8 de set. de 2012

OTIS REDDING & THE (ORIGINAL) BAR-KAYS - UMA TRAJETÓRIA METEÓRICA DE SUCESSO E TRAGÉDIA

Se o fatídico acidente não ocorresse em 1967, Otis Redding e a maioria dos componentes da banda The Bar-Kays teriam deixado um legado musical ainda maior. Era uma combinação perfeita para o soul emergente, eles representavam magnificamente o gênero musical que teve grande aceitação entre os jovens afro-americanos que queriam um ritmo musical moderno e que traduzisse um momento de inovação cultural e de luta por seus direitos civis por eles reenvidicados em meados da conturbada década de 1960. Apesar do soul ter se derivado do rhythm & blues, os jovens negros em sua grande maioria, consideravam r & b como um estilo ultrapassado já que o mesmo era uma reformulação do blues que ainda trazia à tona as lembranças da pobreza, segregação, racismo e trabalho escravo experimentados por seus avós no sul e que eram temas comuns neste gênero melancólico. O soul era essencialmente urbano e falava mais do amor entre um homem e uma mulher, apesar de temas de cunho social e político também ter seu lugar assegurado pelas circunstâncias vigentes na época. Até o veterano bluesman Albert King se rendeu ao soul ao ser contratado pela Stax Records, gravadora de Memphis, no Mississipi, especialista no gênero. King incorporou ao seu blues elementos de soul graças aos arranjos elaborados da banda Booker T. & The MG’s comandada pelo tecladista Booker T. Jones, que tinha simplesmente Steve Crooper na guitarra, Donald “duck” Dunn no baixo e Al Jackson na bateria, contando ainda com os sopros dos Memphis Horns. Junto a Sam Cooke, Solomon Burke, Percy Sledge, Eddie Floyd, Jackie Wilson, Ben E. King e Joe Tex, o soulman Otis Redding e sua competente banda de apoio, The Bar-Kays, cantavam o que a mulherada apaixonada queria ouvir de seus homens. Outros personagens essenciais também reforçavam o cenário da soul music, seria imperdoável não mencionar nomes consagrados como Aretha Franklin, Etta James, Sam & Dave, George McCrae, Brook Benton, Louis Rawls, Wilson Pickett, Marvin Gaye e Al Green, que sustentaram o soul por quase quatro décadas. A seguir um pequeno resumo sobre as carreiras e a valiosa contribuição de Otis Redding e The Bar-Kays para a soul music.

Otis Redding – Otis nasceu em Dawson, no estado da Geórgia, em 09 de setembro de 1941. Teve sua primeira grande oportunidade como vocalista, na banda Pinetoppers do bluesman guitarrista, Johnny Jenkins. Além de cantar Otis Redding ainda acumulava a função de motorista de Jenkins. As principais influências na de Otis Redding na época eram o veterano roqueiro Little Richard e o jovem cantor de soul e gospel Sam Cooke. Quando Otis cantou e registrou “These Arms Of Mine” no estúdio em 1962 durante um intervalo das gravações de um disco de Johnny Jenkins, percebeu que tinha potencial para se aventurar numa carreira solo. Contudo, somente a partir de 1965 viria o reconhecimento com os hits “Mr. Pitiful”, “Respect”, “Try A Little Tenderness”, “I’ve Been Loving You Too Loong”, “Pain In My Heart”,  “Fa-Fa-Fa-Fa-Fa”, “Security”, “Satisfaction”, “Tramp”, “Ole Man Trouble”, “That’s How Strong My Love Is” e a póstuma e belíssima “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay”.  Otis Redding compunha a maioria das músicas que gravava, tocava violão e fazia os arranjos para suas canções; e no momento que emplacou seu primeiro sucesso, nunca mais sairia do top da soul music. Sua consagração ainda em vida foi na sua genial apresentação no Monterey Pop Festival, na Califórnia em 1967, onde dividiu o palco com Janis Joplin (sua fã declarada), Jimi Hendrix, The Mamas & The Papas, The Who, e outros. Tudo parecia apontar que ele estava próximo de atingir o auge de sua carreira e o reconhecimento merecido pela crítica e público. Inesperadamente após sua última apresentação com The Bar-Kays em Cleveland, Ohio, em 10 de dezembro de 1967, o avião que transportava Otis e cinco membros da banda caiu no lago Monona próximo a cidade de Madison, no estado de Wisconsin. A tragédia resultou na morte de Otis Redding aos 26 anos, seu empresário, quatro membros do The Bar-Kays e o piloto; o único que se salvou foi o trompetista Ben Cauley. Otis Redding havia gravado “(Sittin’  On) The Dock Of The Bay”  quatro dias antes do acidente, essa canção de parceria com o guitarrista Steve Cropper, viria a ser o seu maior sucesso. A gravação póstuma revelava que Redding teria desenvolvido um estilo mais sofisticado de compor e interpretar, ou seja, mais “pérolas” naturalmente surgiriam se a tragédia não ocorresse.
- Discos (cds) essenciais gravados por Otis Redding: Pain In My Heart, de 1964; Otis Blue/Otis Redding Sings Soul, de 1966; The Soul Album, de 1966; Complete & Umbelievable: The Otis Redding Dictionary Of Soul, de 1966; e o póstumo The Dock Of The Bay, de 1968.
Confira (Sittin' On) The Dock Of The Bay neste link:


The Bar-Kays – Formado em 1966, o grupo instrumental The Bar-Kays saltou do sucesso repentino em 1967 para uma fatídica tragédia; mas persistiu, ainda que sem a maioria dos seus integrantes originais até meados da década de 1990. Lançaram inúmeros hits que figuraram nas paradas de R & B nos EUA, entre eles “Soul Finger” de 1967, “Son Of Shaft” de 1972 e “Boogie Body Land” de 1980. Inicialmente The Bar-Kays era uma banda de estúdio da gravadora Stax de Memphis no Tennessee, que tocava nas sessões dos artistas contratados pelo selo sulista, tais como Albert King e Otis Redding. Não demorou muito para se tornarem a banda oficial de apoio de Redding também nos palcos de todo o país. A formação original que atuou de 1966 a 1967 de The Bar-Kays era: Jimmy King, na guitarra, nascido em 1949; Ronnie Caldwell, órgão, nascido em 1948 e o único branco do conjunto; Phalon Jones, saxofone, nascido em 1949; Carl Cunninghan, bateria, nascido em 1949; Ben Cauley, trompetista, nascido em 1947; e James Alexander, no baixo elétrico, nascido em 1948; praticamente todos recém saídos da adolescência na época, mas nem por isso menos competentes. Com a combinação explosiva da interpretação passional de Otis Redding nos vocais e do excelente instrumental de The Bar-Kays, a fama e os compromissos aumentaram, e as viagens também. Assim, em 10 de dezembro de 1967 num destes vôos, algo deu errado com o avião em que viajavam rumo à cidade de Madison para mais uma apresentação; a aeronave caiu e se espatifou no Lago Monona, próximo a cidade de Madison, no estado de Wisconsin. No trágico acidente, de causas não apuradas satisfatoriamente, morreram Otis Redding, seu empresário, o piloto, e quatro membros dos Bar-Kays, Jimmy King, Ronnie Caldwell, Phalon Jones, e Carl Cunninghan. O único membro da banda que se salvou foi Ben Cauley. James Alexander também escapou simplesmente por ter embarcado noutro avião devido à falta de espaço no Beechcraft 18 de Otis Redding. Posteriormente o grupo foi reformulado pelos sobreviventes Cauley e Alexander acrescentando Harvey Henderson, no saxofone; Michael Toles, Guitarra; Ronnie Gorden, órgão elétrico; Willie Hall, bateria e posteriormente Larry Dodson nos vocais. Ben Cauley deixou o grupo em 1971 e apesar das várias entradas e saídas da banda, James Alexander continuou no comando do conjunto até meados da década de 1990 tocando o melhor do r & b, soul e funk.
- Discos (cds) essenciais gravados por The Bar-Kays: Soul Finger, 1967; Gott A Groove, de 1969; Too Hot To Stop, de 1976; Flying High On Your Love, de 1977 e Money Talks, de 1978.

Por Eumário J. Teixeira

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