13 de nov. de 2015

BLUES PILLS – O RENASCIMENTO DO HARD BLUES ROCK


Desde 2011 uma banda sueca até então desconhecida chamada Blues Pills (Pílulas Azuis) começou a se destacar no mundo do rock. Estou falando de um grupo de rock revival, estilo anos de 1970, um rock vigoroso, pulsante e sobretudo, honesto. Eles desenvolvem uma sonoridade rara para os tempos atuais e pouco comum para os jovens pertencentes à geração da música eletrônica. Mas o som vibrante dessa jovem banda está ecoando pelo mundo e é difícil passar desapercebido. Quem não curtir os carinhas das “Pílulas Azuis” é porque não tem uma bagagem sonora, conhecimento básico sobre a história do rock ou simplesmente porque não tem sensibilidade apurada ou mesmo bom gosto para apreciar essa banda incrível. Mas como dizem alguns, “gosto não se discute”...
É quase certo que não podemos contar mais com a volta de bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Free, Peter Green's Fleetwood Mac e outras lendas do blues rock, assim devemos torcer para que as novas promessas como o Blues Pills permaneçam fiéis ao gênero que adotaram e tenham vida longa no palco do rock & roll.


Tudo começou em 2011 quando baixista Zack Anderson e o baterista Cory Berry gravaram um demo com a lindíssima e competentíssima vocalista Elin Larsson na cidade de Orebro, na Suiça. Em seguida, durante um turnê pela França, o trio conheceu um jovem talento da guitarra de apenas 16 anos chamado Dorain Sorriaux e o convidou para se integrar à banda. Com a entrada de Sorriaux, o som da banda cresceu poderosamente e resultado foi o lançamento em 2012 do EP de estréia, Bliss, com o quarteto adotando definitivamente o nome Blues Pills. O nome escolhido para a banda foi baseado no blog de um amigo que divulgava o rock das décadas de 1960 e 1970.


Blues Pills lançou um single ainda naquele ano intiulado 'Black Smoke', e em 2013 fizeram apresentações em festivais de rock europeus prestigiados, como Roadburn em Tilburg, na Holanda, e no Desert Fest, em Berlim. A banda ainda conseguiu emplacar uma turnê pela Alemanha até que foram descobertos e contratados pela gravadora Nuclear Blast.
Assim, com a formação integrada por Elin Larsson, nos vocais; Dorian Sorriaux, na guitarra; Zack Anderson, no baixo e André Kvarnströn, na bateria (substituindo Berry), os Blues Pills lançaram a seguinte discografia, até agora:

    - Devil Man (EP – 2013)
    - Live at Rockpalast (EP - Fevereiro de 2014)
    - Blues Pills (CD - Julho de 2014)
    - Blues Pills Live (CD – 2014)


Em seu lançamento em Julho de 2014, o álbum Blues Pills atingiu o Top 5 na Alemanha e também alcançou as primeiras posições na Áustria, Suíça e Reino Unido.
O som do Blues Pills é as vezes comparado ao Led Zeppelin, Free, Janis Joplin e até Jimi Hendrix. Mas ao escutar o cd Blues Pills de 2014, o timbre da guitarra e arranjos, por vezes me lembraram o Peter Green's Fleetwood Mac. Assim, para meus ouvidos o Blues Pills é uma combinação da sonoridade da guitarra de Peter Green's Fleetwood Mac com os vocais de Janis Joplin e Robert Plant. Embora a vocalista Elin Larsson declarar que foi muita influenciada por vocalistas de blues & soul como Big Mama Thornton, Etta James e Aretha Franklin.


Por Eumário J. Teixeira.

17 de mai. de 2015

OBITUÁRIO DO BLUES, ROCK, SOUL & JAZZ – 2013 A 2015



A boa música continua sofrendo baixas importantes e dolorosas. Aqui listei nomes de alguns músicos que foram relevantes para nossa educação musical. A lista se inicia a partir de 2013, passa pelos recentes falecimentos dos soulmen Percy Sledge e Ben E. king, até a mais recente e lamentável passagem do mestre do blues, B. B. King. A partida do Rei do Blues foi a que mais me tocou, porque foi ele (B. B. King) que me apresentou ao Blues. O primeiro álbum de blues que adquiri foi Live In Cook County Jail (1970), conhecido também como "o disco da cadeia". Desde então nunca mais parei de ouvir B. B. King e o blues. Obrigado B. B. King por educar meus ouvidos e me livrar de tanta coisa ruim que se toca e cantam por aí.


- 20/05/2013  Ray Manzarek (Raymond Daniel Manczarek, Jr.) - Tecladista, compositor, cantor e produtor de filmes, também co-fundador da lendária banda de rock norte-americana, The Doors, em 1965. Foi parceiro de composições do polêmico e pevertido vocalista da banda, Jim Morrison. Muitos dos maiores sucessos do The Doors como “Light My Fire”, “When The Music’s Over”, “The End” e “Riders On The Storm”, foram marcados para sempre com a autoria e som característico dos teclados de Ray Manzarek. Os discos (cds) recomendados do The Doors são The Doors (1967); Strange Days (1967); Waiting For The Sun (1968), Morrison Hotel/Hard Rock Cafe (1970) e L. A. Woman (1971). Fã de um bom blues e R&B, Manzarek era o responsável direto pelo som da banda nitidamente influenciado por esses gêneros musicais; e apesar do carisma incontestável de Morrison, era Manzarek que realmente liderava o grupo californiano. Nos anos recentes Ray Manzarek ressuscitou o The Doors, convocando o guitarrista original da banda, Robby Krieger, e Ian Astbury (ex-The Cult) para os vocais, numa temporada relativamente bem sucedida em 2002. Manzarek faleceu em decorrência de um câncer na vesícula biliar na cidade de Rosenheim, na Alemanha, aos 74 anos de idade.


- 14/08/2013 - Allen Lanier - Um dos integrantes originais do Blue Oyster Cult, guitarrista, tecladista, pensador ávido por leitura e notadamente por religião comparada. Sua guitarra se vez ouvir em sucessos  como "(Don´t Fear) The Reaper" (1976) e "Burnin' For You (1981). Allen deixou o Blue Oyster Cult em 1985, voltando a se reunir com o grupo em 1987. Ele era fumante e morreu em decorrência de uma doença pulmonar aos 67 anos.


- 03/01/2014 - Phil Everly - Um dos dois irmãos fundadores do grupo Everly Brothers que fez muito sucesso nas décadas de 1950 e 1960. A dupla Phil e Don lançaram várias músicas que se tornaram hits e foram regravadas por outros cantores e bandas posteriormente, como "Wake Up Little Susie", "Bye Bye Love" e "All I Have To Do Is Dream". O som da banda era um misto de country & pop & baladas que influenciou gente como os Beatles e Bob Dylan. Phil Everly morreu em decorrência de complicações de uma doença crônica pulmonar, aos 74 anos.


- 27/01/2014 – Pete Seeger – Um dos pioneiros da música Folk norte-americana, foi considerado como um dos principais renovadores deste gênero musical na década de 1950. Seeger foi discípulo de Woody Guthrie, o precursor das “músicas folk de protesto” nas décadas de 1930 e 1940, nos Estados Unidos. Bob Dylan (outro seguidor de Guthrie) responsável direto pela revitalização do folk em meados a década de 1960 (na primeira fase de sua carreira), foi muito influenciado por Pete Seeger, que morreu de causas naturais no Hospital Presbiteriano de Nova York, no dia 27 de janeiro, aos 94 anos. Alguns dos sucessos mais conhecidos de Seeger foram, “If I Had A Hammer” e “Where Have All The Flowers Gone”.


- 26/02/2014 – Paco de Lucia – Violonista espanhol dono de uma técnica apuradíssima, um mestre do estilo flamenco, que influenciou guitarristas dos mais diversos gêneros musicais. Faleceu vítima de um ataque cardíaco fulminante em Cancún, no México, aos 66 anos.


- 29/08/2014 – Glenn Cornick – Baixista da formação original do Jethrotull, tocou nos três primeiros discos da banda, This Was (1968); Stand Up (1969) e Benefit (1970). Cornick foi co-fundador do Jethrotull junto ao vocalista e flautista Ian Anderson, em 1967. Cornick foi vítima de complicações cardíacas, aos 67 anos.


- 25/10/2014 – Jack Bruce – Excelente baixista e vocalista escocês do lendário power trio, Cream (a nata), formado também pelo guitarrista Eric Clapton e o baterista Ginger Baker na segunda metade da década de 1960. O Cream que teve uma curta mas intensa trajetória (1966-1968) se reuniu novamente em 1993 e 2005 para a alegria dos saudosistas do bom e velho blues-rock psicodélico. Jack Bruce também tocou com outros músicos consagrados como John Mayall, Gary Moore e Ringo Starr.  Jack Bruce faleceu aos 71 anos e a causa de sua morte não foi revelada pelos familiares.


- 22/12/2014 – Joe Cocker – Cantor britânico de Rock & Soul que ficou marcado por sua magistral interpretação da canção “With A Little Help From My Friends” dos Beatles no Festival de Woodstock, em 1969. Outros de seus sucessos foram “You Can Leave Your Hat On”; “Unchain My Heart”; “Ain’t No Sunshine”; “Up Where We Belong” e “You Are So Beautiful”. Com sua voz rouca característica seus trejeitos no palco, foi certamente o principal intérprete de um gênero musical que combinava a energia do rock e a sensualidade do soul. Joe Cocker foi vítima de luta de alguns anos contra o câncer no pulmão, aos 70 anos de idade, no Colorado, Estados Unidos.


- 16/03/2015 – Andy Fraser – Baixista do Free de talento precoce e estiloso ao tocar, tinha apenas 15 anos quando ingressou na banda; foi um de seus fundadores. Chegou a participar do John Mayall’s Bluesbreakers. Andy Fraser lutava contra o câncer e era portador do vírus HIV, mas a causa da morte não foi divulgada; ele tinha apenas 62 anos e deixou duas filhas.


- 03/04/2015 – Robert Burns Jr. – Baterista fundador do Lynyrd Skynyrd junto ao vocalista Ronnie Van Zant. Burns participou dos dois primeiros álbuns da banda tocando bateria nos clássicos “Free Bird”, “Sweet Home Alabama” e “Simple Man”. Ele deixou a banda em 1974 devido a problemas de saúde gerados pelas intensas turnês. Robert faleceu aos 64 anos de idade ao sofrer um acidente de carro numa curva, perto de Cartervislle,  no estado da Georgia. O carro saiu da pista, bateu numa caixa de correios e depois numa árvore, ele estava sem o cinto de segurança.


- 14/04/2015 – Percy Sledge – Cantor afro-americano de Soul e R & B, autor e intérprete do clássico do soul “When A Man Loves A Woman”. Segundo a lenda, Sledge teria composto a música depois de ter perdido o emprego e a namorada seguidamente. Inspirado pela dor, compôs e cantou um dos maiores hits românticos mais regravados de todos os tempos. Um dos que regravaram o hit, foi o açucarado Michael Bolton. Outros sucessos de Percy Sledge foram “It Tears Me Up”; Take Time To Know Her”; “Cover Me” e “Warm And Tender Love”. Ele tinha 73 anos quando faleceu em Baton Rouge, na Louisiana e, segundo consta, lutava contra um câncer de fígado.


- 30/04/2015 – Ben E. King – Cantor afro-americano de Soul e R & B, intérprete famoso do clássico do soul “Stand By Me”, regravado com sucesso por John Lennon e que gerou inúmeras versões em outros gêneros musicais. Mas Ben E. King teve outros sucessos memoráveis como “Spanish Harlem”; “Supernatural Thing – PT. 1”; e “Don’t Play That Song”. King teria morrido de causas naturais ainda não divulgadas, aos 76 anos.


- 14/05/2015 - B. B. King - Guitarrista e cantor de Blues afro-americano, considerado o "Embaixador do Blues" e conhecido também como "Rei do Blues". Riley B. King modestamente recusava sua majestade, mas ele sabia que seu trabalho foi essencial para a divulgação e popularização do blues em todo o mundo. Gravou inúmeros discos, alguns essenciais para qualquer colecionador ou estudioso do blues, posso citar por exemplo, Live At the Regal (1965); Live and Well (1969); Completely Well (1969); Indianola Mississippi Seeds (1970); Live in Cook County Jail (1970), meu primeiro e favorito disco de B. B.; e One Kind Favor (2008). Seus inúmeros hits foram regravados por vários músicos e discípulos; alguns deles foram "Three O'Clock Bues", "Please Accept My Love", "Sweet Sixteen", "Every Day I Have The Blues", "How Blue Can You Get", "Rock Me Baby", "Why I Sing The Blues", "The Thrill Is Gone", "Hummingbird", "Guess Who", "Let The Good Times Roll", "When Love Comes Town" e "Since I Meet You Baby", só para citar alguns. B. B. King e sua guitarra, Lucille, fizeram escola e músicos consagrados como Peter Green, Eric Clapton, Carlos Santana, Billy Gibbons se inspiraram ao som do rei do blues. A música de B. B. King incorporava vários elementos além do blues, podia-se notar pitadas de soul, jazz, gospel, big bands, Rythm & blues e até mesmo rock. Ele era eclético, um mestre da música contemporânea que marcou os séculos XX e XXI. Só nos resta agora escutar seus cds e assistir aos seus vídeos deixados para a posteridade. B. B. King sofria de diabates há alguns anos e sua idade avançada influenciou no agravamento da piora de sua saúde. Assim, Riley B. King faleceu dormindo em seu leito, no dia 14 de maio de 2015, aos 89 anos, nos deixando um grande legado, mas com muita dor, lamento e blues.

Por Eumário J. Teixeira 

30 de mar. de 2015

SUSO PEÑA E WALMIR AMARAL – A VERDADE POR TRÁS DO CAVALEIRO NEGRO


Há alguns anos decifrei um enigma que me atormentava desde minha infância. Estou atualmente com mais de meio século de existência, mas a verdade veio finalmente à tona para meu alívio. Desde criança eu curtia as revistas em quadrinhos que me ofereciam uma quantidade sem fim de heróis e super-heróis de diversas origens e formatos que preenchiam, digamos, o meu vazio existencial. Um dos heróis que mais me “fizeram a cabeça” foi o Cavaleiro Negro, um justiceiro que agia no território do Texas usando um lenço para encobrir o rosto, além de vestir roupas negras e uma capa vermelha (estilo Superman). Ele não voava (apesar da capa), mas tinha um cavalo branco que se chamava Satã que o acompanhava em suas aventuras. Como todo herói mascarado que se preze, o Cavaleiro Negro tinha sua identidade secreta, nas horas de “lazer” ele era o pacato Dr. Robledo que morava na cidade de Laredo. Entretanto, seu cavalo também assumia uma uma outra identidade, a de um pangaré que Dr. Robledo chamava de “Moleza”.

Uma versão clássica do Cavaleiro Negro desenhada por Juarez Odilon, e não por Walmir Amaral, como muitos pensam
Bem, além de curtir as aventuras dos meus heróis, eu também me interessava em saber quem as desenhava e as escrevia. Eu tinha o dom para desenho e aprendi a desenvolvê-lo justamente tentando reproduzir as figuras das revistas que eu colecionava. No caso do Cavaleiro Negro, eu tive dificuldade para indentificar de imediato o meu desenhista favorito dentre tantos outros que também desenharam o personagem.
As capas das revistas eram geralmente desenhadas pelo brasileiro Walmir Amaral nos anos de 1970.  Walmir chegou a desenhar algumas histórias do Cavaleiro Negro e assim aprendi a reconhecer seus traços agradáveis e perceber que ainda assim não eram tão atraentes como os do desenhista desconhecido que eu tanto admirava. Deixando claro que Walmir sempre foi um mestre dos quadrinhos para mim.
Outros desenhistas brasileiros como ele, foram subestimados e não tiveram o reconhecimento devido, apesar de uma quantidade extraordinária de trabalhos realizados durante mais de três décadas, como, por exemplo, o cultuado Eugenio Colonnese (italiano de origem, mas brasileiro por convicção) e o mineiro Mozart Couto (profissional desde 1979). Mas graças à internet que proporciona um acesso ilimitado de informações, comecei a pesquisar e visitar sites especializados nacionais e estrangeiros e achei a origem do personagem Cavaleiro Negro, seus principais desenhistas e sua saga aqui no Brasil.

Capas das revistas do Cavaleiro Negro no Brasil e Black Rider nos EUA
A Saga do Cavaleiro Negro – O personagem surgiu na revista All-Western Winners da Marvel Comics em 1948, nos Estados Unidos. Originariamente chamava-se Black Rider, mas ficou conhecido no Brasil como Cavaleiro Negro nos anos de 1960 e 1970 e, posteriormente (numa releitura do personagem), como Black Mask.
A identidade secreta de Black Rider (o original) era Matthew Masters, um fora-da-lei conhecido como Cactus Kid, que fora capturado e perdoado pelo governo com a condição de que abandonasse o crime e as armas, estudasse e se formasse em alguma profissão para viver uma vida pacata e produtiva. A escolha de Masters foi a Medicina. No Brasil, a identidade secreta de Black Rider era Doutor Heron Robledo, que vivia em Laredo e redondezas, no estado do Texas. Na versão americana, a cidade do Doutor Masters era Leadville. Doutor Robledo (ou Masters), era conhecido por ter aversão às armas e, portanto, considerado covarde pelos habitantes de Laredo (ou Leadville), mas em contrapartida, reconheciam-no como um excelente profissional médico.
A fama de covarde era um ótimo disfarce (além dos óculos) para Dr. Robledo agir como um justiceiro mascarado sem causar suspeitas. Ele usava um lenço escuro para encobrir o rosto, além das roupas e chapéu também negros.

Tiras do Cavaleiro Negro publicadas  no Brasil nos anos de 1950 e 1960
Seu “uniforme” de luta lembrava a outro herói pistoleiro muito conhecido da  TV e quadrinhos, o Durango Kid. A  diferença básica entre os dois é que o Cavaleiro Negro usava uma capa negra (que mais tarde se tornaria vermelha como a do Super-homem) e a identidade de Durango Kid era a de um valente Delegado Federal.
Ambos tinham um cavalo branco, o do Dr. Robledo chamava-se Moleza, mas quando seu dono se “transformava” em Black Rider ou Cavaleiro Negro, Moleza (Ichabod, na versão americana) deixava de ser o pangaré para se transformar no corcel fogoso chamado Satã. 

Durango Kid dando uma de Cavaleiro Negro no Brasil
É interessante saber que em determinada temporada, as aventuras do Durango Kid (mais tarde, publicadas pela EBAL) eram apresentadas como se fossem do personagem Black Rider (ou Cavaleiro Negro) no Brasil.
Black Rider fez um grande sucesso no Brasil de 1949 até 1952 na revista Gibi Mensal, publicada pela Rio Gráfica Editora, criado e desenhado pelo ilustrador norte-amercano Syd Shores.

Gringo (ou Ringo) do ilustrador espanhol Suso Peña
Surge Gringo para salvar o Cavaleiro Negro – A  Marvel teria parado com as histórias de Black Rider em meados dos anos de 1960 nos EUA, mas devido ao grande sucesso do personagem no Brasil, a Rio Gráfica Editora (RGE) resolveu improvisar e dar continuidade à revista.
A solução foi maquiar os quadrinhos de um personagem de bang-bang de origem espanhola, chamado Gringo (ou Ringo) conforme a editora publicadora. Assim, foi dado a alguns desenhistas brasileiros a incumbência  de retocarem Gringo, acrescentando-lhe chapéu, roupas e máscaras negras, além de escurecerem seus cabelos, pois o personagem original espanhol era loiro. Apesar das versões de Gringo retocadas, muitas aventuras inéditas do Cavaleiro Negro foram produzidas por artistas nacionais para saciar os fãs do personagem. Os principais artistas brasileiros que desenharam o Cavaleiro Negro foram Milton Sardella, Juarez Odilon, Gutemberg Monteiro e Walmir Amaral.

Exemplo 1 - Ringo retocado se transforma no Dr. Robledo (Cavaleiro Negro) no Brasil

Exemplo 2 - Gringo retocado por Walmir Amaral se transforma no Cavaleiro Negro, para o desconhecimento de Suso Peña, que está retratado por ele mesmo nessa tira cravando a placa do "end"
O autor original de Gringo (ou Ringo) era o ilustrador espanhol Suso Peña, um desenhista de quadrinhos reconhecido em seu país, que dentre outros personagens desenhou também Jeff Blake, o Homem de Pinkerton, que saía na Revista Kung, publicada pela EBAL, nos final dos anos de 1970.

O personagem Jeff Blake, o Homem de Pinkerton, que saiu no Brasil nas Revistas Kung Fu da EBAL nos anos de 1970, também foi desenhado por Suso Peña
Assim, finalmente descobri o nome do meu desenhista preferido de o Cavaleiro Negro, que era na verdade, o espanhol Suso Peña. Não sei se Peña teve conhecimento que seu personagem Gringo sofria retoques dos desenhistas brasileiros, de qualquer forma seu trabalho foi reconhecido por aqui, ao menos por mim.

Algumas capas da Revista Cavaleiro Negro desenhadas por Walmir Amaral que foram publicadas
no Brasil nas décadas de 1960 e 1970
O desenhista brasileiro que mais desenhou o Cavaleiro Negro (de minha preferência), seja retocando os desenhos de Suso Peña ou criando suas próprias estórias, foi Walmir Amaral. A maioria das capas das revistas do Cavaleiro Negro nos anos de 1970 foram desenhadas por Walmir, assim como as capas e mesmo algumas aventuras de outros personagens consagrados como Fantasma, Mandrake, O Vingador, Zorro (de capa e espada) e outros, todos pela RGE.

O mestre espanhol da ilustração,  Jesús de la Peña Santiago Rego
Suso Peña – Jesús de la Peña Santiago Rego, nasceu em Ribadeo en 02 de junho de 1941. Depois de servir o serviço militar no corpo de paraquedistas, trabalhou no chamado Grupo de la Floresta, uma equipe de ilustradores debutantes quem em 1967 instalou um estúdio num chalet de La Floresta, em Barcelona. O grupo era formado por Suso, Adolfo Usero, Ramón Torrents, Esteban Maroto, Luis García e Carlos Giménez. Suso compartilhou muitos trabalhos com o grupo de la Floresta e dando continuidade à sua carreira, desenhou para Sellecciones Ilustradas ; pela agência Josep Toutain teve seus trabalhos publicados na Alemanha; pela Editora editora Fleetway seus traços foram apreciados na Grã-Bretanha; e, em seguida, pela editora norte-americana Warren Publishing, desenhou para revistas especializadas em quadrinhos de terror. Nos anos de 1980, Suso abandonou as hqs para dedicar-se à fotografia, desenho gráfico e, nos anos de 1990, à realização de infografias e desenhos de páginas para a web.

Suso Peña em seu estúdio
Suso de la Peña faleceu em 02 de fevereiro de 2005, aos 64 anos, na sua cidade natal, Ribadeo. Em 4 de fevereiro de 2006, foi inaugurado um centro de exposição com seu nome no bairro de San Lázaro, em Ribadeo.

Cartaz celebrando os 10 anos da morte de Suso Peña
Dentre seus trabalhos mais famosos, se destacam: Cinco x Infinitus (em Delta 99, 1968); Safari en África (em Gran Pulgarcito, 1970); Gringo (em Gringo, 1970); La Cobra de Rajasthan/Aventuras en la Selva (em Trinca, 1971); La Saga de las Víctimas (em Dossier Negro, 1975); Jeff Blake, el Hombre de Pinkerton (em Kung Fu, 1977); e Wheeler (em Avui, 1983).

Walmir Amaral, a lenda viva dos quadrinhos nacionais
Walmir Amaral – O lendário desenhista brasileiro nasceu em 1939, no Méier, na cidade do Rio de Janeiro, em plena Segunda Guerra Mundial. Aos 15 anos já desenhava estórias em quadrinhos pornográficas para consumo próprio, já que (por ser menor) não podia adquirir as famosas revistinhas desenhadas por Zéfiro nas bancas, naquela época. Precoce em tudo, aos 17 anos, namorava com uma mulher mais velha que coincidentemente era secretária de um alto funcionário da Editora Rio-Gráfica (mais tarde, Editora Globo) nos anos de 1960. Ao ver seus desenhos, ela o indicou e ele logo foi contratado pela editora. Foram mais de 30 anos de sucesso desenhando histórias e capas para as mais diversas revistas. 
O Zorro desenhado por Walmir Amaral pela Editora Abril

Heróis dos quadrinhos que passaram pelos traços marcantes de Walmir Amaral: Cavaleiro Negro, Fantasma,  O Vingador, Cavaleiro Fantasma, Mandrake e Flecha Ligeira


Para citar alguns heróis em quadrinhos que passaram por seu traço inconfundível, podemos citar  o Cavaleiro Negro, Fantasma, Mandrake, Vingador, Cavaleiro Fantasma, Flecha Ligeira, etc. Walmir doou quase todo o seu acervo e originais para alguns fãs, para ele a era dourada das hqs já passou e não vê nenhum futuro promissor para os quadrinhos atualmente. Hoje em dia, Walmir produz material didático para CCAA, e também faz camisetas, banners e folhetos para blocos de carnaval. O mestre do desenho, Walmir Amaral, está atualmente com 76 anos.

O Fantasma numa versão caprichada para capa de Walmir Amaral
Walmir Amaral em foto recente

Por Eumário J. Teixeira

22 de fev. de 2015

PELA MPB DE QUALIDADE, POIS NÓS SOMOS O QUE ESCUTAMOS !


Estamos em 2015, um ano que promete ser difícil para a maioria dos brasileiros, graças à onda que está varrendo o mundo todo e que finalmente nos atingirá definitivamente como um tsunami avassalador. E o que essa onda nos traz? Ela nos traz mais corrupção, desemprego, fome, desespero, mediocridade, valores  descartáveis, banalidade, anarquia, violência gratuita, falta de fé e todo o que destrói os valores primordiais que compõem a cultura e identidade de um país soberano, independente e saudável. O Brasil se mostrou dividido nas últimas eleições, não que a oposição derrotada fosse fazer milagres, mas se não tínhamos opção, dos males o menor. Agora não tem volta, ainda sem liderança, não temos direção e pelo que se vê, tá tudo dominado, observem a Argentina e a Venezuela. Por aqui a mídia também está vendida e controlada, TV, rádios e jornais, todos manipulados. A qualidade da programação dedicada à distração e informação dos cidadãos são de péssima qualidade e, eu me pergunto, onde estão os grandes artistas nacionais que tanto se manifestaram no chamado regime militar? Sumiram da mídia porque não lhes dão espaço ou simplesmente os mesmos preferem descansar em berço esplêndido? De qualquer forma, estamos carentes de bons políticos, escritores, intelectuais  e cabeças pensantes em geral. Até o futebol foi afetado, como esquecer da vergonha da seleção (de mercenários chorões) no “mineiraço”? Há pouco estava assistindo uns antigos vídeos de Zé Keti  e Cartola na TV Cultura...meu Deus, que simplicidade e sinceridade, que beleza, a música daqueles artistas do saudoso e verdadeiro samba. O samba com poesia, melodia, que saudades! Podem me chamar de velho saudosista, mas uma coisa puxa a outra e continuei com o garimpo e capturei na internet um show do compositor, músico e cantor mineiro, Lô Borges...parece surreal, algo que não cabe mais nesse mundo. Pura genialidade é o som  de Lô Borges e sem falar do mito Beto Guedes, Milton Nascimento, etc. Qual o espaço que esses caras tem hoje em dia? Tudo bem que estão velhinhos, sem o mesmo vigor e voz, mas, quem pode superá-los hoje em dia, em termos de conteúdo e qualidade de obra? Mas, aí você me pergunta: quem é que está se lixando para a qualidade e conteúdo de alguma coisa? Eu respondo: Se o mundo e a realidade se resume no que vemos na TV, a resposta é ninguém! 

Os incríveis mineirinhos: Lô Borges e Beto Guedes
Eu me lembro que comecei a perceber um certo movimento conspiratório da mídia no início dos anos de 1990, quando começaram a diminuir o espaço de artistas clássicos da MPB para supostos artistas populares com seus ritmos contagiantes. E dá-lhe lambada, axé, carimbó; e mais tarde as primeiras duplas sertanejas, sertanejo universitário, berranejo, uma praga inesgotável; a seguir, pagode, pagode universitário (?!), funk da lacraia, arrocha, e logo não se podia diferenciar o que era pagode, lambada, arrocha, um verdadeiro caos que agora se apresenta como música popular brasileira; pois não é isso o que se toca nas rádios e TVs? Se nós somos o que comemos, então também somos o que escutamos. E o diagnóstico não é dos bons. Toda essa situação e expectativa que vivemos, está refletida em nossa cultura, sempre foi assim, é como um sinal nos céus, aprenda ler os sinais e ele te mostrará se vai chover, fazer sol, gear, etc. Os sinais atualmente indicam tempestade e escuridão. Se os jovens de hoje procurarem reagir, parar para pensar, racionar, escutar e observar em sua volta o que está acontecendo vai perceber que as coisas podem melhorar se eles próprios cavarem sem preconceitos as coisas boas do passado, como a boa música, a boa literatura, os bons filmes, a boa política, os bons modos, daí vão ter um parâmetro do que estão sendo obrigados a consumir hoje em dia sem questionamentos forçadamente pela mídia global corruptora e maléfica. A molecada perdeu o norte, estão à deriva e mal perceberam ainda que estão sendo tocados como uma boiada para o matadouro. Onde está Chico Buarque de Holanda, um comunista assumido, que tanto compôs pérolas da MPB, o que ele está achando do cenário político atual, será que está satisfeito?; Caetano Veloso já manifestou sua decepção e um certo arrependimento; Milton Nascimento não se manifesta; Belchior se exilou; não ouvimos falar mais de Ednardo; Fagner continua lutando bravamente ao lado de Zé Ramalho para manter as raízes nordestinas; Luiz Gonzaga e Dominguinhos agora só saudades; Cartola, Zé Keti, Jamelão, lendas inesquecíveis do verdadeiro samba que Paulinho da Viola discretamente mantém vivo; Nelson Gonçalves e Altemar Dutra, vozes imortais; e Beto Guedes e Lô Borges, mineiros surreais, gênios subestimados até hoje. Apesar da tendências políticas duvidosas de um ou outro desses artistas citados, não há como negar que eles estão fazendo muita falta nessa atual conjectura. Os que estão vivos poderiam retornar unidos num mutirão de resgate cultural da boa e verdadeira MPB, quem sabe, ainda há esperanças para uma reeducação nacional. Agora, acima desse movimento, talvez utópico, tem que estar o Deus Criador, porque só nos resta um milagre!

Capas de discos (hoje cds) clássicos e imperdíveis da verdadeira MPB
Ops: Eis uma lista de pesquisa para os desavisados ou mal informados. Procurem na Internet textos biográficos e vídeos de shows, downloads de cds ou documentários sobre esses caras, músicos, compositores e cantores nacionais, alguns já mortos outros ainda resistindo, do nosso Brasil tão maltratado ultimamente em termos culturais:

- Abel Ferreira – Músico clarinetista e compositor
- Alceu Valença – Cantor e compositor
- Altamiro Carrilho – Músico flautista e compositor
- Banda de Pau e Corda – Banda regional de vocais elaborados e instrumentais sensíveis e apurados


- Banda de Pífanos de Caruaru – O nome já diz tudo, imperdível
- Belchior – Cantor e excelente compositor
- Beto Guedes – Cantor, multi-instrumentista, compositor de rara sensibilidade
- Bola Sete – Exímio violonista
- Caetano Veloso – Cantor e compositor respeitado por gerações distintas
- Chico Buarque – Cantor e compositor influente politicamente
- Cartola - Cantor, compositor, músico, poeta, gênio
- Clube da Esquina – Grupo formado em Minas Gerais por músicos como Milton Nascimento e Lô Borges


- Conjunto Época de Ouro – Conjunto instrumental da melhor qualidade que teve em seu elenco Jacob do Bandolim, Déo Rian, Dino, etc.
- Demônios da Garoa – Representantes legítimos do samba despretencioso e divertido de São Paulo
- Déo Rian – Excelente bandolinista, participou do Conjunto Época de Ouro
- Doces Bárbaros – Grupo formado por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Gosta e Maria Betânia
- Fagner – Cantor e compositor de inúmeros sucessos
- Gal Costa – Excelente cantora de repertório rico
- Gilberto Gil – Cantor, músico e compositor de muita influência
- Jacob do Bandolim – Músico dos mais respeitados pelos colegas
- Jamelão – Cantor de samba clássico de muitos sucessos


- João do Vale – Cantor eclético e muito respeitado pelos colegas
- Lô Borges – Cantor, compositor e multi-instrumentista de rara criatividade
- Luiz Gonzaga – Simplesmente o rei do baião, do legítimo forró, arrasta pé...
- Maria Betânia – Excelente cantora de voz incomum
- Milton Nascimento – Cantor, compositor e instrumentista reconhecido mundialmente
- Moraes Moreira – Cantor e compositor de frevo e músicas típicas


- Nelson Cavaquinho – Instrumentista dos mais respeitados da velha guarda
- Nelson Gonçalves – Excelente cantor e intérprete de voz grave rara
- Nelson Sargento – Sambista tradicional, compositor e exímio violonista
- Paulinho da Viola – Mestre, cantor, compositor, multi-instrumentista, sem palavras
- Pixinguinha – Multi-instrumentista de chorinho e jazz, consagrado aqui e no exterior
- 14 Bis – Banda pop com vocais elaborados e instrumental afiado


- Quinteto Violado – Banda regional de vocais elaborados e instrumentais de primeira
- Tim Maia – O rei da música soul brasileira
- Waldir Azevedo – Músico, compositor, rei do chorinho, inigualável
- Zé Ramalho – Cantor, violonista, compositor e criador de um estilo que une o rock ao forró
- Zé Keti – Cantor e intérprete, representante dos mais nobres da velha guarda do samba tradicional

Tem muito mais, é claro, os caras da Bossa Nova como Tom Jobim e Nara Leão, a Jovem Guarda de Roberto e Erasmo, vários ficaram de fora, mas não dá para listar todos, seria covardia.

Por Eumário J. Teixeira.

GARY CLARK JR., A GRATA PROMESSA DE UMA VIDA LONGA AO BLUES ROCK


Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan podem finalmente descansar em paz e esperar pelo julgamento final; e Eric Clapton, se quiser, pode se aposentar com o sentimento de dever cumprido e aguardar pela hora derradeira, porque o blues-rock  está mais vivo do que nunca.  O papel de revitalização que foi dado ao gênero por Stevie Ray Vaughan nos anos de 1980, agora foi transferido para um texano, de Austin, um afro-americano chamado Gary Clark Jr. O surgimento de Gary Clark Jr. é ainda mais relevante se considerarmos também o recém falecimento de outro guitarrista veterano do Texas, o inesquecível Johnny Winter.
O mundo pode até entrar em colapso em 2015, mas é certo mesmo assim o guitarrista, vocalista e compositor, Gary Clark Jr., vai detonar nos palcos devolvendo a esperança para os milhões de fãs do bom e velho, mas renovado blues-rock texano.  O cara tem apenas 31 anos e só está no começo...e o hit "When My train Pulls In" tá detonando no mundo inteiro.
Que Deus o proteja e o mantenha fiel a esse gênero musical que resiste bravamente às tempestades, indo contra toda essa onda descartável e podre que se escuta mundo afora.
Vida longa à Gary Clark Jr. e ao  seu blues, recheado de rock & roll e soul!!!


Capa do cd Blak and Blu

Capa do cd Live
Corram atrás dos cds: Blak and Blu, de 2012 e Live, de 2014. Posteriormente postarei uma pequena biografia de Gary Clark Jr.

Por Eumário J. Teixeira