3 de ago. de 2013

THE LONE RANGER, O CAVALEIRO SOLITÁRIO


A origem na Rádio:

Earl Graser, autor do famoso "Ai-ou Silver, Avante!"
- The Lone Ranger (O Cavaleiro Solitário) foi um personagem criado para um programa da rádio WXYZ de Detroit (Michigan, EUA) em 1933, por George W. Trendle (1884-1972) e desenvolvido pelo escritor Fran Striker.
- George Seaton foi o primeiro ator da rádio a representar The Lone Ranger, de janeiro a abril de 1933.
- Jack Deeds foi o segundo intérprete para The Lone Ranger, de abril de 1933 a abril de 1941.
- Earle Graser (1909/1941) seria o terceiro a emprestar sua voz para dar vida a The Lone Ranger. O famoso grito de The Lone Ranger “Hi-yo Silver, Away!” foi desenvolvido e imortalizado por Grazer. Mesmo após a sua morte, o famoso grito gravado foi usado tanto nos episódios radiofõnicos quanto na famosa série de TV. Greaser deu voz ao Cavaleiro Solitário de 1933 a 1941. Ele nunca perdeu uma transmissão ao vivo e apesar de apresentar um outro programa, poucos sabiam que era de Graser a voz do Cavaleiro Solitário. Em 08 de abril de 1941, enquanto se dirigia para a rádio para mais um dia de trabalho, Graser sofreu um acidente de trânsito fatal aos 32 anos. 
Brace Beemer, voz e corpo de The Lone Ranger
- Brace Beemer (1902/1965), foi o mais famoso dos atores de rádio a interpretar The Lone Ranger. Antes de assumir a vaga deixada por Earle Graser, Beemer (que já trabalhava na rádio WXYZ) aparecia em público caracterizado de The Lone Ranger para promover o personagem.  Beemer era de boa estatura, tinha porte atlético e sabia cavalgar, praticou regularmente o tiro e tinha boa mira.  Graser, ao contrário, mesmo fazendo a voz do Cavaleiro Solitário, não tinha um físico compatível com o personagem, pois era baixinho e fora de forma, jamais se aproximou de um cavalo e não tinha dado mais  que uns poucos tiros em toda a sua vida. A performance de Beemer como o herói mascarado foi a que teve mais longevidade, de abril de 1941 a 03 setembro de 1954, data do último episódio das aventuras do Cavaleiro Solitário na WXYZ. Após o encerramento definitivo do programa, Beemer emprestou a famosa voz de The Lone Ranger para eventos e propagandas diversas, como para a venda de automóveis. Se o grito “Ai-ôu Silver, avante!” imortalizou Graser, a performance marcante de Brace Beemer marcou toda uma geração de ouvintes dos rádios ligados por toda a América nas décadas de 1940 e 1950, que identificavam sua voz com a do Cavaleiro Solitário.
Brace Beemer e John Todd (calvo e de óculos) em plena transmissão da WXYZ
- John Todd (1877/1957) foi o ator que deu vida à Tonto, o companheiro fiel do Cavaleiro Solitário. Todd interpretou o personagem de 1933 a 1954. Inicialmente ao lado de Earle Graser, para finalmente encerrar as aventuras do Cavaleiro Solitário e Tonto na companhia de Brace Beemer no último episódio transmitido pelo rádio em 1954. John Todd viveu até os 80 anos.

A lenda renasce nas telas dos cinemas:

Lee Powell e Victor Daniels - O Cavaleiro Solitário e Tonto
- Lee Powell (Lee Berrian Powell - 1908/1944) foi o primeiro ator da telona  a interpretar The Lone Ranger. O tele-seriado “The Lone Ranger” foi lançado em 1938 nos cinemas dos EUA. Lee Powell morreu em circunstâncias não totalmente esclarecidas quando servia à Marinha norte-americana nas ilhas do pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial. A informação oficial foi que ele teria ingerido bebida alcoólica envenenada. Nesta versão de 1938, o rosto e indentidade do Cavaleiro Solitário só são revelados nos últimos capítulos. O ator Lee Powell finalmente tira sua máscara adaptada a uma espécie de véu que cobria todo o seu rosto, revelando assim ao público qual dos seis atores teria interpretado o Cavaleiro Solitário durante todo o seriado. 
- Chief Thundercloud (Victor Daniels – 1899/1955) foi o primeiro ator da telona a interpretar  Tonto, o fiel companheiro índio do Cavaleiro Solitário, inicialmente interpretado por Lee Powell. Victor Daniels tinha realmente sangue índio da tribo cherokee ou muskogee. Daniels também interpretou o personagem Tonto ao lado de Robert Livingston na segunda temporada de The Lone Ranger.
Bob Livingston, o segundo a encarnar The Lone Ranger
- Robert (Bob) Livingston (Robert Edward Randall – 1904-1988) foi o segundo ator da telona a interpretar The Lone Ranger. Ele substituiu Powell em 1939 noutro tele-seriado intitulado “The Lone Ranger Rides Again”.


O Cavaleiro Solitário invade as Televisões da América
Clayton Moore e Jay Silverheels, inesquecíveis na série de TV
- Clayton Moore (Jack Clayton Moore – 1914/1999) foi o mais famoso dos atores a interpretar The Lone Ranger. Ele protagonizou um inesquecível seriado de TV (de 1949 a 1951 e de 1955 a 1957)  e também dois longas para o cinema representando o herói mascarado ao lado de Jay Silverheels: “The Lone Ranger” (1956) e “The Lone Ranger and the Lost City of Gold” (1958).
John Hart substituiu Moore por dois anos
- John Hart (1917-2009), foi o segundo ator a interpretar The Lone Ranger para um seriado de TV. Ele substituiu Moore entre 1952 a 1954, enquanto este supostamente se afastou para negociar a renovação de seu contrato.
- Jay Silverheels (Harold J. Smith – 1912/1980), foi o primeiro e último ator a interpretar Tonto, o fiel companheiro índio de The Lone Ranger para o seriado de TV. Silverheels trabalhou ao lado de Moore e Hart, nas duas fases de The Lone Ranger entre 1949 a 1957. Como Victor Daniels, o primeiro a interpretar Tonto no cinema, Silverheels também tinha sangue índio, dos mohawk canadenses.
- A música tema da série de TV The Lone Ranger com Clayton Moore e Jay Silverheels ficou marcada na memória de quem curtiu as aventuras do Cavaleiro Solitário; principalmente a parte final extraída da obra “William Tell Overture” de Giocchino Rossini, adaptada e conduzida por Daniel Pérez Castaneda para a famosa abertura da série.

Versões modernas de The Lone Ranger:
 
The Legend of The Lone Ranger,  1981. Razoável.
- O filme para as telonas “The Legend of The Lone Ranger” de 1981, foi estrelado por CLinton Spilbury que interpretou The Lone Ranger, e Michael Horse encarnou Tonto. O filme não foi bem aceito porque foi contra, em muitos detalhes, a verdadeira origem do personagem. Além disso, Clinton Spilbury não convenceu como The Lone Ranger.

The Lone Ranger, 2003. Um fracasso.
- O filme para a TV  “The Lone Ranger” de 2003, foi estrelado por Chad Michael Murray como The Lone Ranger e Nathaniel Arcand como Tonto. Outra Tentativa fracassada de adaptar a história do Cavaleiro Solitário, fazendo dele um rancheiro mascarado. Acabou arquivado e esquecido.

The Lone Ranger, 2013. Não decepciona.
- O filme para o cinema “The Lone Ranger” de 2013, foi a última versão para o Cavaleiro Solitário, estrelado por Armie Hammer como The Lone Ranger e o consagrado ator Johnny Depp como Tonto. Alguns aprovaram, mas a maioria saudosista e fiel ao original ficou decepcionada, já que a versão tente mais para a comédia  e há um certo abuso de efeito especiais.  Fica uma sensação de que o personagem do Cavaleiro Solitário fica em segundo plano, pois a versão de Tonto de Johnny Depp rouba a cena.

Zorro vs. Cavaleiro Solitário
O Cavaleiro Solitário e o Zorro no Brasil

No Brasil o seriado The Lone Ranger estrelado por Clyaton Moore e Jay Silverheels foi exibido na TV em prêto e branco a partir da década de 1960 com reprises nas décadas de 1970. A TV Tupi (já extinta) foi a primeira a exibir o seriado com o nome errôneo de “Zorro”, da mesma forma nas revistas em quadrinhos lançadas pela Editora Brasil-América (Ebal) onde The Lone Ranger ou o Cavaleiro Solitário era apresentado como Zorro. Na Verdade o Zorro (raposa em espanhol) seria originariamente o herói mexicano mascarado de capa e espada, que montava um alazão negro chamado Tornado e era acessorado por um fiel escudeiro chamado Bernardo. Zorro lutava pela independência do México e contra o exército local corrompido pelos colonizadores espanhóis. O herói mexicano ainda tinha como um inimigo trapalhão, o gorducho Sargento Garcia. Nada a ver com o Cavaleiro Solitário, que tem suas aventuras passadas no Texas já anexado ao território norte-americano várias décadas após as aventuras do Zorro de origem mexicana. Alguns traduziram “Ranger” como “Guarda Florestal”, mas na verdade o termo ranger está mais “patrulheiro” ou “vigia”. Estes homens da lei vigiavam as fronteiras do Texas com o México, uma rota muito explorada pelos diversos contrabandistas de armas e bebida; bandidos em fuga; ladrões de gado e cavalos; e malfeitores que se refugiavam no território mexicano. Os rangers do Texas realmente existiram, era uma força respeitada da polícia de fronteira composta de homens capacitados e treinados para a função de patrulhamento e perseguição aos fora-da-lei.

The Lone Ranger nos Quadrinhos

The Lone Ranger teve suas primeira tiras de quadrinhos para o jornal nos EUA publicadas a partir de 1938 pela King Features Syndicate, desenhadas inicialmente por Ed Kressy
 
Desenhos de Eddy Kressy
No ano seguinte o imortal Charles Flanders (1907/1973) definiu para a posteridade os traços que caracterizariam o Cavaleiro Solitário e seu amigo Tonto. 
 
Desenhos de Charles Flanders
Após a aposentaria de Flanders em 1971, surge Tom Gill (1913/1992) que definiu o personagem mascarado com traços mais refinados e precisos, auxiliado de vez em quando por arte-finalistas,  destacando-se em seu trabalho além do sombreamento e detalhismos nas paisagens, o visual de um Cavaleiro Solitário elegante e de postura nobre. 
 
Desenhos de Tom Gill
No Brasil os trabalhos de Flanders e Gill foram lançados em revistas em quadrinhos mensais pela EBAL em edições coloridas e em prêto e branco com o título equivocado de “Zorro”, até o final da década de 1970. No início da década de 1980, Russ Heath apresenta o Cavaleiro Solitário com o figurino do filme de 1981. No início da década de 2000 Timothy Truman ilustra The Lone Ranger de uma forma bastante inovadora. Em 2006,  John Cassaday apresenta o Cavaleiro Solitário com uma  áurea mais sombria.

Capas inesquecíveis dos quadrinhos  de The Lone Ranger

Um Resumo da História do Cavaleiro Solitário

O Capitão Daniel Reid dos Rangers do Texas, comandava seu irmão John Reid (The Lone Ranger)  e mais quatro patrulheiros numa perseguição ao bando de Butch Cavendish que aterrorizavam o território. Os rangers seguiam os rastros dos bandidos guiados por um guia traiçoeiro que os levou a uma emboscada fatal num desfiladeiro. Em um número superior aos dos guardas rurais, o bando de Cavendish ocultos por um  paredão de rochas atiraram para matar. Todos os rangers  foram mortos, menos um, justamente o irmão mais novo do Capitão Reid, que se tornaria The Lone Ranger (o ranger solitário). John Reid foi  achado pouco tempo após o massacre seriamente ferido pelo índio (comanche ou apache) chamado Tonto.  Ele e seu cavalo malhado, scout (escoteiro), foram atraídos pelo vôo dos abutres. Tonto logo teria reconhecido o ranger sobrevivente, já que este teria salvo a sua vida em sua juventude, por ocasião de um ataque à sua aldeia.
Tonto o conhecia pelo nome indígena Ke-Mosah-Bee, originado de um dialeto provavelmente comanche ou apache, que significava “olheiro fiel” (trusty scout) ou “amigo de confiança” (trusted friend).  A tradução aqui no Brasil chegou como “kemo-sabe” e até ao absurdo de “quem-não-sabe”. 
Escoteiro, Tonto, Cavaleiro Solitário e Silver
Após ser curado das feridas, o único guarda rural sobrevivente do massacre, John Reid, pede a tonto para fazer a sexta sepultura, indicando assim que todos os rangers teriam morrido na emboscada. Assim ele ficaria livre de uma  possível perseguição do bando de Cavendish e poderia caçá-los no anonimato usando uma máscara que preservaria a sua verdadeira identidade.
Durante a procura ao bando de Cavendish The Lone Ranger e Tonto presenciam uma luta desigual entre um magnífico corcel branco selvagem e um búfalo. The Lone Ranger intervém e abate o búfalo a tiros; a seguir trata do cavalo e o doma, dando-lhe o nome de silver (pois era branco como a prata).
Em seguida, The Lone Ranger e seu companheiro, chegam a uma cabana que ocultava em seu interior a entrada para uma mina de prata descoberta por ele e seu irmão falecido.  Lá com a ajuda de um ranger aposentado que protegia a propriedade, forjam as famosas balas de prata, que se tornariam um símbolo de justiça naquele território, agora sob a proteção do Cavaleiro Solitário e seu fiel companheiro Tonto. Após uma perseguição árdua, finalmente The Lone Ranger e Tonto capturam Cavendish e seu bando e os entregam à justiça. Era apenas o início de uma jornada do justiceiro mascarado num combate sem tréguas a qualquer bandido que se aventurasse nos seus domínios.
Ai-ôu, Silver, Avante!
Um detalhe importante: O Cavaleiro Solitário nunca atirava para matar, apenas desarmava os bandidos com tiros extremamente precisos. E como ele mesmo diria: o julgamento ou a morte dos fora-da-lei, cabe à justiça ou à providência divina! Como as coisas mudaram, não?
E ao término de cada aventura bem sucedida podia-se ouvir ao longe o brado de guerra de The Lone Ranger: Ai, ôu Silver, Avante! (Hi-Yo Silver, Away!).

A Polêmica do nome de Tonto

Tonto, ou melhor, Jay Silverheels
Tonto, o fiel amigo índio do Cavaleiro Solitário, era provavelmente de origem apache ou comanche, pois essas etnias indígenas habitavam o Novo México e o Texas. Tonto era muito inteligente e frequentemente agia  com muita astúcia em situações onde o Cavaleiro Solitário não poderia se expor devido às circunstâncias ou ao uso da máscara. Usava com eficiência o colt 45 e se precisasse, da mesma forma, a faca, o arco e a flecha. Tonto, como o Cavaleiro Solitário, tinha também um cavalo treinado que se chamava escoteiro (scout). 
O personagem Tonto teve vários intérpretes célebres, como John Todd na rádio WXYZ nos anos de 1930 a 1950; Chief Thundercloud (Victor Daniels) nos cinemas dos anos de 1930; e Jay Silverheels na famosa série de TV dos anos de 1950 e em dois filmes para o cinema em 1956 e 1958. Recentemente Tonto foi revisitado para cinema no filme The Lone Ranger (O Cavaleiro Solitário - 2013) pelo consagrado ator, John Deep.
O nome “Tonto” causou polêmica desde quando o personagem fora criado pelo radialista George W. Trendle.  “Tonto” era um nome índio real de origem Pottowatomie, que literalmente poderia significar “selvagem ou descontrolado”; como também “Tonto” era um reconhecido dialeto ou uma variação do idioma dos índios apaches, também chamados coyoteros, que habitavam numa determinada região do Texas. Aliás, o nome “Tonto” provocou um certo constrangimento para nós brasileiros e fãs do personagem em diversos países de língua portuguesa e espanhola, já que o adjetivo “tonto” para nós nunca pôde ser considerado um elogio, pois o termo pejorativo se associa a uma pessoa atrapalhada ou pouco inteligente, o que não era o caso do valente escudeiro do Cavaleiro Solitário.

Por Eumário J. Teixeira.