Estamos em 2015, um ano que promete ser
difícil para a maioria dos brasileiros, graças à onda que está varrendo o mundo
todo e que finalmente nos atingirá definitivamente como um tsunami avassalador.
E o que essa onda nos traz? Ela nos traz mais corrupção, desemprego, fome,
desespero, mediocridade, valores descartáveis, banalidade, anarquia, violência
gratuita, falta de fé e todo o que destrói os valores primordiais que compõem a
cultura e identidade de um país soberano, independente e saudável. O Brasil se
mostrou dividido nas últimas eleições, não que a oposição derrotada fosse fazer
milagres, mas se não tínhamos opção, dos males o menor. Agora não tem volta, ainda
sem liderança, não temos direção e pelo que se vê, tá tudo dominado, observem a
Argentina e a Venezuela. Por aqui a mídia também está vendida e controlada, TV,
rádios e jornais, todos manipulados. A qualidade da programação dedicada à
distração e informação dos cidadãos são de péssima qualidade e, eu me pergunto,
onde estão os grandes artistas nacionais que tanto se manifestaram no chamado
regime militar? Sumiram da mídia porque não lhes dão espaço ou simplesmente os
mesmos preferem descansar em berço esplêndido? De qualquer forma, estamos
carentes de bons políticos, escritores, intelectuais e cabeças pensantes em geral. Até o futebol
foi afetado, como esquecer da vergonha da seleção (de mercenários chorões) no
“mineiraço”? Há pouco estava assistindo uns antigos vídeos de Zé Keti e Cartola na TV Cultura...meu Deus, que
simplicidade e sinceridade, que beleza, a música daqueles artistas do saudoso e
verdadeiro samba. O samba com poesia, melodia, que saudades! Podem me chamar de
velho saudosista, mas uma coisa puxa a outra e continuei com o garimpo e
capturei na internet um show do compositor, músico e cantor mineiro, Lô
Borges...parece surreal, algo que não cabe mais nesse mundo. Pura genialidade é
o som de Lô Borges e sem falar do mito
Beto Guedes, Milton Nascimento, etc. Qual o espaço que esses caras tem hoje em
dia? Tudo bem que estão velhinhos, sem o mesmo vigor e voz, mas, quem pode
superá-los hoje em dia, em termos de conteúdo e qualidade de obra? Mas, aí você
me pergunta: quem é que está se lixando para a qualidade e conteúdo de alguma
coisa? Eu respondo: Se o mundo e a realidade se resume no que vemos na TV, a
resposta é ninguém!
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Os incríveis mineirinhos: Lô Borges e Beto Guedes |
Eu me lembro que comecei a perceber um certo movimento
conspiratório da mídia no início dos anos de 1990, quando começaram a diminuir o
espaço de artistas clássicos da MPB para supostos artistas populares com seus
ritmos contagiantes. E dá-lhe lambada, axé, carimbó; e mais tarde as
primeiras duplas sertanejas, sertanejo universitário, berranejo, uma praga
inesgotável; a seguir, pagode, pagode universitário (?!), funk da lacraia,
arrocha, e logo não se podia diferenciar o que era pagode, lambada, arrocha, um
verdadeiro caos que agora se apresenta como música popular brasileira; pois não
é isso o que se toca nas rádios e TVs? Se nós somos o que comemos, então também
somos o que escutamos. E o diagnóstico não é dos bons. Toda essa situação e
expectativa que vivemos, está refletida em nossa cultura, sempre foi assim, é
como um sinal nos céus, aprenda ler os sinais e ele te mostrará se vai chover,
fazer sol, gear, etc. Os sinais atualmente indicam tempestade e escuridão. Se
os jovens de hoje procurarem reagir, parar para pensar, racionar, escutar e
observar em sua volta o que está acontecendo vai perceber que as coisas podem
melhorar se eles próprios cavarem sem preconceitos as coisas boas do passado,
como a boa música, a boa literatura, os bons filmes, a boa política, os bons
modos, daí vão ter um parâmetro do que estão sendo obrigados a consumir hoje em
dia sem questionamentos forçadamente pela mídia global corruptora e maléfica. A
molecada perdeu o norte, estão à deriva e mal perceberam ainda que estão sendo
tocados como uma boiada para o matadouro. Onde está Chico Buarque de Holanda,
um comunista assumido, que tanto compôs pérolas da MPB, o que ele está achando
do cenário político atual, será que está satisfeito?; Caetano Veloso já
manifestou sua decepção e um certo arrependimento; Milton Nascimento não se
manifesta; Belchior se exilou; não ouvimos falar mais de Ednardo; Fagner
continua lutando bravamente ao lado de Zé Ramalho para manter as raízes
nordestinas; Luiz Gonzaga e Dominguinhos agora só saudades; Cartola, Zé Keti,
Jamelão, lendas inesquecíveis do verdadeiro samba que Paulinho da Viola
discretamente mantém vivo; Nelson Gonçalves e Altemar Dutra, vozes imortais; e Beto
Guedes e Lô Borges, mineiros surreais, gênios subestimados até hoje. Apesar da
tendências políticas duvidosas de um ou outro desses artistas citados, não há
como negar que eles estão fazendo muita falta nessa atual conjectura. Os que
estão vivos poderiam retornar unidos num mutirão de resgate cultural da boa e
verdadeira MPB, quem sabe, ainda há esperanças para uma reeducação nacional.
Agora, acima desse movimento, talvez utópico, tem que estar o Deus Criador,
porque só nos resta um milagre!
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Capas de discos (hoje cds) clássicos e imperdíveis da verdadeira MPB |
Ops: Eis uma lista de pesquisa para os desavisados ou mal informados. Procurem na Internet textos biográficos e vídeos de shows, downloads de cds ou documentários sobre esses caras, músicos, compositores e cantores nacionais, alguns já mortos outros ainda resistindo, do nosso Brasil tão maltratado ultimamente em termos culturais:
- Abel Ferreira – Músico clarinetista e compositor
- Alceu Valença – Cantor e compositor
- Altamiro Carrilho – Músico flautista e compositor
- Banda de Pau e Corda – Banda regional de vocais
elaborados e instrumentais sensíveis e apurados
- Banda de Pífanos de Caruaru – O nome já diz tudo,
imperdível
- Belchior – Cantor e excelente compositor
- Beto Guedes – Cantor, multi-instrumentista,
compositor de rara sensibilidade
- Bola Sete – Exímio violonista
- Caetano Veloso – Cantor e compositor respeitado por
gerações distintas
- Chico Buarque – Cantor e compositor influente politicamente
- Cartola - Cantor, compositor, músico, poeta, gênio
- Clube da Esquina – Grupo formado em Minas Gerais por
músicos como Milton Nascimento e Lô Borges
- Conjunto Época de Ouro – Conjunto instrumental da
melhor qualidade que teve em seu elenco Jacob do Bandolim, Déo Rian, Dino, etc.
- Demônios da Garoa – Representantes legítimos do samba
despretencioso e divertido de São Paulo
- Déo Rian – Excelente bandolinista, participou do
Conjunto Época de Ouro
- Doces Bárbaros – Grupo formado por Gilberto Gil,
Caetano Veloso, Gal Gosta e Maria Betânia
- Fagner – Cantor e compositor de inúmeros sucessos
- Gal Costa – Excelente cantora de repertório rico
- Gilberto Gil – Cantor, músico e compositor de muita
influência
- Jacob do Bandolim – Músico dos mais respeitados
pelos colegas
- Jamelão – Cantor de samba clássico de muitos
sucessos
- João do Vale – Cantor eclético e muito respeitado
pelos colegas
- Lô Borges – Cantor, compositor e
multi-instrumentista de rara criatividade
- Luiz Gonzaga – Simplesmente o rei do baião, do
legítimo forró, arrasta pé...
- Maria Betânia – Excelente cantora de voz incomum
- Milton Nascimento – Cantor, compositor e
instrumentista reconhecido mundialmente
- Moraes Moreira – Cantor e compositor de frevo e
músicas típicas
- Nelson Cavaquinho – Instrumentista dos mais
respeitados da velha guarda
- Nelson Gonçalves – Excelente cantor e intérprete de
voz grave rara
- Nelson Sargento – Sambista tradicional, compositor e
exímio violonista
- Paulinho da Viola – Mestre, cantor, compositor,
multi-instrumentista, sem palavras
- Pixinguinha – Multi-instrumentista de chorinho e
jazz, consagrado aqui e no exterior
- 14 Bis – Banda pop com vocais elaborados e
instrumental afiado
- Quinteto Violado – Banda regional de vocais
elaborados e instrumentais de primeira
- Tim Maia – O rei da música soul brasileira
- Waldir Azevedo – Músico, compositor, rei do
chorinho, inigualável
- Zé Ramalho – Cantor, violonista, compositor e
criador de um estilo que une o rock ao forró
- Zé Keti – Cantor e intérprete, representante dos
mais nobres da velha guarda do samba tradicional
Tem muito mais, é claro, os caras da Bossa Nova como Tom Jobim e Nara Leão, a Jovem Guarda de Roberto e Erasmo, vários ficaram de fora, mas
não dá para listar todos, seria covardia.
Por Eumário J. Teixeira.