17 de mar. de 2019

DICK DALE, THE MR. ELIMINATOR, MORREU!



Morreu aos 81 anos o selvagem guitarrista canhoto, Dick Dale, considerado o pai da surf music. O músico morreu ontem à noite, 16/03/2019 (sábado). A causa da morte ainda não foi revelada.

Dick Dale curtindo uma motocicleta estilizada nos anos de 1960.

O jovem herói da surf music.

 
Nascido Richard Anthony Monsour em Boston, nos Estados Unidos, 04 de maio de 1937, o músico era conhecido como "king of the surf guitar", nome que batizou seu segundo disco, lançado em 1963.

Dick Dale, canhoto, e feroz no trato com sua Stratocaster.

Ao contrário dos Beach Boys que não frequentavam verdadeiramente as praias,
Dick Dale parecia viver exclusivamente para o surf e sua guitarra.
Considerado por alguns como o "pai do Heavy Metal", Dick Dale fez fama através da fúria de sua guitarra Fender Stratocaster dourada conhecida como "the beast".

O velho guitarrista e sua lendária guitarra dourada, conhecida como The Beast.

O mestre da surf music, na verdade, surf sound.
Dizem os experts, que Dick Dale foi o princípio de tudo, antes dele não havia bandas como The Surfaris, Jean and Dean e The Beach Boys. E ele não fazia apenas "surf music", ele criou o "surf sound".

O ícone imortal da surf music, surf rock e surf sound.
Dick Dale ficou conhecido por misturar as guitarras com a sonoridade do mar, inspirado pelo surfe do sul da Califórnia, para onde se mudou no final dos anos 50.

Bons tempos com os Del-Tones.
Entre seus maiores sucessos estão "Ooh-Whee Marie"; "StopTeasing"; "Jesse Pearl"; "Let's Go Trippin'"; "Jungle Pearl"; "Misirlou"; "Secret Surfin Spot"; "The Wedge"; "Mr. Eliminator", "Pipeline", entre outras.

Capas de alguns discos e álbuns de Dick Dale.
Seus principais álbuns são: Surfer's Choice (1962); King of the Surf Guitar (1963); Checkered Flag (1963); Mr. Eliminator (1964); Summer Surf (1964); Tribal Thunder (1993); Unknown Territory (1994); e Spacial Disorientation (2001).

Dick Dale and his Del-Tones
Se apresentando com sua banda Del-Tones para as garotas e surfistas na praia, Dale criou o gênero conhecido hoje como "surf music"!!!

Unknown Territory (1994).

Spacial Disorientation (2001)

Eumário J.Teixeira

3 de mar. de 2019

PAUL GULACY E BRUCE LEE, QUADRINHOS E KUNG FU



Paul Gulacy aparece no mercado dos quadrinhos praticamente um ano após à morte de Bruce Lee ocorrida em 20 julho de 1973.  Em 1974 os filmes de artes marciais já haviam conquistado o mercado norte-americano, principalmente após o sucesso do grande e principal filme do gênero, “Operação Dragão” (Enter the Dragon) com Bruce Lee, ter sido lançado apenas duas semanas após a morte repentina de seu principal astro, aos 32 anos de idade. Isso deve ter impulsionado ainda mais o mito em torno do artista marcial que teve uma meteórica e explosiva trajetória no cinema, despertando toda mídia ocidental para as artes marciais orientais, atingindo paralelamente o mercado cada vez mais quente das histórias em quadrinhos.  Mas quem é Paul Gulacy e qual seria a sua relação com Bruce Lee? É o que veremos a seguir.

A lenda viva dos quadrinhos, Paul Gulacy.
Paul Gulacy, hoje um consagrado e cultuado desenhista de histórias em quadrinhos, nasceu em Youngstown, Ohio, em 15 de agosto de 1953. Atualmente ele tem 65 anos de idade. Sua relação com as gibis ou revistas em quadrinhos se inicia na infância. Sua mãe trabalhava no período da tarde numa loja que vendia revistas diversas e gibis e, de vez em quando, ela levava algumas edições de “O Pimentinha” e “Minduim” com os personagens Charlie Brown e Snoopy, que deixavam o jovem Paul fascinado com aquelas figuras divertidas.

Uma forte influência para Gulacy, o criador de Pimentinha, Hank Ketcham.
Suas principais influências nos quadrinhos era  com qualquer coisa que tivesse dinossauros, como “Turok: Son of Stone”; quadrinhos baseados na série de suspense e terror da TV , “Além da Imaginação”; e gibis de guerra desenhadas pelo mestre Joe Kubert e seus personagens nas edições de “Sargento Rock” e “Ás Inimigo”.

As belíssimas capas de Turok: Son of Stone, outra forte influência para Gulacy.

Twilight Zone (Além da Imaginação), fez a cabeça de Paul Gulacy.

O mestre Joe Kubert que desenhou Sargento Rock e Tarzan, foi também
uma forte inspiração para o jovem desenhista Paul Gulacy.



Ás Inimigo (Enemy Ace) desenhado por Joe Kubert, outra forte influência
para Paul Gulacy.
Paul só iria se interessar pelos super-heróis  da DC Comics e Marvel, mais tarde. Um fato interessante é que em relação à Marvel, é que ele inicialmente não entendia os desenhos do cultuado e ovacionado mestre, Jack Kirby, que desenhou “O Poderoso Thor” e o “Capitão América”; Paul não o considerava tão bom desenhista quanto os outros, tais como John Romita, Jim Mooney, George Tuska e Gil Kane, por exemplo. Parece que Paul não “compreendia” a noção de perspectiva de Kirby e seus quadros confusos e surreais.

O primeiro herói Marvel a despertar o interesse de Paul Gulacy, foi Nick Fury,
desenhado pelo grande Jim Steranko.

Os grandes artistas da Marvel, desenhos soberbos e inesquecíveis.

A princípio, Paul Gulacy rejeitava os traços desproporcionais do mestre Jack Kirby,
consagrado pelos seus trabalhos em Thor e Capitão América.
Outra forte influência para Paul Gulacy, foi a série de filmes de espionagem com James Bond, principalmente os estrelados por Sean Connery na década de 1960.  E finalmente, em relação aos super-heróis, ele teria sido despertado pelo personagem Nick Fury (o famoso comandante da SHIELD) que era desenhado por Jim Steranko.  Outros desenhistas que o influenciaram fortemente foram Richard Corben (desenhista consagrado nas edições da revista Heavy Metal) e o já citado, Joe Kubert, consagrado pela sua versão ágil e elegante de Tarzan, o rei das Selvas.

Paul Gulacy cultuava os filmes de espionagens, principalmente
os de 007 com Sean Connery,  que teve sua a versão para os quadrinhos
pelo mestre do desenho.

Richard Corben, consagrado pelos seus trabalhos na revista Heavy Metal.

Desenhos de Richard Cobern para Heavy Metal.
Paul Gulacy estudou no Instituto de Arte de Pittsburgh (Art Institute of Pittsburgh). Lá ele teria sido apresentado à Dan Adkins, desenhista profissional da Marvel, por outro artista residente, Val Mayerik. A partir desse encontro, Gulacy trabalharia como assistente de Adkins.
E foi Adkins que o indicou para o seu primeiro trabalho “solo” na Marvel desenhando uma história curta de “Morbius, o Vampiro-Vivo”, em 1974.

Paul Gulacy teve o privilégio de ser assistente de Dan Adkins.


Ainda em 1974, o tema “Kung Fu” já era uma mina de ouro e a Marvel foi na onda lançando o personagem “Shang Chi, O Mestre do Kung Fu”, criado por Sax Rohmer, com roteiro de Steve Englehart, desenhos de Jim Starlin e arte-final de Al Migron, para a revista mensal Kung Fu, que foi lançada também no Brasil.  Essa equipe trabalhou apenas nas duas primeiras edições de Kung Fu, e com a saída de Jim Starlin, Paul Gulacy foi chamado para substituí-lo ainda contando com a arte final de Al Migron. Para o roteiro chamaram o escritor Doug Moench, que fez uma parceria de sucesso com Gulacy até os dias de hoje.

O escritor e desenhista do personagem Shang Shi, da esquerda para a direita, Steve Englehart e Jim Starlin.

Desenhos de Jim Starlin, arte final de Al Migron para Shang Chi.


O estilo realista de Gulacy se adequou perfeitamente ao personagem, que somado às histórias com elementos de filmes de artes marciais, espionagem e literatura “pulp”* de Moench, alavancou de vez o personagem Shang Chi.  Infelizmente para nós brasileiros, os desenhos de Gulacy só nos foram apresentados em apenas uma edição da revista Kung Fu, na década de 1970. Anos depois, arte de Gulacy reapareceria nas bancas em uma revista de formato menor, colorida, mas com uma impressão de pouca qualidade, intitulada Mestre do Kung Fu, pela Editora Bloch. Mas ainda assim era melhor que nada.


O escritor Doug Moench, parceiro decisivo para Gulacy.

A versão para Shang Chi de Paul Gulacy, para
a revista Kung Fu em 1974.

(*) Literatura Pulp – Histórias desenhadas em papéis baratos (comparáveis a papel de jornal), inicialmente em série de capítulos semanais, é considerada a antecessora dos quadrinhos de super-heróis. Com capas chamativas, as histórias geralmente eram absurdas, apelativas e exploravam  temas eróticos, de suspense, mistério, terror e ficção científica.

Literatura Pulp, uma mistura de erotismo, suspense, ficção científica.
Enter the Dragon - Um detalhe começou a chamar a atenção na nova versão de Shang Chi desenhada por Gulacy, era que os traços do personagem começaram a lembrar Bruce Lee, no olhar, posturas e em detalhes do físico e musculatura quando expostos. Isso fortaleceu ainda mais o personagem perante os fãs. Mas essa inovação não agradaria a todos. Linda Lee, viúva de Bruce Lee, pediu pessoalmente à Stan Lee, diretor criador da Marvel Comics,  para que Paul Gulacy parasse de retratar o rosto de Bruce Lee para o personagem Shang Chi. É Sabido que a solicitação de Linda não foi atendida, pelo menos de imediato.  


O mestre divulgando seus trabalhos.

A arte de Paul Gulacy para o Mestre do Kung Fu.



Ora, Paul Gulacy tinha o hábito de retratar alguns artistas famosos do cinema em suas histórias, numa forma de homenagem e reconhecimento, mas parece que nem todos entendiam assim. Podemos observar em sua vasta obra os rostos de Humphrey Bogart, James Dean, Elvis Presley, Marlene Dietrich, James Coburn, Sean Connery, Jimi Hendrix, dentre outros, inclusive o rosto próprio Paul Gulacy.

Linda Lee não gostou de ver seu marido retratado nos quadrinhos e se queixou à Stan Lee.

Elvis por Paul Gulacy.

Marlon Brando retratado numa aventura do Mestre do Kung Fu.

Shang Chi ou o próprio Paul Gulacy?

Além de Shang Chi, talvez o mais famoso de seus trabalhos, Paul Gulacy desenhou outros personagens interessantes e até polêmicos como “Sabre” (que lembrava Jimi Hendrix); “Slash Maraud”; “Batman”; “The Rook” ; “Black Widow”; “James Bond” e “Six From Sirius”.
Apesar de Paul Gulacy ser mais conhecido por seu trabalho no personagem da Marvel, Mestre do Kung Fu, nos anos de 1970 e posteriormente em 2002, nos anos de 1990 ele obteve muito sucesso com sua versão para Batman, na DC.

A belíssima e sensual agente Black Widow.

Batman na versão de Paul Gulacy.



Como Jim Steranko, uma de suas principais referências no desenho, Paul Gulacy  foi pioneiro no estilo cinematográfico e super realista para os quadrinhos, se baseando principalmente em filmes de espiões e de artes marciais mesclados à referências fotográficas de artistas de Hollywood e do rock, para compor  seus personagens. Sua parceria produtiva com o escritor Doug Moench gerou outros trabalhos  bem sucedidos como James Bond 007;  Six From Sirius I e II (1984 e 1986); e Slash Maraud (1987 e 1988).

Six from Sirius

The Rook.

Slash Maraud. Lembra ou não Paul Gulacy?

Will Eisner não foi o primeiro a lançar um Graphic Novel, na verdade
Paul Gulacy lançaria  Sabre: Slow Fade of an Endangered Species,
dois meses antes.

O personagem Sabre, lembrava o guitarrista Jim Hendrix. Foi uma criação polêmica
de Gulacy, pois remetia aos direitos civis dos negros e à luta contra o racismo.
Paul Gulacy foi pioneiro em desenhar a primeira novela gráfica dos Estados Unidos, Sabre: Slow Fade of an Endangered Species (Sabre: Desvanecimento Lento de uma Espécie em Extinção), escrita por Don McGregor, em 1978. Publicada em agosto de 1978, dois meses antes da famosa obra-prima de Will Eisner, Um Contrato com Deus (A Contract With God).

Paul e sua filha Paige.
Sobre sua vida pessoal, se sabe que Paul Gulacy residia em Portland, Oregon, com sua esposa Valerie e a filha do casal, Paige, desde 1989. Depois de divorciar-se de sua primeira esposa, Gulacy casou-se com Nanci, e estão juntos desde 2014.

Na obra de Paul Gulacy, se mesclava artes marciais e espionagem.

Mestre do Kung Fu.

Bruce Lee por Paul Gulacy.

Shang Chi aplicando um chute lateral voador e Bruce Lee fazendo
o mesmo em o Dragão Chinês (The Big Boss - 1971).
A performance carismática e dinâmica de Bruce Lee nas telas do cinema despertou a atenção e a criatividade de Paul Gulacy que soube explorar e transferir para os quadrinhos toda aquela estética, inédita até então nos filmes de artes marciais, soberbamente registrada no filme Operação Dragão (Enter the Dragon – 1973). Assim Gulacy construiu a sua versão para Shang Chi, Mestre do Kung Fu. O personagem de Bruce Lee em Operação Dragão era um misto de espião, filósofo e mestre de artes marciais que exibia o seu físico exuberante e super treinado através de seus movimentos graciosos, rápidos, poderosos e mortais. Todos esses elementos contribuíram para a construção de Shang Chi, na versão insuperável de Paul Gulacy.

A performance de Bruce Lee nas telas foi decisiva para inspirar Gulacy
na sua concepção de Mestre do Kung Fu.

O mestre trabalhando...

Bruce Lee, o mestre do Kung Fu.

Por Eumário J. Teixeira.