29 de set. de 2012

YOUCEF NADARKHANI FINALMENTE ESTÁ LIVRE!

Uma boa notícia já quase no final de 2012 nos animou apesar de todas as dificuldades que vez por outra enfrentamos e que agora certamente renova nossa fé em Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Graças à misericórdia Dele, as autoridades iranianas tiveram seus corações quebrantados e ouviram as ações de protestos das comunidades cristãs de todo o mundo, somadas às intervenções de diplomatas de países influentes como o Brasil, Grã-Bretanha e Estados Unidos; e em resposta dada por Deus às orações de milhares de cristãos por todo o planeta, o pastor iraniano Youcef Nadarkhani foi finalmente libertado da prisão em que estava confinado e provavelmente sofrendo torturas psicológicas e talvez físicas, desde 2009. A libertação ocorreu no último dia 08 de setembro de 2012. O pastor Nadarkhani compareceu diante do tribunal no dia 08 (sábado) para se defender das acusações a ele impostas. A audiência foi por quase seis horas, mas finalmente ele foi libertado e recepcionado pela esposa, filhos, parentes e irmãos de fé na saída para a liberdade. Toda a glória ao Senhor Deus, por mais este milagre. Eu posso imaginar os olhos brilhantes dos dois filhos de Youcef Nadarkhani ao ver o pai liberto, sorridente e de braços abertos indo na sua direção, as lágrimas de felicidade de sua esposa e sua gratidão a Deus por Sua fidelidade e tamanha graça concedida. As autoridades concluíram que ele era inocente da acusação de apostasia e que já havia cumprido a pena imputada por ter praticado a evangelização a muçulmanos nestes quase três anos que estava preso. De acordo com o Christian Solidarity Worldwide (CSW), uma organização cristã que defende e trabalha pela liberdade religiosa, o pastor Youcef já está com sua família em casa, mas permanece monitorado pelas autoridades iranianas e todo cuidado agora é pouco. Outras centenas de cristãos e até advogados de direitos humanos estão presos, aguardando julgamento e possível condenação à pena de morte no Irã. O próprio advogado de Nadarkhani, Mohammad Ali Dadkhah, enfrenta ameaça de prisão por seu trabalho no passado envolvendo defesa dos direitos humanos. Deus libertou Youcef Nadarkhani desta vez, e o devolveu para sua família e irmãos, que nosso Senhor continue lhe protegendo, encorajando e lhe dando sabedoria para prosseguir com seu trabalho de evangelização no Irã ou para onde Deus agora lhe enviar. Amém!

Por Eumário J. Teixeira

8 de set. de 2012

OTIS REDDING & THE (ORIGINAL) BAR-KAYS - UMA TRAJETÓRIA METEÓRICA DE SUCESSO E TRAGÉDIA

Se o fatídico acidente não ocorresse em 1967, Otis Redding e a maioria dos componentes da banda The Bar-Kays teriam deixado um legado musical ainda maior. Era uma combinação perfeita para o soul emergente, eles representavam magnificamente o gênero musical que teve grande aceitação entre os jovens afro-americanos que queriam um ritmo musical moderno e que traduzisse um momento de inovação cultural e de luta por seus direitos civis por eles reenvidicados em meados da conturbada década de 1960. Apesar do soul ter se derivado do rhythm & blues, os jovens negros em sua grande maioria, consideravam r & b como um estilo ultrapassado já que o mesmo era uma reformulação do blues que ainda trazia à tona as lembranças da pobreza, segregação, racismo e trabalho escravo experimentados por seus avós no sul e que eram temas comuns neste gênero melancólico. O soul era essencialmente urbano e falava mais do amor entre um homem e uma mulher, apesar de temas de cunho social e político também ter seu lugar assegurado pelas circunstâncias vigentes na época. Até o veterano bluesman Albert King se rendeu ao soul ao ser contratado pela Stax Records, gravadora de Memphis, no Mississipi, especialista no gênero. King incorporou ao seu blues elementos de soul graças aos arranjos elaborados da banda Booker T. & The MG’s comandada pelo tecladista Booker T. Jones, que tinha simplesmente Steve Crooper na guitarra, Donald “duck” Dunn no baixo e Al Jackson na bateria, contando ainda com os sopros dos Memphis Horns. Junto a Sam Cooke, Solomon Burke, Percy Sledge, Eddie Floyd, Jackie Wilson, Ben E. King e Joe Tex, o soulman Otis Redding e sua competente banda de apoio, The Bar-Kays, cantavam o que a mulherada apaixonada queria ouvir de seus homens. Outros personagens essenciais também reforçavam o cenário da soul music, seria imperdoável não mencionar nomes consagrados como Aretha Franklin, Etta James, Sam & Dave, George McCrae, Brook Benton, Louis Rawls, Wilson Pickett, Marvin Gaye e Al Green, que sustentaram o soul por quase quatro décadas. A seguir um pequeno resumo sobre as carreiras e a valiosa contribuição de Otis Redding e The Bar-Kays para a soul music.

Otis Redding – Otis nasceu em Dawson, no estado da Geórgia, em 09 de setembro de 1941. Teve sua primeira grande oportunidade como vocalista, na banda Pinetoppers do bluesman guitarrista, Johnny Jenkins. Além de cantar Otis Redding ainda acumulava a função de motorista de Jenkins. As principais influências na de Otis Redding na época eram o veterano roqueiro Little Richard e o jovem cantor de soul e gospel Sam Cooke. Quando Otis cantou e registrou “These Arms Of Mine” no estúdio em 1962 durante um intervalo das gravações de um disco de Johnny Jenkins, percebeu que tinha potencial para se aventurar numa carreira solo. Contudo, somente a partir de 1965 viria o reconhecimento com os hits “Mr. Pitiful”, “Respect”, “Try A Little Tenderness”, “I’ve Been Loving You Too Loong”, “Pain In My Heart”,  “Fa-Fa-Fa-Fa-Fa”, “Security”, “Satisfaction”, “Tramp”, “Ole Man Trouble”, “That’s How Strong My Love Is” e a póstuma e belíssima “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay”.  Otis Redding compunha a maioria das músicas que gravava, tocava violão e fazia os arranjos para suas canções; e no momento que emplacou seu primeiro sucesso, nunca mais sairia do top da soul music. Sua consagração ainda em vida foi na sua genial apresentação no Monterey Pop Festival, na Califórnia em 1967, onde dividiu o palco com Janis Joplin (sua fã declarada), Jimi Hendrix, The Mamas & The Papas, The Who, e outros. Tudo parecia apontar que ele estava próximo de atingir o auge de sua carreira e o reconhecimento merecido pela crítica e público. Inesperadamente após sua última apresentação com The Bar-Kays em Cleveland, Ohio, em 10 de dezembro de 1967, o avião que transportava Otis e cinco membros da banda caiu no lago Monona próximo a cidade de Madison, no estado de Wisconsin. A tragédia resultou na morte de Otis Redding aos 26 anos, seu empresário, quatro membros do The Bar-Kays e o piloto; o único que se salvou foi o trompetista Ben Cauley. Otis Redding havia gravado “(Sittin’  On) The Dock Of The Bay”  quatro dias antes do acidente, essa canção de parceria com o guitarrista Steve Cropper, viria a ser o seu maior sucesso. A gravação póstuma revelava que Redding teria desenvolvido um estilo mais sofisticado de compor e interpretar, ou seja, mais “pérolas” naturalmente surgiriam se a tragédia não ocorresse.
- Discos (cds) essenciais gravados por Otis Redding: Pain In My Heart, de 1964; Otis Blue/Otis Redding Sings Soul, de 1966; The Soul Album, de 1966; Complete & Umbelievable: The Otis Redding Dictionary Of Soul, de 1966; e o póstumo The Dock Of The Bay, de 1968.
Confira (Sittin' On) The Dock Of The Bay neste link:


The Bar-Kays – Formado em 1966, o grupo instrumental The Bar-Kays saltou do sucesso repentino em 1967 para uma fatídica tragédia; mas persistiu, ainda que sem a maioria dos seus integrantes originais até meados da década de 1990. Lançaram inúmeros hits que figuraram nas paradas de R & B nos EUA, entre eles “Soul Finger” de 1967, “Son Of Shaft” de 1972 e “Boogie Body Land” de 1980. Inicialmente The Bar-Kays era uma banda de estúdio da gravadora Stax de Memphis no Tennessee, que tocava nas sessões dos artistas contratados pelo selo sulista, tais como Albert King e Otis Redding. Não demorou muito para se tornarem a banda oficial de apoio de Redding também nos palcos de todo o país. A formação original que atuou de 1966 a 1967 de The Bar-Kays era: Jimmy King, na guitarra, nascido em 1949; Ronnie Caldwell, órgão, nascido em 1948 e o único branco do conjunto; Phalon Jones, saxofone, nascido em 1949; Carl Cunninghan, bateria, nascido em 1949; Ben Cauley, trompetista, nascido em 1947; e James Alexander, no baixo elétrico, nascido em 1948; praticamente todos recém saídos da adolescência na época, mas nem por isso menos competentes. Com a combinação explosiva da interpretação passional de Otis Redding nos vocais e do excelente instrumental de The Bar-Kays, a fama e os compromissos aumentaram, e as viagens também. Assim, em 10 de dezembro de 1967 num destes vôos, algo deu errado com o avião em que viajavam rumo à cidade de Madison para mais uma apresentação; a aeronave caiu e se espatifou no Lago Monona, próximo a cidade de Madison, no estado de Wisconsin. No trágico acidente, de causas não apuradas satisfatoriamente, morreram Otis Redding, seu empresário, o piloto, e quatro membros dos Bar-Kays, Jimmy King, Ronnie Caldwell, Phalon Jones, e Carl Cunninghan. O único membro da banda que se salvou foi Ben Cauley. James Alexander também escapou simplesmente por ter embarcado noutro avião devido à falta de espaço no Beechcraft 18 de Otis Redding. Posteriormente o grupo foi reformulado pelos sobreviventes Cauley e Alexander acrescentando Harvey Henderson, no saxofone; Michael Toles, Guitarra; Ronnie Gorden, órgão elétrico; Willie Hall, bateria e posteriormente Larry Dodson nos vocais. Ben Cauley deixou o grupo em 1971 e apesar das várias entradas e saídas da banda, James Alexander continuou no comando do conjunto até meados da década de 1990 tocando o melhor do r & b, soul e funk.
- Discos (cds) essenciais gravados por The Bar-Kays: Soul Finger, 1967; Gott A Groove, de 1969; Too Hot To Stop, de 1976; Flying High On Your Love, de 1977 e Money Talks, de 1978.

Por Eumário J. Teixeira

JO-ANN KELLY – A Rainha do Blues Britânico


Quem nunca ouviu falar de Janis Joplin? Aquela branquela norte-americana que cantava blues com toda sua alma. A característica de Janis Joplin era a garra com que atuava nos palcos com sua voz rouca e potente que somada ao seu carisma natural hipnotizava a todos os ouvintes da platéia. “Ela nasceu com a cor da pele errada, deveria ter nascido negra...”, diziam alguns. Janis era única, impressionou a todas suas concorrentes no rock, como Mama Cash (Mamas and the Papas) que ficou de boca aberta impressionada com sua apresentação no Festival de Monterey em 1967. Janis Joplin apreciava o blues desde garotinha e idolatrava cantoras negras pioneiras de blues como Bessie Smith e Big Mama Thornton; associou o blues ao rock, como era de praxe em meados dos anos de 1960, agregando ainda ao seu estilo explosivo elementos psicodélicos que davam mais atrativos à sua performance. Nenhuma cantora era páreo para Janis Joplin, ao menos nos Estados Unidos da América, porque na Grã Bretanha, mais precisamente na Inglaterra, outra branquela metida a negra dava o seu recado com muita competência, e melhor, com sobriedade, ao contrário da louquíssima Janis Joplin. O nome da inglesinha (com cara de bibliotecária) quase subestimada e não tão lembrada no mundo do blues-rock quanto rival americana, era Jo-Ann Kelly. Ela era loura, usava óculos de grau, não era esteticamente muito atraente, mas era muito competente tanto para cantar quanto para tocar, sem falar que era realmente conhecedora do blues de raiz, pois estudava e pesquisava sobre o gênero sem cessar. A seguir um breve resumo da vida dela, uma quase desconhecida das enciclopédias do rock e do blues-rock, mas certamente uma figura respeitada pelos apaixonados e estudiosos do blues primitivo: Jo-Ann Kelly.

Jo-Ann Kelly – Ela era uma cantora e guitarrista inglesa de blues acústico, ou de raiz, das mais autênticas surgidas no velho continente. Seu estilo de tocar era baseado em grandes personagens do blues tradicional de raiz.
Jo-Ann nasceu no sul de Londres, na cidade de Streatham em 5 de janeiro de 1944. Desde a adolescência, ela e seu irmão, Dave Kelly, se apaixonaram pelo blues e ambos participaram ativamente da explosão do blues britânico em meados dos anos de 1960. Poucas mulheres tinham a habilidade para tocar, cantar e o conhecimento sobre o blues de raiz como Jo-Ann Kelly, assim, não demorou que ela fosse notada no meio de todo aquele boom musical. Sua voz era incrivelmente poderosa, profunda, e de uma qualidade tonal perceptíveis apenas em cantoras negras de jazz, blues ou gospel como Dinah Washington ou Sister Rosetta Tharpe; e seu estilo vigoroso de tocar guitarra acústica era fortemente influenciado por  Memphis Minnie, Son House e Charlie Patton.
Jo-Ann viria fazer a sua primeira gravação aos 20 anos, um compacto de produção privada. Em seguida, após formar uma parceria musical com o também inglês e excelente guitarrista de blues, Tony McPhee (dos Groundhogs), acabou por gerar duas compilações pela Liberty Records, nas quais se destacava: Me And The Devil (1968) e I Asked For Water, She Gave Me Gasoline (1969).
Ainda no finalzinho da década de 1960, Jo-Ann participou de uma jam session com a banda californiana de blues rock, Canned Heat, no Second National Blues Convention, e se saiu tão bem que os membros do Canned Heat a convidaram para se integrar ao grupo; a proposta não foi aceita por Jo-Ann Kelly. Ela também recusou uma oferta do bluesman e guitarrista texano, Johnny Winter. Sua recusa aos convites tem haver com sua fidelidade ao som do blues de raiz, caracterizado por um vocal potente e essencialmente pelo instrumental acústico.
Mesmo não abrindo mão do seu trabalho solo, ela não recusava convites para gravar em estúdios e shows esporádicos com bandas de blues elétrico.
Em 1968 e 1969 participou dos álbuns da The John Dummer Blues Band.
Ainda em 1969, gravou com a banda Tramp, um super-grupo composto de membros de outras bandas como Danny Kirwan (guitarra) e Mick Fleetwood (bateria), do Fleetwood Mac; Bob Hall (teclados) do Savoy Brown; Bob Brunning (baixo), Dave Brooks (Sax tenor) do Manfred Mann; Dave Kelly (vocais), entre outros.
Em 1971 é lançado um álbum no qual Jo-Ann fez outra parceria com Tony McPhee, intitulado Same Thing On Their Minds. No mesmo ano participa do álbum solo de seu irmão Dave Kelly, ao lado de Bob Brunning e Peter Gee (na verdade Peter Green, guitarrista e fundador do Fleetwood Mac). Em seguida excursionou pelo velho continente com o violonista Pete Emery.
Em 1972 foi lançado um álbum no qual foi acompanhada por Woody Mann, John Miller e pelo também estudioso e guitarrista de folk & blues, o norte-americano John Fahey; no mesmo ano participou do álbum Kings Of  The Robot Rhythm da banda Chilli Willi & The Red Hot Peppers.
Em 1974 participa novamente com seu irmão noutra gravação para o Tramp, resultando no álbum Put A Record On.
Em 1976, grava um álbum com Pete Emery intitulado Do It, pelo selo Red Rag.
Em 1979, junto ao irmão Dave e o primeiro baixista do Fleetwood Mac, Bob Brunning, fundam a The Blues Band.
Em 1980, Jo-Ann Kelly acompanhada pela The Blues Band prestou um tributo a algumas cantoras negras de blues que a inspiraram, no show intitulado Ladies And The Blues.
Ela também chegou a integrar a Terry Smith Blues Band ainda em meados dos anos de 1980.
Apesar de sua discografia solo oficial ser pequena, Jo-Ann fez inúmeras gravações de muita qualidade que foram resgatadas em compilações posteriores.
Em 1988, Jo-Ann começa a sofrer com regulares dores de cabeça, e no ano seguinte é operada do cérebro de onde é retirado um tumor maligno. Aparentemente recuperada em 1990, ela volta a excursionar com seu irmão. Uma de suas últimas performances foi no festival em Lancashire em agosto de 1990, onde ainda foi premiada como Cantora do Ano pela British Blues Federation.
Sua última performance foi no Three Horseshoes em Doncaster no dia 22 de setembro de 1990. Pouco depois Jo-Ann passaria mal e morreria em 21 de outubro de 1990 aos precoces 46 anos.

Confira Jo-Ann Kelly neste link:
http://youtu.be/L6aIIe8dkd0

Por Eumário J. Teixeira