29 de dez. de 2013

PAUL WASHER VOLTARÁ AO BRASIL EM 2014




PAUL  WASHER ESTARÁ PRESENTE NA 16ª CONSCIÊNCIA CRISTÃ

Foi  realizado o lançamento do 16º Encontro para a Consciência Cristã, que acontecerá de 28 de fevereiro a 04 de março de 2014, em Campina Grande, na Paraíba. A expectativa do evento será a participação do pastor norte-americano  Paul Washer, um dos mais contundentes pregadores cristãos da atualidade.

Paul Washer se converteu enquanto estudava na Universidade do Texas. Ele concluiu a graduação e ingressou no Southwestern  Theological  Seminary, onde concluiu o seu Mestrado em Divindade. Depois disso, mudou-se para o Peru e ali serviu como missionário.

Paul atuou como missionário no Peru por 10 anos, lá conheceu sua esposa Charo, com quem tem três filhos, Ian, Evan e Rowan. Durante sua estadia no Peru fundou a HeartCry Missionary Society, para auxiliar o plantio de igrejas no país sul-americano. O trabalho da agência missionária Heartcry hoje apóia mais de 165 missionários indígenas em mais de 26 países distribuídos pelo Leste Europeu, América do sul, África, Ásia e Oriente Médio.

Washer é diretor e coordenador  de Missões da HeartCry  Missionary Society  (www.heartcrymissionary.com).

Além de Washer, outros grandes nomes do estudo da fé cristã participarão da 16ª Consciência Cristã. Nomes como Russel Shedd, Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemus, Ronaldo Lidório, Solano Portela, Jonas Madureira e Heber Campos Júnior já confirmaram presença no evento, que deverá superar todas as expectativas e números dos anos anteriores. A 16ª Consciência Cristã terá eventos paralelos voltados para todos os públicos, atingindo todas as faixas etárias, e será totalmente gratuito.

Programe-se , faça-se a sua caravana e participe conosco! De 28 de fevereiro a 04 de março de 2014, 16º Encontro para a Consciência Cristã!



PAUL WASHER: "OS CRISTÃOS BRASILEIROS NÃO PRECISAM DE UM NOVO HERÓI, MAS DE CRISTO".

Confira parte da entrevista com o pastor e missionário norte-americano Paul Washer. Ele será um dos preletores da Consciência Cristã 2014, que acontecerá de 28 de fevereiro a 04 de março em Campina Grande, na Paraíba. Depois de falar sobre a soberania de Deus e a realidade da igreja na atualidade, Washer enviou uma mensagem aos participantes da Consciência Cristã.


VINACC:  2014 marcará a sua segunda vinda ao Brasil, e a sua primeira participação no Encontro para a Consciência Cristã. Gostaríamos que deixasse uma mensagem para as pessoas que participarão do evento.

Paul  Washer: Os cristãos do Brasil não precisam de um novo herói. Eles precisam de Cristo. A minha oração é para que os crentes no Brasil voltem-se para o estudo sério da Palavra de Deus, e desejem conformar suas vidas às verdades nela contidas. Também oro para que eles olhem para os reformadores, os puritanos e cristãos primitivos, de modo que vejam para quão longe se desviaram do cristianismo histórico e bíblico. Como disse o Senhor através do profeta Jeremias: "Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntais pelas veredas antigas qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma" (Jeremias 6:16).

Informações extraídas do link: http://www.conscienciacrista.org.br/Conteudo.asp?Id=2281

14 de dez. de 2013

YIP MAN & BRUCE LEE - O MESTRE DESPRETENSIOSO E O REI DO KUNG FU



Eu poderia perguntar se Yip Man seria reconhecido como é atualmente, se Bruce Lee não divulgasse algumas técnicas de Wing Chun em seus filmes; como poderia perguntar também se Bruce Lee seria aclamado algum dia como “rei do kung fu” caso não fosse um discípulo do lendário mestre de Wing Chun. Yip Man, apesar  de ter tido uma criação segura, confortável e acima da média em comparação aos seus compatriotas chineses em Foshan, na China, viveu de forma penosa a partir de sua idade adulta, tanto em relação à sua saúde quanto ao seu conforto material devido à invasão japonesa. Em contrapartida, à medida em que sofria com a saúde e as economias, sua humildade e simplicidade se desenvolviam de tal forma que cativava um número cada vez maior de discípulos fiéis. Bruce Lee, por sua fez, nasceu também em berço esplêndido, pois sua família era de classe média alta e seu pai um respeitado ator de teatro em Hong Kong, sendo que o próprio Bruce Lee se tornaria anos mais tarde o mais famoso artista marcial do cinema de toda Ásia. Só que ao contrário de Yip Man, a fama lhe trouxe possibilidades materiais nunca antes sonhadas, mas também a instabilidade emocional, desconfianças, decepções e todo tipo de pressão inerente  à  condição de superstar. O advento da Segunda Grande Guerra Mundial e a invasão da China pelos japoneses, foi determinante para a vida de Yip Man, ainda um jovem mestre, e para o menino inquieto e indisciplinado, Lee Jung Fan (Bruce Lee), sendo que suas trajetórias se cruzariam em algum ponto no futuro. Ironicamente e lamentavelmente tanto a morte de Yip Man como a de Bruce Lee ocorreria num espaço de pouco menos de um ano, apesar da grande diferença de idade entre os dois. A seguir faço um resumo da vida do grão-mestre de Wing Chun com observação sobre seu relacionamento como o “pequeno dragão”, Bruce Lee. 


A ORIGEM DO ESTILO WING CHUN CHUAN
Monges treinando Kung Fu no interior do templo e a destruição de Shaolin


A Destruição de Shaolin – O templo Shaolin situado na montanha de Hao-Shan próximo a Loyang onde atualmente é a província de Honan, foi destruído em 1733 D. C. pelos invasores Manchus com a ajuda de um monge traidor que teria envenenado a água, incendiado o templo e aberto os portões para os soldados invasores que surpreenderam os monges na madrugada. Mesmo sob o efeito da água envenenada os monges resistiram bravamente, mas o número expressivo de invasores e o ataque surpresa foi determinante para o extermínio da maioria deles. Segundo consta, os seguintes monges e  mestres de Kung Fu pereceram na destruição: Hung Hee Kung e Luk Ah Choy do estilo Hung Gar de Kung Fu; Fok Sai Yuk, do estilo dos Cinco Animais de Shaolin; Tse Ah Fook, Fong Weng Chun e Tung Chin Kun que eram grandes lutadores e têm seus feitos heróicos imortalizados no folclore chinês. Os cinco mestres que escaparam foram Pak Mey, Cheen Sin, Miu Hin, Ng 'Mui e Fung To Tak. 
Ng' Mui observa o duelo entre a serpente e a garça

Ng 'Mui – A jovem monja foi a única mulher a escapar do templo incendiado, profundamente religiosa vagou pela China até ingressar-se no templo da Garça Branca na montanha de Tai Leung na fronteira entre as províncias de Szechwan e Yunnan. Conta a lenda que ela teria desenvolvido um estilo próprio baseado numa observação de uma luta entre uma serpente e uma garça, descartando movimentos considerados desnecessários dos outros estilos de Shaolin que tinha aprendido de outros monges.
Ng 'Mui ensina em secreto sua técnica a Yim Wing Chun

Yim Yee – Ele foi um dos 15 discípulos a escapar à destruição do Templo. Yim Yee tinha uma filha chamada Yim Wing Chun, que já era prometida em casamento para um comerciante de sal da província de Fukien, conforme os costumes da época.  Com algum conhecimento de kung fu, Yim Yee se envolvia em algumas encrencas e se viu obrigado a se retirar com sua filha para o sopé da Montanha Tai Leung onde passou a comercializar vagens. Um marginal chamado Wong, famoso por ser um forte e habilidoso lutador, engraçou-se pela linda Yim Wing Chun, ameaçando a tomá-la à força em data determinada caso ela se recusasse a casar-se com ele.

Yim Wing Chun – A monja Ng 'Mui que estava hospedada no templo da Garça Branca, tinha o hábito de descer à vila, no sopé da montanha, para comprar provisões. Certo dia, ao comprar vagens de Yim Yee, ele ficou sabendo da história do velho monge shaolin que se sentia impotente para defender sua jovem filha. A Monja então decidiu a ensinar em secreto técnicas efetivas de auto-defesa à Yim Wing Chun, para que assim ela expulsasse Wong da aldeia de vez. Após três anos de treinamento, Yim Wing Chun se tornou apta e finalmente surpreendeu a Wong ao desafiá-lo para um combate, com a condição que ele se retiraria da aldeia permanentemente caso perdesse. O arrogante Wong foi vencido pela técnica eficiente de Yim Wing Chun e teve que cumprir sua promessa humilhado.

Obs.: As histórias da monja Ng 'Mui e Yim Wing Chun seriam na verdade folclore segundo alguns historiadores chineses, lendas inventadas para protegerem a verdadeira identidade do criador do estilo Wing Chun, um dos sobreviventes da destruição do templo Shaolin. Tratarei da versão oficial chinesa sobre a história do Wing Chun numa próxima postagem.
Representação do confronto entre Wong e Yim Wing Chun

Leung Bok Chau – Ele era o noivo prometido à Yim Wing Chun ainda criança, finalmente se casaram como era previsto. Leung Bok Chau já praticava artes marciais e ambos se habituaram a trocar idéias e aperfeiçoar o conhecimentos sobre as técnicas que conheciam. Com o tempo Leung Bok Chau teve que admitir que as técnicas de sua esposa, aparentemente frágil, eram extremamente efetivas e superiores às suas.  Assim ele passou a chamar aquele estilo feio e sem floreios estéticos de Wing Chun Chuan (ou Ving Tsun Chuan), que quer dizer, “arte dos punhos de Wing Chun”.

O caminho do Wing Chun Chuan – Leung Bok Chau após absorver o estilo efetivo da esposa o transmitiu a um médico herbalista chamado Leung Lan Kwai. Este por sua vez o transmitiu a Wong Wah Bo, um ator de ópera chinesa. Wong Wah Bo o transmitiu a Leung Yee Tei (ou Leung Ye Tay), bastoneiro do lendário junco vermelho responsável por levar ópera às cidades e que conhecia a técnica do bastão longo como poucos, que lhe teria sido ensinada por um velho monge chamado Gee Shin. Leung Yee Tei em troca da técnica dos punhos de Wing Chun, passou a Wong Wah Bo a técnica de bastão (chi Kwun) que foi agregado ao estilo Wing Chun Chuan.

Obs.: A história oficial conta que o junco vermelho que transportava artistas de ópera também treinados em artes marciais, era na verdade um movimento aliciador de rebeldes contra o governo opressor vigente. Tratarei desse assunto numa próxima postagem.
O junco vermelho com artistas de ópera chinesa e Leung Yee Tei ensinando a técnica do bastão à Wong Wah Bo
Já idoso, Leung Yee Tei transmitiu seu conhecimento a Leung Jan, um médico erudito e perito em ervas medicinais bem conceituado da cidade de Fatshan na província de Kwangtung, mesma província onde tinha nascido Yim Wing Chun. 
Leung Jan (à esquerda) e Leung Bik (à direita)

Leung Jan, também conhecido como “O rei do kung fu de Wing Chun” transmitiu o estilo aos seus dois filhos Leung Chun e Leung Bik, e finalmente a Chan Wah Shun, também conhecido como “Wah, o trocador de dinheiro”, um cambista que tinha um posto de troca de moedas para facilitar o comércio na região.
Chan Wah Shun, conhecido como "Wah, o trocador de dinheiro"

YIP MAN  - UMA BREVE BIOGRAFIA

Mestre Chan Wah Shun teria ensinado Wing Chun por trinta e seis anos, conta-se que teve apenas 16 discípulos selecionados, dentre os quais seu filho e sua nora. Quando estava com mais de 70 anos foi gentilmente convidado a ensinar a sua arte no templo ancestral da família Yip, que era uma das mais tradicionais e ricas de Fatshan (ou Foshan), na província de Guangdong (ou Kwangtung). Lá ele lecionou até a sua morte. Um franzino garoto de 13 anos, chamado Yip Kai-Man, filho do proprietário do templo, se apresentou com suas economias ao mestre Wah implorando para ser aceito como discípulo. 
Grão Mestre de Wing Chun Chuan, Yip Man
Yip Man (ou Ip Man) nasceu em 01 de outubro de 1893, filho de Yip Dor Mai (pai) e Ng Shui (mãe), sendo o terceiro de quatro filhos, teve também um alto padrão educacional. Sendo aceito pelo mestre Wah, Yip Man treinou sobre a orientação dele até aos 15 anos, quando ocorreu a morte de seu mestre. Yip Man se dedicou com muita disposição aos treinamentos, surpreendendo o mestre Wah que não esperava tanta garra de um jovem mimado. Com a ausência do mestre Wah os ensinamentos a Yip Man  foram administrados por um dos discípulos mais experientes da escola, Ng Chung-sok.  Aos 16 anos, Yip Man foi matriculado no Colégio St. Stephen que adotava métodos de ensino ingleses. As brigas entre alunos chineses e ingleses eram frequentes e Yip Man valeu-se de seu conhecimento de Wing Chun para sobressair-se sobre os demais e liderar sua turma, apesar de sua baixa estatura e físico franzino. Yip Man se tornou arrogante e orgulhoso por isso até que foi incentivado pelos colegas a enfrentar um veterano mestre de kung fu de 50 anos. O mestre cinquentenário que se apresentou como Leung, ficou admirado com a petulância do jovem Yip, discípulo do mestre Wah, que só queria o confronto e não prestou a atenção nas observações dele sobre as formas (katis) Sil Lim Tao e Chun Kiu executadas por Yip Man. Ao ser corrigido pelo mestre Leung, o jovem obstinado partiu para cima deste, mas Yip foi derrubado com facilidade.  Humilhado, Yip Man veio a saber pouco depois que o homem que o derrotara não era ninguém menos que Leung Bik, o filho mais novo do grão-mestre Leung Jan.  Yip Man arrependido por ter insultado o mestre, voltou a procurar por Leung e lhe implorou para ser seu discípulo. E assim aconteceu, treinado por Leung Bik, Yip Man desenvolveu sua técnica de forma espantosa e aos 24 anos voltou para Fatshan. Entre os anos de 1937 e 1941 Yip Man serviu ao exército chinês numa tentativa em vão de deter a invasão japonesa. Derrotado, Yip Man retornou a Fatshan. Mas com o fim da segunda grande guerra mundial em  1945, as coisas não melhoraram para a China devastada e humilhada. Logo ocorreu uma guerra civil entre os nacionalistas e os comunistas. Yip Man serviu do lado nacionalista como capitão de patrulha no condado de Namhoi. Nessa época, a primeira esposa de Yip Man adoece gravemente e falece. Como os comunistas venceram em 1949, Yip Man como Capitão da polícia nacionalista se vê obrigado a fugir para Hong Kong, na época colônia britânica. Aos 51 anos de idade Yip Man recomeça sua vida do nada, auxiliado pelo amigo Lee Man, um empregado da Associação dos Trabalhadores de Restaurante de Hong Kong, que lhe cede o terraço do edifício para que ele ministrasse aultas de Wing Chun para tentar sobreviver. Com muitas dificuldades abre sua própria escola dois anos depois, na rua Lei Dat, no distrito de Yaumatei em Kowloon. 
Yip Man e díscípulos em Hong Kong
Em 1954 se casa novamente, sua academia começa a prosperar pois seus alunos começam a provar a eficiência do Wing Chun nas ruas e em competições divulgando positivamente o nome da academia de mestre Yip e do estilo efetivo e prático do estilo Wing Chun Chuan. Em 1967 foi fundada a Associação Atlética Wing Chun de Hong Kong e franqueia seus cursos a preços mais populares, aumentando sua rede de academias. Em 1970, aos 72 anos de idade, Yip Man decide não mais lecionar. Sua saúde estava bastante fragilizada e ainda descobre que estava com câncer na garganta, talvez graças ao seu hábito de fumar cigarros, seguido até por seu filho Yip Ching. 
Yip Man e seus dois filhos, Ip Ching e Ip Chun
Yip Man também era usuário de ópio, um hábito ainda que nocivo,  adquirido para amenizar as dores causadas por uma úlcera estomacal que o atormentou por boa parte de sua vida, mas há o lado social que ele poderia ter herdado de sua família em que, tradicionalmente, era um hábito comum entre os senhores da elite chinesa fumarem ópio em reuniões sociais ou de negócios ou mesmo usar a droga como relaxante após uma noite de apresentação no teatro, tal como fazia o ator Lee Hoi Chuen, pai de Bruce Lee. 
O velório do mestre Yip Man
O pior acontece em 02 de dezembro de 1972,  Yip Man falece poucos meses antes de seu mais famoso discípulo, Bruce Lee. Poucas semanas antes de morrer, Yip Man solicita a seu filho Yip Chun e seu discípulo Leung que filmem ele praticando os dois katis de Wing Chun e as técnicas do Mudjong (boneco de madeira) já que temia que após seu falecimento, seu ensino fosse modificado ou deturpado. As filmagens foram feitas e nelas pode se perceber em alguns momentos Yip Man exitando durante alguns movimentos em virtude das dores que o incomodavam. Mas imagens do grão-mestre de Wing Chun foram preservadas para a prosperidade. 

Filmes produzidos sobre a saga de Yip Man – De 2008 a 2013 foram produzidos cinco filmes sobre a vida de Yip Man que avaliei, na média, como bons. São eles:
Os quatro melhores filmes sobre Yip Man

- O Grande Mestre (Ip Man, 2008), com Donnie Yen interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre 2 (Ip Man 2, 2010) ainda com Donnie Yen Interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre 3 – A Lenda Nasce (Ip Man 3 – The Legend is Born, 2010) com Dennis To interpretando Yip Man, contando a participação de Yip Chun (filho de Yip Man) e Sammo Hung, avaliado como bom;

- O Grande Mestre 4 – A Luta Final (Ip Man 4 – The Final Fight, 2013) com Anthony Wong interpretando Yip Man e com outra participação de Yip Chun. Este quarto filme fecha a série sobre a vida de Yip Man e foi avaliado como muito bom;

- O Grande Mestre (The Grandmaster, 2013) com Tony Leung e (a belíssima) Zhang Ziyi. O filme de outra produção e direção não segue a sequência dos quatro anteriores e a história não é totalmente fiel à biografia de Yip Man, avaliado como regular para bom.


O MESTRE E O DISCÍPULO
Mestre Yip Man e o jovem Bruce Lee

Há muitas especulações sobre como era o relacionamento de mestre e discípulo entre Yip Man e Bruce Lee antes e, principalmente, durante da fama do “rei do kung fu”. Bruce Lee desde criança era inquieto, um estudante medíocre e sempre foi atraído para as brigas de gangs nas ruas de Hong Kong, apesar de ser filho de um renomado ator de teatro de classe média alta. Pelas muitas confusões em que se metia, seu pai o encaminhou aos 13 anos (em 1953) à academia de Wing Chun do mestre Yip Man, na qual treinou por mais ou menos quatro anos com a esperança que o filho adquirisse senso de responsabilidade e disciplina.
Yip Man e Bruce Lee numa sequência de técnicas de Wing Chun
Tudo indica que Bruce Lee se adaptou perfeitamente àquele estilo diferente e feio de Kung Fu, mas que porém era muito efetivo e prático. Mas não foi o suficiente para lhe afastar das confusões, e assim temendo pela integridade física do filho, Lee Hoi Chuen aguardou que Bruce Lee completasse dezoito anos de idade e o embarcou no final do ano de 1958 para os Estados Unidos para que ele exercesse sua cidadania americana, levando na bagagem além de alguma dezena de dólares, um conhecimento considerável de Wing Chun Chuan e briga de rua. A principio ele trabalhou num restaurante chinês em San Francisco, na California, onde começou a dar aulas de Wing Chun Kung Fu para amigos e pessoas selecionadas; formou-se em filosofia e casou-se com a norte-americana Linda Lee. Em 1964 , Bruce Lee foi descoberto numa impressionante exibição no torneio Internacional de Karate em Long Beach, California, que lhe valeu a convocação para estrelar o papel de Kato na série de TV “O Besouro Verde” (The Green Hornet) poucos anos depois. O resto é história. Em 1º de fevereiro de 1965 nasce Brandon Bruce Lee, em Oakland, na California; quase uma semana depois, no dia 07 de fevereiro, falece Lee Hoi-Chuen o pai de Bruce Lee em Hong Kong, aos 64 anos.  No mesmo ano, numa viagem a passeio em Hong Kong, Bruce Lee apresentaria seu filho Brandon Lee, com poucos meses de nascido, ao velho mestre Yip Man. 
Yip Man e Brandon Bruce Lee
Há também outros registros fotográficos de Yip Man ao lado de Brandon, quando este aparentava ter mais ou menos 5 anos de idade, ou seja, por volta de 1971, no mesmo ano em que Bruce Lee já estava de volta com a família para morar em Hong Kong e era lançado com estrondoso sucesso seu primeiro filme de artes marciais, “O Dragão Chinês” (The Big Boss). Bruce teria prometido recompensar Yip Man de alguma forma após ter o retorno financeiro com seus filmes. Ele tinha consciência das dificuldades materiais e dos problemas de saúde do mestre, apesar dos cuidados e serviços notórios prestados pelos filhos deste, Yip Chun e Yip Ching, e demais discípulos. O fato é que Bruce Lee se sentia em dívida com Yip Man. 
Bruce Lee e grão mestre Yip Man em Hong Kong, por volta de 1971

Infelizmente, em  02 de dezembro de 1972, Yip Man falece vitimado por um câncer de garganta aos 79 anos bem vividos. Era o ano em Bruce teria protagonizado seu terceiro filme, “O Vôo do Dragão” (The Way of the Dragon) com algumas cenas filmadas em Roma, e que teve a participação especial dos campeões Chuck Norris (faixa prêta de Tang Soo Do) e Bob Wall (faixa prêta de Karatê). Não há registro oficial de algum encontro entre Bruce Lee e Yip Man no ano do falecimento do mestre de Wing Chun e nada que possa comprovar que Bruce Lee tivesse comparecido ao seu velório. Apesar de terem sido divulgadas algumas fotos de Bruce Lee numa cerimônia fúnebre ou memorial, mas que não comprova que seja realmente do velório de Yip Man. Algumas fontes afirmam que ele não apareceu temendo causar um tumulto durante a cerimônia, o que poderia realmente ter acontecido, pois Bruce Lee já era um superstar em toda a Ásia. Mas Deus permitiu que Bruce Lee morresse subitamente meses após o falecimento de Yip Man, em 20 de julho de 1973, aos 32 anos, vitima de um edema cerebral. No filme de 2013, “ O Grande Mestre 4” (Ip Man 4 – The Final Fight) com Anthony Wong no papel de Yip Man, exibe-se uma cena de cunho difamatório a Bruce Lee onde um ator (sempre de costas) que em nada lembrava o “rei do Kung fu” encontra casualmente com o mestre Yip em Hong Kong e o assedia tentando impressioná-lo com seu status de estrela de cinema, prometendo-lhe ajuda e um apartamento novo,  cigarros americanos e uma carona na sua limusine nova, ao que o mestre gentilmente recusa continuando sua peregrinação diária pelas ruas de Hong Kong, para a decepção do “astro das artes marciais” .  Como já foi dito, não era necessário difamar um para enaltecer o outro.
O mestre despretensioso e o futuro rei do kung fu
Creio que Bruce Lee tinha grande gratidão e elevada consideração por Yip Man, infelizmente ele não teve a oportunidade adequada para demonstrar devidamente todo esse respeito, de forma pública e apropriada, esperado de um discipulo leal ao único mestre de artes marciais que teve em vida.


Por Eumário J. Teixeira.

2 de nov. de 2013

El SANTO AINDA É CULT!


É incrível o fascínio exercido em todo o México pela figura lendária do inesquecível lutador de pancrácio ou luta-livre, conhecido como Santo, o mascarado de prata. Seu estatus de celebridade entres os mexicanos atinge diversas gerações e supera, ao meu ver, a de personalidades também históricas de revolucionários Emiliano Zapata e Pancho Villa, do ator e comediante Cantiflas, do boxeador Júllio César Chaves e do seu maior rival e  também lutador Blue Demon. Faço aqui outra homenagem ao lendário Mascarado de Prata, incentivado pela incrível aceitação que a primeira postagem, "Santo, o Mascarado de Prata", obteve neste blog.

El Santo, o lendário Mascarado de Prata
Santo, ou melhor Rodolfo Guzmán Huerta, ficou conhecido internacionalmente graças aos seus mais de 50 filmes “b”, que eram películas temperadas com muita ação, terror, ficção científica e mulheres bonitas como as musas mexicanas Lorena Velásquez, Maria Duval e Gina Román. Mas em seu país ele foi respeitado pelas suas conquistas nos ringues, em lutas reais e muitas vezes sangrentas contra adversários verozes, que nada lembravam as lutas combinadas que assistíamos pela TV nos anos de 1970 aqui no Brasil.
Mesmo os rivais tradicionais de Santo, como El Murciélago Velázquez, Black Shadow, Bobby Lee, El Cavernario Galindo, Espanto I e Blue Demon acabaram por ceder aos encantos de seu bom caráter, pois mesmo derrotando seus adversários ou raramente sendo derrotado por um por outro, nunca perdeu o respeito por eles.  Santo tinha realmente um carisma e perfil natural para ser um herói popular e assim aconteceu. O garoto Rodolfo Guzmán de 6 anos não imaginava que quando mudasse com a família para a cidade do México para tratar de uma infecção no braço de sua mãe, Josefina Huerta, se tornaria o maior lutador de pancrácio do país.
Tempos depois, já estabelecido com a família na cidade do México, o pequeno Rodolfo voltava da escola primária com alguns colegas, quando presenciou algo que anunciaria que sua  vida ainda enfrentaria momentos dramáticos. Os garotos testemunharam um gato preto ser atropelado e morto por um carro. Um amigo superticioso afirmou que o acidente seria um sinal de azar para alguém do grupo. Assim, quando Rodolfo chega em sua casa, depara com o seu pai, Jesus Guzmán, morto.
Inicialmente seus irmãos mais velhos, Jesus e Miguel, se aventuram na luta-livre com o desejo de se profissionalizar e manter a casa, treinando no Ginásio Montezuma. Miguel chega a se destacar como Black Gusmán, mas um acidente inesperado acontece e Jesus, o Pantera Negra, falece devido aos golpes recebidos num combate contra um lutador chamado El Gato. 

El Murciélago Velázquez e Black Shadow, os primeiros rivais de El Santo
Rodolfo não se amedronta e parte também para os treinamentos contrariando sua mãe. Inicialmente adota os nomes de guerra Rudy Guzmán, El Hombre Rojo e Murciélago II (em homenagem a Murciélago Velázquez), até definir sua escolha para El Santo, passando então a usar uma máscara branca de couro tratado cujas costuras internas machucavam bastante o seu rosto. 
O primeiro visual de Santo

Sua estréia nos ringues foi em 26 de julho de 1942 na Arena do México num combate com vários adversários uns contra os outros. Nessa ocasião o vencedor da batalha foi Ciclón Veloz, pois Santo teria sido desclassificado excesso de agressividade e por usar golpes baixos.
Em 1943, aos 26 anos, ganharia o título de campeão nacional dos pesos médios derrotando até então dono do título, Jesus Murciélago Velázquez, que o impediu de usar o codinome “Murciélago II”. Ainda nessa ano, no mês de julho, Santo perde o título para Roberto (Bobby) Bonales.
No ano seguinte depois de sair ileso de um acidente automobilístico, Santo derrota Jack O’Brien e recupera em seguida seu título de campeão nacional vencendo o próprio Bobby Bonales.
No ano de 1944 Santo formaria uma dupla invencível com Gori Guerrero (para alguns a melhor de todas da Lucha Libre Mexicana), conhecida como “La Pareja Atomica” (A Parelha Atômica) graças ao recente advento da bomba atômica. Ainda na década de 1940, além do título de Campeão Nacional dos Médios, Santo conquistaria o primeiro campeonato Mundial Welter da NWA, ao derrotar Pete Pancoff.
A partir daí Santo só acumulou fama e vitórias derrotando adversários duríssimos em confrontos sangrentos que valiam a máscara, algumas das vítimas foram Black Shadow; Lobo Negro; Espanto I; Halcon Negro; Golden Terror; e El Gladiador & Bobby Lee. E da mesma forma, só que valendo os cabelos, podemos citar Jack O’Brien; Chico Casasola; Bobby Lee; Enriques Llanes; el Cavernario Galindo, Murciélago Velázquez & El Perro Aguayo. 

El Santo e Blue Demon, amigos e rivais
Blue Demon um rival à altura, derrotou Santo por duas vezes seguidas, nos anos 1952 e 1953, não se sabe de outras derrotas de Santo após essas contra o Demônio Azul. Blue Demon teria vingado a seu compadre Black Shadow, humilhado na ocasião pela retirada da máscara no confronto contra Santo em 17 de novembro de 1952. Chegou-se a especular um confronto valendo máscaras entre Santo e Blue Demon, mas não houve acordo entre as partes. 
El Santo (jovem e em forma) vs. Carvernario Galindo, numa luta feroz e real valendo a máscara
Para se ter uma idéia do mistério da verdadeira identidade de Santo, ele só viria revelar seu rosto em público 42 anos depois de sua estréia como o Mascarado de Prata e por vontade própria.
No Início dos anos de 1950 a popularidade de Santo cada vez maior graças às revistas de fotonovelas produzidas por José G. Cruz  nas quais o personagem principal era Santo, el Enmascarado de Plata. A parceria com José Cruz terminaria pouco depois por questões contratuais e seria lançado um personagem semelhante. Os produtores de filmes viram na marca “Santo” um produto de consumo promissor e assim El Santo passa a ser também uma estrela de cinema, representando a si mesmo na condição de quase um super-herói mexicano que luta contra o mal representado por marcianos, vampiros, lobisomens, múmias, gangsters, etc. Inevitavelmente sua fama transcende as fronteiras do México. Seus ex-adversários e rivais, como Black Shadow, Blue Demon e Mil Máscaras, agora parceiros, participam também das películas de ação. 

El Santo vs. El Espanto, nada de teatro, mas sangue e suor
Os seus filmes mais cultuados são: Santo contra os Zumbis (1961); Santo Contra As Mulheres Vampiro (1962); Santo - O Barão Brákola (1965); Santo contra  a Invasão dos Marcianos (1966); Santo e Blue Demon contra Drácula e o Homem Lobo (1972); Santo e Blue Demon contra o Dr. Frankestein (1973).
Em 1980, Santo começa a preparar seu filho caçula, Jorge, para sucedê-lo. No ano seguinte, acontece outra grande perda para o Mascarado de Prata. Sua esposa Maria de los Angeles Rodriguez Montaño, companheira de 40 anos, falece. Rodolfo Guzmán fica extremamente abatido mas continua a cumprir sua agenda de compromissos, embora sem a mesma alegria.
Ainda em 1981, numa luta de exibição junto a Huracán Ramirez e Rayo de Jalisco Sr., encararam o trio Los Misioneros de La Muerte (integrado por El Texano, El Signo e El Negro Navarro). Durante o confronto Santo recebe um chute no peito que lhe causa desmaio e um ataque cardíaco quase fatal. Graças à ação rápida de Hurácan Ramirez que o carregou para fora do ringue massageando o peito de El Santo contra seu ombro, o veterano Mascarado de Prata sobreviveu. O acidente não foi suficiente para que Rodolfo Guzmán Huerta deixasse de atuar como El Santo, aos 63 anos. Los Misioneros de la Muerte ficaram famosos por quase acabarem com a vida do lendário Mascarado de Prata.

Homenagens para a última luta em 1982
Em 12 de setembro de 1982, seguindo orientações médicas, encerra sua carreira de lutador numa última apresentação festiva e emocionante, atraíndo milhares de fãs para El Toreio de Cuatro Caminos (Praça de Touros) onde recebeu várias homenagens na presença presença de velhos amigos e rivais, além de seu filho Jorge, conhecido como El Hijo de El Santo. Na ocasião, junto a Gori  Guerrero, Hurácan Ramirez e El Solitário, enfrentou os implacáveis Perro Aguayo e novamente Los Misioneros de la Muerte. El Santo notadamente já não tinha o mesmo vigor e sua saúde declinava, era de se esperar que seu desempenho, como de alguns de seus companheiros, não fosse dos melhores tornando sua despedida ainda mais melancólica.

Tirando a máscara prateada na TV em 1984 pouco antes de falecer
Passando então a atuar somente em shows de escapismo e até em touradas, surpreendeu a todos no famoso programa de entrevistas chamado Contrapunto da TV mexicana, em 26 de janeiro de 1984, quando retirou quase que inteiramente sua máscara prateada revelando sua face sexagenária. Ele mesmo acreditava que se um dia seu rosto fosse revelado publicamente, seria o sinal de que sua morte se aproximava.

Nasce a lenda da luta livre
Então, pouco mais de uma semana depois, em 05 de fevereiro de 1984, sua morte é anunciada. El Santo foi vítima de um ataque cardíaco aos 66 anos logo depois de apresentar um ato de escapismo no teatro Blanquita na cidade do México. Durante o cortejo do Mascarado de Prata milhares de pessoas saíram às ruas para prestar uma última homenagem ao ídolo, bradando: “Santo, Santo, Santo, Santo!”. Ele foi sepultado com sua famosa máscara de prata, conforme seu desejo.
A seguir,  muitos tentaram tomar o trono de El Santo.  Jorge Guzmán, El Hijo de Santo, não foi brilhante como o pai, mas também não decepcionou; como também o lutador Axel,  conhecido como El Nieto de Santo, impedido judicialmente por Jorge Guzmán de usar a marca “Santo”, apesar do público em geral o aceitar também como um herdeiro natural do lutador lendário. Nem mesmo Blue Demon (que morreria em 2000) conseguiu preencher o vazio deixado pelo Enmascarado de Plata no coração do povo mexicano.
Um documentário sobre El Enmascarado de Plata foi produzido pelo programa de TV mexicana “La História detrás del Mito” (disponível no youtube) resumindo a trajetória do lutador e a intimidade familiar de Rodolfo Guzmán Huerta, el Santo, incluindo muitos testemunhos de parentes, amigos e lutadores do passado e do presente.

Estátua em Tulancingo, o Filho de Santo estava presente
As celebrações continuam e El Santo sempre será lembrado pelo povo mexicano. Dentre as homenagens que se destacam temos uma estátua de Santo próxima ao museu de Ferrocarril em Tulancingo, no estado de Hidalgo, terra natal do lutador lendário.

Estátua na cidade do México
Outra estátua foi erguida numa praça na entrada do bairro Tepito, na cidade do México.

El Hijo del Santo e imagem em tamanho natural de seu pai no museu de cêra na cidade do México
Ainda na cidade do México, há uma figura de cêra em tamanho natural e com surpreedente realismo do Mascarado de Prata.

Sêlos comemorativos em homenagem a el Santo
Sêlos comemorativos já foram impressos com a figura de El Santo. 

Missa para o Lutador Mascarado
Missas católicas em sua memória são comuns na cidade do México.

O Santo-móvel em exposição
Exposições com fotos, suas máscaras prateadas, capas e parafenálias que usava nos filmes são frequentes em eventos culturais, como a exibição do “santomobile”, o carro usado em muitos de seus filmes.

Jack Black, como um luchador enmascarado de lucha libre

Jack Black protagonizou o filme “Nacho Libre” em 2006, que apesar de satírico, não deixou de ser uma clara homenagem aos lendários lutadores mascarados mexicanos, mas sobretudo ao maior deles, el Santo.
Exposição de fotografias de Lourdes Grobet sobre Santo
Por tudo isso posso dizer que El Santo nunca será esquecido pelos seus milhares de fãs em todo o mundo. Antes de ser um herói popular, Rodolfo Guzmán Huerta era um homem mortal, com defeitos e virtudes, um pecador como todos nós, mas que certamente temia a Deus, amava sua família, respeitava seus adversários e tinha um nobre caráter.
Viva El Enmascarado de Plata, que Deus tenha misericórdia de sua alma.

Por Eumário J. Teixeira