14 de nov. de 2009

O JUDOKA - Dos gibis ao cinema


Pertenço a uma geração que cresceu influenciada pelas histórias-em-quadrinhos, gibis ou “revistinhas”. No início da década de 1970 iniciou-se a época de ouro dos quadrinhos no Brasil, pelo menos para mim. Quando ainda era um ‘pré-adolescente’, descobri as revistinhas através de primos mais velhos que tinham uma grande coleção de personagens variados tais como, Batman & Robin, Superman, Superboy, Aquaman, Tarzan, Cheyenne, Zorro, Fantasma, Mandrake, Cavaleiro Negro, Homem Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Thor, etc. Fiquei tão fascinado pelas histórias e sobretudo com as ilustrações que comecei a tentar reproduzi-las num caderninho de desenho lá pelos meus 10 ou 11 anos de idade. Era o que queria da vida, ser desenhista de gibis e ganhar dinheiro com isso. Os meus heróis preferidos eram Batman (de Neil Adams e Dick Giordano), Homem de Ferro (de George Tuska), Homem Aranha (de John Romita), Cheyenne, Cavaleiro Negro e Fantasma (de Sy Barry), mas todos eles eram personagens criados nos Estados Unidos baseados em sua própria cultura e seu modo de vida e, apesar de serem interessantes, eu não tinha como me projetar para o mundo em que viviam.
Durante os fins de semana em meados da década de 1970, eu costumava visitar alguns primos num bairro mais afastado de onde morava, foi lá que me revelaram a coleção de O Judoka, um herói brasileiro e literalmente verde e amarelo. Os desenhos não eram tão caprichados e técnicos como os dos americanos, mas me identifiquei imediatamente com o personagem, fora o fato de que eu percebia que com esforço poderia reproduzir o personagem no meu caderninho de desenho.

Desenhos de Cláudio Almeida
O Judoka (brasileiro) foi criado em 1969 pela Ebal (Editora Brasil-América), que publicou até a sexta edição a revista homônima com o personagem ‘Judomaster’ (criado pelo norte-americano Frank Mclaughin da Charlton Comics). A partir da sétima publicação o nosso Judoka substituiu o Judomaster. 
Desenhos de Francisco F. Sampaio
Passava desapercerbido para mim ainda criança e talvez para muitos rapazes alienados, que vivíamos sob uma suposta ditadura militar e que o personagem de cunho patriótico exaltava o orgulho de ser brasileiro e defendia as virtudes do nosso país. O Brasil jazia sobre o comando do General Emílio Garrastazu Médici e era embalado pelo famoso slogan político “Brasil, ame-o ou deixe-o!”. Com a nossa seleção tornando-se tri-campeã de futebol no méxico em 1970, graças a Pelé e companhia, fortaleceu-se ainda mais a campanha patriótica imposta pelo governo militar dito repressivo que combatia os agentes subversivos comunistas e guerrilheiros terroristas.
Mas o Judoka não tinha nada a ver com isso e muito menos eu, o que me importava mesmo era os desenhos e as aventuras do herói.


Desenhos de Mário José de Lima
As histórias eram escritas por Pedro Anísio (alguém sabe do seu paradeiro?) e desenhadas por uma equipe de artistas que se revezavam a cada edição. O meu desenhista predileto era Mário José de Lima, (de estilo simples, quase rascunhado) que desenhou “Nas Garras do Homem Búfalo”; “Marcianos na Floresta”; “Perigo no Pão de Açúcar”, etc., e os outros eram Fernando Eduardo Baron (que era diretor de arte da EBAL), Floriano Hermeto de Almeida Filho ou FHAF (de estilo europeu, audacioso e interessante), Benedito Cândido Machado Filho (que tinha estilo semelhante ao do americano John Buscema), Cláudio Almeida, Alberto Silva e finalmente Francisco Ferreira Sampaio, que segundo consta, sofria de problemas psicológicos e cometeu suicídio em 2003 pulando da janela de seu apartamento no bairro carioca de Fátima; Francisco aliás, dava ao Judoka traços semelhantes ao do ator Pedro Aguinaga. Alguém sabe algo sobre esses caras? Se os demais estão ainda vivos, como estarão? Se alguém me der alguma dica, agradeço.  O personagem o Judoka em sua identidade secreta era um jovem estudante chamado Carlos que tinha como mestre de Judô o sábio e esotérico Shiram Minamoto. 
 
Desenhos de Floriano Hermeto de A. Filho

Carlos ou Judoka, não tinha um judomóvel, e sim um volkswagen presenteado pelo tio Bené, com quem trabalhava num escritório de Arquitetura, apesar de descolar uma moto de vez em quando; tinha também uma namorada de nome Lúcia, que mais tarde se tornaria sua parceira contra o crime. Os uniformes da dupla eram praticamente iguais, usavam um macacão de malha justa de cor verde com um losango amarelo no peito e apenas a parte superior do kimono (de cor branca) e a faixa prêta, é claro. As aventuras aconteciam em todo o Brasil apesar de o Judoka ser carioca da gema, pois enfrentou falsos marcianos no triângulo mineiro, confrontou-se com os gigantes de Apuarema em Salvador e enfrentou bandoleiros em plena construção 
da Transamazônica. Como o Judoka dos quadrinhos fez muito sucesso, resolveram fazer uma versão para o cinema com o consagrado modêlo Pedro Aguinaga no papel do herói e a atriz Elizângela como Lúcia. O filme foi lançado em 1973, e foi um fracasso.

Desenhos de Alberto silva
Não tive oportunidade de assistir e acho que não chegou a ser distribuído para o interior do país. De qualquer forma, seria interessante conferir uma cópia, se alguém a tiver ou puder me informar onde consegui-la, ficarei muito grato. Sei que o galã Pedro Aguinaga além de nunca ter sido um bom ator, nunca tinha treinado artes marciais na vida, no máximo deve ter feito um “curso intensivo” de judô e karatê para as filmagens, também não tinha o tipo físico ideal para o personagem, pois era muito alto e magro para o padrão brasileiro. Já Elizângela, uma boa atriz de novelas televisivas, típica morena brasileira, bonita, charmosa e de pernas bem feitas, caiu como uma luva para o papel. Carlos (O Judoka) representou para muitos adolescentes brasileiros, o mesmo que o personagem de Peter Parker (Homem Aranha) para os jovens norte-americanos. Era um cara comum que tinha família, trabalhava, estudava, tinha uma namorada e uma identidade secreta que lhe trazia sérios problemas. Você fantasiava e pensava: “Puxa vida, isso poderia ter acontecido comigo”. A revista O Judoka durou por 5 anos, de 1969 a 1973, um marco, em se tratando de um herói genuinamente nacional que competia com os heróis e super-heróis da D. C. Comics e Marvel americanas. 
Viva o Judoka!
O Judoka em ação no filme de 1973
Por Eumário José Teixeira.

4 comentários:

  1. CADA DIA MELHOR,MUITO BEM EUMARIO.

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  2. Ótima informação! Realmente, eu desconhecia este herói brasileiro. Talvez tenha lhe faltado algum superpoder para sobreviver mais um pouco. Acho que uma nova versão com aventuras em Brasília dará a este herói vida longa e grande apôio da população.

    Aproveitando seu grande conhecimento sobre os heróis e super-heróis, escreva sobre como surgiu os superpoderes de cada um.
    Abraço! Cristiano.

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  3. Olá!

    Estou encantada com o capricho e a originalidade do seu blog!
    Acho que aqui será um excelente lugar para aprender um pouquinho mais!
    É muito raro ver, por aí, pessoas que tenham cultura.... Mais raro ainda é quem a tenha e consiga, ao mesmo tempo, transmiti-la de modo tão interessante, como você faz!

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  4. Olá, Eumário... esqueci de por meu nome no comentário que fiz... Soraya Bukzem.
    Desculpe ter demorado pra conhecer seu blog, tá?
    Voltarei mais vezes!
    =)

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