5 de set. de 2010

“A WHITER SHADE OF PALE” DO PROCOL HARUM



O caso de “A Whiter Shade Of Pale” do Procol Harum é diferente de “I Don´t Want To Talk About It” da banda Crazy Horse e “Without You” do Badfinger. Pois assim que “A Whiter Shade Of Pale” foi lançada, foi reconhecida por público e crítica e obteve o sucesso merecido; sendo que até hoje é uma música sempre relembrada em shows, premiações, filmes, artigos de revistas especializadas, etc. Não me lembro quando foi que ouvi “A Whiter Shade Of Pale” pela primeira vez, talvez pelo rádio, em algum filme, em vinil no toca-discos de alguém. Pode ter sido em alguma trilha sonora de algum filme, propaganda ou novela na TV, de qualquer maneira a melodia nunca mais saiu da minha cabeça. Tenho dúvidas se ouvi pela primeira vez a versão original do Procol Harum ou do “bom moço” do rock, Johnny Rivers. As duas versões são muito boas, mas a versão original do Procol é a melhor!
“A Whiter Shade Of Pale” lançada pela Deram Records fez com que o Procol Harum definitivamente conquistasse o hall da fama do rock mundial. Dizem que o nome da banda foi dado pelo seu empresário que tomou emprestado o nome do gato de um amigo seu, conhecido como “Procol Harum”, que traduzindo para o latim seria algo parecido como “longe dessas coisas”; um nome sugestivo e que também retratava o espírito na época dos ex-integrantes do The Paromounts, Gary Brooker e Robin Trower. A banda britânica tinha uma proposta musical que variava entre o rock progressivo e o psicodélico. O grupo era liderado por Brooker, que era também o vocalista principal e, que obteve algum sucesso com a versão do hit “Poison Ivy” com The Paramounts. Os outros participantes eram Matthew Fisher, que arrasava no órgão Hammond que caracterizou o som da banda; o letrista Keith Reid, Ray Royer, na guitarra; depois substituído por Robin Trower, guitarrista, que na banda era obscurecido, mas que mais tarde em carreira solo, seria comparado à Jimi Hendrix; David Knights no baixo elétrico; Bobby Harrison, na bateria e outros que entraram e saíram, mas sempre sob comando da dupla Brooker e Fisher. Logo após lançar “A Whiter Shade Of Pale”, o Procol Harum faria a abertura do concerto de Jimi Hendrix em 1967. Tal apresentação foi decisiva para a música explodir popularmente e alcançar o posto número 1 nas paradas de sucesso na Inglaterra e posteriormente ganhar o mundo.
O make-off da música – “A Whiter Shade Of Pale” foi gravada no Olympic Studios em 12 de maio de 1967, com Gary Booker nos vocais e piano, Matthew Fisher no órgão Hammond M-102, David Knights no baixo elétrico, e Ray Royer na guitarra. Para a bateria contrataram um músico de estúdio, Bill Eyden. Mais tarde a banda regravou a música com o baterista titular, Bobby Harrison, mas tal versão foi considerada inferior à original. A versão de 1967 foi gravada em mono e lançada como single no mesmo ano; o compacto trazia “A Whiter Shade Of Pale no lado A e “Lime Street Blues” no lado B. A produção foi de Denny Cordell e Keith Grant que era o engenheiro de som. O hit foi incluído na versão norte-americana do álbum homônimo Procol Harum, o que não ocorreu na versão inglesa.
Sobre a letra – A letra surrealista e misteriosa de “A Whiter Shade Of Pale” já foi alvo de muitas teorias e discussões. Uma delas seria que tudo teria começado numa festa onde o letrista teria ouvido alguém dizer a uma mulher, “You´ve turned a whiter shade of pale”, e tal frase não saiu de sua mente. O autor de Procol Harum: beyond the pale, Claes Johansen, sugeriu que a canção seria uma forma metafórica de se descrever a interação acordada entre um homem e uma mulher que finalmente culminaria no ato sexual. A idéia foi apoiada por Tim de Lisle em Lives Of The Gret Songs, que considerou que a letra refere-se à sedução da bebida, e descreve o sexo como uma forma de viagem, alegoricamente náutica, comparável às grandes jornadas míticas e literárias.

A composição – A linha do órgão hammond de “A Whiter Shade Of Pale” foi inspirada em “Sleepers, Wake!” e “Air On A G. String” de Johann Sebastian Bach. Mas ao contrário do que se acredita popularmente, a música não é uma cópia direta ou paráfrase de alguma composição de Bach, apesar de fazer claramente referências às duas peças. Foi citado também, ainda que mais raramente, uma similaridade com o prelúdio de coro para órgão “O Mensch bewein dein’ Sünde grob” (O Man, Lament Your Sin So Great) de Bach, também chamado Orgelbüchlein (Little Organ Book).
A briga pela autoria – Em 2005, o organista e co-fundador do Procol Harum, Matthew Fisher, apelou para Suprema Corte contra o ex-parceiro e pianista Gary Brooker, requerendo a co-autoria da música. Fisher alegava que o refrão e solo de órgão na música, foi o que mais caracterizou a obra. Fisher ganhou o caso em 20 de dezembro de 2006, mas conquistou apenas 40% de copyright. Mas ele queria 50 % dos direitos e a disputa se prolongou até 30 de julho de 2009, quando finalmente conseguiu seu intento, para a ira de Brooker, que reconhecidamente tinha na performance do seu vocal tanta importância quanto o som mágico do Hammond de Fisher. Brooker recorreu e a batalha continua...
A Versão de Johnny Rivers – “A Whiter Shade Of Pale” se tornou um dos maiores sucessos de todos os tempos ao alcançar públicos diversos e atravessar várias gerações. A música já teve mais mil versões diferentes e vendeu aproximadamente 10 milhões de discos nas últimas quatro décadas. A banda inglesa The Shadows fez uma versão instrumental em 1983, mas a versão que mais me chamou a atenção foi a de Johnny Rivers, gravada originariamente em 1973. Nascido em New York em 1942, o cantor e guitarrista Johnny Rivers, ficou conhecido pelas suas músicas românticas, apesar de ter iniciado sua carreira fazendo covers de sucessos do blues e rock & roll. Aqui no Brasil tal versão de Rivers saiu pela EMI num disco duplo de coletânea da série “O Talento de”, e em 1995 o mesmo foi lançado em CD simples. A versão dele foi a mais fiel possível à do Procol Harum, só que ao arranjo musical foi acrescentado cordas à melodia. Não faltou o solo de um bom órgão elétrico, a bateria e o baixo marcaram bem o ritmo lento e o vocal de Johnny Rivers foi competente como sempre.
Trilha sonora – Há muito que eu não ouvia “A Whiter Shade Of Pale”, mas de qualquer maneira a canção estava arquivada para sempre em minha mente desfragmentada, até que lá pela metade da década de 1990, peguei numa locadora de vídeo-cassete o filme “Contos de Nova Iorque” (New York Stories - 1989). O filme era dividido em três curtas tendo como tema central a cidade de Nova Iorque. Os curtas foram dirigidos por diretores diferentes. A primeira história “Life Lessons” foi dirigida por Martin Scorsese e escrita por Richard Price; a segunda “Life Without Zoe”, foi dirigida por Francis Ford Coppola e escrita por Sofia Coppola e Francis Ford Coppola; e a terceira “Oedipus Wrecks” foi dirigida e escrita por Woody Allen. As três histórias ocorridas em Nova Iorque relatam os dramas, sonhos e conflitos de pessoas comuns em situações interessantes e pessoais de forma distinta, mas que ainda assim mantém a unidade do filme. Na história “Life Lessons” (Lições de Vida) o tema de abertura e encerramento era simplesmente “A Whiter Shade Of Pale” com o Procol Harum. Lições de Vida foi protagonizado por Nick Nolte e Rossana Arquette. Nolte fazia o papel de um pintor abstrato nova-iorquino em evidência que tinha uma relação conflituosa com sua amante, assistente e aspirante ambiciosa, interpretada pela então jovem atriz Rosanna Arquette, que coincidentemente ou não, tinha um tom de pele levemente claro de pálido. Vale a pena assistir o filme.

Para finalizar aqui está a letra original e tradução da obra do Procol Harum:

A WHITER SHADE OF PALE – Brooker-Reid

We skipped the light Fandango
Turned cartwheels 'cross the floor
I was feeling kind of seasick
But the crowd called out for more
The room was humming harder
As the ceiling flew away
When we called out for another drink
The waiter brought a tray

CHORUS:
And so it was that later
As the miller told his tale
That her face, at first just ghostly
Turned a whiter shade of pale

He said there is no reason
And the truth is plain to see
But I wandered through my playing cards
And would not let her be
One of sixteen vestal virgins
Who were leaving for the coast
And although my eyes were open
They might just as well've been closed

CHORUS

A WHITER SHADE OF PALE - TRADUÇÃO
(Uma tonalidade mais clara de pálido)
Nós dançamos o fandango alegre,
Giramos piruetas pelo salão.
Eu estava me sentido meio que enjoado,
Mas a multidão pedia mais.
O lugar estava zunindo mais forte por causa das pessoas
Enquanto o teto se movia rapidamente.
Quando nós pedimos outra bebida,
O garçon trouxe uma bandeja.

REFRÃO:
E assim foi que mais tarde,
Enquanto o dono do moinho contava sua história,
Que o rosto dela, no começo apenas vagamente,
Ficou com uma tonalidade mais clara de pálido.

Ele disse: "Não existe nenhum motivo,
E a verdade é simples de perceber"
Mas eu divagava através das minhas cartas do jogo
E não deixaria ela ser
Uma das dezesseis virgens vestais
Que estavam partindo para o litoral.
E embora meus olhos estivessem abertos,
Eles simplesmente podiam também ter ficado fechados.

Eis o link do youtube para você conferir o clássico do Procul Harum:
http://www.youtube.com/watch?v=-PmisbzxwoQ

Por Eumário José Teixeira.