprio caminho, escutando rock instrumental, blues e jazz. O engraçado é que ele se iniciou na música com aulas de piano, mas assim que ouviu o guitarrista Hank Marvin do The Shadows em ação, mudou para a guitarra. Apesar da suposta rivalidade no passado do Black Sabbath com o Led Zeppelin e outras bandas pesadas, Iommi nunca negou a influência exercida por seus colegas de ramo na sua formação como músico, pois admirava a técnica dos rivais Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Quem que gosta de rock pesado não identifica de imediato os riffs de “Paranoid”, “Iron Man”, “War Pigs”, “N.I.B.”, “Black Sabbath”, “Sabbath Bloody Sabbath”, “Sweat Leaf” e “Symptom Of The Universe”? Os riffs encorpados e vigorosos de Iommi já fazem parte da história do rock, assim como seus solos, na maioria executados em Pentatônica menor. Outra forma de identificar Tony Iommi são os bigodes e a Gibson SG (negra ou vermelha), também adotada por Angus Young, apesar de Iommi variar raramente com uma Fender Stratocaster. Tony Iommi toca suas guitarras invertidas, pois é canhoto. Uma curiosidade em sua carreira foi quando em 1968, a pedido de Ian Anderson, substituiu numa emergência o guitarrista recém saído do Jethrotull, Mick Abrahams, numa apresentação para o Rolling Stones Rock And Roll Circus, o que foi registrado em filme. Iommi, cabisbaixo, tentou disfarçar usando um chapéu cobrindo o rosto, mas o famoso bigode ficou exposto. Na ocasião ele tocou com uma Fender Stratocaster branca, invertida, é claro. Um fato que marcou sua vida foi que ainda jovem, teria perdido as falanges distais dos dedos do meio e anelar numa prensa mecânica durante o trabalho numa fábrica. Os dedos atingidos foram justamente os da mão direita, responsáveis para digitar as notas no braço da guitarra. Se dependesse da opinião dos médicos, seu sonho de ser guitarrista profissional tinha terminado aí. Mas um amigo tocou para ele um disco do cigano e guitarrista belga de jazz, Django Reinhardt, que digitava as notas apenas com os dedos indicador e médio, já que os outros foram inutilizados por queimaduras durante um incêndio. Era o que Iommi precisava para se animar e imediatamente começou a usar encaixes improvisados de plástico derretido nas pontas, substituídos posteriormente por próteses. Sua pequena deficiência física é o motivo de sua preferência pelos solos em tons menores, o que facilita para ele o controle e execução de seus riffs. Quem quiser conhecer a obra desse guitarrista lendário, tem que obter ao menos os seguintes discos do Sabbath: Black Sabbath e Paranoid (ambos de 1970), Master Of Reality (1971), Vol. 4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath (1973) e Sabotage (1975), todos com os vocais de Ozzy Osbourne; Heaven And Hell (1980) e Mob Rules (1981), com Ronnie James Dio nos vocais; e Headless Cross (1989), com Tony Martin nos vocais. Vale a pena escutar também, Seventh Star, o disco solo de Tony Iommi (1986), com os vocais do baixista Glenn Hughes. Em janeiro de 2012 foi diagnosticado um linfoma em estágio inicial em Tony Iommi, que concluiu o tratamento com quimioterapia no combate ao câncer nos gânglios linfáticos ainda no mês de março; e apesar da nova turnê do Black Sabbath ter sido adiada por enquanto, eles permanecem firmes na gravação de um novo disco provavelmente ainda para este ano. Mais um obstáculo para Tony Iommi superar; se Deus quiser.

08 – Mick Taylor – Guitarrista, guitarrista slide, baixista, pianista, percursionista e vocalista inglês nascido em 17 de janeiro de 1949. O terceiro grande guitarrista revelado no John Mayall’s Bluesbreakers no final dos anos de 1960. Mick Taylor preenche a vaga deixada por Peter Green que tinha partido para formar o lendário Fleetwood Mac em 1967. Taylor não decepcionou, gravou dois ótimos discos durante sua parceira com John Mayall quando, em 1969 (aos 20 anos), não resistiu ao convite dos Rolling Stones para substituir o polêmico e recém falecido guitarrista, Brian Jones. Com o John Mayall’s Bluesbreakers, Mick Taylor participou de dois excelentes trabalhos, Crusade em 1967 e Blues From Laurel Canyon em 1968.  No disco Crusade se destacam suas performances em “Oh, Pretty Woman”, “My Time After Awhile”, “Driving Sideways”, “Snowy Wood” e “Me And My Woman”; em Blues From Laurel Canyon, posso citar as faixas “Walking On Sunset”, “2401”, “Ready To Ride”, “Somebody’s Acting Like A Child”, “The Bear” e “Fly Tomorrow”. Nos Rolling Stones, ele permaneceu de 1969 a 1974, na fase que alguns consideram a mais criativa da banda. Taylor participou dos álbuns Let It Bleed (1969), Get Yer Ya-Ya’s Out (1970 - ao vivo), Sticky Fingers (1971), Exile On Main Street (1972 - duplo), Goat Head Soup (1973) e It´s Only Rock’n’Roll (1974). Mick Taylor se destacou em diversas faixas, como em “Love In Vain” e “Live With Me” de Let It Bleed; “Brown Sugar”, “Sway” , “You Gotta Move”, “Bitch” e “Moonlight Mile” de Sticky Fingers; “Rocks Off”, “Tumbling Dice” e “All Down The Line” de Exile Main Street e “Angie” (no piano) de Goat Head Soap. Ele teria saído dos Rolling Stones devido às divergências relacionadas aos seus direitos autorais em diversas músicas não lhe creditados pela dupla Mick Jagger e Keith Richards. A preferência de Mick Taylor sempre foi pela Gibson Les Paul, com certeza sua marca registrada, mas ele variou durante sua carreira com a Gibson SG e Gibson ES-355 e raramente com os modelos Fender Stratocaster e Telecaster. As características principais do estilo de Taylor são o seu toque lento, melódico e fluente e seu belíssimo “sustain”; e suas principais influências foram os guitarristas Albert King, Freddie King e seu conterrâneo Jeff Beck. Graças a sua técnica refinada ele pode muito bem se aventurar por qualquer estilo musical, passando pelo country blues, blues rock, hard rock, instrumental rock ou jazz. Outra marca registrada de Taylor é o slide, quem não se lembra de sua performance em “Love In Vain” de Robert Johnson no disco Let It Bleed com os Stones? Na carreira-solo, apesar de intervalos consideráveis entre um trabalho e outro, Mick Tayor lançou alguns discos recomendáveis, posso citar o indispensável Mick Taylor (1979), Stranger In This Town (1990), Too Hoot For Snakes (1991), Live At 14 Below: Coastin’ Home (1995) e A Stone Throw (2000). Nos últimos anos surgiram boatos que sua disputa judicial com os Stones estava pegando fogo, mas tudo foi desmentido pelo próprio Mick Taylor que foi visto em público recentemente às gargalhadas acompanhado pelos ex-companheiros Keith Richards e Mick Jagger.

09 – Duane Allman – Guitarrista, guitarrista slide e (ocasionalmente) vocalista norte-americano nascido em 20 de novembro de 1946. Duane era também conhecido pelo apelido “skydog”, dado por Wilson Pickett, que achava o guitarrista parecido com um cachorro doidão, principalmente quando solava às alturas. Duane Allman foi uma estrela do southern rock & blues que brilhou com muita intensidade, apesar de sua curta existência; foi influenciado por principalmente por Elmore James, Otis Rush, B. B. King, The Yardbirds e The Rolling Stones. Destacou-se na banda de rock sulista The Allman Brothers Band, que fundou no final dos anos de 1960 em parceria com seu irmão (vocalista e tecladista) Greg Allman. A história conta que seu irmão ainda adolescente se interessou pela guitarra acústica ao assistir um vizinho dedilhar uma música country; Duane o seguiu e com o tempo seu dom natural para o instrumento, aliado a sua vontade de aprender fez com que Greg ficasse para trás no aprendizado e procurasse por um outro instrumento, no caso, o piano. Mas o que realmente definiu o destino dos irmãos Allman foi um show que assistiram do até então “trintão” B. B. King, em 1959. Era o que precisavam desfrutar para decidirem seus destinos como músicos. Em 1960 formam a banda The Kings; em 1966 depois de várias tentativas fracassadas com diversas formaçõe, formam o Allman Joys, gravando as faixas demos “Spoonful” (sucesso de Howlin’ Wolf), “Crossroads” (clássico Robert Johnson) e “Shapes Of  Things” (dos Yardbyrds com Jeff Beck). Em 1967 formam o The Hour Glass e fazem um show de abertura para Eric Burdon & The Animals no auditório Fillmore West. Em 1968 Duane já é reconhecido como um mestre da slide guitar e começa a chover convites para participar de gravações em estúdios para álbuns de diversos artistas como Wilson Pickett, com o qual fez uma versão para “Hey Jude” que muitos consideram melhor do que a dos próprios Beatles; King Kurtis; Aretha Franklin na gravação de “The Weight”; Otis Rush; Percy Sledge na gravação de “Games People Play”; Johnny Jenkins, no excelente álbum Ton-Ton Macoute! (1970), que muitos afirmam ser um disco-solo de Duane Allman; Boz Scaggs, com quem vez uma emocionante e insuperável versão para “Somebody Loan Me A Dime” de Fenton Robinson, considerada a melhor gravação de toda discografia de Scaggs; Delanie & Bonnie; Cowboy & Eric Clapton e Herbie Mann. Todas essas gravações foram registradas no cd duplo Duane Allman – An Anthology (1972). O jovem Duane Allman havia se tornado um respeitado e requisitado session man. Em 1969, Greg e Duane finalmente formam a lendária Allman Brothers Band; no ano seguinte paralelamente com o Allman Brothers, Duane participa da gravação do disco de estréia da nova banda de Eric Clapton, Derek And The Dominos. Clapton também havia se rendido ao talento de Duane, o que gerou, dentre outras, a gravação da famosa e enigmática canção “Layla”, com uma belíssima e irrepreensível intervenção do slide do Skydog. A técnica slide que lhe trouxe tanta fama foi desenvolvida graças a sua insatisfação musical, ele procurava algo que diferenciasse o seu som, apesar de sua técnica, na época, ser única. Foi quando, em 1968, ele ganhou de seu irmão Greg, o primeiro disco de Taj Mahal no qual trazia Jesse Ed Davis tocando slide na faixa “Statesboro Blues” de Willie Mctell, e junto no pacote de presentes, veio um ‘bendito’ vidro de comprimidos para resfriado. Duane jogou os comprimidos fora e usou o frasco de vidro para reproduzir o som slide que tinha ouvido no disco. Os horizontes se abriram para Duane, sua criatividade explodiu a partir disso. Os vidrinhos preferidos de Duane eram os de Coricidin D (descongestionador nasal) e Coricidin HBP (para pressão alta). Ele preferia os frascos de remédios ao slide convencional de aço. Muitos guitarristas que exploram o slide seguiram seu exemplo, como Rory Gallagher, Bonnie Rait e Gary Rossington do Lynyrd Skynyrd. Quanto às guitarras, Duane sempre deu preferência para os modelos Gibson Les Paul. Sua primeira guitarra foi um Gibson Les Paul Jr. De 1959, posteriormente chegou a usar uma Fender Telecaster com braço de Stratocaster, uma Gibson Les Paul ‘Gold Top’ de 1957, uma Gibson SG de 1961, uma Gibson ES-335 de 1958 ou 1962 e uma Gibson Les Paul ‘Tobacco Sunburst’. Para se ter uma idéia da magnífica técnica de Duane Allman vale a pena conseguir os discos (ou cds): The Hour Glass (1967) e Power Of Love (1968), no The Hour Glass; The Allman Brothers Band (1969); Idlewild South (1970); At Fillmore East (duplo ao vivo – 1971) e Eat A Pech (duplo com algumas faixas com Duane - 1972), no Allman Brothers Band; os já citados Ton-Ton Macoute! (com Johnny Jenkins) e Duane Allman - An Anthology Volumes I & II; e Layla And Other Assorted Love Songs (no Derek And the Dominos - 1970). Duane Allman faleceu precocemente em 1971, aos 24 anos de idade, num estúpido acidente de moto, deixando um acervo de belíssimas gravações. E fica a pergunta: o que ele poderia ter desenvolvido musicalmente se tivesse atingido a idade madura? Uma indagação que só mesmo Deus poderia nos responder, mas baseando-se no que Duane já tocava com apenas 24 anos...

10 – Rory Gallagher – Guitarrista, guitarrista slide, violonista, bandolonista,  gaitista, vocalista e compositor irlandês, nascido em 02 de março de 1948. A Irlanda ficou conhecida pelo grupo terrorista IRA e pelas muitas bandas e estrelas do rock reveladas como o Them de Van Morrison, Gary Moore, Thin Lizzy de Phil Lynott, U2 e The Waterboys, dentre outros, mas o cara que a meu ver representou bem aquela ilha cercada de montanhas chuvosas e de intermináveis planícies verdes e enevoadas, foi o guitar-hero, Rory Gallagher. Quem assistiu ao filme, Irish Tour ‘74, pode perceber o que a Irlanda dividida representava para o sensível guitarrista. È coisa rara no rock um artista chegar ao estrelato sem se tornar arrogante e agressivo, Rory Gallagher foi uma dessas pérolas raras. Quem não simpatizava com o cara? Um sujeito pacato, simples, modesto, de sorriso fácil e conhecido por sua notória timidez. Reservado, era também arredio às bajulações do estrelismo e de suas arapucas e sempre foi fiel às suas origens. Na verdade só duas coisas importavam para ele, tocar com profissionalismo e interagir com seu público devoto e, é claro, a cerveja irlandesa. Aliás, se alguém quisesse falar mal de Rory Gallagher, só poderia alegar que ele era um beberrão, um decente e dócil beberrão, principalmente nos bastidores após suas famosas apresentações. Rory geralmente era identificado pelos fãs nas capas dos discos por usar aquelas famosas camisas de flanela quadriculadas e portar sua guitarra desgastada Fender Stratocaster ‘sunburst’ 1961. Dizem que ele não obteve mais sucesso internacionalmente, pelo fato de ter horror a aviões, prejudicando assim em muito a divulgação de seu trabalho em apresentações ao vivo pelo mundo. Mas suas gravações em disco e vídeo compensaram e fizeram justiça à sua fama. Só o amor pelos palcos que o encorajava a se aventurar em apresentações por Belfast em meados dos anos de 1970, numa época em que o grupo IRA explodia bombas por todo o lado. Mas nunca se registrou algum problema nos shows do jovem guitarrista nessa época difícil, pelo contrário, só havia curtição. Rory inicialmente teve como influência musical, Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Muddy Waters, Albert King, Leadbelly, Lonnie Donegan (o rei do Skiffle britânico) e Cream (de Eric Clapton). E por falar em Cream, deve-se Jack Bruce, Ginger Baker e Eric Clapton a obsessão de Gallagher pela formação de um power trio; e certamente seu poderoso vocal estava mais para Jack Bruce do que para Eric Clapton. Quando o jovem guitarrista irlandês sintonizava em sua casa as programações das rádios militares norte-americanas, ele procurava absorver o que podia de seus heróis do rock & roll e blues, sem contar com os especiais de TV que também assistia. Mas apesar das influências externas, Rory começou sua carreira como guitarrista (aos 15 anos) numa banda de música tradicional irlandesa chamada Fontana Show Band, na verdade uma verdadeira big-band (estilo Waterboys), que com o tempo reduziu o número de componentes, mas aumentando a agressividade e variando o repertório, passando a se chamar Impact Show Band. Mas o desejo de Gallagher era formar um grupo ainda menor, um power trio de guitarra, baixo e bateria como o Cream e o Jimi Hendrix Experience; e assim acabou formando o Taste, em 1968. Desde o início foi demonstrado que o forte de Rory Gallagher era atuar ao vivo sentindo o calor da platéia, assim a fama não tarda e o Taste é convidado a abrir shows para o Blind Faith de Eric Clapton e Stevie Winwood nos EUA e participar do famoso festival da Ilha de Wight, em 1970. Após dissolver o Taste por não estar satisfeito com o desempenho do baixista e baterista, ele parte para a carreira-solo convocando músicos mais capacitados e para a consagração mundial. Blues rock na Irlanda hoje, é sinônimo de Rory Gallagher. Na sua discografia os discos que obtiveram mais impacto, foram os gravados ao vivo, justamente pela energia que Gallagher desprendia nos palcos. Mas praticamente toda a discografia de Rory Gallagher é indispensável e em minha opinião, os essenciais para qualquer amante do blues & rock, são: On The Boards (1970), com o Taste; Deuce (1971), o lendário Live! In Europe (1972), Blue Print e Tattoo (ambos de 1973), o sensacional Irish Tour ‘74 (1974), a obra-prima Calling Card (1976), Photo-Finish (1978) e Jinx (1982), todos da carreira solo. Alguns de seus inúmeros hits foram, “Messin’ With The Kid”, “I Could’ve Had Religion”, “Pistol Slapper Blues”, “Going To My Hometown”, “Bullfrog Blues”, “Tattoo’d Lady”, “ Cradle Rock”, “A Million Miles Way”, “I Wonder Who”, “Who’s That Coming”, “Do You Read Me”, “Moonchild”, “Calling Card”, “Public Enemy”, “Brute Force & Ignorance”, “Shadow Play”, “Big Guns’, etc. A habilidade de Rory Gallagher com a guitarra, o bandolim, a gaita, o dobro (violão com corpo e cordas de aço) e o slide já se tornou lendária. Sua técnica com o slide foi comparada à de Duane Allman e Johnny Winter. Rory, no auge da fama, foi convidado para se integrar ao Rolling Stones e ao Deep Purple, mas para o alívio de seus fãs ele recusou, pois sua praia era outra, e certamente seu talento iria ser ofuscado pelo alter-ego dos líderes de tais bandas, como ocorreu com Mick Taylor nos Rolling Stones. Quem quer conhecer mais de Rory Gallager, deve assistir o excelente filme Irish Tour ‘74 que registra a excursão dele pela Irlanda e Irlanda do Norte, mostrando imagens de algumas cidades como Belfast, Dublin, Cork (onde nasceu) e ruínas de antigos castelos, junto com incríveis performances nos palcos, formando um retrato comovente de quem foi o maior guitarrista irlandês de todos os tempos. Infelizmente, para compensar sua timidez, fobias e solidão, Gallagher abusava do álcool, e para piorar acrescentava remédios para diminuir sua ansiedade e insônia. A combinação fatal lhe empurrou para um transplante urgente de fígado, que foi rejeitado pelo seu organismo causando-lhe infecção generalizada e por conseqüência a morte, em 14 de junho de 1995, aos precoces 47 anos de idade.                                             

Não percam, brevemente, Os 10 Maiores Guitarristas – Parte IV – De Jazz & Fusion.

 Por Eumário J. Teixeira.

11 de nov. de 2012

PETER GREEN FEZ 66 ANOS!

 
 PETER GREEN – UM HOMEM DO MUNDO PERDIDO NO BLUES
Peter Allen Greenbaum, guitarrista, baixista, gaitista, compositor e vocalista britânico nascido em 29/10/1946 em Bethnal, Londres, completou a idade de 66 anos no último mês de outubro. Green teve uma carreira de sucesso, mas entrou em colapso com as pressões do showbusiness agravado pelo abuso no uso de drogas e de um repentino misticismo que o levou a abrir mão de seus bens e da música. Sua queda acentuada da popularidade para a loucura em reclusão foi melancólica, um tema apropriado para um velho blues. Na minha humilde e suspeita opinião, ele foi o maior e mais subestimado guitarrista branco de blues de todos os tempos, só sendo superado por Eric Clapton. A maior vantagem de Clapton sobre Green se resume no fato de que o primeiro superou as dificuldades impostas pelo consumo de drogas e álcool sem sofrer seqüelas físicas ou mentais, lhe proporcionando uma carreira mais produtiva, ao contrário de Peter Green, que não teve tanta regularidade e quantidade, mas se destacou pela qualidade, o que foi relevante para que o seu nome não fosse esquecido pela história do blues rock britânico. Sua própria obra o manteve em certa evidência. 

Quem foi rei nunca perde a majestade
Dono de extrema sensibilidade para tocar e compor, Green teve sua carreira interrompida precocemente no auge da fama devido ao seu envolvimento pesado com LSD associado à uma necessidade de busca pela compreensão de Deus, se voltando para suas raízes judaicas e mais tarde para o cristianismo, que o levou à depressão, paranóia e a esquizofrenia no início dos anos de 1970. Ensaiou seu retorno aos palcos a partir do ano de 1979 alternando discos bons e razoáveis até 1987, quando teve uma recaída e se ausentou por um longo período permanecendo na obscuridade e vivendo sob os cuidados de um amigo em Surrey, e não como um mendigo pelas ruas como foi muito divulgado, só retornando aos poucos em 1996, quando se integrou ao Splinter Group de seu (até então) velho amigo e guitarrista Nigel Watson. A Parceria duraria até 2003, com altos e baixos até que se afastaram por motivos não esclarecidos, mas que envolvem direitos contratuais e a conservação da saúde e bem estar de Green. Há inclusive, uma ordem judicial expedida em 2004 que impede a aproximação e o assédio de Watson por quaisquer meios a Peter Green. Depois de seu afastamento do Splinter Group e consequentemente da mídia por alguns anos, foram postados no youtube registros de esporádicas apresentações do Peter Green & Friends (sua nova banda) em 2009 e 2010 em festivais e pubs de blues e rock pela Europa.
Entre Deus e o rock, Green entrou caiu em parafuso
Green se mantém em certa atividade até hoje apesar de suas raras performances serem ainda um tanto inseguras devido aos medicamentos que é obrigado a tomar, mas geralmente está acobertado por bons músicos. O próprio Green reconhece que tanto as drogas quanto os tratamentos terapêuticos à base de choques elétricos no passado causaram um grande dano irreparável à sua mente. 
A vida de Peter Green nunca foi fácil, sua origem judia lhe trouxe muito sofrimento e perseguições durante sua infância e adolescência, e a maioria de suas canções refletem todo o seu sofrimento, porque na verdade são autobiográficas. Apesar de seu talento comprovado, seu primeiro grande desafio como músico profissional foi substituir, simplesmente, o “deus da guitarra” Eric Clapton no John Mayall’s Bluesbreakers em 1967. E Peter Green surpreendeu os fãs desconfiados e órfãos de Clapton, registrando com competência todo o seu talento no disco A Hard Road (1967) do John Mayall’s Bluesbreakers. No ano seguinte Green deixa os Bluesbreakers (sendo substituído por Mick Taylor) e parte para formar o Peter Green’s Fleetwood Mac, uma banda que ficou na história do blues rock britânico, principalmente graças ao disco de estréia. A banda que ainda contava com o guitarrista slide Jeremy Spencer (fã de Elmore James) e mais tarde com o jovem guitarrista Danny Kirwan (pupilo de Green) conquistou o mundo com seu blues rock balançante. 
Criatividade e 'feeling' sobravam em Peter Green
As influências de Peter Green foram Robert Johnson, Alex Korner, John Mayall, o próprio Eric Clapton, Hank Marvin (The Shadows), Muddy Waters, B. B. King e Freddie King. Dentre suas composições mais famosas posso destacar com os Bluesbreakers de John Mayall, “The Supernatural e “The Same Way”; com o Fleetwood Mac, “Black Magic Woman” (gravado por Santana), “Oh Well”, “Long Grey Mare”, “Looking For Somebody”, “I Loved Another Woman”, “Watch Out”, “The Green Manalishi”, “Rattlesnake Shake”, “Fleetwood Mac” e “Sandy Mary”; na carreira-solo, “Looser Two Times”, “Tribal Dance”, “In The Skies” e “Slabo Day”. As versões que fez para “The Stumble” de Freddy King, “Need Your Love So Bad” de Little Willie John, “Homework” de Otis Rush, “No Place To Go” de Howlin’ Wolf, e suas belíssimas composições “Albatross” e “Man Of The World”, definem precisamente o seu estilo suave e doce, mas com certa pegada, ao tocar, cantar e compor.

Capas de seus melhores trabalhos
Os discos essenciais do mestre do blues rock britânico são, com o John Mayall’s Bluesbreakers, Hard Road (1967); com o Fleetwood Mac, Peter Green’s Fleetwood Mac (o primeiro, de 1968), Then Play On (1969), Fleetwood Mac in Chicago/Blues Jam In Chicago (duplo de 1969) e The Original Fleetwood Mac (1971); na carreira solo, In the Skies (1979) e Little Dreamer (1980); e com o Splinter Group, Reaching The Cold 100 (2003). 


A Gibson Les Paul dourada de Peter Green, também fez história; conta a lenda que ele a vendeu por mixaria para o guitarrista Gary Moore (já falecido), justamente na época em que estava fragilizado mentalmente e desfazia de seus bens, doando também todo o seu dinheiro para instituições de caridade. A partir daí a guitarra de Green acostumada a um tratamento mais carinhoso e sofisticado teve que se sujeitar ao estilo mais agressivo e pesado do seu novo dono. Será que com a morte recente de Moore em 2011, a lendária Sunburst Gibson Les Paul de 1959, voltou para o antigo mestre? Dizem que o som diferenciado do Les Paul de Green era devido a uma modificação que fez em um dos captadores, invertendo a fase; o próprio Peter Green desmente a lenda e não faz idéia do que significa “som-fora-de-fase”.

Mas agora o que realmente importa é que Peter Green deu a volta por cima, é claro que nunca mais tocará como há 45 anos atrás, mas ele está vivo, dizem que está refugiado na Suécia e cercado por quem realmente o ama e notadamente mantém o desejo de tocar o que mais aprecia: o blues! Vida longa e muita paz, Peter Green. E esteja onde estiver que Deus tenha misericórdia de você e te proteja dos demônios que tanto te atormentaram no passado.
Eumário J. Teixeira

3 de nov. de 2012

OS 10 MAIORES GUITARRISTAS – PARTE II - DE BLUES ACÚSTICO & ELÉTRICO


Muitas listas com os nomes dos maiores guitarristas da história da música circulam pela internet e revistas especializadas. A cada classificação de tais nomes geralmente é baseada na capacidade técnica e habilidade de cada músico, o que é o bastante para gerar muita controvérsia. Para exemplificar, há certo consenso no que se diz respeito sobre quem seria o número um da lista, o maior de todos. O nome que mais aparece no primeiro lugar é o de Jimi Hendrix. Já a partir do segundo classificado acontecem muitas variações, revezando os nomes de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Eddie Van Halen, etc. Como alguns gêneros musicais são desprezados nessas relações e nomes como Django Reinhardt e Dick Dale, geralmente ficam de fora, elaborei quatro listas com guitarristas considerados especialistas em seu gênero musical, sendo que a classificação de cada relação vai de um a dez. Não considerei apenas a habilidade técnica do guitarrista, mas também sua importância dentro do(s) gênero(s) que representa. Não sou um conhecedor profundo do assunto, nem ao menos sou músico, mas me baseei nos discos que já ouvi e no que li sobre a história da música em geral, considerando também o meu gosto pessoal. As listas estão divididas em quatro gêneros assim classificados: 1 – Jump Blues, Rock & Roll, Surf & Instrumental Rock; 2 – Blues Acústico & Elétrico; 3 - Blues Rock & Heavy Rock; e 4 – Jazz & Fusion. 

1 – Robert Johnson Guitarrista afro-americano nascido em 08/05/1911, é considerado o “rei do blues do Delta do Mississipi”. De técnica admirável, suas 40 faixas gravadas num quarto de hotel só com a guitarra acústica e voz, são consideradas verdadeiras preciosidades por guitarristas renomados como Eric Clapton e Peter Green. As faixas parecem indicar, em certos momentos, que haviam dois guitarristas nas sessões, mas na verdade só Robert Johnson estava naquela sala de gravação. Ele padronizou os doze compassos para o blues. Há muito mistério em torno da vida de Robert Johnson, como de sua pouca habilidade para tocar atestada por Son House e Bukka White, até que Johnson ressurge após um breve período de ausência do meio freqüentado pelos velhos bluesmen, com uma habilidade e técnica surpreendente. Daí surgiu a lenda de que ele teria feito pacto com o diabo (numa encruzilhada) para ser um mestre da guitarra; só que ele não pôde aproveitar sua conquista por muito tempo, pois teria sido morto através de whisky envenenado por um marido ciumento. Suas músicas foram regravadas por vários artistas e bandas de rock como Eric Clapton, Peter Green, Rolling Stones, Cream, etc. Alguns de seus blues mais famosos são “Crossroads”, “Come On In My Kitchen”, “Love In Vain”, “Little Queen Of Spades”, “From Four Till Late”, “Sweet Home Chicago”, “Rambling On My Mind”, “I Believe I’ll Dust My Broom” e “Walking Blues”. Robert Johnson morreu em 16/08/1938 aos 27 anos.

2 – T-Bone Walker – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 28/05/1910, sua receita de blues continha ingredientes do texas blues, jump blues, jazz blues e R & B. T-Bone Walker tinha uma técnica refinada e estilo único naquelas décadas de 1940 e 1950, e “todos queriam soar como T-Bone Walker”, declarou B. B. King. Outros grandes guitarristas inspirados em T. Bone foram Eric Clapton, Steve Ray Vaughan, Albert Collins, Buddy Guy, Chuck Berry, Clarence “Gatemouth” Brown e Jimi Hendrix.Walker tocava até com os dentes, o que foi copiado por muitos guitarristas de rock nas décadas posteriores. É de sua autoria o clássico do blues “Stormy Monday Blues”, regravado por inúmeros artistas do blues e blues rock; outros de seus sucessos foram “Mean Old World”, “T-Bone Suffle” e “You Don´t Love Me”. Walker faleceu em 16/03/1975.

3 – B. B. King – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 16/09/1925, também conhecido como “the king of blues”. Dos três reis magos da guitarra (B. B., Albert e Freddie), ele é considerado o primeiro. O que Louis Armstrong e seu trompete representaram mundialmente para o jazz, B. B. King, da mesma forma, com sua guitarra Epiphone Gibson ES – 3555, chamada Lucille, foram para o blues; um embaixador do gênero, viajando por todo mundo divulgando o estilo de música que o consagrou. O nome “Lucille” para sua guitarra foi dado depois de um acidente no qual quase se feriu num incêndio provocado por dois homens numa espelunca que brigavam por causa de uma mulher de mesmo nome. Seu estilo econômico de tocar fez escola, não abusava da quantidade de notas em seus solos, mas sustentava poucas notas através de um efeito adotado por ele, chamado “vibrato” (segurar com um dedo a nota contra o braço da guitarra enquanto gira levemente o pulso), que poucos conseguiram efetuar com a mesma eficiência, mas que dá um “feeling” de arrepiar, fazendo com que uma nota soe por mil. B. B. King confessou que apurou essa técnica para compensar sua incapacidade de tocar “slide” como seu primo Bukka White e o lendário Elmore James. Muitos foram seus seguidores, guitarristas como Peter Green do Fleetwood Mac, Eric Clapton, Freddie King, Otis Rush, Buddy Guy e o nosso saudoso Celso Blues Boy. Quem quiser apreciar o feeling do blues de B. B. King escute o disco Live In Cook County Jail (1971), o famoso “disco da cadeia”, gravando ao vivo num show para os presos locais; outros interessantes são Live At Regal (1965), Live And Well (1969), Indianola Mississipi Seeds (1970) e B. B. King In London (1971) com a participação de Peter Green. Algumas das músicas mais destacadas do “rei do blues” são “How Blue Can You Get”, “The Thrill Is Gone”, “Guess Who”, “Sweet Sixteen”, “Every Day I Have The Blues”, “Caldonia”, “Three O’Clock Blues”, “Please Accept My Love”, “Rock Me Baby”, “Hummingbird”, entre outras.

4 – Albert King – Guitarrista (canhoto), compositor, baterista e vocalista afro-americano nascido em 25/04/1923. Não tinha parentesco nenhum com os outros dois “kings”, B.  B. e Freddie, mas tinha em comum com os outros dois a paixão pelo blues e a guitarra como instrumento preferido.  Albert adotou uma Gibson Flying V de visual bem arrojado e futurista para o final dos anos de 1950. Por ser canhoto invertia a guitarra sem trocar o encordoamento de posição deixando as cordas graves para baixo. Por coincidência chamava também sua guitarra de “Lucy” em homenagem a uma atriz comediante de TV, chamada Lucy Ball. Albert agregava ao seu blues ingredientes bem temperados de soul e funk, graças à intervenção do guitarrista rítmico Steve Cropper em suas gravações, o que lhe deu uma identidade própria e diferenciada. Influenciou vários guitarristas e bandas de rock e blues rock, como John Mayall’s Bluesbreakers, Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, Jimi Hendrix, Mike Bloomfield, Rory Gallagher, Gary Moore e Stevie Ray Vaughan que incorporou ao seu estilo muito de Albert King. Sua principal característica ao tocar era o “feeling” que tinha para segurar uma nota ao máximo (sustain) durante um “bend” até dar um clímax, seguido de um breve relaxamento e retorno ao solo. Alguns discos indispensáveis de Albert King são Big Blues (1962) e Born Under A Bad Sign (1967), outro essencial é o ao vivo Live Wire/Blues Power (1968), também recomendo Blues For Elvis – King Does The King’s Things (1970) e I’ll Play The Blues For You (1972). Seus clássicos são vários, e para citar alguns: “Born Under A Bad Sign”, “Crosccut Saw”, “Oh, Pretty Woman”, “As The Years Go Passing By”, “The Hunter”, “Kansas City”, “I’ll Play The Blues For You”, “Angel Of Mercy”, etc.

5 – Freddie King – Guitarrista afro-americano e vocalista nascido em 03/09/1934. Era de uma geração mais jovem do que a dos outros dois “kings” e apesar do sobrenome não tinha nenhum parentesco com ambos. Freddie normalmente empunhava uma Gibson ES-345 e vez ou outra uma Gibson Les Paul. Para dedilhar usava uma dedeira no polegar e outra no indicador na mão direita; e ainda contra os padrões vigentes, mesmo sendo destro, usava a alça da guitarra no ombro direito, aliás, uma mania dos guitarristas texanos, como “the ice man” Albert Collins. Seu modo de tocar e cantar a princípio teve influência de seu primo guitarrista de country blues Lightnin’ Hopkins, mas Freddie também se inspirou no saxofonista e vocalista Louis Jordan, nos guitarristas Eddy Taylor, T. Bone-Walker e em B. B. King, só que intensificava mais seus “bends”. Freddie ou Freddy fez escola para muitos músicos de blues rock como Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, John Mayall, Lonnie Mack e Stevie Ray Vaughan. Seu estilo de blues “made in Texas” com elementos de R&B e muito “swing”, sem deixar o lamento tradicional do blues, produziram muitos sucessos como as instrumentais “Hideaway”, “San-Ho-Zay”, “The Stumble”, “Remington Ride” e “Sen-Sa-Shun”; blues como “Have You Ever Loved A Woman”, “I’m Tore Down”, “Someday, After A While (You’ll Be Sorry)” e “You’ve Got To Love Her With A Feeling”; e temas de rock como “Palace Of The King” e “Going Down”. Apesar de ser texano, Freddie pertencia também a nova geração de guitarristas produzida em Chicago no final dos anos de 1950, junto com Buddy Guy, Magic Sam, Otis Rush e Luther Allison. Freddie King faleceu precocemente em 28/12/1976. Vale a pena conferir dele os discos, Freddy King Sings (1961), Let’s Hideaway And Dance Away With Freddy King (196l) e My Feeling For The Blues (1970).

06 – Buddy Guy – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 30/07/1936, pertencente à nova geração de guitarristas surgida no final da década de 1950 em Chicago, a capital do blues urbano. Dono de uma técnica admirada até por Jimi Hendrix, Buddy Guy iniciou sua trajetória tocando sua guitarra em estúdio nos de discos de nomes já consagrados como Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Fez uma parceria produtiva com o gaitista Junior Wells, que lhes renderam discos respeitáveis como Buddy Guy & Junior Wells Plays The Blues (1972) e Live In Montreux (1977). Sua  carreira solo não foi desprezada, pois lançou alguns discos essenciais como A Man And The Blues (1968); Stone Crazy (1981); Damn Right, I’Ve Got The Blues (1991) e Sweet Tea (2001). Buddy Guy tem como companheira fiel uma Fender Stratocaster da qual extrai bends intensos, altas distorções e licks (ou fraseados) nervosos combinados com seu vocal rasgado e agressivo que maravilhava seus fãs não menos famosos como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page e Stevie Ray Vaughan.

07 – Otis Rush – Guitarrista (canhoto) e vocalista afro-americano nascido em 29/04/1934. Rush inverte a guitarra para tocar sem trocar o encordoamento, com as cordas mais finas em cima, ele realiza seus intensivos “bends” puxando a corda para baixo ao invés de empurrá-la no sentido contrário do mesmo modo de Albert King e Dick Dale. Rush pertence à geração de guitarristas que fez fama no west side de Chicago, junto com Magic Sam, Luther Allison e Buddy Guy. Seu estilo lento, mas dramático e inflamado, cativou outros guitarristas de renome como Eric Clapton e Michael Bloomfield. Muitos de seus hits mais famosos foram regravados por John Mayall’s Bluesbreakeres, Peter Green’s Fleetwood Mac, Led Zeppelin e Rory Gallagher. E só para citar alguns de seus sucessos: “I Can´t Quit You Baby”, “Double Trouble”, “All My Love”, “So Many Roads So Many Trains”, “Homework”, “Gambler’s Blues” e “Cold Day In Hell”. São essenciais os seguintes títulos de sua discografia, This One’s A Good Un” (1968), “Screamin’ & Crying’” (1974), “So Many Roads: Live In Concert (1975), “Right Place Wrong Time” (1976) e Ain’t Enough Comin’ In (1994).

08 – Elmore James – Guitarrista slide, vocalista (estridente) e compositor afro-americano nascido em 27/01/1918. Considerado como o “rei da guitarra slide”, tem uma enorme importância no desenvolvimento do blues elétrico e sua influência no blues rock é inquestionável. Elmore não usava uma guitarra elétrica, mas um violão adaptado e amplificado, um Kay Dreadnought da década de 1940, do qual tirava aqueles riffs de slide que o tornaram uma lenda ainda em vida. Elmore James no início de carreira chegou a acompanhar o misterioso guitarrista Robert Johnson em suas apresentações. Inúmeros guitarristas de blues rock e rock desenvolveram suas técnicas baseados em Elmore James; alguns deles foram Jeremy Spencer, do Fleetwood Mac, que chegou bem próximo do timbre de Elmore James; George Throrogood; Alan Wilson do Canned Heat; Brian Jones dos Rolling Stones; Mick Taylor do John Mayall’s Bluesbreakers e Rolling Stones; e Duane Allman do Allman Brothers. Outros que não se aprofundaram no slide, mas gravaram muitos de seus sucessos foram, Jimi Hendrix, Eric Clapton e Peter Green. Alguns dos muitos sucessos de Elmore James são: “Dust My Broom”, “Early In The Morning”, “Can’t Stop Lovin’”, “Dust My Blues”, “I Believe My Time Ain´t Long”, “It Hurts Me Too”, “Bleeding Heart”, “Look On Yonder Wall”, “Shake Your Money Maker”, “Done Somebody Wrong”, “Rollin’ And Tumblin’” e a belíssima “The Sky Is Crying”. Elmore James faleceu precocemente aos 45 anos em 24/05/1963, justamente quando ocorria o “boom” do blues britânico que seria responsável por resgatar para os palcos de todo o mundo, os mestres de blues afro-americanos. Qualquer coletânea de Elmore James vale a pena conferir.

09 – Muddy Waters – Guitarrista (slide), gaitista, compositor e vocalista afro-americano nascido em 04/04/1915, chamado de “the boss”, foi considerado o “o pai do blues de Chicago”, ou seja, através de Muddy Waters o blues rural foi eletrificado e sua versão urbana foi consolidada na cidade de Chicago. Outra novidade imposta por Waters foi a formação de uma super-banda composta por excelentes músicos, com um baterista, um baixista, um guitarrista rítmico, um gaitista solo, e ele próprio nos vocais e guitarra (slide) solo. A banda de Muddy Waters, com as guitarras elétricas e a gaita amplificada de Little Walter tocava alto, bem acima dos padrões vigentes já no final dos anos de 1950. Seu som amplificado inicialmente escandalizou os jovens britânicos durante uma excursão pela Europa em meados dos anos de 1960, pois o público esperava o blues de raiz ou acústico. Posteriormente os ingleses se renderam ao blues de Chicago graças ao surgimento das bandas britânicas que faziam suas versões “branquelas” de um blues elétrico mais dançante, como Yardbirds, Animals, Manfred Mann, Them e The Rolling Stones (o nome da banda é inspirado no blues “Rollin’ Stone” de Waters). Waters geralmente tocava numa Fender Telecaster ou Gibson Les Paul.  A única banda que rivalizava com Waters na época de ouro do blues de Chicago, era a de Howlin’ Wolf, o “lobo uivante”, que tinha como guitarrista solo, o incrível Hubert Sumlin e suas “distorções” até então inéditas na guitarra do blues. Dizer sobre a influência de Waters no blues rock e rock & roll, é ‘chover no molhado’, pois suas gravações marcaram para sempre a música afro-americana. Para citar alguns hits do velho “águas lamacentas” posso começar com “Rollin’ Stone”, “Rollin’And Tumblin’”, “Long Distance Call”, “Honey Bee”, “Standing Around Crying”, “I Can´t Be Satisfied”, “Blow Wind Blow”, “(I’m Your) Hoochie Coochie Man”, “I Just Want To Make Love ToYou”, “She’s Nineteen Years Old”, “I’m Ready”, “Mannish Boy”, “I Feel So Good” e “Got My Mojo Working”. Alguns discos dos mais essenciais são: At Newport (1960); Folk Singer (1964); Eletric Mud (1968); Fathers And Sons (1969); Hard Again (1977) e Muddy “Mississipi” Waters (1979). Outros grandes guitarristas admiradores e seguidores de Muddy Waters são Eric Clapton, Buddy Guy, Otis Rush, Chuck Berry, Magic Sam e o “albino maluco” Johnny Winter, que foi influenciado pela técnica slide de Muddy e produziu seus últimos discos no final da década de 1970. Muddy Waters faleceu em 30/04/1983.

10 – Albert Collins – Guitarrista, compositor e vocalista afro-americano nascido em 01/10/1932. Conhecido também como “the master of the telecaster”, “the razor blade”, “the Houston twister” e “the ice man”. Desenvolveu um estilo inconfundível de tocar com uma forte pegada mesmo sem o uso de palheta que o fazia superar o problema crônico da Telecaster, a proteção da ponte, que a maioria dos guitarristas deste modelo retirava para tocar, ao contrário de Collins. Seu estilo talvez tenha tido muito a influência do primo bluesman e guitarrista, Lightnin’ Hopkins. Collins agregava também ao seu blues, muito funk, soul e pitadas de jazz. O som estalado de sua Fender Telecaster dourada já faz parte da história da história do blues urbano e moderno, porém sem jamais esquecer suas raízes. Collins que já foi considerado “o homem mais feio do mundo”, tinha um carisma e uma presença de palco, irresistíveis. Como todo bom guitarrista texano, colocava a alça da sua Telecaster no ombro direito, mesmo sendo destro. Albert tinha um estilo diferenciado por manter afinações em tons menores e sempre usava um capotraste na quinta, sétima ou nona casa da guitarra, sobrando pouco mais de 1/3 do braço para tocar. O mestre da Telecaster influenciou vários guitarristas famosos com seus “vibratos” inflamados e “bends” estridentes, como Robert Cray, Johnny Copeland, Stevie Ray Vaughan, Jeff Beck e Gary Moore. Colaborou em trabalhos de artistas consagrados do blues como B. B. King, John Lee Hooker e John Mayall. Seus hits são inúmeros, mas vale citar “Freeze”, “Defrost”, “Frosty”, “Sno-Cone”, “Dyin’ Flu”, “Don’t Lose Your Cool”, “Conversation With Collins”, “Honey, Hush! (Talking Woman Blues)”, “When The Welfare Turns Its Back On You”, “Cold, Cold Feeling”, “Too Tired”, “Master Charge”, “If You Love Me Like You Say” e “When A Guitar Plays The Blues”.  Dos seus discos, cito os essenciais Truckin’ With Albert Collins (Coletânea 1962-1963); Ice Pickin’ (1978); Frosbite (1980); Don’t Loose Your Cool (1983); Frozen Alive (1981); e Live In Japan (1984). Collins faleceu em 24/11/1993.

Aguardem a terceira lista com guitarristas de blues rock e heavy rock.

Por Eumário J. Teixeira