Eu poderia perguntar se Yip Man seria reconhecido como é
atualmente, se Bruce Lee não divulgasse algumas técnicas de Wing Chun em seus
filmes; como poderia perguntar também se Bruce Lee seria aclamado algum dia
como “rei do kung fu” caso não fosse um discípulo do lendário mestre de Wing
Chun. Yip Man, apesar de ter tido uma
criação segura, confortável e acima da média em comparação aos seus
compatriotas chineses em Foshan, na China, viveu de forma penosa a partir de
sua idade adulta, tanto em relação à sua saúde quanto ao seu conforto material
devido à invasão japonesa. Em contrapartida, à medida em que sofria com a saúde
e as economias, sua humildade e simplicidade se desenvolviam de tal forma que
cativava um número cada vez maior de discípulos fiéis. Bruce Lee, por sua fez,
nasceu também em berço esplêndido, pois sua família era de classe média alta e
seu pai um respeitado ator de teatro em Hong Kong, sendo que o próprio Bruce
Lee se tornaria anos mais tarde o mais famoso artista marcial do cinema de toda
Ásia. Só que ao contrário de Yip Man, a fama lhe trouxe possibilidades
materiais nunca antes sonhadas, mas também a instabilidade emocional,
desconfianças, decepções e todo tipo de pressão inerente à
condição de superstar. O advento da Segunda Grande Guerra Mundial e a
invasão da China pelos japoneses, foi determinante para a vida de Yip Man,
ainda um jovem mestre, e para o menino inquieto e indisciplinado, Lee Jung Fan
(Bruce Lee), sendo que suas trajetórias se cruzariam em algum ponto no futuro.
Ironicamente e lamentavelmente tanto a morte de Yip Man como a de Bruce Lee
ocorreria num espaço de pouco menos de um ano, apesar da grande diferença de
idade entre os dois. A seguir faço um resumo da vida do grão-mestre de Wing
Chun com observação sobre seu relacionamento como o “pequeno dragão”, Bruce
Lee.
A ORIGEM DO ESTILO
WING CHUN CHUAN
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Monges treinando Kung Fu no interior do templo e a destruição de Shaolin |
A Destruição de
Shaolin – O templo Shaolin situado na montanha de Hao-Shan próximo a Loyang
onde atualmente é a província de Honan, foi destruído em 1733 D. C. pelos
invasores Manchus com a ajuda de um monge traidor que teria envenenado a água,
incendiado o templo e aberto os portões para os soldados invasores que
surpreenderam os monges na madrugada. Mesmo sob o efeito da água envenenada os
monges resistiram bravamente, mas o número expressivo de invasores e o ataque
surpresa foi determinante para o extermínio da maioria deles. Segundo consta,
os seguintes monges e mestres de Kung Fu
pereceram na destruição: Hung Hee Kung e Luk Ah Choy do estilo Hung Gar de Kung
Fu; Fok Sai Yuk, do estilo dos Cinco Animais de Shaolin; Tse Ah Fook, Fong Weng
Chun e Tung Chin Kun que eram grandes lutadores e têm seus feitos heróicos
imortalizados no folclore chinês. Os cinco mestres que escaparam foram Pak Mey,
Cheen Sin, Miu Hin, Ng 'Mui e Fung To Tak.
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Ng' Mui observa o duelo entre a serpente e a garça |
Ng 'Mui – A jovem
monja foi a única mulher a escapar do templo incendiado, profundamente religiosa
vagou pela China até ingressar-se no templo da Garça Branca na montanha de Tai
Leung na fronteira entre as províncias de Szechwan e Yunnan. Conta a lenda que
ela teria desenvolvido um estilo próprio baseado numa observação de uma luta
entre uma serpente e uma garça, descartando movimentos considerados
desnecessários dos outros estilos de Shaolin que tinha aprendido de outros
monges.
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Ng 'Mui ensina em secreto sua técnica a Yim Wing Chun |
Yim Yee – Ele foi
um dos 15 discípulos a escapar à destruição do Templo. Yim Yee tinha uma filha
chamada Yim Wing Chun, que já era prometida em casamento para um comerciante de
sal da província de Fukien, conforme os costumes da época. Com algum conhecimento de kung fu, Yim Yee se
envolvia em algumas encrencas e se viu obrigado a se retirar com sua filha para
o sopé da Montanha Tai Leung onde passou a comercializar vagens. Um marginal
chamado Wong, famoso por ser um forte e habilidoso lutador, engraçou-se pela
linda Yim Wing Chun, ameaçando a tomá-la à força em data determinada caso ela
se recusasse a casar-se com ele.
Yim Wing Chun – A
monja Ng 'Mui que estava hospedada no templo da Garça Branca, tinha o hábito de
descer à vila, no sopé da montanha, para comprar provisões. Certo dia, ao
comprar vagens de Yim Yee, ele ficou sabendo da história do velho monge shaolin
que se sentia impotente para defender sua jovem filha. A Monja então decidiu a
ensinar em secreto técnicas efetivas de auto-defesa à Yim Wing Chun, para que
assim ela expulsasse Wong da aldeia de vez. Após três anos de treinamento, Yim
Wing Chun se tornou apta e finalmente surpreendeu a Wong ao desafiá-lo para um
combate, com a condição que ele se retiraria da aldeia permanentemente caso
perdesse. O arrogante Wong foi vencido pela técnica eficiente de Yim Wing Chun
e teve que cumprir sua promessa humilhado.
Obs.: As histórias da monja Ng 'Mui e Yim Wing Chun seriam na verdade folclore segundo alguns historiadores chineses, lendas inventadas para protegerem a verdadeira identidade do criador do estilo Wing Chun, um dos sobreviventes da destruição do templo Shaolin. Tratarei da versão oficial chinesa sobre a história do Wing Chun numa próxima postagem.
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Representação do confronto entre Wong e Yim Wing Chun |
Leung Bok Chau –
Ele era o noivo prometido à Yim Wing Chun ainda criança, finalmente se casaram
como era previsto. Leung Bok Chau já praticava artes marciais e ambos se
habituaram a trocar idéias e aperfeiçoar o conhecimentos sobre as técnicas que
conheciam. Com o tempo Leung Bok Chau teve que admitir que as técnicas de sua
esposa, aparentemente frágil, eram extremamente efetivas e superiores às
suas. Assim ele passou a chamar aquele
estilo feio e sem floreios estéticos de Wing Chun Chuan (ou Ving Tsun Chuan),
que quer dizer, “arte dos punhos de Wing Chun”.
O caminho do Wing
Chun Chuan – Leung Bok Chau após absorver o estilo efetivo da esposa o
transmitiu a um médico herbalista chamado Leung Lan Kwai. Este por sua vez o
transmitiu a Wong Wah Bo, um ator de ópera chinesa. Wong Wah Bo o transmitiu a Leung
Yee Tei (ou Leung Ye Tay), bastoneiro do lendário junco vermelho responsável por levar ópera às cidades e que conhecia a
técnica do bastão longo como poucos, que lhe teria sido ensinada por um velho
monge chamado Gee Shin. Leung Yee Tei em troca da técnica dos punhos de Wing
Chun, passou a Wong Wah Bo a técnica de bastão (chi Kwun) que foi agregado ao
estilo Wing Chun Chuan.
Obs.: A história oficial conta que o junco vermelho que transportava artistas de ópera também treinados em artes marciais, era na verdade um movimento aliciador de rebeldes contra o governo opressor vigente. Tratarei desse assunto numa próxima postagem.
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O junco vermelho com artistas de ópera chinesa e Leung Yee Tei ensinando a técnica do bastão à Wong Wah Bo |
Já idoso, Leung Yee Tei transmitiu seu conhecimento a Leung
Jan, um médico erudito e perito em ervas medicinais bem conceituado da cidade
de Fatshan na província de Kwangtung, mesma província onde tinha nascido Yim
Wing Chun.
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Leung Jan (à esquerda) e Leung Bik (à direita) |
Leung Jan, também conhecido como “O rei do kung fu de Wing Chun”
transmitiu o estilo aos seus dois filhos Leung Chun e Leung Bik, e finalmente a
Chan Wah Shun, também conhecido como “Wah, o trocador de dinheiro”, um cambista
que tinha um posto de troca de moedas para facilitar o comércio na região.
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Chan Wah Shun, conhecido como "Wah, o trocador de dinheiro" |
YIP MAN - UMA BREVE BIOGRAFIA
Mestre Chan Wah Shun teria ensinado Wing Chun por trinta e
seis anos, conta-se que teve apenas 16 discípulos selecionados, dentre os quais
seu filho e sua nora. Quando estava com mais de 70 anos foi gentilmente
convidado a ensinar a sua arte no templo ancestral da família Yip, que era uma
das mais tradicionais e ricas de Fatshan (ou Foshan), na província de Guangdong
(ou Kwangtung). Lá ele lecionou até a sua morte. Um franzino garoto de 13 anos,
chamado Yip Kai-Man, filho do proprietário do templo, se apresentou com suas
economias ao mestre Wah implorando para ser aceito como discípulo.
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Grão Mestre de Wing Chun Chuan, Yip Man |
Yip Man (ou
Ip Man) nasceu em 01 de outubro de 1893, filho de Yip Dor Mai (pai) e Ng Shui
(mãe), sendo o terceiro de quatro filhos, teve também um alto padrão
educacional. Sendo aceito pelo mestre Wah, Yip Man treinou sobre a orientação
dele até aos 15 anos, quando ocorreu a morte de seu mestre. Yip Man se dedicou
com muita disposição aos treinamentos, surpreendendo o mestre Wah que não
esperava tanta garra de um jovem mimado. Com a ausência do mestre Wah os
ensinamentos a Yip Man foram
administrados por um dos discípulos mais experientes da escola, Ng Chung-sok. Aos 16 anos, Yip Man foi matriculado no
Colégio St. Stephen que adotava métodos de ensino ingleses. As brigas entre
alunos chineses e ingleses eram frequentes e Yip Man valeu-se de seu conhecimento
de Wing Chun para sobressair-se sobre os demais e liderar sua turma, apesar de
sua baixa estatura e físico franzino. Yip Man se tornou arrogante e orgulhoso
por isso até que foi incentivado pelos colegas a enfrentar um veterano mestre
de kung fu de 50 anos. O mestre cinquentenário que se apresentou como Leung,
ficou admirado com a petulância do jovem Yip, discípulo do mestre Wah, que só
queria o confronto e não prestou a atenção nas observações dele sobre as formas
(katis) Sil Lim Tao e Chun Kiu executadas por Yip Man. Ao ser corrigido pelo
mestre Leung, o jovem obstinado partiu para cima deste, mas Yip foi derrubado
com facilidade. Humilhado, Yip Man veio
a saber pouco depois que o homem que o derrotara não era ninguém menos que
Leung Bik, o filho mais novo do grão-mestre Leung Jan. Yip Man arrependido por ter insultado o
mestre, voltou a procurar por Leung e lhe implorou para ser seu discípulo. E
assim aconteceu, treinado por Leung Bik, Yip Man desenvolveu sua técnica de
forma espantosa e aos 24 anos voltou para Fatshan. Entre os anos de 1937 e 1941
Yip Man serviu ao exército chinês numa tentativa em vão de deter a invasão
japonesa. Derrotado, Yip Man retornou a Fatshan. Mas com o fim da segunda
grande guerra mundial em 1945, as coisas
não melhoraram para a China devastada e humilhada. Logo ocorreu uma guerra
civil entre os nacionalistas e os comunistas. Yip Man serviu do lado
nacionalista como capitão de patrulha no condado de Namhoi. Nessa época, a
primeira esposa de Yip Man adoece gravemente e falece. Como os comunistas
venceram em 1949, Yip Man como Capitão da polícia nacionalista se vê obrigado a
fugir para Hong Kong, na época colônia britânica. Aos 51 anos de idade Yip Man
recomeça sua vida do nada, auxiliado pelo amigo Lee Man, um empregado da Associação
dos Trabalhadores de Restaurante de Hong Kong, que lhe cede o terraço do
edifício para que ele ministrasse aultas de Wing Chun para tentar sobreviver.
Com muitas dificuldades abre sua própria escola dois anos depois, na rua Lei
Dat, no distrito de Yaumatei em Kowloon.
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Yip Man e díscípulos em Hong Kong |
Em 1954 se casa novamente, sua academia começa a prosperar pois seus
alunos começam a provar a eficiência do Wing Chun nas ruas e em competições
divulgando positivamente o nome da academia de mestre Yip e do estilo efetivo e
prático do estilo Wing Chun Chuan. Em 1967 foi fundada a Associação Atlética
Wing Chun de Hong Kong e franqueia seus cursos a preços mais populares,
aumentando sua rede de academias. Em 1970, aos 72 anos de idade, Yip Man decide
não mais lecionar. Sua saúde estava bastante fragilizada e ainda descobre que
estava com câncer na garganta, talvez graças ao seu hábito de fumar cigarros,
seguido até por seu filho Yip Ching.
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Yip Man e seus dois filhos, Ip Ching e Ip Chun |
Yip Man também era usuário de ópio, um
hábito ainda que nocivo, adquirido para
amenizar as dores causadas por uma úlcera estomacal que o atormentou por boa
parte de sua vida, mas há o lado social que ele poderia ter herdado de sua
família em que, tradicionalmente, era um hábito comum entre os senhores da
elite chinesa fumarem ópio em reuniões sociais ou de negócios ou mesmo usar a
droga como relaxante após uma noite de apresentação no teatro, tal como fazia o
ator Lee Hoi Chuen, pai de Bruce Lee.
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O velório do mestre Yip Man |
O pior acontece em 02 de dezembro de 1972,
Yip Man falece poucos meses antes de seu
mais famoso discípulo, Bruce Lee. Poucas semanas antes de morrer, Yip Man
solicita a seu filho Yip Chun e seu discípulo Leung que filmem ele praticando
os dois katis de Wing Chun e as técnicas do Mudjong (boneco de madeira) já que
temia que após seu falecimento, seu ensino fosse modificado ou deturpado. As
filmagens foram feitas e nelas pode se perceber em alguns momentos Yip Man
exitando durante alguns movimentos em virtude das dores que o incomodavam. Mas
imagens do grão-mestre de Wing Chun foram preservadas para a prosperidade.
Filmes produzidos
sobre a saga de Yip Man – De 2008 a 2013 foram produzidos cinco filmes sobre
a vida de Yip Man que avaliei, na média, como bons. São eles:
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Os quatro melhores filmes sobre Yip Man |
- O Grande Mestre (Ip Man, 2008), com Donnie Yen
interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;
- O Grande Mestre 2 (Ip Man 2, 2010) ainda com Donnie Yen
Interpretando Yip Man, avaliado como muito bom;
- O Grande Mestre 3 – A Lenda Nasce (Ip Man 3 – The Legend
is Born, 2010) com Dennis To interpretando Yip Man, contando a participação de
Yip Chun (filho de Yip Man) e Sammo Hung, avaliado como bom;
- O Grande Mestre 4 – A Luta Final (Ip Man 4 – The Final
Fight, 2013) com Anthony Wong interpretando Yip Man e com outra participação de
Yip Chun. Este quarto filme fecha a série sobre a vida de Yip Man e foi
avaliado como muito bom;
- O Grande Mestre (The Grandmaster, 2013) com Tony Leung e
(a belíssima) Zhang Ziyi. O filme de outra produção e direção não segue a
sequência dos quatro anteriores e a história não é totalmente fiel à biografia
de Yip Man, avaliado como regular para bom.
O MESTRE E O DISCÍPULO
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Mestre Yip Man e o jovem Bruce Lee |
Há muitas especulações sobre como era o relacionamento de
mestre e discípulo entre Yip Man e Bruce Lee antes e, principalmente, durante
da fama do “rei do kung fu”. Bruce Lee desde criança era inquieto, um estudante
medíocre e sempre foi atraído para as brigas de gangs nas ruas de Hong Kong,
apesar de ser filho de um renomado ator de teatro de classe média alta. Pelas
muitas confusões em que se metia, seu pai o encaminhou aos 13 anos (em 1953) à
academia de Wing Chun do mestre Yip Man, na qual treinou por mais ou menos
quatro anos com a esperança que o filho adquirisse senso de responsabilidade e
disciplina.
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Yip Man e Bruce Lee numa sequência de técnicas de Wing Chun |
Tudo indica que Bruce Lee se adaptou perfeitamente àquele estilo
diferente e feio de Kung Fu, mas que porém era muito efetivo e prático. Mas não
foi o suficiente para lhe afastar das confusões, e assim temendo pela
integridade física do filho, Lee Hoi Chuen aguardou que Bruce Lee completasse dezoito
anos de idade e o embarcou no final do ano de 1958 para os Estados Unidos para
que ele exercesse sua cidadania americana, levando na bagagem além de alguma
dezena de dólares, um conhecimento considerável de Wing Chun Chuan e briga de
rua. A principio ele trabalhou num restaurante chinês em San Francisco, na
California, onde começou a dar aulas de Wing Chun Kung Fu para amigos e pessoas
selecionadas; formou-se em filosofia e casou-se com a norte-americana Linda Lee.
Em 1964 , Bruce Lee foi descoberto numa impressionante exibição no torneio
Internacional de Karate em Long Beach, California, que lhe valeu a convocação
para estrelar o papel de Kato na série de TV “O Besouro Verde” (The Green
Hornet) poucos anos depois. O resto é história. Em 1º de fevereiro de 1965
nasce Brandon Bruce Lee, em Oakland, na California; quase uma semana depois, no
dia 07 de fevereiro, falece Lee Hoi-Chuen o pai de Bruce Lee em Hong Kong, aos
64 anos. No mesmo ano, numa viagem a
passeio em Hong Kong, Bruce Lee apresentaria seu filho Brandon Lee, com poucos
meses de nascido, ao velho mestre Yip Man.
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Yip Man e Brandon Bruce Lee |
Há também outros registros
fotográficos de Yip Man ao lado de Brandon, quando este aparentava ter mais ou
menos 5 anos de idade, ou seja, por volta de 1971, no mesmo ano em que Bruce
Lee já estava de volta com a família para morar em Hong Kong e era lançado com
estrondoso sucesso seu primeiro filme de artes marciais, “O Dragão Chinês” (The
Big Boss). Bruce teria prometido recompensar Yip Man de alguma forma após ter o
retorno financeiro com seus filmes. Ele tinha consciência das dificuldades
materiais e dos problemas de saúde do mestre, apesar dos cuidados e serviços notórios
prestados pelos filhos deste, Yip Chun e Yip Ching, e demais discípulos. O fato
é que Bruce Lee se sentia em dívida com Yip Man.
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Bruce Lee e grão mestre Yip Man em Hong Kong, por volta de 1971 |
Infelizmente, em 02 de dezembro de 1972, Yip Man falece
vitimado por um câncer de garganta aos 79 anos bem vividos. Era o ano em Bruce
teria protagonizado seu terceiro filme, “O Vôo do Dragão” (The Way of the
Dragon) com algumas cenas filmadas em Roma, e que teve a participação especial
dos campeões Chuck Norris (faixa prêta de Tang Soo Do) e Bob Wall (faixa prêta de
Karatê). Não há registro oficial de algum encontro entre Bruce Lee e Yip Man no
ano do falecimento do mestre de Wing Chun e nada que possa comprovar que Bruce
Lee tivesse comparecido ao seu velório. Apesar de terem sido divulgadas algumas
fotos de Bruce Lee numa cerimônia fúnebre ou memorial, mas que não comprova que
seja realmente do velório de Yip Man. Algumas fontes afirmam que ele não apareceu
temendo causar um tumulto durante a cerimônia, o que poderia realmente ter
acontecido, pois Bruce Lee já era um superstar em toda a Ásia. Mas Deus
permitiu que Bruce Lee morresse subitamente meses após o falecimento de Yip
Man, em 20 de julho de 1973, aos 32 anos, vitima de um edema cerebral. No filme
de 2013, “ O Grande Mestre 4” (Ip Man 4 – The Final Fight) com Anthony Wong no
papel de Yip Man, exibe-se uma cena de cunho difamatório a Bruce Lee onde um
ator (sempre de costas) que em nada lembrava o “rei do Kung fu” encontra
casualmente com o mestre Yip em Hong Kong e o assedia tentando impressioná-lo
com seu status de estrela de cinema, prometendo-lhe ajuda e um apartamento
novo, cigarros americanos e uma carona
na sua limusine nova, ao que o mestre gentilmente recusa continuando sua
peregrinação diária pelas ruas de Hong Kong, para a decepção do “astro das
artes marciais” . Como já foi dito, não
era necessário difamar um para enaltecer o outro.
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O mestre despretensioso e o futuro rei do kung fu |
Creio que Bruce Lee tinha
grande gratidão e elevada consideração por Yip Man, infelizmente ele não teve a
oportunidade adequada para demonstrar devidamente todo esse respeito, de forma pública
e apropriada, esperado de um discipulo leal ao único mestre de artes marciais
que teve em vida.
Por Eumário J. Teixeira.