30 de mai. de 2009

LUIZ GONZAGA, O REI DO BAIÃO


O Rei do Baião, Sanfoneiro do Povo de Deus e Embaixador Sonoro do Sertão, conhecido também como Velho Lua e Véio Macho, o nosso saudoso Gonzagão, nasceu em 13 de dezembro de 1912 na fazenda Caiçara, no sopé da Serra de Araripe, a três léguas da cidadezinha de Exu, no sertão de Pernambuco. Filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus, foi batizado Luiz Gonzaga do Nascimento, talvez em homenagem ao santo jesuíta católico, de origem italiana, Luiz Gonzaga, considerado “padroeiro da juventude” (1568-1591).
O pai de Gonzagão, Sr. Januário - "Luiz, respeita Januário..."
Luiz cresceu vendo o pai Januário trabalhar na roça num latifúndio e tocar seu acordeão de oito baixos nas horas de lazer. Seu Januário além de tocar, sabia consertar o instrumento e foi com ele que Gonzagão aprendeu a tocar a sanfona (ou acordeon) que o fez famoso no Brasil e no Mundo. O início do aprendizado se deu em feiras e festas religiosas onde Luiz Gonzaga assistia apresentações de músicos nordestinos diversos aprendendo a ter gosto pela música típica e posteriormente acompanhando “seu” Januário que também se apresentava nestas ocasiões. Na sua infância certamente foi influenciado também pelas lendas em torno seu conterrâneo, Virgolino Ferreira Da Silva, o Lampião (1900-1918) nascido em Vila bela (hoje Serra Talhada), também no sertão de Pernambuco. Podemos constatar isso mas vestimentas de apresentação de Gonzagão, que lembram os trajes dos vaqueiros do sertão nordestino e sobretudo dos cangaceiros com suas vestimentas típicas. Aliás, Gonzagão foi o primeiro músico do nordeste a defender nacionalmente o modo de ser do nordestino através das vestes e do canto, caracterizados principalmente pela sanfona e o chapéu de couro. Em 1930, quando tinha 18 anos, Luiz se apaixonou por uma moça da região chamada Nazarena (ou Nazinha), mas o pai dela, o coronel Raimundo Deolindo correu com ele e ameaçou-o de morte. E se já não bastasse a humilhação, “Lua” levou um corretivo de Dona Ana e do “Seu” Januário. Revoltado, Luiz abandona sua casa e se alista no exército em Crato no Ceará.
A casa de Januário
Foram nove anos como soldado viajando por vários estados brasileiros, o que foi decisivo para o seu futuro. Ao servir como soldado em Juiz de Fora, em Minas Gerais, conheceu Domingos Ambrósio, que também era soldado e famoso pela sua habilidade como acordeonista. Luiz não pensou duas vezes para aprender um pouco mais com Domingos e aprimorar sua técnica no instrumento. Em 1939, deu baixa do Exército no Rio de Janeiro, então capital do Brasil e voltou-se para a carreira musical. No começo se apresentava nos bordéis na zona do meretrício, sendo que atuava apenas como solista de acordeão tocando vários gêneros como choro, samba, fox e outros populares da época. Em 1941 gravou dois LPs instrumentais em 78 rpm dos quais se destacaram as músicas “Véspera de São João” (com Francisco Reis), “Numa Serenata” (Luiz Gonzaga), “Saudades de São João Del Rei” (Simão Jandi), “Vira e Mexe” (L. Gonzaga e Miguel Lima) para RCA Victor.  
O jovem Luiz Gonzaga
Neste mesmo ano participou do Concurso de Calouros no programa de rádio de Ary Barroso onde solou a música “Vira e Mexe” ganhando o primeiro prêmio. A conquista lhe abriu caminho para sua contratação pela emisssora da Rádio Nacional. Em seguida veio “Mula Preta”, o grande sucesso de 1943 e em 11 de abril de 1945, em parceira com Miguel Lima, grava a mazurca “Dança Mariquinha”, sendo finalmente sua primeira gravação como cantor. Ainda em 1945 outro sucesso, “Dezessete e Setecentos” (dele e Miguel Lima). Dividiu composições também com Zé Dantas e com o advogado cearense Humberto Teixeira, seu principal parceiro de composições de sucesso baseados nos ritmos do xaxado e baião. Da parceria surgiu “Baião” em 1946, o clássico “Asa Branca” em 1947, “Juazeiro” em 1948 e “Baião de Dois” em 1950. O sucesso dessas composições aumentou a popularidade do baião por todo o país e mesmo afastado do sertão pernambucano, Gonzagão manteve-se fiel à suas origens e à cultura nordestina. Luiz Gonzaga teve um caso com uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes, que provavelmente já estava grávida quando começaram a se relacionar e, em 1945 nasceu um menino que Gonzagão adotou como seu filho legítimo e lhe deu o nome de Luís Gonzaga de Nascimento Júnior, conhecido posteriormente no meio artístico como Gonzaguinha. Mas ele na verdade foi criado pelos seus padrinhos, com a assistência financeira do Velho Lua. Gonzaguinha, consagrado compositor e intérprete de MPB morreria em 1991 num acidente automobilístico.
Luiz, rapaz, sem a caracterização de cangaceiro
Voltando à saga de Gonzagão, em 1948 ele se casa com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular. O casal viveu junto até perto do fim da vida de "Lua", mas não puderam ter filhos, já que Luiz era estéril. A partir de 1954, Luiz Gonzaga se exibe basicamente pelo interior do país. Nos anos 70 reaparece nacionalmente e na década seguinte grava discos e regrava vários de seus inúmeros sucessos. Luiz Gonzaga foi um dos raros artistas no mundo a receber o “cachorrinho de RCA”, prêmio entregue anteriormente a poucas celebridades como Elvis Presley. O reconhecimento de sua obra no Brasil veio apenas em 1984 quando o Velho Lua foi homenageado na noite da entrega do Prêmio Shell para os melhores da MPB. Um prêmio tardio, mas merecido para quem tinha quase 5 décadas de carreira e dois Discos de Ouro recebidos em 1981 numa homenagem em show promovido pelo Cebrade. Em 1985 Gonzagão recebe o “Nipper de Ouro”, prêmio pelo conjunto de sua obra.
Luiz Gonzaga, já consagrado
Ainda em 1985, se apresenta em Paris, França. Em outubro de 1988 um grande espetáculo na casa de shows Spazio em Campina Grande, marcou os cinquenta anos de carreira artística do cantor e compositor Luiz Gonzaga, onde muitos artistas de maioria nordestinos participaram desta outra homenagem ao Rei do Baião, entre os quais Fagner, Elba Ramalho, Nando Cordel, Valdomiro Moraes, Domiguinhos, Oswaldinho do Acordeon, Manassés, e o filho adotivo do homenageado, Gonzaguinha. Já muito debilitado e de muletas, o velho Gonzagão assistiu o show e cantou alguns dos seus maiores sucessos sentado. No dia 6 de junho de 1989 um show realizado no palco do Teatro Guararapes, em Recife, com a participação de vários de seus seguidores fiéis como Alceu Valença, Gonzaguinha, Dominguinhos e Pinto do Acordeon, encerraria a carreira do imortal “Lua”. O “cabra-da-peste” que já sofria de osteoporose, morreu vítima de parada cárdio-respiratória no Hospital Santa Joana, no Recife em 2 de agosto de 1989 aos 76 anos. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e em seguida sepultado em Exu, sua cidade natal. Infelizmente já não se fazem “cabras-macho” e “fei pá peste” como antigamente...  

Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha (morto em 1991)
“ O Artista Luiz Gonzaga nunca se separou do homem sertanejo e jamais esqueceu suas raízes e cantou sua saudade e todo amor que tinha pelo sertão e seu povo. Tanto que sua obra é um verdadeiro acervo cultural do Nordeste, onde se encontra o perfil completo da Região com todos os seus personagens e os seus detalhes” – Câmara Cascudo (Folclorista).
Luiz Gonzaga e seu discípulo Dominguinhos
“ Gonzagão, de saudosa memória, sustentou a peteca durante mais de meio século, sem jamais deixá-la cair no chão. Foi, é, e será inatingível. Muita gente o imita, ninguém o iguala. Era mesmo insubstituível. Ele era realmente “O Homem da Terra”, “ O Asa Branca da Paz” – Nelson Barbalha.

Ô véio macho
 “Foi o ´Véio Macho` o primeiro a ter compromisso pelo Nordeste. De raízes autenticamente nordestinas, sua música foi um grito de protesto e ao mesmo tempo de amor pela nossa região. Ninguém, antes dele, falou com maior propriedade e insistentemente pela valorização do homem nordestino. Falou com o coração e com a música – as duas faces de sua sensibilidade de predestinado”. – Veríssimo de Melo.

- Alguns sucessos de Luiz Gonzaga:
Luiz Gonzaga e o eterno parceiro Humberto Teixeira
Baião - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1946)
No meu pé de serra - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)
Asa-branca - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1947)Moda da mula preta - Raul Torres (1948)
Juazeiro - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1948)
Firim, firim, firim - Alcebíades Nogueira e Luiz Gonzaga (1948)
Lorota boa - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1949)
Cintura fina - Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1950)
Assum-preto - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
No Ceará não tem disso, não - Guio de Morais (1950)
Baião de dois - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
Respeita Januário - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga (1950)
Boiadeiro -
Armando Cavalcanti e Klécius Caldas (1950)
Acauã - Zé Dantas (1952)
Pau-de-arara - Guio de Morais e Luiz Gonzaga (1952)
O xote das meninas - Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
Moreninha tentação - Sylvio Moacyr de Araújo e Luiz Gonzaga (1953)
Á-bê-cê do sertão - Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1953)
Feira de gado - Luiz Gonzaga e Zé Dantas (
1954)
Riacho do Navio - Luiz Gonzaga e Zé Dantas (1955)
Adeus, Iracema - Zé Dantas (
1962)
Forró de Zé Antão - Zé Dantas (1962)
Ô véio macho -
Rosil Cavalcanti (1962)
Sanfoneiro - Zé Tatu, Onildo Almeida (1962)
A morte do vaqueiro - Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho (
1963)
Ave-maria sertaneja - Júlio Ricardo e O. de Oliveira (1964)
Sanfona do povo - Luiz Gonzaga e Luís Guimarães (1964)
O maior tocador - Luiz Guimarães (1965)
Xote dos cabeludos - José Clementino e Luiz Gonzaga (1967)
O fole roncou - Luiz Gonzaga e Nelson Valença (1973)
Obrigado, João Paulo - Luiz Gonzaga e Padre Gothardo (1981)


Luiz Gonzaga e o compositor Zé Dantas
Dicas de CDs de Luiz Gonzaga: 

- Luiz Gonzaga 50 Anos de Chão 1941-1987 (Box c/3cds)
- Luiz Gonzaga canta seus Sucessos com Zé Dantas (1959)
- Quadrilhas e Marchinhas Juninas (1965)
- Canaã (1968)
- Meus Sucessos com Humberto Teixeira (1968)
- Quadrilhas e Marchinhas Juninas Vol. 2 – Vire que tem Forró (1979)
- Forró de Cabo a Rabo (1986)
- Volta prá curtir: Ao Vivo (2001)


Últimas de Gonzagão: Foi realizado em 2012 pela Globo Filmes, um longa em homenagem ao eterno "rei do baião", intitulado Gonzaga - De Pai para Filho. O filme trata principalmente da carreira de Luiz Gonzaga em paralelo ao relacionamento conflituoso que tinha com seu filho adotivo, Gonzaguinha, que se sentia abandonado pelo pai.

Uma bela homenagem ao pai e filho
 Por Eumário J. Teixeira.

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