17 de mar. de 2013

ALVIN LEE, O GUITARRISTA MAIS RÁPIDO DO MUNDO, MORREU!



Ele foi o guitarrista de blues & rock mais rápido do oeste. Ele portava uma Gibson vermelha 335 e ninguém se atrevia a  desafiá-lo. Seu nome era Lee...Alvin Lee. Mais um herói da guitarra desapareceu se integrando definitivamente à  galeria dos maiores e imortalizados guitarristas da história do rock. Que Deus tenha misericórdia de sua alma. 

"I'm going home"...

Alvin Lee, guitarrista, vocalista e compositor britânico nascido em 19 de dezembro de 1944. Em meados dos anos de 1960, o jovem Alvin Lee integrava a banda Jaybirds, com ele na guitarra, Leo Lyons no baixo e Ric Lee na bateria. O trio cumpriu a mesma trilha inicial dos Beatles  se apresentando em todos os pubs londrinos possíveis, até chegarem ao Star club em Hamburgo, na Alemanha. Mais tarde o empresário Chick Churchill assumiria os teclados e a mudariam o nome da banda para Ten Years After. Na segunda metade da década de 1960, começam a se destacar nos clubes londrinos mais importantes como o Marquee, com apresentações vibrantes e detonando temas de blues & rock. Nessa epóca, Alvin Lee deu um empurrãozinho para o recém formado Black Sabbath, agendando uma apresentação essencial para o futuro da banda de Tony Iommi e Geezer Buttler no Marquee. Com o álbum ao vivo no London’s Klookskleek Club foram finalmente notados na America e convidados para tocar no Fillmore East. E no auge da revolução psicodélica, a eletrizante performance de Lee no festival de Woodstock em 1969, obteve grande destaque, principalmente durante sua explosiva versão ao vivo para “I’m Going Home”. Após o sucesso em Woodstock, o Ten Years After fez inúmeras apresentações pelos Estados Unidos, tornando-se uma das bandas mais queridas por lá. Em 1974, o Ten Years After se dissolveu e Alvin Lee investiu numa carreira solo lançando bons discos com o apoio e participação de amigos renomados como George Harrison e Eric Clapton. Nos anos 80 Alvin Lee retornaria com um novo Ten Years After. Alvin Lee faleceu no dia 06 deste mês de março de 2013, na Espanha, em decorrência de uma cirurgia de rotina mal sucedida e em circunstâncias não esclarecidas pela família, aos 68 anos. Seu último trabalho foi o CD Still On The Road To Freedom, de 2012. 

Os discos Ten Years After são todos indispensáveis, mas posso citar: Ten Years After (1967), Stonedhenge (1969); Ssssh (1969); Cricklewood Green (1970) e Space In Time (1972). Na carreira solo de Alvin Lee, se destacam On The Road To Freedom (com Mylon LeFevre - 1973);  e In Flight (1974). Alguns temas de sucesso de Alvin Lee & Ten Years After além de “I’m Going Home”, foram “Good Morning Little School Girl”; “I Woke Up This Morning”,  “Help Me”; “Slow Blues In ‘C’ ”; “Hear Me Calling”; “Love Like a Man”; “Positive Vibrations” e “I’d Love To Change The World”. 
 
Capas dos cds do Ten Years After e de Alvin Lee
Por Eumário J. Teixeira

7 de mar. de 2013

MANFRED VON RICHTHOFEN – A LENDA DO BARÃO VERMELHO


O ÁS DOS ASES


Em abril de 2013 completar-se-ão 95 anos da sua morte, alguns nunca ouviram falar dele, outros já ouviram alguma coisa, muitos acham que não passa de uma lenda, um personagem fictício de filme ou desenho animado; mas na verdade, o Barão Vermelho existiu e dominou parte dos céus da Europa na segunda metade da Primeira Guerra Mundial. Historiadores o classificaram como um sanguinário e impiedoso caçador e outros como um piloto de caça romântico e que era respeitado mesmo até pelos seus adversarios. Vários mitos se criaram em torno de sua breve vida e suas proezas e, certamente, sua fama não se fez do nada. Assim, através desta postagem me permito homenagear ao Red Baron, um homem sem mêdo e que sem dúvida foi o maior e mais temido piloto de caça da história. Não estou fazendo apologia à guerra e muito menos ao imperialismo alemão, apenas reconhecendo o valor de um personagem histórico que se destacou por seus princípios éticos e morais, num ambiente de horror e caos que só um conflito mundial como aquele poderia gerar. Um nobre oficial alemão que foi honrado pelos próprios inimigos no seu túmulo de morte.

Ilustração do Albatros D-V do Barão Vermelho, semelhante ao D-III

Lothar, Albrecht (o pai) e Manfred: caçadores e aristrocatas


Espírito de caçador - Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen nasceu no dia 2 de maio de 1892, em Breslau, na Silésia (hoje Wroclaw, Polônia) que fazia parte do então Império Alemão. Aos nove anos mudou-se com sua família para Schweidnitz (hoje Swidnica, Polônia). Ainda adolescente desenvolveu o gosto pela caça e pela equitação incentivado pelo pai, Albrecht Karl Freiherr von Richthofen, que era oficial da Cavalaria do regimento Uhlan e um nobre proprietário de terras. O título nobiliárquico hereditário de Freiherr (que significa Barão) foi concebido à família pelo Imperador da Prússia Fredererico, o Grande, em 1741. Nas caçadas à javalis, alces, veados e aves, que fazia acompanhado pelo pai e os irmãos Lothar e Karl Bolko, era notório a astúcia e paciência do jovem Manfred para esperar o melhor momento e posicionamento para dar um único tiro fatal que abateria sua presa. Aos 11 anos, Manfred entrou na escola de cadetes prussianos, onde após se formar como cadete-oficial, ingressou-se no 1º Regimento de Cavalaria Uhlan, em 1911 aos 19 anos.


A Guerra - Quando estourou a primeira guerra guerra mundial em agosto de 1914, a sua unidade de cavalaria foi enviada para enfrentar os russos e cabia ao jovem oficial Manfred Richthofen fazer o trabalho de reconhecimento de campo no leste. O cumprimento de forma eficaz de sua função foi reconhecido através da condecoração com a Cruz de Ferro em 23 de setembro de 1914. Em seguida foi deslocado para a frente ocidental onde atuou, a contragosto, na retaguarda sem correr riscos. Percebendo-se que a cavalaria era inútil contra as metralhadoras posicionadas nas trincheiras, se tornando assim obsoleta na guerra moderna,  o regimento foi remanejado como infantaria mesmo permanecendo na retaguarda. Anda insastifeito, Richthofen escreveu ao oficial superior pedindo transferência para a unidade aérea Luftstreikräfte (Forças Aéreas de Combate) que se tornaria no futuro a temida Luftwaffe, destacando-se em sua solicitação as seguintes palavras: “Não vim para a guerra para apanhar queijos e ovos”. 

Manfred von Richthofen, livre para voar

Ânsia por voar - O desejo de Manfred foi atendido e ele foi incorporado ao 69º Esquadrão de Vôo durante a ofensiva a Brestlitovsk, de junho a agosto de 1915. A princípio pilotou aviões de reconhecimento sem participar diretamente das batalhas aéreas. Em pouco tempo foi transferido para Ostend, no front ocidental, com a mesma função de observador. Transferido novamente, desta vez para a região de Champane, alçou vôo como auxiliar do tenente Paul von Osterroth manejando uma metralhadora de ré, conseguindo derrubar seu primeiro avião, de modelo Farm, apesar dessa vitória não ter sido confirmada oficialmente porque o avião caiu em território inimigo. Seu sonho começou a se tornar realidade quando iniciou seu treinamento de piloto em outubro de 1915. Em seu primeiro vôo solo, Manfred danificou seu avião  na aterrisagem. Mas ele insistiu e recebeu o seu certificado de piloto próximo ao Natal de 1915. Em março de 1916 ele aprendeu a pilotar o modelo Albratros B-II, um caça de dois assentos, de motor de 100 hp, que desenvolvia a velocidade de 100 km/h e alcançava o teto de 3.000 m de altitude e que tinha uma metralhadora na parte superior da asa disparando para a frente. Com este avião teria alvejado, no dia 26 de abril de 1916, um modelo Nieuport francês que sobrevoava Verdun. Manfred Richthofen foi novamente enviado para o front russo, onde passou a voar em aviões de reconhecimento e bombardeiros, destruindo estações ferroviárias, pontes e regimentos de cavalaria cossacos com certa segurança, pois o russos não dispunham de muitos aviões para interceptá-los.  Mas ainda não era o que ele almejava, ou seja, os duelos nos ares. 

Oswald Boelcke, o primeiro ás e mentor de Manfred

O encontro com Boelcke e o Jasta 2 - O seu destino começa a mudar quando em agôsto de 1916, ele se encontra  casualmente com o herói nacional e ás da aviação, Oswald Boelcke, o maior piloto de guerra alemão até então, ao lado de Max Immelmann. Boelcke estava selecionando talentos para seu esquadrão Jagdstaffell 2 e Manfred lhe pareceu decidido e impetuoso o bastante para integrá-lo. No Jagdstaffell (ou Jasta) 2 e pilotando um biplano Albatross D-II, Manfred derrubou oficialmente seu primeiro avião em 17 de setembro de 1916, uma aeronave inglesa. O piloto e observador ingleses foram socorridos em  linhas alemãs. Mas não resistiram aos ferimentos e Richthofen, após o sepultamento de ambos, colocou uma pedra no túmulo do piloto em respeito ao inimigo derrotado, uma homenagem que o fez ser considerado mesmo entre os adversários e se tornou uma de suas principais características durante a guerra. Manfred descreveu a experiência de sua primeira vitória  e suas futuras conquistas em um diário que se tornou um livro autobiográfico, “Der rote Kampfflierger”, que poderia ser traduzido como “O Piloto de Combate Vermelho”. Outro hábito desenvolvido por ele, era o de mandar confeccionar pequenas taças ou copos de prata com o tipo de nave abatida e a data de confronto cravados; como também o costume de pegar uma peça do avião inimigo como  recordação, isso quando geralmente o piloto inimigo fosse digno de seu reconhecimento. 

O corpo e o albatross D-II destroçado de Boelcke

A morte de Boelcke - Inesperadamente, em 28 de outubro de 1916, as forças aéreas alemãs sofrem uma grande baixa. O modelo Albatros D-II do ás Oswald Boelcke choca-se com uma aeronave de seu próprio esquadrão, durante uma batalha aérea. Boelcke consegue ainda controlar seu caça e tenta aterrissagem, mas o choque da aeronave no solo foi muito forte e Boelcke sofre um traumatismo craniano fatal. O então idolatrado piloto alemão, que já tinha abatido 40 aeronaves inimigas, morre aos 25 anos de forma tão absurda deixando todo um esquadrão sem sua grande e inspiradora liderança. Manfred Richthofen carregou as condecorações de Boelcke durante o funeral. Em paralelo à tragédia ocorrida para a aviação alemã com a perda de Boelcke, a perícia de piloto de caça de Manfred se destacava abruptamente, pois em apenas dois meses de vôo solo, já havia derrubado 11 aviões inimigos. Uma vitória importante para Manfred foi quando, pilotando um Albatros biplano D-III, derrubou o ás inglês, major Lanoe Hawker, comandante do 24º esquadrão em 23 de novembro de 1916. Manfred levou consigo a metralhadora do avião britânico como souvenir. Essa vitória serviu também como uma resposta à morte de Boelcke. No mesmo dia Manfred foi condecorado com a Cruz de Cavaleiro da Ordem da Casa Real de Hohenzaollem com Espadas. O comando alemão preocupado com a repercussão negativa da morte de Boelcke na moral de seus combatentes, trataram de promover e achar o seu substituto: o jovem e impetuoso piloto, Manfred Richthofen, ele seria o próximo “deus” invencível dos ares. Richthofen chegou a declarar: “Sobretudo não passo de um piloto de combate, mas Oswadl Boelcke era um verdadeiro herói”.

Manfred von Richthofen exibe em seu peito a Pour Le Mérite

A Ordem Pour Le Mérite e o Jasta 11 - A sua fama crescia na Europa, sendo cada vez mais temido pelos pilotos ingleses e franceses; assim, não foi difícil para ele assumir a liderança de seu próprio esquadrão por indicação direta do Imperador Wilhelm II que também lhe concedeu a maior honraria para um piloto, ser condecorado com a ordem Pour Le Mérite em 12 de janeiro de 1917. O novo esquadrão Jasta 11 era integrado por pilotos ainda inexperientes e cabia a Manfred doutriná-los nas estratégias do combate aéreo. Após um incômodo período de inatividade, muito treinamento e instruções, o Jasta 11 se tornou o celeiro dos mais competentes e destemidos pilotos de caça alemães, que na maioria como Richthofen, eram aristocratas e defendiam seu próprio código de honra e de espírito cavalheiresco. O próprio Manfred pregava aos seus comandados: “Os pilotos são como esportistas que apenas abatem os aviões e não perseguem os pilotos”. Essa idéia de Manfred parecia lhe transportar para um mundo paralelo alheio à realidade cruel da guerra, principalmente nas batalhas ocorridas fem solo nas trincheiras onde os soldados da infantaria eram rasgados nos arames farpados, perfurados pelas baionetas, metralhados pelo fogo inimigo, despedaçados pelas granadas e sufocados ou cegos pelos gases mortais. Nos ares ele se sentia livre como um nobre cavaleiro medieval medindo sua destreza de combate contra um valoroso oponente. Seu irmão Lothar Richthofen inesperadamente se integra ao esquadrão, uma progaganda estratégica do comando de guerra para propagar ao povo germânico a imagem patriótica dos intrépidos irmãos aviadores lutando lado a lado pelo triunfo do império alemão. Mas, ao contrário de Manfred, Lothar tinha sua visão particular e menos romântica da guerra, ou seja, o inimigo teria que ser perseguido até ser totalmente destruído, avião e piloto. Essa foi a razão do irmão mais velho e famoso o classificar como um “sanguinário”. 

O esquadrão colorido do Jasta 11, o Circo Voador de Richthofen

O Barão Vermelho e o Circo Voador no Abril Sangrento - Como comandante do Jasta 11, o tenente Manfred von Richthofen passa a pilotar um modelo biplano Albatros D-III (de comprimento: 7,32 m; envergadura: 8,99m; velocidade máxima: 175 km/h), surpreendendo a todos ao mandar pintar sua aeronave totalmente de vermelho. Daí o surgimento do apelido de “barão vermelho”. Alertado pelos seus comandados que ele se tornaria um alvo visado a longa distância com sua aeronave vermelha, ele retrucou que sua intenção era realmente ser avistado e impor temor aos seus adversários, já que sua fama de invencível e implacável caçador assolava boa parte dos céus da Europa. Em abril de 1917 ele já tinha acumulado 50 vitórias e a lenda do “Barão Vermelho” só aumentava. Neste mês somente ele tinha abatido 21 aviões, sem contar as aeronaves interceptadas pelos seus companheiros. Os ingleses sofreram grandes baixas e denominaram o período de “Bloody April” (abril sangrento). Os outros pilotos do Jasta 11 passam a usar também cores berrantes em seus aviões assim que provassem sua perícia no ar e não demorou muito para que a temida esquadrilha fosse apelidada de “o Circo Voador do Barão Vermelho” justamente em função das fortes cores de suas aeronaves. O esquadrão colorido voava em formação próximo ao front em patrulhas regulares com objetivos táticos, como um circo itinerante. Além do codinome “Red Baron” (barão vermelho), Manfred era também chamado pelos aviadores adversários como “Le Diable Rouge” (o diabo vermelho) ou “Le Petit Rouge” (o pequeno vermelho) pelos franceses e “The Red Knight” (o cavaleiro vermelho) pelos ingleses. 

O Barão Vermelho perseguindo e abatendo aviões ingleses

As características de um implacável caçador - As vitórias acumuladas por Manfred von Richthofen eram devidas principalmente à sua aplicação tática, sua destreza e ao seu sangue-frio mesmo em situações desfavoráveis. Sem mencionar sua dedicação e senso de dever exemplares. Das principais habilidades do Barão Vermelho se destacavam o cálculo preciso de distância do inimigo, sua grande habilidade para manobrar o seu avião e sua capacidade de avaliar friamente uma situação favorável ou desfavorável de combate. Como ele mesmo dizia: “Se você não tem como vencer o adversário, se retire antes que seja abatido por ele.” Nas batalhas sangrentas do Abril Sangrento quando enfrentou os triplanos ingleses, que eram mais potentes e manobráveis mas que sofreram enormes baixas, Manfred concluiu por si mesmo: “O que importa não é a máquina, mas a destreza do piloto.” Oswald Boelcke teria ensinado a Manfred sua melhor estratégia de combate descrita no “Boelcke Diktat”, que era atingir a maior altitude do que o inimigo e procurar vê-lo antes para assim poder atirar primeiro, descendo pela parte traseira do adversário, de preferência com o sol nas costas, dificultando assim sua visão e fuga. Tal estratégia não deixava de ser um estilo aristocrático de cerco à caça adaptado para o combate aéreo.

Manfred (ferido) e a enfermeira Kate Otersdörf, sua amante e companheira

O Barão Vermelho é ferido - Em  06 de julho de 1917, pilotando desta vez, um modelo Albatros D-V vermelho (comprimento: 7,33 m; envergadura: 9,05 m) que atingia a velocidade de 186 km/h, Manfred começou a perseguir um bombardeiro bimotor F. E. 2b. O observador do bombardeiro percebendo sua aproximação eminente,  acionou a sua metralhadora de ré contra o Barão Vermelho e caprichosamente um projétil atinge Manfred na cabeça. Com o impacto da bala ele ficou cego e sem reação por alguns segundos, mas se recobrou a tempo para aterrisar com segurança escoltado por dois companheiros. O Barão Vermelho, ferido, foi submetido a várias intervenções cirúrgicas dolorosas para remover os fragmentos de ossos do crânio. O ferimento lhe trouxe seqüelas permanentes, pois passou a ter dores de cabeça constantes, tendo náuseas sempre que voltava dos vôos. Tais reações colaterais afetaram seu temperamento, passando a ter crises alternadas de humor. Manfred Richthofen, nesse período de recuperação, chegou a sair do esquadrão por ordem do alto comando e assistir a realidade cruel dos  combates nas trincheiras e a viajar pelo país na tentativa de elevar o moral do povo alemão. Nesta época tentaram fazer com que se recolhesse pois temiam perder outro herói nacional em pouco espaço de tempo. Rebatendo as recomendações ele declarou: “Eu me sentiria um miserável se agora, coberto de fama e condecorações, desperdiçasse meu tempo como pensionista, preservando minha vida à nação, enquanto que qualquer pessoa como eu cumpre seu dever, resistindo na trincheira.” No período em que se recuperava do ferimento na cabeça, Manfred teria sido cuidado pela enfermeira Kate Otersdörf, com quem teve um romance significativo para sua  vida, fazendo com que até revesse seus conceitos pessoais e percebesse que seu nome e imagem de um “deus que nunca morre” estavam sendo usados pelo império alemão para justificar toda aquela carnificina gerada pela guerra. O Barão Vermelho que nunca se recuperou inteiramente desse ferimento, não se intimidou e com uma proteção de ataduras e uma touca, não tardou a se lançar novamente aos combates. Além disso era superticioso, usava sempre o mesmo casaco de couro quando voava e dizem que nunca partia sem ser beijado por alguém que amava.

Réplica do lendário Fokker DR-I triplano do Barão Vermelho

O Fokker DR-I Triplano - Em setembro de 1917 Manfred Richthofen, o ás dos ases, é apresentado ao modelo Fokker Dr-I triplano, uma aeronave menor (comprimento: 5,77m; envergadoura: 7,20 m) e mais ágil, em resposta aos triplanos ingleses. Este novo modelo lhe proporcionava mais agilidade nas manobras evasivas e de ataque, apesar de se tornar um alvo mais fácil numa trajetória em linha reta, pois ocorria uma significativa perda de velocidade (atingindo no máximo 185 km/h). Com o Fokker Dr-I alcançou a marca inédita, até então, de 60 vitórias no dia 1º de Setembro de 1917. A ironia é que a imagem do Barão Vermelho ficou mais associada ao Fokker triplano com o qual obteve apenas 20 vitórias, no total impressionante de  aviões derrubados em toda sua carreira; apesar dele ter abatido a maioria de suas vítimas com o Albatros D-III.  Sobre a agilidade do pequeno triplano, o capitão Manfred von Richthofen declarou: “Ele sobe como um macaco e é tão ágil quanto o demônio”. O desempenho de Richthofen incomodou tanto aos aliados que sua cabeça foi posta a prêmio. O piloto que conseguisse derrubá-lo seria bem recompensado. O Barão Vermelho alcança sua 64ª vitória em março de 1918 ao abater o avião do piloto inglês H. J. Parks que se feriu gravemente. Demonstrando seu “espírito esportivo”, Manfred enviou ao adversário hospitalizado, uma caixa de charutos. A 80ª e última vitória de Manfred von Richthofen ocorreu em 20 de abril de 1918, quando abateu o tenente D. E. Lewis que sobreviveu ao confronto e foi capturado pelas forças alemãs.

O Barão Vermelho foi perseguido e abatido em linhas inimigas

A morte do Barão Vermelho - Em 21 de abril de 1918, o esquadrão alemão liderado pelo Barão Vermelho partiu rotineiramente para interceptar mais alguns aviões de observação,  modelo Sopwith Camels ingleses, quando estes faziam um reconhecimento fotográfico. Manfred se desgarrou do esquadrão para perseguir sua 81ª vítima, a aeronave pilotada pelo tenente Wilfrid May  que se desviava em zigue-zague das investidas do Barão Vermelho, que surpreendentemente invadiu as linhas inimigas durante a perseguição, se descuidando também da retaguarda, próximo a Sailly-le-Sac, um território francês controlado pelas forças australianas. Voando a baixa altitude e em linha reta se tornou alvo para a artilharia em terra inimiga e um alvo perfeito para o avião do capitão Canadense Roy Brown que estava colado na sua traseira com um Sopwith Camel. Não se sabia até pouco tempo se foi o fogo da artilharia anti-aérea australiana ou as rajadas disparadas do caça de Brown que derrubou o Barão Vermelho que não teve tempo para retornar em direção às suas linhas, mas o certo é que o avião de Manfred Richthofen foi atingido e pousou com dificuldade no solo. Manfred a essa altura da guerra tinha se tornado o alvo estratégico a ser abatido, seu avião vermelho estava visado e tinha que ser derrubado custe o que custar. 
Perseguindo a provável 81ª vítima, Manfred se descuida

Não me parece improvável a idéia de que um piloto aliado se posicionasse como isca atraindo-o para as linhas inimigas  e outro ficaria de prontidão para abordá-lo pela retaguarda. Se tal hipótese não for razoável, é certo que o Barão Vermelho simplesmente não observou suas próprias regras de auto-preservação se expondo tanto naquele fatídico dia. É certo que desde quando foi ferido na cabeça em julho de 1917, o Barão nunca mais foi o mesmo. De qualquer maneira, Roy Brown, ao que consta, nunca confirmou ou desmentiu seu feito. Os artilheiros australianos Robert Buie e Cedric B. Popkin revindicaram ter dado o tiro fatal. Muitas décadas depois foi revelado através de estudos durante uma reconstituição técnica, que o tiro fatal foi dado por Cedric B. Popkin, que faleceu sem saber que ele era o autor da façanha. Quando a equipe de resgate inimiga se aproximou do Fokker Dr-I, encontraram Manfred Richthofen já sem vida. Ele tinha apenas 25 anos, tal como Oswald Boelcke. Um projétil fatal penetrou no seu lado direito e pecorreu mortalmente os  pulmões e o coração, vazando pelo seu peito esquerdo. O já lendário Fokker Dr-I triplano quase sem danos foi praticamente desmontado pelos soldados aliados que queriam guardar qualquer lembrança do famoso piloto de caça alemão.  

Honrarias inimigas no funeral do Barão Vermelho

Funeral e homenagens dos inimigos - Era o início do mito do Barão Vermelho. Ele foi enterrado em território inglês, com honrarias e salva de 21 tiros. Como um homem assim homenageado pelos inimigos britânicos, poderia ser taxado de vilão, cruel e sanguinário? Logo após as homenagens, os aviões ingleses lançaram panfletos sobre a base aérea alemã anunciando a morte do até então “invencível” Barão Vermelho. Fotografias também foram tiradas do seu funeral.  Os panfletos lançados tinham a seguinte mensagem:  “Para o Corpo Aéreo Alemão: O Capitão Manfred Freiherr von Richthofen foi morto em combate aéreo em 21 de abril de 1918. Ele foi enterrado com todas as honras militares. Assinado: British Royal Air Force.” Sete anos depois de sua morte, o cadáver foi exumado a pedido da família e sepultado em Berlim, com mais honras militares e grande participação popular. Réplicas do triplano Fokker DR-I em que Richthofen foi abatido estão expostas na maioria dos museus de tecnologia e aviação do mundo. Manfred von Richthofen se tornou nome de esquadras, quartéis, praças e ruas por toda a Alemanha. Nos seus poucos anos de vida, Manfred von Richthofen experimentou com intensidade a liberdade que sempre amou desde sua juventude quando caçava livremente nos bosques com seus irmãos, planou e voou como um verdadeiro albatroz nos céus europeus, combatendo lealmente como um desportista seus inimigos sem o espírito sanguinário que injustamente lhe foi atribuído pela história. Ele não fugiu de suas obrigações como militar, combateu fielmente, mas sem experimentar o horror das fétidas trincheiras lotadas de cadáveres e moribundos em terra, pois os vôos pareciam ser destinados apenas aos cavaleiros de espírito nobre como ele, talvez o último representante de uma estirpe que agora só conhecemos nos romances.

Curiosidades e lendas sobre o Barão Vermelho:

O interessante filme O Barão Vermelho, de 2008
O Barão Vermelho no cinema e no imaginário popular – Foi realizado em 2008 um filme sobre o Barão Vermelho, numa co-produção da Alemanha e Reino Unido sob a direção de Nikolai Müllerschön. “Der Rote Baron”/”The Red Baron” (O Barão Vermelho , no Brasil) só foi lançado no Brasil em DVD, em julho de 2010. Os principais locais de filmagem ocorreram na República Checa, França e Alemanha. O filme foi feito na língua inglesa apesar da produção ter sido majoritariamente alemã, para favorecer sua comercialização. No elenco estavam Tomás Koutnik como Manfred von Richthofen (garoto); Matthias Schweighöfer como Manfred von Richthofen (o Barão Vermelho); Lena Headey como Käte Otersdorf; Joseph Fiennes como Tenente Roy Brown e Volker Bruch como Lothar von Richthofen. Outro filme realizado anteriormente em 1971, pela United Artists e MGM, “Von Richthofen and Brown” ('O Barão Vermelho' ou 'Águias  em Duelo', no Brasil), trata principalmente de uma suposta rivalidade entre os pilotos adversários Manfred Richthofen, o Barão Vermelho e o tenente australiano Roy Brown, culminando no duelo final entre os dois. A produção de Gene Corman e Roger Corman teve no elenco John Phillip Law (O Barão Vermelho), Don Stroud (Roy Brown) e Barry Primus.

Outra versão do cinema interessante da história do Barão Vermelho,
"Von Richthofen and Brown", de 1971, com o eclético
John Phillip Law.


O livro auto-biográfico de Manfred Richthofen
O livro auto-biográfico de Manfred von Richthofen - Manfred escreveu um livro autobiográfico durante a guerra, descrevendo sua infância, sua família, sua fascinação pela caça e a natureza selvagem, seu amor pela equitação, sua passagem pela escola de cadetes até chegar a servir no Regimento Uhlan de Cavalaria e seu ingresso na força aérea alemã, descrevendo suas primeiras experiências como observador até se tornar o temível e respeitado Barão Vermelho. O título do livro em alemão é "Der Rot Kampfflieger", traduzido para o inglês como "The Red Fighter Pilot", se fosse traduzido para o português seria algo como "O Piloto de Combate Vermelho".  O livro foi escrito em alemão em 1917 e traduzido para o inglês ainda em 1918 por J. Ellis Barker, com o título "The Red Battle Flyer", debaixo de certa censura na época. Quase um ano depois de sua publicação, o próprio Manfred von Richthofen julgou sua obra como insolente, e antes de sua morte, ele chegou a declarar que não era mais aquele tipo de pessoa.

Batman derrota um seguidor do Barão Vermelho

O Barão Vermelho nos quadrinhos - Na história em quadrinhos desenhada por Neal Adams em 1975, Franz, um suposto descendente de um piloto da 1ª guerra de nome von Hammer, surge com seu Fokker Dr-I vermelho (uma clara referência ao Barão Vermelho) para enfrentar Batman nos ares. Adivinha quem se deu bem no duelo? Batman é claro.

Uma versão hilária do Barão Vermelho na Corrida Maluca
O Barão Vermelho nos desenhos animados - Nos desenhos da TV, lembramos de “A Corrida Maluca” com seus hilários personagens, como Dick Vigarista e seu cão assistente Muttley, Penélope Charmosa, Peter Perfeito e o Barão Vermelho com o nº 4 na fuselagem do seu avião. Em outro desenho animado de mesma produção, chamado “As Máquinas Voadoras”, sobre uma esquadrilha atrapalhada (uma referência ao Circo Voador de Richthofen?!) que persegue um pombo correio em plena 1ª guerra mundial,  temos o mesmo Dick Vigarista como líder pilotando um Fokker Dr-1 vermelho. Outro personagem famoso, o cãozinho Snoopy, de Charlie Brown, tem como terrível adversário em sua imaginação, o Barão Vermelho e seu Fokker Dr-I a quem enfrenta com seu caça ou pilotando sua casinha de cachorro voadora. A imagem de vilão do Barão Vermelho foi assim alimentada no inconsciente popular graças à animações com essas. Mas a história revela o lado heróico e honroso de Manfred von Richthofen, mesmo sabendo que no campo de guerra independentemente do lado pelo qual se luta, existem apenas seres humanos e a grande maioria deles muito jovens e valorosos atirados ao matadouro pelos verdadeiros donos e vilões deste mundo.

Snoopy perseguido pelo Barão Vermelho

O Barão Vermelho foi derrotado por um OVNI ? – A imaginação humana não tem limites, recentemente surgiu uma teoria sobre o que realmente teria abatido o temido Barão Vermelho. Foi divulgado que um outro piloto alemão chamado Peter Waitsnik voava no momento e próximo ao local da queda de Fokker Dr-I de Manfred Richthofen em 1918 e que ele teria afirmado que o Barão teria sido abatido por um OVNI (objeto Voador não identificado) de luzes ondulantes alaranjadas. O objeto brilhante surgiu de repente na frente do avião de Richthofen que reagiu imediatamente abrindo fogo, mas foi atingido mortalmente pelo OVNI  e caiu ao solo. Finaliza  assim Waitsnik em sua suposta declaração: “Ficamos apavorados, pois nunca vimos uma coisa dessa antes...Já estou no fim da vida e não tenho nada a perder ao revelar isso”. Só mesmo um piloto de outro mundo para derrotar o invencível Barão Vermelho, acredite se quiser!

Somente um OVNI poderia acabar com a carreira vitoriosa do Barão Vermelho?!

O fantasma do Barão Vermelho – Diz a lenda que num período aproximado de seis meses entre a morte de Manfred von Richthofen e o fim da primeira guerra, pilotos aliados afirmaram que avistaram durante seus vôos o temido Fokker Dr-I vermelho do Barão. 

A nova Joana d’Arc e o albatross vermelho – Conta-se que durante a fabulosa campanha do esquadrão Jasta 11 no “Abril Sangrento”, um dos pilotos aliados capturados pelos alemães queria saber quem era a destemida piloto do famoso albatross D-III biplano de cor vermelha berrante. O boato que corria entre os aliados era que somente uma mulher  que diziam ser a “nova Joana d’Arc”, poderia pilotar um avião de combate pintado daquela cor. Para a surpresa do inimigo curioso, Manfred von Richthofen que ouvia tudo e estava se contendo para não rir da indagação do jovem piloto aliado, se posicionou frente a frente com o rapaz e se apresentou como o verdadeiro piloto do albatros vermelho.
Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho

O Barão Vermelho no rock – Uma foto do esquadrão Jasta 11 liderada pelo Barão Vermelho, foi usada (com alguns retoques) para a capa do famoso disco Vol. II do Led Zeppelin. Outra banda que teve Manfred von Richthofen como referência foi a criada por Guto Goffi (bateria) e Maurício Barros (teclados) nos anos de 1980 em São Paulo, Brasil. Por sugestão de Guto escolheram o nome “Barão Vermelho”. O grupo de pop rock, baladas & blues era integrado também por Robert Frejat (guitarra), Dé (baixo) e Cazuza (nos vocais). O ápice para Barão Vermelho foi a apresentação no Rock In Rio em 1985. 

Led Zeppelin plagiou uma foto do Jasta 11 para a capa do seu 2º disco

Nota – Em uma próxima postagem, falarei um pouco sobre aquele que foi considerado o pai da aviação de caça em todo o mundo, o herói e mentor de Manfred von Richthofen e o primeiro ás alemão, Oswald Boelcke.

Por Eumário J. Teixeira.