11 de nov. de 2012

PETER GREEN FEZ 66 ANOS!

 
 PETER GREEN – UM HOMEM DO MUNDO PERDIDO NO BLUES
Peter Allen Greenbaum, guitarrista, baixista, gaitista, compositor e vocalista britânico nascido em 29/10/1946 em Bethnal, Londres, completou a idade de 66 anos no último mês de outubro. Green teve uma carreira de sucesso, mas entrou em colapso com as pressões do showbusiness agravado pelo abuso no uso de drogas e de um repentino misticismo que o levou a abrir mão de seus bens e da música. Sua queda acentuada da popularidade para a loucura em reclusão foi melancólica, um tema apropriado para um velho blues. Na minha humilde e suspeita opinião, ele foi o maior e mais subestimado guitarrista branco de blues de todos os tempos, só sendo superado por Eric Clapton. A maior vantagem de Clapton sobre Green se resume no fato de que o primeiro superou as dificuldades impostas pelo consumo de drogas e álcool sem sofrer seqüelas físicas ou mentais, lhe proporcionando uma carreira mais produtiva, ao contrário de Peter Green, que não teve tanta regularidade e quantidade, mas se destacou pela qualidade, o que foi relevante para que o seu nome não fosse esquecido pela história do blues rock britânico. Sua própria obra o manteve em certa evidência. 

Quem foi rei nunca perde a majestade
Dono de extrema sensibilidade para tocar e compor, Green teve sua carreira interrompida precocemente no auge da fama devido ao seu envolvimento pesado com LSD associado à uma necessidade de busca pela compreensão de Deus, se voltando para suas raízes judaicas e mais tarde para o cristianismo, que o levou à depressão, paranóia e a esquizofrenia no início dos anos de 1970. Ensaiou seu retorno aos palcos a partir do ano de 1979 alternando discos bons e razoáveis até 1987, quando teve uma recaída e se ausentou por um longo período permanecendo na obscuridade e vivendo sob os cuidados de um amigo em Surrey, e não como um mendigo pelas ruas como foi muito divulgado, só retornando aos poucos em 1996, quando se integrou ao Splinter Group de seu (até então) velho amigo e guitarrista Nigel Watson. A Parceria duraria até 2003, com altos e baixos até que se afastaram por motivos não esclarecidos, mas que envolvem direitos contratuais e a conservação da saúde e bem estar de Green. Há inclusive, uma ordem judicial expedida em 2004 que impede a aproximação e o assédio de Watson por quaisquer meios a Peter Green. Depois de seu afastamento do Splinter Group e consequentemente da mídia por alguns anos, foram postados no youtube registros de esporádicas apresentações do Peter Green & Friends (sua nova banda) em 2009 e 2010 em festivais e pubs de blues e rock pela Europa.
Entre Deus e o rock, Green entrou caiu em parafuso
Green se mantém em certa atividade até hoje apesar de suas raras performances serem ainda um tanto inseguras devido aos medicamentos que é obrigado a tomar, mas geralmente está acobertado por bons músicos. O próprio Green reconhece que tanto as drogas quanto os tratamentos terapêuticos à base de choques elétricos no passado causaram um grande dano irreparável à sua mente. 
A vida de Peter Green nunca foi fácil, sua origem judia lhe trouxe muito sofrimento e perseguições durante sua infância e adolescência, e a maioria de suas canções refletem todo o seu sofrimento, porque na verdade são autobiográficas. Apesar de seu talento comprovado, seu primeiro grande desafio como músico profissional foi substituir, simplesmente, o “deus da guitarra” Eric Clapton no John Mayall’s Bluesbreakers em 1967. E Peter Green surpreendeu os fãs desconfiados e órfãos de Clapton, registrando com competência todo o seu talento no disco A Hard Road (1967) do John Mayall’s Bluesbreakers. No ano seguinte Green deixa os Bluesbreakers (sendo substituído por Mick Taylor) e parte para formar o Peter Green’s Fleetwood Mac, uma banda que ficou na história do blues rock britânico, principalmente graças ao disco de estréia. A banda que ainda contava com o guitarrista slide Jeremy Spencer (fã de Elmore James) e mais tarde com o jovem guitarrista Danny Kirwan (pupilo de Green) conquistou o mundo com seu blues rock balançante. 
Criatividade e 'feeling' sobravam em Peter Green
As influências de Peter Green foram Robert Johnson, Alex Korner, John Mayall, o próprio Eric Clapton, Hank Marvin (The Shadows), Muddy Waters, B. B. King e Freddie King. Dentre suas composições mais famosas posso destacar com os Bluesbreakers de John Mayall, “The Supernatural e “The Same Way”; com o Fleetwood Mac, “Black Magic Woman” (gravado por Santana), “Oh Well”, “Long Grey Mare”, “Looking For Somebody”, “I Loved Another Woman”, “Watch Out”, “The Green Manalishi”, “Rattlesnake Shake”, “Fleetwood Mac” e “Sandy Mary”; na carreira-solo, “Looser Two Times”, “Tribal Dance”, “In The Skies” e “Slabo Day”. As versões que fez para “The Stumble” de Freddy King, “Need Your Love So Bad” de Little Willie John, “Homework” de Otis Rush, “No Place To Go” de Howlin’ Wolf, e suas belíssimas composições “Albatross” e “Man Of The World”, definem precisamente o seu estilo suave e doce, mas com certa pegada, ao tocar, cantar e compor.

Capas de seus melhores trabalhos
Os discos essenciais do mestre do blues rock britânico são, com o John Mayall’s Bluesbreakers, Hard Road (1967); com o Fleetwood Mac, Peter Green’s Fleetwood Mac (o primeiro, de 1968), Then Play On (1969), Fleetwood Mac in Chicago/Blues Jam In Chicago (duplo de 1969) e The Original Fleetwood Mac (1971); na carreira solo, In the Skies (1979) e Little Dreamer (1980); e com o Splinter Group, Reaching The Cold 100 (2003). 


A Gibson Les Paul dourada de Peter Green, também fez história; conta a lenda que ele a vendeu por mixaria para o guitarrista Gary Moore (já falecido), justamente na época em que estava fragilizado mentalmente e desfazia de seus bens, doando também todo o seu dinheiro para instituições de caridade. A partir daí a guitarra de Green acostumada a um tratamento mais carinhoso e sofisticado teve que se sujeitar ao estilo mais agressivo e pesado do seu novo dono. Será que com a morte recente de Moore em 2011, a lendária Sunburst Gibson Les Paul de 1959, voltou para o antigo mestre? Dizem que o som diferenciado do Les Paul de Green era devido a uma modificação que fez em um dos captadores, invertendo a fase; o próprio Peter Green desmente a lenda e não faz idéia do que significa “som-fora-de-fase”.

Mas agora o que realmente importa é que Peter Green deu a volta por cima, é claro que nunca mais tocará como há 45 anos atrás, mas ele está vivo, dizem que está refugiado na Suécia e cercado por quem realmente o ama e notadamente mantém o desejo de tocar o que mais aprecia: o blues! Vida longa e muita paz, Peter Green. E esteja onde estiver que Deus tenha misericórdia de você e te proteja dos demônios que tanto te atormentaram no passado.
Eumário J. Teixeira

3 de nov. de 2012

OS 10 MAIORES GUITARRISTAS – PARTE II - DE BLUES ACÚSTICO & ELÉTRICO


Muitas listas com os nomes dos maiores guitarristas da história da música circulam pela internet e revistas especializadas. A cada classificação de tais nomes geralmente é baseada na capacidade técnica e habilidade de cada músico, o que é o bastante para gerar muita controvérsia. Para exemplificar, há certo consenso no que se diz respeito sobre quem seria o número um da lista, o maior de todos. O nome que mais aparece no primeiro lugar é o de Jimi Hendrix. Já a partir do segundo classificado acontecem muitas variações, revezando os nomes de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Eddie Van Halen, etc. Como alguns gêneros musicais são desprezados nessas relações e nomes como Django Reinhardt e Dick Dale, geralmente ficam de fora, elaborei quatro listas com guitarristas considerados especialistas em seu gênero musical, sendo que a classificação de cada relação vai de um a dez. Não considerei apenas a habilidade técnica do guitarrista, mas também sua importância dentro do(s) gênero(s) que representa. Não sou um conhecedor profundo do assunto, nem ao menos sou músico, mas me baseei nos discos que já ouvi e no que li sobre a história da música em geral, considerando também o meu gosto pessoal. As listas estão divididas em quatro gêneros assim classificados: 1 – Jump Blues, Rock & Roll, Surf & Instrumental Rock; 2 – Blues Acústico & Elétrico; 3 - Blues Rock & Heavy Rock; e 4 – Jazz & Fusion. 

1 – Robert Johnson Guitarrista afro-americano nascido em 08/05/1911, é considerado o “rei do blues do Delta do Mississipi”. De técnica admirável, suas 40 faixas gravadas num quarto de hotel só com a guitarra acústica e voz, são consideradas verdadeiras preciosidades por guitarristas renomados como Eric Clapton e Peter Green. As faixas parecem indicar, em certos momentos, que haviam dois guitarristas nas sessões, mas na verdade só Robert Johnson estava naquela sala de gravação. Ele padronizou os doze compassos para o blues. Há muito mistério em torno da vida de Robert Johnson, como de sua pouca habilidade para tocar atestada por Son House e Bukka White, até que Johnson ressurge após um breve período de ausência do meio freqüentado pelos velhos bluesmen, com uma habilidade e técnica surpreendente. Daí surgiu a lenda de que ele teria feito pacto com o diabo (numa encruzilhada) para ser um mestre da guitarra; só que ele não pôde aproveitar sua conquista por muito tempo, pois teria sido morto através de whisky envenenado por um marido ciumento. Suas músicas foram regravadas por vários artistas e bandas de rock como Eric Clapton, Peter Green, Rolling Stones, Cream, etc. Alguns de seus blues mais famosos são “Crossroads”, “Come On In My Kitchen”, “Love In Vain”, “Little Queen Of Spades”, “From Four Till Late”, “Sweet Home Chicago”, “Rambling On My Mind”, “I Believe I’ll Dust My Broom” e “Walking Blues”. Robert Johnson morreu em 16/08/1938 aos 27 anos.

2 – T-Bone Walker – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 28/05/1910, sua receita de blues continha ingredientes do texas blues, jump blues, jazz blues e R & B. T-Bone Walker tinha uma técnica refinada e estilo único naquelas décadas de 1940 e 1950, e “todos queriam soar como T-Bone Walker”, declarou B. B. King. Outros grandes guitarristas inspirados em T. Bone foram Eric Clapton, Steve Ray Vaughan, Albert Collins, Buddy Guy, Chuck Berry, Clarence “Gatemouth” Brown e Jimi Hendrix.Walker tocava até com os dentes, o que foi copiado por muitos guitarristas de rock nas décadas posteriores. É de sua autoria o clássico do blues “Stormy Monday Blues”, regravado por inúmeros artistas do blues e blues rock; outros de seus sucessos foram “Mean Old World”, “T-Bone Suffle” e “You Don´t Love Me”. Walker faleceu em 16/03/1975.

3 – B. B. King – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 16/09/1925, também conhecido como “the king of blues”. Dos três reis magos da guitarra (B. B., Albert e Freddie), ele é considerado o primeiro. O que Louis Armstrong e seu trompete representaram mundialmente para o jazz, B. B. King, da mesma forma, com sua guitarra Epiphone Gibson ES – 3555, chamada Lucille, foram para o blues; um embaixador do gênero, viajando por todo mundo divulgando o estilo de música que o consagrou. O nome “Lucille” para sua guitarra foi dado depois de um acidente no qual quase se feriu num incêndio provocado por dois homens numa espelunca que brigavam por causa de uma mulher de mesmo nome. Seu estilo econômico de tocar fez escola, não abusava da quantidade de notas em seus solos, mas sustentava poucas notas através de um efeito adotado por ele, chamado “vibrato” (segurar com um dedo a nota contra o braço da guitarra enquanto gira levemente o pulso), que poucos conseguiram efetuar com a mesma eficiência, mas que dá um “feeling” de arrepiar, fazendo com que uma nota soe por mil. B. B. King confessou que apurou essa técnica para compensar sua incapacidade de tocar “slide” como seu primo Bukka White e o lendário Elmore James. Muitos foram seus seguidores, guitarristas como Peter Green do Fleetwood Mac, Eric Clapton, Freddie King, Otis Rush, Buddy Guy e o nosso saudoso Celso Blues Boy. Quem quiser apreciar o feeling do blues de B. B. King escute o disco Live In Cook County Jail (1971), o famoso “disco da cadeia”, gravando ao vivo num show para os presos locais; outros interessantes são Live At Regal (1965), Live And Well (1969), Indianola Mississipi Seeds (1970) e B. B. King In London (1971) com a participação de Peter Green. Algumas das músicas mais destacadas do “rei do blues” são “How Blue Can You Get”, “The Thrill Is Gone”, “Guess Who”, “Sweet Sixteen”, “Every Day I Have The Blues”, “Caldonia”, “Three O’Clock Blues”, “Please Accept My Love”, “Rock Me Baby”, “Hummingbird”, entre outras.

4 – Albert King – Guitarrista (canhoto), compositor, baterista e vocalista afro-americano nascido em 25/04/1923. Não tinha parentesco nenhum com os outros dois “kings”, B.  B. e Freddie, mas tinha em comum com os outros dois a paixão pelo blues e a guitarra como instrumento preferido.  Albert adotou uma Gibson Flying V de visual bem arrojado e futurista para o final dos anos de 1950. Por ser canhoto invertia a guitarra sem trocar o encordoamento de posição deixando as cordas graves para baixo. Por coincidência chamava também sua guitarra de “Lucy” em homenagem a uma atriz comediante de TV, chamada Lucy Ball. Albert agregava ao seu blues ingredientes bem temperados de soul e funk, graças à intervenção do guitarrista rítmico Steve Cropper em suas gravações, o que lhe deu uma identidade própria e diferenciada. Influenciou vários guitarristas e bandas de rock e blues rock, como John Mayall’s Bluesbreakers, Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, Jimi Hendrix, Mike Bloomfield, Rory Gallagher, Gary Moore e Stevie Ray Vaughan que incorporou ao seu estilo muito de Albert King. Sua principal característica ao tocar era o “feeling” que tinha para segurar uma nota ao máximo (sustain) durante um “bend” até dar um clímax, seguido de um breve relaxamento e retorno ao solo. Alguns discos indispensáveis de Albert King são Big Blues (1962) e Born Under A Bad Sign (1967), outro essencial é o ao vivo Live Wire/Blues Power (1968), também recomendo Blues For Elvis – King Does The King’s Things (1970) e I’ll Play The Blues For You (1972). Seus clássicos são vários, e para citar alguns: “Born Under A Bad Sign”, “Crosccut Saw”, “Oh, Pretty Woman”, “As The Years Go Passing By”, “The Hunter”, “Kansas City”, “I’ll Play The Blues For You”, “Angel Of Mercy”, etc.

5 – Freddie King – Guitarrista afro-americano e vocalista nascido em 03/09/1934. Era de uma geração mais jovem do que a dos outros dois “kings” e apesar do sobrenome não tinha nenhum parentesco com ambos. Freddie normalmente empunhava uma Gibson ES-345 e vez ou outra uma Gibson Les Paul. Para dedilhar usava uma dedeira no polegar e outra no indicador na mão direita; e ainda contra os padrões vigentes, mesmo sendo destro, usava a alça da guitarra no ombro direito, aliás, uma mania dos guitarristas texanos, como “the ice man” Albert Collins. Seu modo de tocar e cantar a princípio teve influência de seu primo guitarrista de country blues Lightnin’ Hopkins, mas Freddie também se inspirou no saxofonista e vocalista Louis Jordan, nos guitarristas Eddy Taylor, T. Bone-Walker e em B. B. King, só que intensificava mais seus “bends”. Freddie ou Freddy fez escola para muitos músicos de blues rock como Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, John Mayall, Lonnie Mack e Stevie Ray Vaughan. Seu estilo de blues “made in Texas” com elementos de R&B e muito “swing”, sem deixar o lamento tradicional do blues, produziram muitos sucessos como as instrumentais “Hideaway”, “San-Ho-Zay”, “The Stumble”, “Remington Ride” e “Sen-Sa-Shun”; blues como “Have You Ever Loved A Woman”, “I’m Tore Down”, “Someday, After A While (You’ll Be Sorry)” e “You’ve Got To Love Her With A Feeling”; e temas de rock como “Palace Of The King” e “Going Down”. Apesar de ser texano, Freddie pertencia também a nova geração de guitarristas produzida em Chicago no final dos anos de 1950, junto com Buddy Guy, Magic Sam, Otis Rush e Luther Allison. Freddie King faleceu precocemente em 28/12/1976. Vale a pena conferir dele os discos, Freddy King Sings (1961), Let’s Hideaway And Dance Away With Freddy King (196l) e My Feeling For The Blues (1970).

06 – Buddy Guy – Guitarrista e vocalista afro-americano nascido em 30/07/1936, pertencente à nova geração de guitarristas surgida no final da década de 1950 em Chicago, a capital do blues urbano. Dono de uma técnica admirada até por Jimi Hendrix, Buddy Guy iniciou sua trajetória tocando sua guitarra em estúdio nos de discos de nomes já consagrados como Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Fez uma parceria produtiva com o gaitista Junior Wells, que lhes renderam discos respeitáveis como Buddy Guy & Junior Wells Plays The Blues (1972) e Live In Montreux (1977). Sua  carreira solo não foi desprezada, pois lançou alguns discos essenciais como A Man And The Blues (1968); Stone Crazy (1981); Damn Right, I’Ve Got The Blues (1991) e Sweet Tea (2001). Buddy Guy tem como companheira fiel uma Fender Stratocaster da qual extrai bends intensos, altas distorções e licks (ou fraseados) nervosos combinados com seu vocal rasgado e agressivo que maravilhava seus fãs não menos famosos como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page e Stevie Ray Vaughan.

07 – Otis Rush – Guitarrista (canhoto) e vocalista afro-americano nascido em 29/04/1934. Rush inverte a guitarra para tocar sem trocar o encordoamento, com as cordas mais finas em cima, ele realiza seus intensivos “bends” puxando a corda para baixo ao invés de empurrá-la no sentido contrário do mesmo modo de Albert King e Dick Dale. Rush pertence à geração de guitarristas que fez fama no west side de Chicago, junto com Magic Sam, Luther Allison e Buddy Guy. Seu estilo lento, mas dramático e inflamado, cativou outros guitarristas de renome como Eric Clapton e Michael Bloomfield. Muitos de seus hits mais famosos foram regravados por John Mayall’s Bluesbreakeres, Peter Green’s Fleetwood Mac, Led Zeppelin e Rory Gallagher. E só para citar alguns de seus sucessos: “I Can´t Quit You Baby”, “Double Trouble”, “All My Love”, “So Many Roads So Many Trains”, “Homework”, “Gambler’s Blues” e “Cold Day In Hell”. São essenciais os seguintes títulos de sua discografia, This One’s A Good Un” (1968), “Screamin’ & Crying’” (1974), “So Many Roads: Live In Concert (1975), “Right Place Wrong Time” (1976) e Ain’t Enough Comin’ In (1994).

08 – Elmore James – Guitarrista slide, vocalista (estridente) e compositor afro-americano nascido em 27/01/1918. Considerado como o “rei da guitarra slide”, tem uma enorme importância no desenvolvimento do blues elétrico e sua influência no blues rock é inquestionável. Elmore não usava uma guitarra elétrica, mas um violão adaptado e amplificado, um Kay Dreadnought da década de 1940, do qual tirava aqueles riffs de slide que o tornaram uma lenda ainda em vida. Elmore James no início de carreira chegou a acompanhar o misterioso guitarrista Robert Johnson em suas apresentações. Inúmeros guitarristas de blues rock e rock desenvolveram suas técnicas baseados em Elmore James; alguns deles foram Jeremy Spencer, do Fleetwood Mac, que chegou bem próximo do timbre de Elmore James; George Throrogood; Alan Wilson do Canned Heat; Brian Jones dos Rolling Stones; Mick Taylor do John Mayall’s Bluesbreakers e Rolling Stones; e Duane Allman do Allman Brothers. Outros que não se aprofundaram no slide, mas gravaram muitos de seus sucessos foram, Jimi Hendrix, Eric Clapton e Peter Green. Alguns dos muitos sucessos de Elmore James são: “Dust My Broom”, “Early In The Morning”, “Can’t Stop Lovin’”, “Dust My Blues”, “I Believe My Time Ain´t Long”, “It Hurts Me Too”, “Bleeding Heart”, “Look On Yonder Wall”, “Shake Your Money Maker”, “Done Somebody Wrong”, “Rollin’ And Tumblin’” e a belíssima “The Sky Is Crying”. Elmore James faleceu precocemente aos 45 anos em 24/05/1963, justamente quando ocorria o “boom” do blues britânico que seria responsável por resgatar para os palcos de todo o mundo, os mestres de blues afro-americanos. Qualquer coletânea de Elmore James vale a pena conferir.

09 – Muddy Waters – Guitarrista (slide), gaitista, compositor e vocalista afro-americano nascido em 04/04/1915, chamado de “the boss”, foi considerado o “o pai do blues de Chicago”, ou seja, através de Muddy Waters o blues rural foi eletrificado e sua versão urbana foi consolidada na cidade de Chicago. Outra novidade imposta por Waters foi a formação de uma super-banda composta por excelentes músicos, com um baterista, um baixista, um guitarrista rítmico, um gaitista solo, e ele próprio nos vocais e guitarra (slide) solo. A banda de Muddy Waters, com as guitarras elétricas e a gaita amplificada de Little Walter tocava alto, bem acima dos padrões vigentes já no final dos anos de 1950. Seu som amplificado inicialmente escandalizou os jovens britânicos durante uma excursão pela Europa em meados dos anos de 1960, pois o público esperava o blues de raiz ou acústico. Posteriormente os ingleses se renderam ao blues de Chicago graças ao surgimento das bandas britânicas que faziam suas versões “branquelas” de um blues elétrico mais dançante, como Yardbirds, Animals, Manfred Mann, Them e The Rolling Stones (o nome da banda é inspirado no blues “Rollin’ Stone” de Waters). Waters geralmente tocava numa Fender Telecaster ou Gibson Les Paul.  A única banda que rivalizava com Waters na época de ouro do blues de Chicago, era a de Howlin’ Wolf, o “lobo uivante”, que tinha como guitarrista solo, o incrível Hubert Sumlin e suas “distorções” até então inéditas na guitarra do blues. Dizer sobre a influência de Waters no blues rock e rock & roll, é ‘chover no molhado’, pois suas gravações marcaram para sempre a música afro-americana. Para citar alguns hits do velho “águas lamacentas” posso começar com “Rollin’ Stone”, “Rollin’And Tumblin’”, “Long Distance Call”, “Honey Bee”, “Standing Around Crying”, “I Can´t Be Satisfied”, “Blow Wind Blow”, “(I’m Your) Hoochie Coochie Man”, “I Just Want To Make Love ToYou”, “She’s Nineteen Years Old”, “I’m Ready”, “Mannish Boy”, “I Feel So Good” e “Got My Mojo Working”. Alguns discos dos mais essenciais são: At Newport (1960); Folk Singer (1964); Eletric Mud (1968); Fathers And Sons (1969); Hard Again (1977) e Muddy “Mississipi” Waters (1979). Outros grandes guitarristas admiradores e seguidores de Muddy Waters são Eric Clapton, Buddy Guy, Otis Rush, Chuck Berry, Magic Sam e o “albino maluco” Johnny Winter, que foi influenciado pela técnica slide de Muddy e produziu seus últimos discos no final da década de 1970. Muddy Waters faleceu em 30/04/1983.

10 – Albert Collins – Guitarrista, compositor e vocalista afro-americano nascido em 01/10/1932. Conhecido também como “the master of the telecaster”, “the razor blade”, “the Houston twister” e “the ice man”. Desenvolveu um estilo inconfundível de tocar com uma forte pegada mesmo sem o uso de palheta que o fazia superar o problema crônico da Telecaster, a proteção da ponte, que a maioria dos guitarristas deste modelo retirava para tocar, ao contrário de Collins. Seu estilo talvez tenha tido muito a influência do primo bluesman e guitarrista, Lightnin’ Hopkins. Collins agregava também ao seu blues, muito funk, soul e pitadas de jazz. O som estalado de sua Fender Telecaster dourada já faz parte da história da história do blues urbano e moderno, porém sem jamais esquecer suas raízes. Collins que já foi considerado “o homem mais feio do mundo”, tinha um carisma e uma presença de palco, irresistíveis. Como todo bom guitarrista texano, colocava a alça da sua Telecaster no ombro direito, mesmo sendo destro. Albert tinha um estilo diferenciado por manter afinações em tons menores e sempre usava um capotraste na quinta, sétima ou nona casa da guitarra, sobrando pouco mais de 1/3 do braço para tocar. O mestre da Telecaster influenciou vários guitarristas famosos com seus “vibratos” inflamados e “bends” estridentes, como Robert Cray, Johnny Copeland, Stevie Ray Vaughan, Jeff Beck e Gary Moore. Colaborou em trabalhos de artistas consagrados do blues como B. B. King, John Lee Hooker e John Mayall. Seus hits são inúmeros, mas vale citar “Freeze”, “Defrost”, “Frosty”, “Sno-Cone”, “Dyin’ Flu”, “Don’t Lose Your Cool”, “Conversation With Collins”, “Honey, Hush! (Talking Woman Blues)”, “When The Welfare Turns Its Back On You”, “Cold, Cold Feeling”, “Too Tired”, “Master Charge”, “If You Love Me Like You Say” e “When A Guitar Plays The Blues”.  Dos seus discos, cito os essenciais Truckin’ With Albert Collins (Coletânea 1962-1963); Ice Pickin’ (1978); Frosbite (1980); Don’t Loose Your Cool (1983); Frozen Alive (1981); e Live In Japan (1984). Collins faleceu em 24/11/1993.

Aguardem a terceira lista com guitarristas de blues rock e heavy rock.

Por Eumário J. Teixeira