O ÁS DOS ASES
Em abril de 2013 completar-se-ão 95 anos da sua morte, alguns nunca ouviram falar dele, outros já ouviram alguma coisa, muitos
acham que não passa de uma lenda, um personagem fictício de filme ou desenho
animado; mas na verdade, o Barão Vermelho existiu e dominou parte dos céus da
Europa na segunda metade da Primeira Guerra Mundial. Historiadores o
classificaram como um sanguinário e impiedoso caçador e outros como um piloto
de caça romântico e que era respeitado mesmo até pelos seus adversarios. Vários
mitos se criaram em torno de sua breve vida e suas proezas e, certamente, sua
fama não se fez do nada. Assim, através desta postagem me permito homenagear ao
Red Baron, um homem sem mêdo e que sem dúvida foi o maior e mais temido piloto
de caça da história. Não estou fazendo apologia à guerra e muito menos ao
imperialismo alemão, apenas reconhecendo o valor de um personagem histórico que
se destacou por seus princípios éticos e morais, num ambiente de horror e caos
que só um conflito mundial como aquele poderia gerar. Um nobre oficial alemão que
foi honrado pelos próprios inimigos no seu túmulo de morte.
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Ilustração do Albatros D-V do Barão Vermelho, semelhante ao D-III
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Lothar, Albrecht (o pai) e Manfred: caçadores e aristrocatas |
Espírito de caçador - Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen
nasceu no dia 2 de maio de 1892, em Breslau, na Silésia (hoje Wroclaw, Polônia)
que fazia parte do então Império Alemão. Aos nove anos mudou-se com sua família
para Schweidnitz (hoje Swidnica, Polônia). Ainda adolescente desenvolveu o
gosto pela caça e pela equitação incentivado pelo pai, Albrecht Karl Freiherr
von Richthofen, que era oficial da Cavalaria do regimento Uhlan e um nobre
proprietário de terras. O título nobiliárquico hereditário de Freiherr (que
significa Barão) foi concebido à família pelo Imperador da Prússia Fredererico,
o Grande, em 1741. Nas caçadas à javalis, alces, veados e aves, que fazia
acompanhado pelo pai e os irmãos Lothar e Karl Bolko, era notório a astúcia e
paciência do jovem Manfred para esperar o melhor momento e posicionamento para
dar um único tiro fatal que abateria sua presa. Aos 11 anos, Manfred entrou na
escola de cadetes prussianos, onde após se formar como cadete-oficial, ingressou-se
no 1º Regimento de Cavalaria Uhlan, em 1911 aos 19 anos.
A Guerra - Quando estourou a primeira guerra guerra mundial em
agosto de 1914, a sua unidade de
cavalaria foi enviada para enfrentar os russos e cabia ao jovem oficial Manfred
Richthofen fazer o trabalho de reconhecimento de campo no leste. O cumprimento
de forma eficaz de sua função foi reconhecido através da condecoração com a
Cruz de Ferro em 23 de setembro de 1914. Em seguida foi deslocado para a frente
ocidental onde atuou, a contragosto, na retaguarda sem correr riscos. Percebendo-se
que a cavalaria era inútil contra as metralhadoras posicionadas nas trincheiras,
se tornando assim obsoleta na guerra moderna, o regimento foi remanejado como infantaria mesmo
permanecendo na retaguarda. Anda insastifeito, Richthofen escreveu ao oficial
superior pedindo transferência para a unidade aérea Luftstreikräfte (Forças
Aéreas de Combate) que se tornaria no futuro a temida Luftwaffe, destacando-se
em sua solicitação as seguintes palavras: “Não vim para a guerra para apanhar
queijos e ovos”.
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Manfred von Richthofen, livre para voar |
Ânsia por voar - O desejo de Manfred foi atendido e ele foi
incorporado ao 69º Esquadrão de Vôo durante a ofensiva a Brestlitovsk, de junho
a agosto de 1915. A princípio pilotou aviões de reconhecimento sem participar
diretamente das batalhas aéreas. Em pouco tempo foi transferido para Ostend, no
front ocidental, com a mesma função de observador. Transferido novamente, desta
vez para a região de Champane, alçou vôo como auxiliar do tenente Paul von
Osterroth manejando uma metralhadora de ré, conseguindo derrubar seu primeiro
avião, de modelo Farm, apesar dessa vitória não ter sido confirmada
oficialmente porque o avião caiu em território inimigo. Seu sonho começou a se
tornar realidade quando iniciou seu treinamento de piloto em outubro de 1915. Em
seu primeiro vôo solo, Manfred danificou seu avião na aterrisagem. Mas ele insistiu e recebeu o
seu certificado de piloto próximo ao Natal de 1915. Em março de 1916 ele aprendeu
a pilotar o modelo Albratros B-II, um caça de dois assentos, de motor de 100
hp, que desenvolvia a velocidade de 100 km/h e alcançava o teto de 3.000 m de
altitude e que tinha uma metralhadora na parte superior da asa disparando para
a frente. Com este avião teria alvejado, no dia 26 de abril de 1916, um modelo
Nieuport francês que sobrevoava Verdun. Manfred Richthofen foi novamente
enviado para o front russo, onde passou a voar em aviões de reconhecimento e bombardeiros,
destruindo estações ferroviárias, pontes e regimentos de cavalaria cossacos com
certa segurança, pois o russos não dispunham de muitos aviões para
interceptá-los. Mas ainda não era o que
ele almejava, ou seja, os duelos nos ares.
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Oswald Boelcke, o primeiro ás e mentor de Manfred |
O encontro com Boelcke e o Jasta 2 - O seu destino começa a mudar
quando em agôsto de 1916, ele se encontra
casualmente com o herói nacional e ás da aviação, Oswald Boelcke, o
maior piloto de guerra alemão até então, ao lado de Max Immelmann. Boelcke
estava selecionando talentos para seu esquadrão Jagdstaffell 2 e Manfred lhe
pareceu decidido e impetuoso o bastante para integrá-lo. No Jagdstaffell (ou Jasta)
2 e pilotando um biplano Albatross D-II, Manfred derrubou oficialmente seu
primeiro avião em 17 de setembro de 1916, uma aeronave inglesa. O piloto e
observador ingleses foram socorridos em
linhas alemãs. Mas não resistiram aos ferimentos e Richthofen, após o
sepultamento de ambos, colocou uma pedra no túmulo do piloto em respeito ao
inimigo derrotado, uma homenagem que o fez ser considerado mesmo entre os
adversários e se tornou uma de suas principais características durante a
guerra. Manfred descreveu a experiência de sua primeira vitória e suas futuras conquistas em um diário que se
tornou um livro autobiográfico, “Der rote Kampfflierger”, que poderia ser
traduzido como “O Piloto de Combate Vermelho”. Outro hábito desenvolvido por
ele, era o de mandar confeccionar pequenas taças ou copos de prata com o tipo
de nave abatida e a data de confronto cravados; como também o costume de pegar
uma peça do avião inimigo como
recordação, isso quando geralmente o piloto inimigo fosse digno de seu
reconhecimento.
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O corpo e o albatross D-II destroçado de Boelcke |
A morte de Boelcke - Inesperadamente, em 28 de outubro de 1916, as
forças aéreas alemãs sofrem uma grande baixa. O modelo Albatros D-II do ás
Oswald Boelcke choca-se com uma aeronave de seu próprio esquadrão, durante uma
batalha aérea. Boelcke consegue ainda controlar seu caça e tenta aterrissagem,
mas o choque da aeronave no solo foi muito forte e Boelcke sofre um traumatismo
craniano fatal. O então idolatrado piloto alemão, que já tinha abatido 40
aeronaves inimigas, morre aos 25 anos de forma tão absurda deixando todo um
esquadrão sem sua grande e inspiradora liderança. Manfred Richthofen carregou
as condecorações de Boelcke durante o funeral. Em paralelo à tragédia ocorrida
para a aviação alemã com a perda de Boelcke, a perícia de piloto de caça de
Manfred se destacava abruptamente, pois em apenas dois meses de vôo solo, já
havia derrubado 11 aviões inimigos. Uma vitória importante para Manfred foi
quando, pilotando um Albatros biplano D-III, derrubou o ás inglês, major Lanoe
Hawker, comandante do 24º esquadrão em 23 de novembro de 1916. Manfred levou
consigo a metralhadora do avião britânico como souvenir. Essa vitória serviu
também como uma resposta à morte de Boelcke. No mesmo dia Manfred foi
condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Casa Real de Hohenzaollem com
Espadas. O comando alemão preocupado com a repercussão negativa da morte de Boelcke
na moral de seus combatentes, trataram de promover e achar o seu substituto: o
jovem e impetuoso piloto, Manfred Richthofen, ele seria o próximo “deus”
invencível dos ares. Richthofen chegou a declarar: “Sobretudo não passo de um
piloto de combate, mas Oswadl Boelcke era um verdadeiro herói”.
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Manfred von Richthofen exibe em seu peito a Pour Le Mérite |
A Ordem Pour Le Mérite e o Jasta 11 - A sua fama crescia na Europa,
sendo cada vez mais temido pelos pilotos ingleses e franceses; assim, não foi
difícil para ele assumir a liderança de seu próprio esquadrão por indicação
direta do Imperador Wilhelm II que também lhe concedeu a maior honraria para um
piloto, ser condecorado com a ordem Pour Le Mérite em 12 de janeiro de 1917. O
novo esquadrão Jasta 11 era integrado por pilotos ainda inexperientes e cabia a
Manfred doutriná-los nas estratégias do combate aéreo. Após um incômodo período
de inatividade, muito treinamento e instruções, o Jasta 11 se tornou o celeiro
dos mais competentes e destemidos pilotos de caça alemães, que na maioria como
Richthofen, eram aristocratas e defendiam seu próprio código de honra e de
espírito cavalheiresco. O próprio Manfred pregava aos seus comandados: “Os
pilotos são como esportistas que apenas abatem os aviões e não perseguem os
pilotos”. Essa idéia de Manfred parecia lhe transportar para um mundo paralelo
alheio à realidade cruel da guerra, principalmente nas batalhas ocorridas fem
solo nas trincheiras onde os soldados da infantaria eram rasgados nos arames
farpados, perfurados pelas baionetas, metralhados pelo fogo inimigo,
despedaçados pelas granadas e sufocados ou cegos pelos gases mortais. Nos ares
ele se sentia livre como um nobre cavaleiro medieval medindo sua destreza de
combate contra um valoroso oponente. Seu irmão Lothar Richthofen inesperadamente
se integra ao esquadrão, uma progaganda estratégica do comando de guerra para
propagar ao povo germânico a imagem patriótica dos intrépidos irmãos aviadores
lutando lado a lado pelo triunfo do império alemão. Mas, ao contrário de
Manfred, Lothar tinha sua visão particular e menos romântica da guerra, ou
seja, o inimigo teria que ser perseguido até ser totalmente destruído, avião e
piloto. Essa foi a razão do irmão mais velho e famoso o classificar como um
“sanguinário”.
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O esquadrão colorido do Jasta 11, o Circo Voador de Richthofen |
O Barão Vermelho e o Circo Voador no Abril Sangrento - Como
comandante do Jasta 11, o tenente Manfred von Richthofen passa a pilotar um modelo
biplano Albatros D-III (de comprimento: 7,32 m; envergadura: 8,99m; velocidade
máxima: 175 km/h), surpreendendo a todos ao mandar pintar sua aeronave
totalmente de vermelho. Daí o surgimento do apelido de “barão vermelho”. Alertado
pelos seus comandados que ele se tornaria um alvo visado a longa distância com
sua aeronave vermelha, ele retrucou que sua intenção era realmente ser avistado
e impor temor aos seus adversários, já que sua fama de invencível e implacável
caçador assolava boa parte dos céus da Europa. Em abril de 1917 ele já tinha
acumulado 50 vitórias e a lenda do “Barão Vermelho” só aumentava. Neste mês
somente ele tinha abatido 21 aviões, sem contar as aeronaves interceptadas pelos
seus companheiros. Os ingleses sofreram grandes baixas e denominaram o período
de “Bloody April” (abril sangrento). Os outros pilotos do Jasta 11 passam a
usar também cores berrantes em seus aviões assim que provassem sua perícia no
ar e não demorou muito para que a temida esquadrilha fosse apelidada de “o Circo
Voador do Barão Vermelho” justamente em função das fortes cores de suas aeronaves.
O esquadrão colorido voava em formação próximo ao front em patrulhas regulares
com objetivos táticos, como um circo itinerante. Além do codinome “Red Baron”
(barão vermelho), Manfred era também chamado pelos aviadores adversários como
“Le Diable Rouge” (o diabo vermelho) ou “Le Petit Rouge” (o pequeno vermelho)
pelos franceses e “The Red Knight” (o cavaleiro vermelho) pelos ingleses.
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O Barão Vermelho perseguindo e abatendo aviões ingleses |
As características de um implacável caçador - As vitórias
acumuladas por Manfred von Richthofen eram devidas principalmente à sua
aplicação tática, sua destreza e ao seu sangue-frio mesmo em situações
desfavoráveis. Sem mencionar sua dedicação e senso de dever exemplares. Das
principais habilidades do Barão Vermelho se destacavam o cálculo preciso de
distância do inimigo, sua grande habilidade para manobrar o seu avião e sua
capacidade de avaliar friamente uma situação favorável ou desfavorável de combate.
Como ele mesmo dizia: “Se você não tem como vencer o adversário, se retire
antes que seja abatido por ele.” Nas batalhas sangrentas do Abril Sangrento
quando enfrentou os triplanos ingleses, que eram mais potentes e manobráveis
mas que sofreram enormes baixas, Manfred concluiu por si mesmo: “O que importa
não é a máquina, mas a destreza do piloto.” Oswald Boelcke teria ensinado a
Manfred sua melhor estratégia de combate descrita no “Boelcke Diktat”, que era
atingir a maior altitude do que o inimigo e procurar vê-lo antes para assim poder
atirar primeiro, descendo pela parte traseira do adversário, de preferência com
o sol nas costas, dificultando assim sua visão e fuga. Tal estratégia não
deixava de ser um estilo aristocrático de cerco à caça adaptado para o combate aéreo.
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Manfred (ferido) e a enfermeira Kate Otersdörf, sua amante e companheira |
O Barão Vermelho é ferido - Em
06 de julho de 1917, pilotando desta vez, um modelo Albatros D-V
vermelho (comprimento: 7,33 m; envergadura: 9,05 m) que atingia a velocidade de
186 km/h, Manfred começou a perseguir um bombardeiro bimotor F. E. 2b. O
observador do bombardeiro percebendo sua aproximação eminente, acionou a sua metralhadora de ré contra o
Barão Vermelho e caprichosamente um projétil atinge Manfred na cabeça. Com o
impacto da bala ele ficou cego e sem reação por alguns segundos, mas se
recobrou a tempo para aterrisar com segurança escoltado por dois companheiros. O
Barão Vermelho, ferido, foi submetido a várias intervenções cirúrgicas
dolorosas para remover os fragmentos de ossos do crânio. O ferimento lhe trouxe
seqüelas permanentes, pois passou a ter dores de cabeça constantes, tendo
náuseas sempre que voltava dos vôos. Tais reações colaterais afetaram seu
temperamento, passando a ter crises alternadas de humor. Manfred Richthofen,
nesse período de recuperação, chegou a sair do esquadrão por ordem do alto
comando e assistir a realidade cruel dos
combates nas trincheiras e a viajar pelo país na tentativa de elevar o
moral do povo alemão. Nesta época tentaram fazer com que se recolhesse pois
temiam perder outro herói nacional em pouco espaço de tempo. Rebatendo as
recomendações ele declarou: “Eu me sentiria um miserável se agora, coberto de
fama e condecorações, desperdiçasse meu tempo como pensionista, preservando
minha vida à nação, enquanto que qualquer pessoa como eu cumpre seu dever,
resistindo na trincheira.” No período em que se recuperava do ferimento na
cabeça, Manfred teria sido cuidado pela enfermeira Kate Otersdörf, com quem
teve um romance significativo para sua
vida, fazendo com que até revesse seus conceitos pessoais e percebesse
que seu nome e imagem de um “deus que nunca morre” estavam sendo usados pelo
império alemão para justificar toda aquela carnificina gerada pela guerra. O
Barão Vermelho que nunca se recuperou inteiramente desse ferimento, não se
intimidou e com uma proteção de ataduras e uma touca, não tardou a se lançar
novamente aos combates. Além disso era superticioso, usava sempre o mesmo
casaco de couro quando voava e dizem que nunca partia sem ser beijado por
alguém que amava.
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Réplica do lendário Fokker DR-I triplano do Barão Vermelho |
O Fokker DR-I Triplano - Em setembro de 1917 Manfred Richthofen, o ás
dos ases, é apresentado ao modelo Fokker Dr-I triplano, uma aeronave menor (comprimento:
5,77m; envergadoura: 7,20 m) e mais ágil, em resposta aos triplanos ingleses.
Este novo modelo lhe proporcionava mais agilidade nas manobras evasivas e de
ataque, apesar de se tornar um alvo mais fácil numa trajetória em linha reta,
pois ocorria uma significativa perda de velocidade (atingindo no máximo 185
km/h). Com o Fokker Dr-I alcançou a marca inédita, até então, de 60 vitórias no
dia 1º de Setembro de 1917. A ironia é que a imagem do Barão Vermelho ficou
mais associada ao Fokker triplano com o qual obteve apenas 20 vitórias, no
total impressionante de aviões derrubados
em toda sua carreira; apesar dele ter abatido a maioria de suas vítimas com o Albatros
D-III. Sobre a agilidade do pequeno
triplano, o capitão Manfred von Richthofen declarou: “Ele sobe como um macaco e
é tão ágil quanto o demônio”. O desempenho de Richthofen incomodou tanto aos
aliados que sua cabeça foi posta a prêmio. O piloto que conseguisse derrubá-lo
seria bem recompensado. O Barão Vermelho alcança sua 64ª vitória em março de
1918 ao abater o avião do piloto inglês H. J. Parks que se feriu gravemente.
Demonstrando seu “espírito esportivo”, Manfred enviou ao adversário
hospitalizado, uma caixa de charutos. A 80ª e última vitória de Manfred von
Richthofen ocorreu em 20 de abril de 1918, quando abateu o tenente D. E. Lewis
que sobreviveu ao confronto e foi capturado pelas forças alemãs.
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O Barão Vermelho foi perseguido e abatido em linhas inimigas |
A morte do Barão Vermelho - Em 21 de abril de 1918, o esquadrão
alemão liderado pelo Barão Vermelho partiu rotineiramente para interceptar mais
alguns aviões de observação, modelo Sopwith
Camels ingleses, quando estes faziam um reconhecimento fotográfico. Manfred se desgarrou
do esquadrão para perseguir sua 81ª vítima, a aeronave pilotada pelo tenente
Wilfrid May que se desviava em zigue-zague
das investidas do Barão Vermelho, que surpreendentemente invadiu as linhas
inimigas durante a perseguição, se descuidando também da retaguarda, próximo a
Sailly-le-Sac, um território francês controlado pelas forças australianas.
Voando a baixa altitude e em linha reta se tornou alvo para a artilharia em
terra inimiga e um alvo perfeito para o avião do capitão Canadense Roy Brown
que estava colado na sua traseira com um Sopwith Camel. Não se sabia até pouco
tempo se foi o fogo da artilharia anti-aérea australiana ou as rajadas disparadas
do caça de Brown que derrubou o Barão Vermelho que não teve tempo para retornar
em direção às suas linhas, mas o certo é que o avião de Manfred Richthofen foi
atingido e pousou com dificuldade no solo. Manfred a essa altura da guerra
tinha se tornado o alvo estratégico a ser abatido, seu avião vermelho estava
visado e tinha que ser derrubado custe o que custar.
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Perseguindo a provável 81ª vítima, Manfred se descuida |
Não me parece improvável a
idéia de que um piloto aliado se posicionasse como isca atraindo-o para as
linhas inimigas e outro ficaria de
prontidão para abordá-lo pela retaguarda. Se tal hipótese não for razoável, é
certo que o Barão Vermelho simplesmente não observou suas próprias regras de
auto-preservação se expondo tanto naquele fatídico dia. É certo que desde
quando foi ferido na cabeça em julho de 1917, o Barão nunca mais foi o mesmo.
De qualquer maneira, Roy Brown, ao que consta, nunca confirmou ou desmentiu seu
feito. Os artilheiros australianos Robert Buie e Cedric B. Popkin revindicaram
ter dado o tiro fatal. Muitas décadas depois foi revelado através de estudos
durante uma reconstituição técnica, que o tiro fatal foi dado por Cedric B.
Popkin, que faleceu sem saber que ele era o autor da façanha. Quando a equipe
de resgate inimiga se aproximou do Fokker Dr-I, encontraram Manfred Richthofen
já sem vida. Ele tinha apenas 25 anos, tal como Oswald Boelcke. Um projétil
fatal penetrou no seu lado direito e pecorreu mortalmente os pulmões e o coração, vazando pelo seu peito
esquerdo. O já lendário Fokker Dr-I triplano quase sem danos foi praticamente
desmontado pelos soldados aliados que queriam guardar qualquer lembrança do
famoso piloto de caça alemão.
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Honrarias inimigas no funeral do Barão Vermelho |
Funeral e homenagens dos inimigos - Era o início do mito do Barão
Vermelho. Ele foi enterrado em território inglês, com honrarias e salva de 21
tiros. Como um homem assim homenageado pelos inimigos britânicos, poderia ser
taxado de vilão, cruel e sanguinário? Logo após as homenagens, os aviões
ingleses lançaram panfletos sobre a base aérea alemã anunciando a morte do até
então “invencível” Barão Vermelho. Fotografias também foram tiradas do seu
funeral. Os panfletos lançados tinham a
seguinte mensagem: “Para o Corpo Aéreo
Alemão: O Capitão Manfred Freiherr von Richthofen foi morto em combate aéreo em
21 de abril de 1918. Ele foi enterrado com todas as honras militares. Assinado:
British Royal Air Force.” Sete anos depois de sua morte, o cadáver foi exumado
a pedido da família e sepultado em Berlim, com mais honras militares e grande
participação popular. Réplicas do triplano Fokker DR-I em que Richthofen foi
abatido estão expostas na maioria dos museus de tecnologia e aviação do mundo.
Manfred von Richthofen se tornou nome de esquadras, quartéis, praças e ruas por
toda a Alemanha. Nos seus poucos anos de vida, Manfred von Richthofen
experimentou com intensidade a liberdade que sempre amou desde sua juventude
quando caçava livremente nos bosques com seus irmãos, planou e voou como um
verdadeiro albatroz nos céus europeus, combatendo lealmente como um desportista
seus inimigos sem o espírito sanguinário que injustamente lhe foi atribuído
pela história. Ele não fugiu de suas obrigações como militar, combateu
fielmente, mas sem experimentar o horror das fétidas trincheiras lotadas de
cadáveres e moribundos em terra, pois os vôos pareciam ser destinados apenas
aos cavaleiros de espírito nobre como ele, talvez o último representante de uma
estirpe que agora só conhecemos nos romances.
Curiosidades e lendas sobre o
Barão Vermelho:
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O interessante filme O Barão Vermelho, de 2008 |
O Barão Vermelho no cinema e no imaginário popular – Foi realizado
em 2008 um filme sobre o Barão Vermelho, numa co-produção da Alemanha e Reino
Unido sob a direção de Nikolai Müllerschön. “Der Rote Baron”/”The Red Baron” (O
Barão Vermelho , no Brasil) só foi lançado no Brasil em DVD, em julho de 2010.
Os principais locais de filmagem ocorreram na República Checa, França e
Alemanha. O filme foi feito na língua inglesa apesar da produção ter sido
majoritariamente alemã, para favorecer sua comercialização. No elenco estavam
Tomás Koutnik como Manfred von Richthofen (garoto); Matthias Schweighöfer como
Manfred von Richthofen (o Barão Vermelho); Lena Headey como Käte Otersdorf;
Joseph Fiennes como Tenente Roy Brown e Volker Bruch como Lothar von
Richthofen. Outro filme realizado anteriormente em 1971, pela United Artists e
MGM, “Von Richthofen and Brown” ('O Barão Vermelho' ou 'Águias em Duelo', no Brasil), trata principalmente
de uma suposta rivalidade entre os pilotos adversários Manfred Richthofen, o
Barão Vermelho e o tenente australiano Roy Brown, culminando no duelo final
entre os dois. A produção de Gene Corman e Roger Corman teve no elenco John
Phillip Law (O Barão Vermelho), Don Stroud (Roy Brown) e Barry Primus.
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Outra versão do cinema interessante da história do Barão Vermelho, "Von Richthofen and Brown", de 1971, com o eclético John Phillip Law. |
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O livro auto-biográfico de Manfred Richthofen |
O livro auto-biográfico de Manfred von Richthofen - Manfred escreveu
um livro autobiográfico durante a guerra, descrevendo sua infância, sua
família, sua fascinação pela caça e a natureza selvagem, seu amor pela
equitação, sua passagem pela escola de cadetes até chegar a servir no Regimento
Uhlan de Cavalaria e seu ingresso na força aérea alemã, descrevendo suas
primeiras experiências como observador até se tornar o temível e respeitado
Barão Vermelho. O título do livro em alemão é "Der Rot Kampfflieger",
traduzido para o inglês como "The Red Fighter Pilot", se fosse
traduzido para o português seria algo como "O Piloto de Combate
Vermelho". O livro foi escrito em
alemão em 1917 e traduzido para o inglês ainda em 1918 por J. Ellis Barker, com
o título "The Red Battle Flyer", debaixo de certa censura na época. Quase
um ano depois de sua publicação, o próprio Manfred von Richthofen julgou sua
obra como insolente, e antes de sua morte, ele chegou a declarar que não era
mais aquele tipo de pessoa.
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Batman derrota um seguidor do Barão Vermelho |
O Barão Vermelho nos quadrinhos - Na história em quadrinhos
desenhada por Neal Adams em 1975, Franz, um suposto descendente de um piloto da
1ª guerra de nome von Hammer, surge com seu Fokker Dr-I vermelho (uma clara
referência ao Barão Vermelho) para enfrentar Batman nos ares. Adivinha quem se
deu bem no duelo? Batman é claro.
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Uma versão hilária do Barão Vermelho na Corrida Maluca |
O Barão Vermelho nos desenhos animados - Nos desenhos da TV, lembramos
de “A Corrida Maluca” com seus hilários personagens, como Dick Vigarista e seu
cão assistente Muttley, Penélope Charmosa, Peter Perfeito e o Barão Vermelho
com o nº 4 na fuselagem do seu avião. Em outro desenho animado de mesma
produção, chamado “As Máquinas Voadoras”, sobre uma esquadrilha atrapalhada (uma
referência ao Circo Voador de Richthofen?!) que persegue um pombo correio em
plena 1ª guerra mundial, temos o mesmo
Dick Vigarista como líder pilotando um Fokker Dr-1 vermelho. Outro personagem
famoso, o cãozinho Snoopy, de Charlie Brown, tem como terrível adversário em
sua imaginação, o Barão Vermelho e seu Fokker Dr-I a quem enfrenta com seu caça
ou pilotando sua casinha de cachorro voadora. A imagem de vilão do Barão
Vermelho foi assim alimentada no inconsciente popular graças à animações com
essas. Mas a história revela o lado heróico e honroso de Manfred von Richthofen,
mesmo sabendo que no campo de guerra independentemente do lado pelo qual se
luta, existem apenas seres humanos e a grande maioria deles muito jovens e
valorosos atirados ao matadouro pelos verdadeiros donos e vilões deste mundo.
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Snoopy perseguido pelo Barão Vermelho |
O Barão Vermelho foi derrotado por um OVNI ? – A imaginação humana
não tem limites, recentemente surgiu uma teoria sobre o que realmente teria
abatido o temido Barão Vermelho. Foi divulgado que um outro piloto alemão
chamado Peter Waitsnik voava no momento e próximo ao local da queda de Fokker
Dr-I de Manfred Richthofen em 1918 e que ele teria afirmado que o Barão teria
sido abatido por um OVNI (objeto Voador não identificado) de luzes ondulantes
alaranjadas. O objeto brilhante surgiu de repente na frente do avião de Richthofen
que reagiu imediatamente abrindo fogo, mas foi atingido mortalmente pelo
OVNI e caiu ao solo. Finaliza assim Waitsnik em sua suposta declaração:
“Ficamos apavorados, pois nunca vimos uma coisa dessa antes...Já estou no fim
da vida e não tenho nada a perder ao revelar isso”. Só mesmo um piloto de outro
mundo para derrotar o invencível Barão Vermelho, acredite se quiser!
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Somente um OVNI poderia acabar com a carreira vitoriosa do Barão Vermelho?! |
O fantasma do Barão Vermelho – Diz a lenda que num período
aproximado de seis meses entre a morte de Manfred von Richthofen e o fim da primeira
guerra, pilotos aliados afirmaram que avistaram durante seus vôos o temido
Fokker Dr-I vermelho do Barão.
A nova Joana d’Arc e o albatross vermelho – Conta-se que durante a
fabulosa campanha do esquadrão Jasta 11 no “Abril Sangrento”, um dos pilotos
aliados capturados pelos alemães queria saber quem era a destemida piloto do
famoso albatross D-III biplano de cor vermelha berrante. O boato que corria
entre os aliados era que somente uma mulher que diziam ser a “nova Joana d’Arc”, poderia pilotar
um avião de combate pintado daquela cor. Para a surpresa do inimigo curioso,
Manfred von Richthofen que ouvia tudo e estava se contendo para não rir da
indagação do jovem piloto aliado, se posicionou frente a frente com o rapaz e
se apresentou como o verdadeiro piloto do albatros vermelho.
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Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho |
O Barão Vermelho no rock – Uma foto do esquadrão Jasta 11 liderada
pelo Barão Vermelho, foi usada (com alguns retoques) para a capa do famoso
disco Vol. II do Led Zeppelin. Outra banda que teve Manfred von Richthofen como
referência foi a criada por Guto Goffi (bateria) e Maurício Barros (teclados)
nos anos de 1980 em São Paulo, Brasil. Por sugestão de Guto escolheram o nome
“Barão Vermelho”. O grupo de pop rock, baladas & blues era integrado também
por Robert Frejat (guitarra), Dé (baixo) e Cazuza (nos vocais). O ápice para
Barão Vermelho foi a apresentação no Rock In Rio em 1985.
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Led Zeppelin plagiou uma foto do Jasta 11 para a capa do seu 2º disco |
Nota – Em uma próxima postagem, falarei um pouco
sobre aquele que foi considerado o pai da aviação de caça em todo o mundo, o
herói e mentor de Manfred von Richthofen e o primeiro ás alemão, Oswald
Boelcke.
Por Eumário J. Teixeira.