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Alexis Korner: o pioneiro do blues britãnico |
BRANCOS QUE DIFUNDIRAM O BLUES PELO MUNDO
O inglês Eric Clapton é unanimidade quando se fala em responsáveis diretos pela divulgação do blues pelo mundo, mas algumas figuras anteriores a ele e não tão populares quanto o famoso slow hand, foram essenciais para a revitalização do blues no início dos anos 60, influenciando inclusive as gerações das próximas décadas. É sabido que desde a segunda metade da década de 1950 parece ter havido uma espécie de conspiração nos EUA articulada por diversos setores da sociedade branca racista e moralista, incomodados com a ascensão daquela música negra incrivelmente sedutora e popular que ganhava terreno e que possivelmente iria perverter todos aqueles jovens brancos puros, ingênuos e alienados. Tentaram até uma versão branca para minimizar o impacto criando um tal do rock & roll, mas este foi da mesma forma combatido quando perceberam que o filho assim batizado, herdara a natureza rebelde do pai, ou seja, o blues. Mas voltemos aos caras do white blues, pois dentre tantos divulgadores, podemos citar os britânicos Peter Green e Jeremy Spencer (do Fleetwood Mac) e Brian Jones, guitarrista polêmico dos Rolling Stones; os norte americanos Mike Blomfield, Alan Wilson (do californiano Canned Heat) e Johnny Winter, guitarrista albino criado no Texas. Nos anos 80 outro personagem branco deu sua contribuição apresentando o blues para uma nova geração de adolescentes sedentos por um guitar-hero, era o também texano Stevie Ray Vaughan. Aqui no Brasil tivemos um bluesman pioneiro, Celso Blues Boy, na década de 1970. Vamos futuramente comentar um pouco sobre cada um, mas nesta oportunidade vamos começar com Alexis Korner, ele foi um dos primeiros brancos europeus tarados por blues, pelo menos é o que diz a história...
Alexis Korner – Nascido em 19 de abril de 1928 na França, Korner veio de uma descendência mista de turcos, gregos e austríacos. Na sua primeira década de vida foi criado na França, Suíça e no norte da África até chegar em Londres em maio de 1940 e justamente durante a invasão alemã. Foi a época na qual Alexis descobriu o blues norte-americano. Ele dizia que escutava um disco do bluesman Jimmy Yancey enquanto ocorria o bombardeio alemão sobre Londres, mas o que importava mesmo para ele era aprender a tocar o blues de Chicago. Depois do término da Segunda Guerra Mundial, ele se empenhou para aprender tocar piano e guitarra acústica. Em 1947 mudou para a guitarra elétrica, mas não gostou do som dos amplificadores disponíveis e retornou para a guitarra acústica. Em 1949 entra para a banda de Chris Barber (trombonista responsável pela divulgação do jazz na Inglaterra) e lá conhece Cyril Davies (1932-1964), com quem logo formou uma dupla que tocava blues elétrico nos circuitos de bares de Londres na década de 1950. Impulsionados pela boa aceitação pelo público londrino, ambos se empenharam em convidar vários bluesmen norte-americanos para se apresentarem na capital inglesa para maior divulgação do estilo e também como meio de intercâmbio musical, já que também tocariam com os mestres consagrados do legítimo blues nos shows.
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O jovem Alexis Korner |
A estratégia deu certo e atraiu entusiastas do estilo musical por toda a Inglaterra. Korner e Davies fariam sua primeira gravação em 1957 e no início de 1962 formaram o Blues Incorporated, um supergrupo, repleto dos melhores músicos da época em Londres em atividade: Korner (guitarra e voz), Davies (harmônica e voz), Ken Scott (piano) e Dick Heckstall-Smith (saxofone), com Charlie Watts ou Graham Burbridge como membros flutuantes na bateria, e da mesma forma Spike Heatley ou Jack Bruce no baixo elétrico e convidados em rotatividade da estirpe de Long John Baldry, Ronnie Jones e Art Wood (irmão de Ron Wood dos Faces e Stones) nos vocais. Não demorou e os clubes de jazz fecharam as portas para eles, pois os puristas do estilo não aceitavam mais o blues, talvez por ciúmes da sua crescente popularidade ou porque que na visão dos jazzistas, o blues não era sofisticado o bastante. korner e Davies em resposta abriram o próprio clube em março de 1962, o London’s Marquee Club. Jovens músicos amadores foram logo atraídos pelo movimento inédito em torno do blues, tais como Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones, formando seus próprios grupos. Vieram também em seguida Ian Stewart, Steve Mariott, Paul Jones e Manfred Mann. John Mayall, um dos pioneiros do blues britânico só formaria o legendário Bluesbreakers em 1963, inspirado no Blues Incorparated. Em junho de 1962, foi registrado a apresentação do Blues Incorporated no clube e lançado em novembro do mesmo ano em álbum entitulado R&B From The Marquee. Em seguida Cyril Davies deixa o grupo após Alexis decidir acrescentar metais ao som da banda. Em seguida ocorre a explosão do rock britânico em 1963, bandas que incluíam The Animals e The Yardbirds chegavam com novos elementos que atraíam os jovens, tornando-se portanto, comercialmente mais viáveis, deixando para trás os pioneiros tradicionalistas do Blues Incorporated.
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Alexis (guitarra) e o bluesman Sonny Terry (gaita) |
Enquanto bandas como os Rolling Stones e Cream apareciam em revistas de rock por todo o mundo, Alex se limitava a artigos especializados em blues somente na Inglaterra, seu espaço no showbusiness estava se estreitando. Assim ele resolve investir até em programas infantis na TV, como o Five O’Clock Club Show, onde apresentava à nova geração britânica o rico universo do blues e jazz. Explorava também sua voz diferenciada em propagandas na TV, enquanto gravava regularmente discos solo sem muito sucesso comercial mas excursionando pela Europa com muito boa aceitação, principalmente na Escandinávia. Chegou a gravar com o futuro vocalista do Led Zeppelim, Robert Plant, em 1968, mas não concluíram o trabalho. Participou regularmente por alguns anos da banda New Church do vocalista Peter Thorup. Conta-se que Brian Jones após sua demissão dos Rolling Stones, tentou se ingressar na New Church, mas foi rejeitado por Alex Korner, pois não queria a banda se envolvesse em controvérsias. Em 1972 se envolveu na separação de outro grupo, convocando os serviços de Boz Burrell, Mel Collins e Ian Wallace que tinham saído do King Crimson. Foi durante os anos de 1970 que ele teve seu único e maior hit, quando liderava junto a Peter Thorup uma big-band de estúdio de 25 membros, a Collective Consciousness Society (CCS), fazendo uma versão de “Whole Lotta Love” do Led Zeppelin, que lhe garantiu várias apresentações na TV e excursões pela Inglaterra. Em seguida Korner realizou Bootleg Him, um disco com tapes compilados de sua coleção pessoal, incluindo gravações com Robert Plant (do Zeppelin), Mick Jagger e Charlie Watts (dos Stones). Ele também participou da gravação, numa supersessão, do álbum de B. B. King titulado In London. Lançou logo após um disco próprio e similar, Get Off My Cloud, com Keith Richard (dos Stones), Peter Frampton, Nicky Hopkins e membros da Grease Band de Joe Cocker. Quando Mick Taylor deixou os Rolling Stones em 1975, Korner mencionou a possibilidade de substituí-lo, mas foi imediatamente descartada por Ron Wood que chegou antes.
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Korner, querido pelos colegas de blues & rock |
No ano de 1978 em comemoração ao seu 50º aniversário, foi realizado um concerto com várias estrelas, se destacando Eric Clapton, Paul Jones, Chris Farlowe and Zoot Money, show que mais tarde foi lançado em vídeo. Em 1981 Korner formou o último e grandioso supergrupo de sua carreira, o Rocket 88, composto por ele próprio na guitarra, Jack Bruce (ex-Cream) no baixo, Ian Stewart no piano e Charlie Watts (dos Stones) na bateria, apoiado por trombonistas e saxofonistas, e um ou dois tecladistas adicionais. Eles excursionaram pela Europa e gravaram várias de suas apresentações, que estão registradas em disco titulado Rocket 88, realizado pela Atlantic Records. Em contraste com a maioria das gravações de blues-rock que eram associadas a Korner, Rocket 88 era um misto de blues com boogie-woogie jazz. O repertório do grupo era basicamente consistido de músicas escritas por W. C. Handy e Pete Johnson. Após ter uma boa receptividade no Cambridge Folk Festival no início dos anos de 1980, ele parecia querer revigorar-se musicalmente, mas sua saúde estava em declínio na época. Sendo um fumante contumaz por toda sua vida, Korner morreu de câncer de pulmão no início de 1984. O Blues perdia um dos seus maiores e fiéis defensores!
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Alexis Korner's Blues Incorporated |
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Kornerstoned: Coletânea essencial |
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O supreendente Bootleg Him!
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De Alexis Korner vale a pena conferir : Alexis Korner´s Blues Incorporated – R & B From The marquee (1962/Ace Of Clubs); Alexis Korner – At The Cavern (1964/Oriole); Alexis Korner – New Generation Of Blues (1968 – BGO) e Alexis Korner – Bootleg Him! (1972/Castle).
Por Eumário J. Teixeira.